domingo, janeiro 24, 2021

ESTA ÉPOCA NÃO CONSEGUI COMER BOLO-REI

 E não foi por falta de me oferecerem bolos parecidos para provar. A verdade é que o bolo-rei está em vias de extinção. Curiosamente, aqui em Coimbra, deparei com um artigo de uma pasteleira, que veio dizer aquilo que eu pensava, num artigo colocado no jornal (link para o diário As Beiras). Deixo aqui uma parte desse texto da Olga Cavaleiro, com uma vénia: "Houve tempo em que ser pasteleiro era ter a alma nas mãos e olhar com ternura os ingredientes fazendo destes sabor sempre querido. Hoje, é saber ler o manual de instruções de uma receita feita em laboratório. Houve tempo em que ser pasteleiro era ganhar a perfeição pela repetição convicta de uma receita. Hoje, é usar os pós mágicos que fazem que os bolos saiam sempre iguais numa falsa perfeição.

Não faço este ato de crítica de forma gratuita, apenas porque sim. Faço-o com a consciência de que é possível resgatar a nossa pastelaria a este embaraço. Faço-o porque acredito que mais do que nos queixarmos de que “antigamente é que era bom” podemos começar por escolher. "

E para mais, deixo ainda aqui o convite a amigos da gastronomia e da cultura portuguesa para navegarem no site da Olga Cavaleiro, Ao Sabor de Portugal (clicar aqui).


MUDAR DE VIDA - O YOUTUBE DO MEU PAI - JOSÉ MÁRIO BRANCO - ACORDAR O PENSAMENTO


Volta ao Malfadado o Mudar de Vida. Acho que depois da partida do José Mário Branco não fiz aqui a merecida homenagem póstuma. Na verdade não considero essenciais as coisas póstumas...

O meu pai tem uma lista de reproduções do youtube com muita música clássica, mas também outras coisas musicais que foi pescando aqui e ali. Estava ele a mostrar-me esta sua colecção quando apareceu esta versão curta desta música fundamental, que deu origem ao documentário emocionante que vi na íntegra há uns anos atrás, sobre a vida do José Mário Branco. Mais do que um compositor, o José Mário Branco está no mesmo patamar intelectual e até filosófico do José Saramago. Grande observador da sociedade, grande inventor de muitas poesias e textos.

Pesquisando na net descobri a letra integral desta obra musical (link aqui), que fala do mudar de vida de forma sentida e analisando a sociedade. Retirado de um arquivo elaborado e mantido pela FCSH da Universidade Nova de Lisboa (link aqui para os mais curiosos e desconhecedores). Nesta versão reduzida a letra foi cortada, pois claro, e para apreciar o texto cantado o utilizado do Youtube colocou legendas, mas em versão tradução automática, com coisas que não fazem sentido. Por isso não liguem as legendas do youtube e vejam, leiam, sigam aqui a letra (coloquei entre parêntesis partes do texto que fazem sentido, e eliminei pelo meio muito do texto que não aparece nesta versão curta):


Hesitei

Se havia de escrever esta canção

Porque a vida não se pode resumir numa canção

Mudar de vida…

Mudar de vida é uma questão

qu’inda não está resolvida

Aliás, para quê mudar de vida?

Estará assim tão mal a minha vida?

Mas o que é a minha vida

senão a própria vida

que está contida

em toda a força perdida

em toda a vida perdida

consumida

passada, repassada, ultrapassada

como se não fosse vida?

A minha vida – não há

Uma vida mesmo vida

só pode ser um espaço

que está dentro de um abraço

que se dá ou não se dá

Vida verdadeiramente

é sempre a vida da gente

que penosamente

insistentemente

inexplicavelmente

vai fazendo andar a roda

que fabrica a vida toda



Uma vida separada

se parada

se vida seca e mais nada

se for vida distraída

alienada

sozinha, irrelevante, e auto-ignorada

já não é vida vivida

Uma vida separada

não é vida nem é nada

São corpos minerais

nem plantas nem animais

Pois quem vive distraído

à conta do seu umbigo

quem não é capaz de dar a vida

pela vida de um amigo

está sozinho com os outros

e está sozinho consigo

… pelo menos, é assim que eu vejo as coisas…

Então,

mudar de vida p’ra quê?

Em tudo o que foi vivido

procuramos um sentido:

o que essa vida nos diz

uma matriz

um pendor

um sonho, um amor, um desamor, uma paixão uma razão

– ou uma grande razão!

Por baixo de cada vida

há essa roda que gira

com os ratinhos lá dentro

a fazer a roda andar

As coisas materiais

as coisas essenciais

o pão, a casa, os sinais

que são a vida directa

a existência concreta

As coisas que estão à mão

que nos parecem normais

- a paz, o pão, a saúuude, a habitação -

Então:

Mudar de vida? 


