segunda-feira, dezembro 18, 2023

RECORDAÇÕES - AGENDA DOMÉSTICA 1964

 Para além dos álbuns de fotografias que os meus pais nos deixaram, que juntam muitas memórias dos nossos dias a preto e branco, e dos muitos slides que entretanto digitalizámos, guardaram também uma agenda doméstica do ano em que cada um dos 4 filhos nasceu. A mim coube-me a de 1964, a qual aqui deixo em fotografias, pois certamente o volume um dia destes será considerado tralha, e assim, online, poderá perpetuar-se um pouco mais e deixar algumas explicações que não são perceptíveis a quem manuseia este importante documento familiar e de época.


A Agenda Doméstica de 1964 era um autêntico livro, bem encadernado e com a lombada no melhor estilo clássico da época, a vermelho e com letras em dourado.


Na capa aparece logo alguma publicidade direccionada para o público feminino. E o nome da autora, Maria Raquel, que ainda hoje aparece na capa da edição 2024 da Agenda Doméstica (link para a página da Porto Editora, onde se pode comprar), mas já só aparece o nome, não diz POR Maria Raquel.
 
Pois a Agenda Doméstica servia para o registo das despesas diárias, tal como se vê aqui no dia em que nasci. A parte da contabilidade era um ritual lá em casa, a minha mãe era a tesoureira, por assim dizer. A ela cabia a tarefa de inscrever as despesas. Não o fazia diariamente, mas quando se dedicava a isso ia escrevendo o que se lembrava e perguntava ao meu pai pelos pagamentos que ele efectuava. Depois contava o dinheiro das carteiras e via se batia certo. Somava tudo e se faltasse um centavo que fosse, lá voltava a conferir e a perguntar ao meu pai, que lá tinha que se certificar também que o centavo não andava perdido no fundo de algum bolso das calças.
No meu dia aparecem despesas que não eram habituais, a gorjeta paga no Hospital de Setúbal, foram 5 escudos, e um pequeno almoço por 4 escudos e 50 centavos. Ora comer o pequeno almoço num café só se justificou porque o meu pai deve ter passado a noite no Hospital. E ainda uma boa esmola para a misericórdia, deve ter sido o pagamento de uma promessa para que o parto ocorresse sem problemas de maior. Uns exorbitantes 50 escudos!!!

No final de cada mês apareciam as receitas e as despesas mensais e obtinha-se um saldo acumulado.

E no final de 1964, graças a rendimentos extra, foi possível ter um saldo positivo acumulado de três mil, cento e sessenta e quatro escudos e vinte centavos.
A agenda servia também para registar notas sobre calendarizações, ou outras. Aqui destacam-se as vacinas e o modo como eu surgia, um J. Paulo. Talvez por influência da minha avó, que comentou a escolha do meu nome com um "os Joões são todos malucos!". O Ica só apareceu depois, não sei quando, evoluindo de Janica para apenas Ica.


A Agenda Doméstica tinha vários textos, de anedotas muito suaves até dicas de culinária e outras coisas para ajudar a mulher doméstica nas suas tarefas.

Aqui, para além das dicas e da publicidade ao calçado Superius, que era muito conhecido na altura, aparece o Rol da Lavadeira. Esta parte a minha mãe nunca usou, porque não havia lavadeiras no bairro da Sécil, normalmente a roupa era lavada pela dona de casa ou pelas empregadas domésticas, mulheres a dias. Pesquisando sobre a autora da Agenda Doméstica descobri um texto interessante, de memórias, no blogue Duas ou Três Coisas (link aqui)






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