segunda-feira, março 11, 2024

QUEM GANHOU AS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS 2024?

 Em cima do acontecimento, e ainda sem ter os resultados finais porque falta a contabilização dos votos e dos deputados eleitos pelos emigrantes, aqui vai a crónica política no Malfadado. Vou divulgar aqui quem é que ganhou nestas eleições.

Muitos dizem que foi o Chega a ganhar as eleições. Mas é um engano, o Chega vai ter uma grande representação parlamentar, vai ganhar direitos na Assembleia da República, mas com a quantidade de dinheiro que vai entrar nos cofres da instituição, é certo que aquilo vai ser um viveiro de guerras internas. E não ganha as eleições porque fica num honroso 3º lugar, com deputados suficientes para andar metido em todas as Comissões Parlamentares, mas serão na sua maioria pessoas sem preparação para exercer cargos públicos de defesa dos eleitores que os elegeram. Não ganha as eleições porque o Chega tem muitos deputados, mas serão deputados que não contam para ajudar a mudar a vida dos portugueses para melhor, uma vez que a sua intenção é apenas tentar destruir ainda mais o PSD, uma vez que já conseguiram destruir os bastiões do PCP e pensam que podem ir mais longe. O Chega não ganhou as eleições porque os eleitores nem imaginam quais são as qualidades dos deputados que meteram no Parlamento, quem é verdadeiramente premiado é o André Ventura, o seu discurso e a sua presença conseguem de facto mobilizar o voto dos portugueses. O crescimento do número de votantes no Chega é impressionante, triplica em relação há apenas 2 anos atrás. E essa triplicação resulta numa quadruplicação do número de deputados, o que poderia ser notável, caso esses deputados fossem importantes para a implantação de políticas efectivas de intervenção na sociedade.

Há quem defenda que foi a AD a ganhar as eleições. E de facto, foi quem conseguiu posicionar-se melhor, mas só se somarmos à verdadeira AD os votos e os 3 deputados da coligação PSD+CDS (para os mais desatentos, na região da Madeira o PPM ficou de fora e como tal não houve AD a concurso).

Como se vê na imagem seguinte, ao abrir a página oficial dos resultados, o PS tem mesmo mais deputados e mais votos que a AD:



 Mesmo que a AD consiga eleger 2 deputados pelos círculos do estrangeiro, roubando um aos 3 actuais do PS, e mesmo que o Chega roube outro deputado ao PS, a AD enquanto tal não conseguirá ter mais deputados eleitos do que o PS, na melhor das hipóteses terá o mesmo número. O número de votantes também é importante, pois a AD enquanto tal está neste momento com uma desvantagem de cerca de 2 mil votos, e há 2 anos atrás ficou com 15 mil votos menos no voto emigrante. Ou seja, muito dificilmente a AD terá mais votos que o PS nas contas finais. Para os partidos da AD conseguirem ter no seu conjunto mais deputados que o PS, é então preciso somar os 3 deputados do PSD eleitos na Madeira, e mesmo assim é uma vantagem mínima. Se retirarmos os dois deputados do CDS, o PSD vai ficar empatado, ou com apenas mais um deputado que o PS. Não se pode é fazer a contabilidade dos votos, pois não se consegue determinar a diferença de votos entre PSD e CDS (e PPM). Mas sim, poderemos admitir que o PSD teria mais votos que o PS na contagem final, mas uma pequena diferença.

Podemos então defender que, com mais votos dos portugueses, o PS é o vencedor destas eleições? Que é coisa que nenhum analista político ou comentadeiro irá dizer, e muito menos algum socialista poderá gabar-se? Também não me parece boa leitura das circunstâncias, mesmo que ficasse à frente da AD de forma mais visível, nunca teria mais do que um ou dois deputados, pois a descida em apenas 2 anos do número de votantes no PS (que teve nas mãos uma estabilidade parlamentar que não soube aproveitar, sendo vítima da falta de competência política de inúmeros ministros e secretários de estado) é realmente determinante. Perde 500 mil votos numas eleições em que votaram mais 800 mil pessoas, em números aproximados. Ainda assim, consegue um bom grupo parlamentar, encaixando todos os seus boys e girls mais mediáticos, e garante um bom financiamento anual do erário público para a sua estrutura de sedes e funcionários. Mas temos mesmo que admitir ter sido derrotado nestas eleições, como aliás era de se esperar depois de um governo que não conseguiu resolver a maior parte dos problemas dos serviços públicos, e viu a maior parte dos residentes em Portugal que não têm casa própria sofrerem com a absurda subida do preço da habitação.