— (CORO) Mudar de vida!




Mudar de vida

Mudar de vida, acordar 

Acordar o pensamento



Vida verdadeiramente

é sempre a vida da gente

que penosamente

insistentemente

inexplicavelmente

vai fazendo andar a roda

que fabrica a vida toda

Muitos de nós nem dão conta…

Achamos isso normal…



Mas afinal:

E a hora de trabalho que há em cada coisinha? E o cansaço da mãe co’as panelas na cozinha? Como se chama a Judite que me fez esta camisa? Onde está o Eduardo que fez este projector? E onde pára o Vladimir que ergueu aquela parede?

Estão não sei onde

Do outro lado daquilo a que nós chamamos vida

A vida deles

para nós não é bem vida ...

é – digamos assim – mercadoria produzida São umas “coisas”…

Umas coisas que vivem… sei lá onde, sei lá como… 

Viverão?

Essa gente

- tirando alguma excepção -

não está confortavelmente

aqui sentada à minha frente

a ouvir a minha canção

Vai vendo telenovelas

Olhos perdidos no espaço

A digerir o cansaço

A descansar do vazio

São corpos esgotados

destinados

a serem recarregados

que amanhã é outro dia

em que vão trocar por pão, ou tudo, ou nada

mais e mais mercadoria

fabricada, montada, embalada e transportada

que p’ra eles não vale nada.



Estes de que falo são 66% da gente do meu país. Há mais 24% que sobrevivem nas pregas do pesadelo.

Sobram 10... 

Dos dez por cento, são oito

os que duma ou doutra forma

levam cheios de arrogância

as migalhas do biscoito

que são o seu resgate da esperança

- que estão nas tintas pra tudo, a começar por si próprios

Ficam os tais dois por cento

os que a gente nunca vê

mas que nos vêem a todos

Quem fabrica um parafuso

uns sapatos, uma estrada

qualquer coisa fabricada

recebe um xis pela hora

pelo gesto, pela vida emprestada

que não é vida nem nada

Amortizado o capital constante

pagas as despesas todas

incluindo o esperto que teve a ideia

fica então a mais-valia

que é a demasia

entre o valor da mercadoria

e os gastos do patrão

o esperto que teve a ideia

o empreendedor

que pôs os outros a viver p’ra ele

Porquê?

Porque os valores são outros

- Quais são os teus valores, Zé Luís?

- Os meus valores?

- Sim, quais são os teus valores?

- Bem… o Amor? a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade? a Amizade? …

 a Justiça, ora aí está, a justiça .

– ah, e também a Honestidade

- E tu, aí, quais são os teus valores?

- Os meus valores?

- Sim, quais são os teus valores?

- Os meus valores estão na Bolsa de Valores

Ao qu’isto chegou!

(A minha vida p’ra isto?

é o que tendes p’ra me dar?

é o que tendes para me obrigar? para me impor?

Mudar de vida !)

(...) (...)


(Antero! meu Mestre!

Convoco-te ao fazer desta

com esse teu sinal vermelho

mesmo no meio da testa

A Unidade que procuraste

a Utopia dos loucos…

Disseste um dia

a chorar de alegria

de esperança precoce e intranquila:

“Vós, poetas, que sois os loucos porque andais na frente!”

Utopias

temo-las todos os dias

realizamos umas tantas

a cada dia que passa )




Nos anos 20 do século do mesmo nome, para tentar deter o flagelo social da sífilis, que dizimava pobres e exércitos, o biólogo alemão Ehrlich fechou-se no laboratório.

Tentou uma experiência e falhou.

Tentou duas, falhou.

Três, quatro, cinco, seis – falhou sempre.

Até que conseguiu um tratamento – chamou-se “tratamento Ehrlich 606”.

Mas ainda não conseguia curar a doença sem matar o doente. Então Ehrlich continuou, mais uma, e outra, e outra. A cura, finalmente conseguida, chamou-se “Ehrlich 914”.

Quantas vezes já tentámos nós?

— novecentas e catorze? ainda não!

— seiscentas e seis? ainda não!

mas talvez… quem sabe

dez? vinte?

qual é o preço da esperança?




“Acordai!

Acordai! homens que dormis

a embalar a dor

dos silêncios vis

Vinde no clamor

das almas viris


arrancar a flor

que dorme na raiz!”

“Estamos de punhos fechados

mas temos as mãos nos bolsos”

Então:

Mudar de vida?


(Antero! meu Mestre!

Convoco-te ao fazer desta
com esse teu sinal vermelho
mesmo no meio da testa. 
Disseste um dia: )

“Não disputeis, curvado o corpo todo, as migalhas da mesa do banquete:

Erguei-vos! e tomai lugar à mesa…”

Mudar de vida?


MUDAR DE VIDA!!!

Levar o sonho de Antero

às mulheres do Vale do Ave

às da Zara, às da Maconde, às da Rohde

aos homens da Pereira da Costa

aos jovens da Cova da Moura, da Arrentela,

da Apelação e da Alta de Lisboa, meus irmãos.

aos homens da Autoeuropa e da Azambuja

ao milhão de desprezados,

ao lixo do capital

aos seres humanos dispensáveis,

descartáveis, recicláveis

a esses olhares perdidos

dos nossos telejornais.

Levar o sonho de Antero

aos humilhados e ofendidos.

“Erguei-vos! e tomai lugar à mesa…”

Libertar a mais-valia que está na mercadoria —

Mostrar a vida escondida por baixo do sofrimento

Acordar a força

Acordar a força motriz

A energia matriz de onde nasce o movimento

A raiz

Mudar de vida!


Mudar de vida? 


Mudar de vida

Mudar de vida, dar

Dar o pontapé na morte


Mudar de vida

Mudar de vida, romper

Romper o cordão da sorte



Mudar de vida

Mudar de vida, dar

Dar as mãos para o caminho


Mudar de vida

Mudar de vida, mudar 

Que isto não muda sozinho


Mudar de vida

Mudar de vida, pôr

Pôr em marcha o movimento


Mudar de vida

Mudar de vida, acordar

Acordar o pensamento


CARTA BRANCA A MÁRIO LAGINHA

Carta Branca a Mario Laginha: Piano Mário Laginha Saxofone Julian Arguelles Percussão Helge Norbakken Bateria Alexandre Frazão Contrabaixo Bernardo Moreira Guitarra e voz Tcheka. 

Emitido em 2017 pela RTP 2, a nossa televisão, a nossa cultura, o nosso entretenimento e a prova de que o investimento público faz a diferença, num mar de televisões privadas onde se promovem os valores mais pobres da humanidade, e a reboque o populismo.
Fica no início a ligação para mais de uma hora de música de primeira água, vale a pena ver e ouvir sem pressas, desligados do mundo para voltar a seguir ao nosso caminho, com mais energia e um sorriso no coração. Se calhar já aqui estava no Malfadado, mas não é demais um lembrete.

MÚSICA EM CRIOULO - MÁRIO LAGINHA E TCHEKA

Querido diário, há músicas que nos fazem os dias vibrarem por momentos. Aqui ficam estas pérolas, com a Maria João e Mário Laginha. E Bana e Tcheka.


E agora esta melodia tão tranquila, de um CD que eu tenho na minha colecção de CDs da Maria João
E para terminar um regresso ao Tcheka com o Mário Laginha, num registo mais antigo. Quem me falou deste concerto há uns anos, e que decorreu em França, foi o Eduardo, do Clube de Fãs da Maria João, pois ele esteve lá. Nunca eu tinha ouvido falar deste cabo-verdiano. Uns anos mais tarde apanhei na TV um espectáculo gravado, que vou partilhar também aqui, pois junta um colectivo que criou um momento único, onde aparece também esta música, que já teve honras de Malfadado em 2016 em duas versões, uma delas esta mesmo, em França.