Depois temos todos os outros partidos, divididos em dois grupos: os que elegeram deputados, e que vão receber um financiamento anual dos dinheiros dos contribuintes, e os que tiveram tão poucos votos que não chegaram para ter representantes seus no Parlamento, e por isso vão continuar na sombra. Até na sombra mediática, uma vez que a nossa imprensa apenas ajuda a divulgar os partidos com assento parlamentar.

E será que foi algum dos partidos que elegeu deputados a ganhar estas eleições, mesmo que nenhum deles seja referido como tal?

Iniciativa Liberal, fica em quarto lugar outra vez, podemos dizer que fica na mesma. Um pequeno grupo parlamentar que por si só não ajuda a fazer a diferença, pois também não quer nada com a falta de qualidade dos deputados do Chega, são outra vez apenas 8 deputados, que terão que se desdobrar para trabalhar nas diferentes Comissões. Numas eleições com tantos eleitores, o seu crescimento eleitoral ajuda também no financiamento da sua estrutura partidária, mas a IL acaba por ser vítima de não conseguir mostrar um bom funcionamento interno, com gente a afastar-se publicamente, com críticas ao centralismo de quem ganhou nas eleições internas.

O meu Bloco de Esquerda é que também não ganhou nesta eleições, e tal como a IL fica na mesma, não fazendo a diferença no hemiciclo. São outra vez 5 deputados, eleitos nos mesmos círculos distritais, aumenta o número de votos mas nada de especial, aliás neste momento tem exactamente a mesma percentagem de há 2 anos, 4,46%. Sendo um partido pequeno, que perdeu a capacidade de chamar a si os votos de protesto e ao institucionalizar-se e fechar-se no trabalho parlamentar (no muito bom trabalho parlamentar, há que dizer), o BE sofre do efeito do voto útil a favor dos grandes partidos nos círculos onde se sabe que não vai eleger deputados, mesmo que tenha candidatos com excelentes qualidades. Nestas eleições não soube tirar melhor partido do descontentamento das pessoas que acreditam numa sociedade que tem nos serviços públicos a base do seu desenvolvimento, as suas boas prestações e apelos serviram, pelo menos, para não cair nas votações e manter um grupo parlamentar de serviços mínimos nas Comissões Parlamentares, e de serviços máximos na apresentação de propostas de lei. E serviram para garantir o bom funcionamento da sua estrutura partidária.

O sexto lugar vai para a Coligação Democrática (e) Unitária, juntando o veteraníssimo PCP e o seu satélite PEV. Claramente perderam nestas eleições. O seu grupo parlamentar, que eram só deputados do PCP, perde dois deputados, um deles era representante de Beja, os seus 4 deputados são eleitos, tal como os do BE, apenas por Setúbal, Lisboa e Porto. Em Beja, a esquerda fica envergonhada e humilhada, pois abre a porta a mais uma deputada do Chega, uma ilustre desconhecida que também deixou o PSD, com muita inexperiência em cargos públicos. O PCP perde deputados e perde votos aos milhares, pois havendo mais votantes num universo de menos eleitores recenseados (menos 20 mil recenseados, certamente muitos dos velhos que morrem eram votos certos no PCP em cada eleição), descer 30 mil votos em 2 anos vai dar muito que pensar às cúpulas. Porque se calhar as bases já perceberam o que está mal neste partido. Não se imagina como dividirão os valores da subvenção anual com o PEV, mas com esta votação terão ainda o suficiente para financiar a sua grande estrutura partidária. Isso sim, terão que apertar um pouco o cinto.