IVAR E A MORTE

Dia 22 o meu amigo Ivar Corceiro partilhou um conto autobiográfico no seu Facebook, que agora faço meu. De forma abusiva, pois não lhe pedi autorização... sabendo que ele nem sequer vai saber, pois escreve muito bem e não é leitor do Malfadado. Nestes dias enlutados, em que nada posso dizer dos avôs que não conheci mas que ainda me viram em vida, este texto cai bem no meu diário. Eu já só tenho memória das avós, uma era a do açúcar amarelo comido às escondidas quando a íamos visitar, mal sabia eu que ela enchia sempre o pote plástico e o deixava ali à mão de semear. A outra é do lado materno, o lado que geneticamente ficou mais forte na minha maneira de ser, e foi a avó que me ensinou a cozinhar e que quando me via magrinho (depois de tratado com medicamentos para a obesidade infantil) comentava que me tinham queimado por dentro. Não andaria longe da verdade...
Fica então o conto do IVAR CORCEIRO:
"Foi o meu avô quem me apresentou a Morte. Muito antes de morrer, diga-se de passagem. Estávamos sentados num banco de jardim. À nossa frente só um lago com patos e cisnes a quem eu dava pedaços de pão duro que ele guardava religiosamente em sacos de plástico para os nossos pequenos passeios de férias ou de fim de semana. A água do lago era amarela esverdeada e mais parecia saída dum esgoto qualquer, mas tanto os patos como os cisnes pareciam felizes ali. Eu ia atirando os pedaços de pão para locais diferentes para que todas as aves conseguissem comer pelo menos uma vez, ele ia olhando para o relógio de bolso que mais parecia ser um prolongamento do seu corpo do que um objecto externo. Às vezes alguns pardais perdiam o medo e aproximavam-se também para tentar a sorte. As árvores segredavam entre elas coisas da vida num silêncio que os meus quatro ou cinco anos de idade ainda não me permitiam perceber. O meu avô alternava a leitura metódica das horas com as cócegas que fazia ao planeta com a ponta da sua bengala de madeira. Quando o pão acabou os patos e os cisnes desinteressaram-se e voltaram para a sua vida despreocupada no lago sujo. Os pardais aproveitaram para devorar as últimas e mais pequenas migalhas que tinham ficado espalhadas pelo chão. Sentei-me ao lado do meu avô e vi os desenhos que ele tinha feito no chão de terra do jardim. Eram círculos perfeitos sem aparente motivo ou mensagem. A mão esquerda dele tremia sem parar e a direita é que fazia esses desenhos e ia tirando e devolvendo o relógio ao bolso. Foi num desses momentos que interrompi o pesado silêncio do mundo. Avô! O teu relógio é antigo mas ainda trabalha bem. Não sei bem o que é que ele entendeu da minha frase que, na verdade, não era mais do que uma inocente observação duma criança. Talvez tenha feito uma análise ao seu próprio corpo. Talvez não. Quando eu morrer é para ti! - disse. Com a resposta do meu avô a Morte sentou-se ao nosso lado, no mesmo banco. Eu fiquei no meio e ela à minha esquerda. Silenciosa. Até esse momento, na minha mente de criança o meu avô era velho mas ia ser sempre velho. Sem nunca morrer. Depois desse momento ia morrer num dia qualquer. Os meus olhos transformaram-se em cascatas tristes e alguns dos pequenos pardais esvoaçaram assustados. Lembro-me que a luz do Sol dançava na superfície suja da água. Fingia-se distraída do quase fim do mundo que acabara de acontecer e que só foi interrompido pela astúcia do pai do meu pai. Mas ainda falta muito! E olha que vale a pena andar aqui. E então a Morte levantou-se e foi passear por aí, os meus olhos secaram e os pardais voltaram às migalhas. Nesse dia não a tornei a ver. O meu avô mentiu-me. Não faltava muito. Quem me acabou por dizer a verdade foi a velocidade vertiginosa da Vida, que esta semana me levou o meu Pai. O meu Pai nunca me levava ao parque mas levava-me ao café depois do jantar, onde me permitia sempre beber um Sumol de laranja enquanto ele fumava as amarguras duma vida em cigarros intermináveis e lia vários jornais da primeira à última palavra. Percebi com esse tempo que nunca pára que a vida nunca lhe foi fácil e que tudo o que conseguiu ter e viver foi sempre às custas dele mesmo. Melhor ou pior, fez também todos os esforços para que a minha vida fosse mais fácil do que a dele. E foi. E é. Esta semana a Morte voltou a visitar-me e levou-o. A pandemia e a proibição dos voos entre o Reino Unido não me deixaram despedir-me, mas lembrei-me desta frase que o meu avô me disse em criança: “E olha que vale a pena andar aqui”. E valeu. E vale. Para além das recordações com que ficamos é isso que um pai nos deixa sempre. Valer a pena andar aqui. Fiquem bem. Todos vocês. Façam com que tudo valha a pena."

sábado, janeiro 23, 2021

O NOSSO SABU

Quando eu era pequenino e viviamos em Setúbal, tínhamos um cãozito que eu não me lembro nada dele. A não ser pelas fotos que fui vendo de tempos a tempos nos nossos álbuns de família. Aqui em Coimbra aproveitei e reproduzi digitalmente um par de fotografias do Sabu, que agora deixo aqui no blogue. Depois deste cãozito que viveu em plena liberdade, e que adoptou outro dono que lhe dava ovos estrelados e de certeza lhe fazia mais companhia, fazendo-nos depois umas visitas esporádicas, segundo me contaram, não tivemos outro cão. Só já nos anos 90 tive outro cão, aliás outros cães: a Farrusca e a Bonita, que se juntaram a mim e ao rebanho das ovelhas do Monte Barata. Dois cães oferecidos pelo Zé Preto, famoso pastor do Rosmaninhal (Idanha-a-Nova) que antes dos voluntários do Monte Barata recebeu ele mesmo um prémio Quercus. Só dele e merecido! E depois destes dois cães que referi, houve também o Sussulo e o Bucas, a Ruiva que apareceu e depois foi levada, e um cão que não recordo o nome, do casal malogrado e de má memória final (ainda que de boa memória nos tempos iniciais e bucólicos) que matava ovelhas só por prazer de perseguir e morder. E dos cães mais recentes já este blogue tem suficientes referências, acho que um dia destes faço um especial Nadí, a cadelinha que está registada em meu nome, e que me adora.
CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS : Rogélio Pedrosa 1961/62, Outão (Sécil), foto a preto e branco, que ainda não se usavam as fotos a cores.

DIA DE REFLEXÕES

Acabada a campanha eleitoral hoje é o tal dia em que as pessoas devem fazer o balanço sobre o votar ou não votar, escolher A ou B, ou fazer uns rabiscos engraçados no boletim de voto. Estas eleições presidenciais não vão ter história, o nosso bom presidente Marcelo vai ser reeleito à 1ª volta, coisa fácil de conseguir; até as múmias paralíticas o conseguem fazer. Ainda assim é bom poder escolher e este ano há muito por onde escolher. Não me admira que muitos queiram premiar o estilo interventivo, simpático e eficaz de Marcelo Rebelo de Sousa. E também não me admira que alguns, certamente muitos benfiquistas, prefiram votar no homem que se diz contra o sistema e capaz de fazer diferente. Mas se vissem, como eu vi em Vagos, um carro da sua campanha a deitar papéis pela janela, a ficarem na estrada molhada, perceberiam logo que à sua volta junta gente que não respeitando o ambiente, desrespeita tudo e todos. Porque é isso a sua campanha, semear a divisão, dizer que a culpa é dos outros, sejam eles ciganos ou pretos ou mulheres. Mas uma votação expressiva num populista acabará por ser bom para o sistema, para ver se os partidos tradicionais percebem que têm que mudar o seu modus operandi, sob pena de serem ultrapassados por gente desta desrespeitadora. Pela minha parte, que sempre gosto de agitar bem alto as bandeiras vermelhas, a escolha vai ser fácil, ainda que a Marisa Matias seja mais competente, tenha mais capacidade e seja mais de esquerda. Vamos ter um presidente da república num momento em que há nações republicanas sujeitas à monarquia, num momento em que há nações que saíram da Europa comum, mas que a maioria dos seus habitantes queriam ficar, num momento em que há países europeus onde a democracia deu lugar a sistemas autocráticos e promotores de perseguições políticas. Mas é também um momento em que no mundo já vimos cair o Trump e pode ser que os brasileiros percebam que elegeram a pessoa errada para estar à frente de um país que é quase meio continente, e que ainda tem povos indígenas. Amanhã votem bem, que eu tã-bem.

quarta-feira, janeiro 20, 2021

DIAS POUCO DIÁRIOS

Desde os primeiros dias do ano que o Malfadado ficou aqui parado. Assentei arraiais em Coimbra e a família levou o meu tempo e dedicação. O meu pai foi ganhando uma nova energia ao mesmo tempo que a minha mãe não conseguia reagir ao quadro clínico de tumor intestinal com úlcera. Da anemia grave que prejudicou a oxigenação e forçou o coração a bater mais e mais, os rins e fígado a trabalhar no limite, a falta de apetite e dificuldade em ingerir alimentos, o aumento diário da dificuldade em colocar-se de pé, depois sentada, até ao estado de falência dos órgãos foram uns dias agitados. O minguar das forças e a dificuldade em respirar quando se colocava de pé não tinha explicação no diagnóstico oncológico, mesmo considerando algumas manchas nos pulmões e fígado, e as médicas da minha mãe aconselharam uma ida às urgências. Na verdade, estando deitada, a minha mãe ficava estável e sempre muito lúcida e nada sofredora. Conhecedor da realidade dos serviços de urgência dos HUC, depois da decisão da minha irmã em chamar o INEM, ainda disse à minha mãe para se queixar muito de dores e dificuldades, mas ela ainda teve força para reagir e dizer que não ia mentir. E o resultado foi o que eu esperava, pulseira amarela, deu entrada às 22 horas e ficou na maca sem nenhuma intervenção toda a noite, só lhe fizeram análises às 10 da manhã. As análises acusaram níveis de potássio elevados demais no sangue, corrigiram esse nível e deram-lhe alta à noite. Às 23 horas estava a regressar a casa, com alucinações e perfeitamente esgotada de cansaço. No dia seguinte foi um dia para descansar e dormir, dormir. Depois vieram a casa fazer colheita para análises, e o resultado foi claro: falência dos órgãos vitais. Foi grande a coragem da minha mãe, ao saber os resultados e pedir para não voltar ao Hospital. Continuou lúcida e pediu a presença do padre franciscano no dia seguinte, já instalada na cama articulada que montámos para facilitar as mobilizações e posicionamentos. Na manhã seguinte, acompanhada em permanência por familiares e num dia que nasceu cheio de luz, a minha mãe foi pedindo para mudar de posição até que o coração parou, a respiração ficou pausada e adormeceu no sono mais fundo, levando memórias e saberes, levando a presença protectora constante na vida de algumas outras pessoas. Dia 10 de Janeiro de 2021 fechou-se um ciclo. Depois foi o que se espera destes momentos trágicos. Os netos da Suiça vieram juntar-se ao pai (o meu irmão tinha vindo para as pequenas férias de final de ano) quando finalmente perceberam que uma das suas avós ía morrer. Eu fui contra esta viagem apressada, por mim estas presenças devem ser em vida, dando notícias e acompanhando. Mas eles quiseram vir e fizeram-lhes a vontade, chegaram já o velório estava montado na sala. Ainda assim foi importante a sua presença atrasada, para currículo de vida. Duvido é que tenham aprendido alguma coisa, distraídos em quase permanência com as infernais máquinas de jogos e distracções passivas. Foram dias diários para eles, para mim foram pouco diários. Estive presente mas refugiando-me como sempre das cerimónias religiosas. E depois das cerimónias continuei de enfermeiro do meu pai, acompanhando e ajudando, ouvindo e cuidando, até que ele foi passar uns dias a Canas de Senhorim. Voltei a casa e trouxe a Nadi, para a refugiar das últimas noites de frio intenso e arejar a sua casota de cimento frio e mantas. E voltei aos abraços dos amigos, ainda que à distância e sem bracinhos, neste distanciamento social que arrasta um congelamento social que também é doentio. Por estes dias pouco diários arranjei também outras coisas interessantes para partilhar aqui no Malfadado, e que aqui cairão quando voltarem os diários dias. Por agora estou a recuperar.