Um dos poucos que poderiam ter dito que ganharam as eleições seria o Rui Tavares. Partindo de um modesto 9º lugar em 2022, e com o próprio dirigente do Livre a ser deputado único na Assembleia da República, sobe dois lugares e multiplica a sua votação por três. E quadruplica o número de deputados, passando a cumprir largamente o objectivo de constituir um grupo parlamentar. E garante um financiamento público anual que lhe vai permitir alargar a estrutura partidária. O partido que ganhou notoriedade com os episódios protagonizados pela simpática gaguinha Joacine Moreira cresceu à custa do protagonismo do seu líder e beneficiou da transferência de votos dos votantes esquerdistas do PS, mas também do crescimento do número de votantes. O Livre não ganhou estas eleições mas ficou perto de poder ser considerado o que mais ganhou. Pelo menos ganhou para as despesas, e abriu uma porta para se posicionar com mais peso numas futuras eleições e possíveis alianças pré-eleitorais. Elege deputados apenas nos mesmos distritos que o BE e o PCP. Que mesmo todos juntos, serão deputados que também não contam para uma solução governativa ou de defesa de políticas determinadas.

Em 8º e último vem o Pessoas, Animais e Natureza, que nasceu dos movimentos da sociedade civil de defesa dos direitos dos animais como Partido dos Animais e Natureza, e depois se alterou para o actual PAN. Este partido ficou na mesma, subiu um pouco a votação, mas não foi suficiente para eleger um segundo deputado, apenas a sua líder manteve o lugar que já ocupava na Assembleia da República. Nestas eleições dei o meu voto a este Partido, de forma a ajudar a financiá-lo por mais algum tempo. E com os votos angariados, se conseguirem fazer uma boa gestão financeira, poderão procurar estar mais perto dos eleitores que lhes confiaram o voto, e principalmente junto dos eleitores que não vêem no PAN uma boa escolha, mas que o façam de maneira menos convencional e mais ecológica, uma vez que de facto, continuamos sem ter no Parlamento uma formação política que defenda a causa ambientalista, e o PAN poderia vir a ser essa força. Ou a Inês arrisca-se a apanhar também com um real banho de tinta. Pois, também não foi o PAN a ganhar nestas eleições.

Restam os pequenos partidos, aqueles que ficam de fora, os muito pouco, ou mesmo mal amados pelos eleitores. Será entre os pequenos que vamos ver quem ganhou as eleições. Na generalidade podemos dizer que os pequenos partidos viram crescer as suas votações, isto em número de votos, porque em termos de percentagem a variação ficou-se na manutenção dos valores. A grande excepção à subida foi o MPT e o Aliança, que decidiram concorrer em coligação, e mesmo assim, juntos, tiveram piores resultados que a soma dos seus resultados em separado, mais do que o Aliança, mas muito menos que o MPT há 2 anos atrás. Será de pensar desistirem, fecharem as portas, quem sabe sejam futuros activistas do Chega.

Mas não estou aqui para dar propostas para o futuro, falta divulgar quem ganhou estas eleições.

O partido que conseguiu ganhar estas eleições, não elegeu deputados, não vai receber subvenção para se financiar anualmente. E é realmente um dos pequenos partidos. Foi a Alternativa Democrática Nacional. Este partido, a ADN, multiplicou por 10 a sua base eleitoral. Passou de 5º lugar dos pequenos, para o topo da lista. É o primeiro, e por pouco não elegia um deputado em Lisboa ou no Porto. Ganhou não por ter um programa eleitoral melhor, muito menos pelas prestações do seu líder, e ainda menos pelas prestações dos seus candidatos ao nível dos distritos. O ADN ganhou estas eleições porque consegue crescer muito mais que todos os outros, sem ter capacidade para isso. O ADN cresce e mostra bem a qualidade dos eleitores, principalmente os da AD, que se enganaram a meter a cruz. Alguns terão desculpa, sim, pois cuidar da visão não é para todos, mas outros, muitos, é mesmo por falta de competências.