domingo, janeiro 03, 2021

EM PASSEIO COM OS AMIGOS

Nada como um domingo de manhã para sair de casa em passeio. E esta manhã saí em vários passeios ao mesmo tempo, mas mantendo os pés quentinhos debaixo dos lençóis. Andei a ver as novidades dos amigos, muitas mensagens de Ano Novo e fotos a ilustrar. O típico do Facebook. Mas gosto principalmente de textos da malta que esteve na rua, entre passeios e trabalhos de campo na agricultura. Alguns dos quais partilho aqui, sem referir os autores: 

"- Olá, bom dia. É para visitar o Castelo?
Apercebi-me que o interlocutor, que surgiu do nada logo após ter estacionado o meu carro na praça central da aldeia, junto à velha mas imponente fortaleza, era nem mais nem menos do que o funcionário do posto de turismo e também responsável pela abertura, fecho e manutenção do interior do Castelo.
- Quando quiser é só dizer. Eu abro-lhe a porta.
Informando-o de qual era o meu objetivo, entregou-me diligentemente cartografia do local e orientou no sentido do início do percurso pedestre de Amieira do Tejo.
Como qualquer bom percurso numa manhã fria de nevoeiro, o início tem de resvalar para um local onde sirvam café, neste caso a associação recreativa local. Após saborear a desejada bica, de forma mais apressada e decidida do que o vizinho de balcão cujo copo de três era sorvido lentamente, iniciei o PR 1 - trilho de jans, circular, com cerca de 11 km, em direção ao rio Tejo. Primeiro ao longo de uma paisagem ondulada, remendada com pastagens luxuriantes, carvalhais e olivais, em direção ao banco de nevoeiro que se vislumbrava lá em baixo, no vale. 


Curiosamente, com o avançar do percurso e da manhã, a neblina foi-se dissipando, qual mar vermelho aberto por Moisés, e deixava observar paisagens magníficas e feéricas. Percurso atapetado de musgo e herbáceas brilhantes de orvalho e uma constante presença invisível dos dedicados javalis que insistiam em interromper o referido tapete verde. Prados com gado ronceiro e curioso, mantido por pastores modernos, cavalgando veículos 4x4 mas não deixando de, diligentemente, oferecer o seu pequeno-almoço a um estranho que, incompreensivelmente trocou o quente dos lençóis por um esforço matinal com temperaturas próximas do zero.

Até que, no início da abrupta descida para o rio, protegida por uma confortável e salvadora escadaria em madeira, surge, entre o nevoeiro esfarrapado, o maravilhoso e profundo vale do Tejo, com a barragem do Fratel unindo as suas margens, e a linha de comboio, rio abaixo e rio acima, de braço dado com o leito do rio mais extenso da península ibérica.
A chegada à margem do Tejo caudaloso, alimentado pela descarga de superfície da barragem, permitiu conhecer pela primeira vez o extenso muro de sirga que parecia concorrer com a linha da Beira Baixa, na outra margem. Não me recordo de alguma vez, nas longínquas infância e adolescência, ter ouvido falar destas estruturas de pedra, nalgumas zonas autênticas muralhas, que serviram em tempos idos para dar a força necessária aos barqueiros, através de cabos de sirga, para transporem as zonas mais caudalosas que o vento ou os remos não permitiam contrariar. E eram os animais ou a força humana, esticando esses cabos, que permitiam que as embarcações chegassem ao bom porto de Vila Velha de Ródão ou a terras de Castela.
E o percurso continuou, sempre acompanhado do rumorejar das águas revoltas, dos saltos dos riachos em pequenas cascatas que se fundiam com o Tejo, do piar da diversificada e irreconhecível passarada e do voar atabalhoada das garças.
A passagem de uma locomotiva de manutenção pela linha da Beira Baixa, cujo maquinista acenou de forma simpática, quebrou momentaneamente a paz daquela tranquila paisagem rural.
Chegada à margem oposta de Barca da Amieira, local de transposição do curso de água com recurso a uma barca moderna e motorizada, verificou-se estar esta inoperacional devido aos mais de 430 m3/s golfados pela barragem. Barca da Amieira foi em tempos o local de passagem do corpo da rainha santa Isabel, falecida em Estremoz e sepultada na famosa igreja de Coimbra.
Na reta final do percurso, no remontar ao povoado de Amieira do Tejo, o trilho passava inesperadamente por uma zona de acesso interdito, por ser privada. No entanto os caminhantes, como afirmava a placa informativa, eram bem-vindos e o seu acesso era feito por uma porta especialmente erguida para eles.
- Claro que sim. É sempre em frente, pelo caminho de terra batida - informou sorridente um trabalhador da quinta depois de lhe ter perguntado, timidamente, se podia passar.
Para trás ficava a deslumbrante paisagem pastoral do vale do Tejo.
Antes de entrar no troço alcatroado, surgiram dois pontos saltitantes que desciam encosta abaixo, por entre a vegetação esparsa e a transbordar de clorofila. Com a aproximação apercebi-me serem duas raposas, com suas causas farfalhudas, que, alegremente, à medida que avançavam, se desafiavam e mordiscavam.
Com o castelo ao fundo, entre as casas brancas e rasteiras da aldeia, ocupado em tempos pelo condestável D. Nuno, a estrada, murada, serpenteava pelo meio dos campos. Os condutores dos automóveis que, pontualmente, nela passavam, cumprimentavam. No percurso de regresso, os mesmos condutores insistiam na saudação cordial e calorosa.
Cerca de 4 horas depois, de chegada novamente ao largo do castelo, este já se encontrava fechado e o amável funcionário camarário, por ser a sua hora de almoço, já tinha interrompido o corte de vegetação no seu interior, sempre de olho no balcão do posto de turismo, também da sua responsabilidade.
Percurso terminado mas não concluído: em abril será retomado e repetido, recorrendo então ao comboio até à estação de Barca da Amieira- Envendos e posterior passagem do concelho de Mação para o de Nisa utilizando o denominado transbordador. E vai haver certamente uma paragem, pela hora do almoço, na associação recreativa onde, com mais calma, poderemos certamente saborear uma bifana e um copo de três, quiçá acompanhado pelo tal habitante de Amieira do Tejo.
Estão convidados."

E outro agora:

"Neste primeiro dia do ano o sol bem cedo começou a ensaiar a sua dança, a natureza agradece: a margarida do monte, malmequer de liberdade, levantou a corola agradecida; a aranha-tigre lobada aproveita para renovar a teia; a cobra de ferradura absorve cada raio de sol para aquecer o corpo; o gato Napoleão sempre bem instalado procura o melhor canto para captar os raios solares; o caracol caracolinho mete os corninhos ao sol; 

no pé de salsa os pigmentos da clorofila vão captando a luz solar para a realização da fotossíntese - este pé de salsa é uma força da natureza, uma lição de vida, nasceu no meio do cimento e todos os dias mostra o seu encanto e a sua vontade de viver.
Votos de um ano iluminado para todos"

E este texto do Torga, partilhado por outro amigo no último dia do ano:

"Sísifo


Recomeça...
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...


Miguel Torga TORGA, M., Diário XIII."

E termino com esta foto de outro grande amigo, que partilhou e escreveu assim:
"De uma forma didáctica, pretendo continuar a utilizar a fotografia de natureza e as minhas imagens como meio de divulgação, valorização e preservação do nosso património natural.
“Porque só protege quem gosta e só gosta quem conhece”.
O reino dos fungos é um mundo maravilhoso e mágico constituído por milhares de organismos essenciais à vida no planeta, são os grandes recicladores da natureza, especialistas na decomposição de organismos animais e vegetais, contribuindo para que o solo esteja bem nutrido e hidratado."

Este amigo é a prova viva de que a sociedade de consumo prefere que a malta seja reformada tarde, pois se forem reformados ainda com saúde podem dedicar-se a projectos educativos e que apelam à cidadania ativa. E acabo assim, com esta minha reflexão, este momento matinal de navegação na net. E de registo no diário. Está na hora de levantar e alimentar quem tem menos saúde.