Parabéns ao ADN, por mim leva a taça!!!!

quarta-feira, fevereiro 28, 2024

O VENTO ASSOBIANDO NAS GRUAS - DE LÍDIA JORGE A JEANNE WALTZ

 Ora bem, não sendo eu um crítico de cinema, gosto de ir aconselhando aqui um ou outro filme. Este tem um lugar especial. O livro de Lídia Jorge conta a história de parte da vida daquela que a escritora considera ser a sua personagem favorita: Milene. Foi de parte do romance que a realizadora helvético-lusa Jeanne Waltz fez um filme sobre o amor (im)possível entre pessoas de origens diferentes, de mundos diferentes, que se cruzam num Algarve de finais do Século XX.

Um bom argumento é sempre muito importante num filme, gosto muito quando o argumento é imaginado pelo próprio realizador. Mas neste caso a história foi imaginada por uma das nossas melhores romancistas, e foi muito bem adaptada pela realizadora, que já vive em Portugal há muitos anos.

Como houve uma antestreia em Aveiro, com direito a mesa redonda com a presença da realizadora, lá fui eu ver este filme português. Gostei muito desta noite cultural de ontem, a realizadora é uma pessoa simples e despretensiosa e falou um pouco sobre o seu percurso e sobre o processo de fazer o filme. Depois fomos todos jantar, pouco mais de 20 pessoas. Para a sessão apareceram muitas mais pessoas, de facto uma recepção muito boa para um filme, e ainda por cima um filme português.

Gostei muito do argumento que a realizadora imaginou, para num filme de menos de 90 minutos nos transmitir a estória de forma interessante, ritmada e com imagens de elevado nível estético. Bom som, bons movimentos de câmara, boa luz, excelente utilização dos planos e das cores, boa montagem. Um filme digno de ser visto e que merece ser destacado.

No final do filme, depois dos aplausos, a realizadora ficou também disponível para uma conversa, mas eu já não fiquei, por causa do adiantado da hora (além do filme passaram apresentações das sessões às 3ªs feiras e ainda uma curta metragem). Mas antes dela começar a falar fui lá dar-lhe os parabéns e perguntar se o som do bico das cegonhas, numa cena intensa quando o casal de enamorados se cruza e depois se vai juntar, caminhando em direcções opostas, tinha sido captado por acaso ou se tinha sido adicionado na parte da produção. A resposta foi esta, com um enorme sorriso no rosto: - Sim, foi adicionado propositadamente, adoro quando algum dos espectadores repara nestes pormenores.

Fica aqui o respectivo trailer, para quem ainda não o apanhou:

Falta ainda uma referência às pessoas. Referência 1 - Bom trabalho dos actores, todos a um bom nível, e ainda temos direito a boas músicas, com o próprio Dino d'Santiago a cantar. Referência 2 - Pensava que ia sozinho ao cinema, mas felizmente tive a companhia do Paulo Almeida, que me viu na plateia e me fez companhia

terça-feira, fevereiro 27, 2024

BREVE HISTÓRIA DE QUASE TUDO

 Um livro de divulgação científica muito bem escrito e que nos leva através dos tempos para percebermos a evolução da ciência. Autor Bill Bryson. Aconselho. Comecei a ler na Suiça, quando lá fui da última vez, estava em casa do meu irmão e peguei nele. Já este ano, estávamos para sair de casa por um par de dias e pensei ir à biblioteca buscar um bom romance. Mas de repente pensei que antes de sair de casa poderia ver os livros cá de casa, podia ser que visse um que me despertasse o interesse. Vou à mesa de cabeceira e... mesmo no cimo de uma pequena pilha de livros, lá estava este livro a olhar para mim. Nem sabia que tinha o livro em casa, é verdade e pode parecer mentira. Há que dizer que a mesa de cabeceira não é do meu lado da cama, há que dizer que a minha memória é mesmo assim, não me lembrava que a Carolina tinha mandado para a Zé este livro, por ocasião da pandemia. E pronto, ando entusiasmado com a leitura, ainda que tenha pouco tempo entre os trabalhos dos dias após dias, mas já li sobre a teoria da relatividade e acho que já percebi do que se trata. Grande Einstein!!!

segunda-feira, fevereiro 26, 2024

O VOTO ANTECIPADO

Eis uma coisa boa que não havia antigamente, o voto antecipado por mobilidade. Nós vamos usufruir, a inscrição é fácil e podemos votar já no domingo 3 de Março. Não aconselhável a quem ainda está indeciso e precise de mais tempo para estudar a situação. Votando antecipadamente no dia 3, a mesa de voto aqui no concelho de Vagos é mesmo na Câmara Municipal. Ou seja, não temos que nos deslocar à mesa eleitoral da freguesia em que estamos inscritos.