E UMA MÚSICA DESTE FABULOSO DUO

 OVERDRIVER DUO - um casal de brasileiros que faz, muito bem, reviver músicas muito boas de vários estilos da música popular.

sábado, janeiro 02, 2021

AMBIENTE NA ORDEM DO DIA

 Querido diário, só para registar que nas redes sociais a defesa do ambiente continua na ordem do dia. Pelo menos é a conclusão que tiro da consulta rápida ao Facebook. Se há pessoas como o Jorge Paiva, que conheci há décadas a defender o ambiente, e continua a influenciar a sociedade, à sua maneira e em grande forma (link para crónica do Público), aparecem também outras pessoas que clamam por mais mudanças na forma de vida de todos e de cada um, de forma a respeitar todos os seres vivos do planeta. Gosto de ver estes activismos. Porque são os meus activismos também. Li também a entrevista à Patti Smith, publicada na revista do Expresso, onde ela realça a defesa do ambiente e refere a necessidade de cada um ser menos egoísta, nos relacionamentos sociais, mas também nas escolhas de consumo, para nos permitirmos ter um planeta habitável por uns aninhos mais. Para nós e para os que aí vêm. De repente, entre família e vizinhos vêm aí mais 3 bebés este ano.

CONTESTATÁRIO E PARTICIPATIVO

 Aqui em Coimbra apareceu na caixa de correio um postal tamanho grande, iniciativa dos CTT. Vendo com atenção, o postal trazia uma folhinha destacável que informava ser este postal uma ideia dos CTT para as pessoas poderem enviar para quem quisessem, sem custos. De um lado a parte para as pessoas escreverem, do outro uma pintura sem graça nenhuma com motivos e cores natalícias. Tipo papel de embrulho. Mas em letras pequeninas estava também escrito que esta iniciativa era uma alternativa proposta pelos CTT à ANACOM para a compensação da falta de qualidade dos serviços prestados pelos CTT. E, pelos vistos, a ANACOM aceitou. Vai daí, agarrei no postal e enviei-o ao primeiro-ministro, António Costa, pedindo para ver se aumenta a qualidade na ANACOM, de modo a não  termos a sensação que são muito permeáveis à corrupção. Um postal gratuito uma vez sem exemplo? Que raio de compensação é esta? Não poderiam os CTT dar algum do seu lucro ao sector das artes, nesta fase crítica que atravessamos? E como estava em onda participativa, aproveitei e enviei a minha candidatura para o concurso Vaqueiro, para ver se me calha uma das 5 Bimbys que eles vão oferecer. Enquanto não me sai uma Bimby, ou alguém me oferece uma, sempre vou tentando a sorte no totoloto, porque entre apostas sempre se ajuda a Santa Casa e outros apostadores, e pode ser que calhe um prémio grande que dê para comprar algo mais do que uma Bimby.

sexta-feira, janeiro 01, 2021

ENTRADA

A entrada em 2021 foi feita com o pé direito metido numa pantufa. Mas a verdade é que ainda os fogos de artifício troavam pelos ares e eu já estava na rua, pé direito nas minhas botas Chiruca, fui à garagem buscar uns colchões para o meu irmão acampar na sala da casa dos meus pais. Devido ao adiantado da hora eu já estava praticamente a dormir em pé, mas lá comi as excelentes 12 passas de uva bio que tinha comprado em excelente promoção do Intermarché. Esperando que 2021 seja um ano também excelente. E como resolvi fazer um registo tipo diário, vou fazer poucas referências a terceiros, que felizmente me acompanham nestes nossos dias de vida. Foi uma passagem de ano em família, cumprindo muito minimamente as restrições impostas, também pela muito frágil situação de saúde da minha mãe. E acompanhando também os problemas do meu pai, que nasceu em 33 e anda debilitado por coisas que eu cá sei. A pitada de felicidade foi a presença do meu irmão luso-helvético, que conseguiu vir até cá nestes dias festivos, e se preocupou em organizar uma jantarada com 5 convivas e com foto partilhada no Whatsapp da família chegada.

OLÁ 2021

 Querido Diário

Neste 2021 que agora começa, vou fazer do Malfadado o meu diário. Para que fique registado, e sujeito a algum tipo de análise futura, como foi a vida em Portugal de uma pessoa anormal.

No ano em que o Malfadado vai cumprir 15 anos (é já este mês, não estando previstos festejos especiais), e com um total de mais de 1400 registos, esta é a forma de evoluir de um blogue pessoal. É uma nova experiência, para fazer uma coisa que nunca fiz, nem nos tempos de criança ou adolescente, ainda que tenha tido umas agendas de bolso onde cheguei a  começar uns rascunhos. Sempre gostei de observar a passagem do tempo, a verdade é essa.

Não terei registos diários obrigatórios, mas poderei ter mais do que uma partilha por dia. Como se pode ver já a seguir.