Para ajudar na reflexão, um texto da Hélia Correia de 2014, do tempo do movimento dos indignados. A escritora tem agora 75 anos.

domingo, fevereiro 25, 2024

313 - INTERLÚDIO MUSICAL E DAS ARTES

Reunir num video a Silvia Perez Cruz, com a Penelope que também é Cruz, foi o que passou na cabeça do artista Residente. E chamou a esta composição musical, mas que também é muito visual, 313. O Malfadado serve também para registar coisas actuais que acontecem no mundo, aqui ao lado, e que nos passam ao lado. Façam um momento Zen, parem e apreciem: Fica também o registo para a memória, que por estes dias em Espanha, na cerimónia da entrega dos prémios Goya, o Salvador Sobral foi convidado por esta Silvia para uma actuação, que é mais uma deste duo ibérico, e que também é absolutamente magistral.

sábado, fevereiro 24, 2024

VEM AÍ A CAMPANHA ELEITORAL

 Ninguém diria, mas a campanha eleitoral ainda não começou. Com tanta movimentação noticiosa, sondagens e afins, parece que chamam a este período a pré-campanha eleitoral. Um video engraçado é este que aqui partilho, iniciativa do Bloco de Esquerda

Pelo meu lado não preciso da campanha para tomar uma decisão em quem votar, já sei em quem não vou votar. Em Lisboa ou Porto, ou havendo um círculo nacional, votaria no Bloco de Esquerda, pois vai ter poucos deputados e os que estão em lugares elegíveis são todos pessoas muito competentes. Em Aveiro vamos ter 3 forças a eleger deputados, como já aqui expliquei anteriormente no Malfadado. O PS, a AD e o CH. Nenhum deles apresenta propostas de deputados de gente que reconheça serem capazes. Mais vejo gente ligada a interesses ou gente que não interessa a ninguém. Gente que vai fazer número no parlamento, mas é assim que o sistema funciona. Houvesse cadeiras vazias para o voto em branco, e seria um voto em branco. Desta vez não voto BE, nem PCP (que ainda vai coligado com os Verdes, verdadeiro anacronismo e quase anedota), estaria inclinado a dar apoio financeiro ao Livre ou ao PAN, mas vai ser mesmo ao PAN, ainda que seja um partido algo estranho e parecer ter problemas internos, ainda é o partido que elege deputados que mais segue uma linha moderna e independente, fora dos esquemas habituais dos interesses instalados. Não voto no Livre porque me parece que é o partido de uma só pessoa, a qual é muito válida, é certo, mas que não acrescenta nada à esquerda, que já temos representada num bom leque partidário. O meu voto é então de protesto, protesto contra o actual governo do PS, contra o actual estado da Justiça, protesto contra o BE e PCP por não fazerem a melhor leitura da situação actual, e não se coligarem nos distritos onde juntos poderiam eleger um deputado, e que era menos um que os outros 3 elegeriam, reforçando assim a esquerda parlamentar. Concorreriam separados nos distritos onde se elegem mais deputados, mas coligados nos outros distritos onde ainda há esperança, e também separados naqueles distritos onde não há esperança nenhuma. Isso sim, agora andar aí a falar de futuras coligações, possíveis se, e só se talvez...

sexta-feira, fevereiro 23, 2024

PARA A MEMÓRIA, QUE PREFERIA NÃO TER

 Fica aqui registado um triste episódio, que afinal vai ter um final feliz. No fim do Verão do ano passado, um cachorro é abandonado no quintal de amigos. Um quintal onde já vive uma cadela e, por temporadas, um cãozinho mais pequeno e simpático. Depois de uns dias já no quintal, os donos percebem que existe um novo habitante, mas muito esquivo e que se escondia na vegetação. Eu vou lá para ver o que se passa e confirmo a situação, e ofereço-me para dar uma ajuda. E nessa altura, verificando que o cão é problemático demais para a situação, fica decidido contactar a Câmara Municipal para proceder à recolha do cão. Da parte da Câmara Municipal a resposta habitual: fica registado e em lista de espera, até haver vaga no centro de recolha (vulgo canil). Ofereço-me para dar uma ajuda e tentar adaptar o bichinho para contacto humano e contacto com os outros cães, e na altura investiu-se numa coleira. Ainda saí com ele uma vez, à trela, e o passeio até correu bem, mas a coleira era um bocado grande e no final ele conseguiu dar um puxão e soltar-se. Para evitar ficar mais um cão de rua, como já estava a escurecer, durante a noite o quintal ficou aberto e... o cão regressou ao "seu" quintal. Mas depois não consegui dar continuidade ao meu trabalho voluntário, andei doente e com pouca energia, até que voltei ao modo mais activo. Mas com tantas coisas atrasadas para fazer, enfim, o tempo passou. Um dia passo por lá e fico a saber que o cão ainda não foi recolhido. E que nunca mudou o comportamento, sempre a esconder-se das pessoas e sem interagir com os outros cães. Há que insistir com a Câmara Municipal, mas respondem a dizer que depois de tantos meses, terá que ser a proprietária do quintal a apanhar o animal e a levá-lo a um veterinário, para saber se tem chip identificador. Hummm, não me pareceu nada bem esta resposta, e ofereci-me para escrever uma proposta de ofício para mandar para a Câmara. Mas não estando de todo em forma, a verdade é que demorei umas semanas a escrever o texto explicativo, mas finalmente enviei-o. Entretanto o bicho lá ia andando, sempre no mesmo registo. Mas eis que estes dias fui lá podar umas videiras e kiwis, e quando iá buscar um escadote reparo que o cão está num antigo galinheiro e penso que seria bom encurralá-lo, para avaliar o seu estado. E assim faço e percebo logo que o bicho não está bem. Lá o consigo prender novamente e devagar aproximar-me e perceber que tem o pescoço todo em ferida, consequência da fita que traz apertada demais junto do pescoço. O bicho foi sempre crescendo, como é normal, e a fita começou a apertar demais e a fazer ferida, e lá fui buscar uma tesoura e consegui retirar-lhe a fita, pobre coitado. Mas agora era preciso intervenção veterinária urgente, lembrei-me logo do Gabinete Veterinário Municipal. Antes disso perguntei se da parte da Câmara tinha havido alguma resposta ao e-mail que eu tinha proposto ser enviado, mas por puro azar não tinha ainda sido enviado, no meio de tantos afazeres diários e preocupações. Contacto então por telefone e peço a intervenção, mas a resposta é que não podem fazer nada, uma vez que não têm vaga no canil. Mas felizmente, e muito bem, contactam os voluntários de uma associação que nem meia hora depois já estavam prontos para uma acção de resgate. Fica já aqui uma palavra de reconhecimento para o trabalho meritório dos Patudos de Vagos. Aparece então uma voluntária, eu volto a apanhar o cão facilmente porque entretanto lhe coloquei a tal coleira que antes estava um pouco larga e deixei uma trela comprida pendurada, e quando ele estava escondido debaixo dos arbustos ficou a ponta da trela à mão de agarrar. A voluntária coloca o cão dentro do carro e quando tudo parecia bem encaminhado, o bicho assustado dá dois saltos e tranca o carro por dentro, e lá dentro as chaves da viatura, o telemóvel da voluntária, enfim. Só visto, depois de tantas situações de má sorte seguidas, ainda aparece mais este episódio, que só se resolveu chamando a intervenção de mecânico automóvel, que aliás ambos conhecíamos bem. O cão está agora a recuperar num veterinário local, até a ferida sarar, e ficará depois a aguardar um final feliz. Apesar da ferida o bicho estava forte e nunca mostrou instintos ferozes, pelo que recuperará depressa.

quinta-feira, fevereiro 22, 2024

UM PEQUENO INTERLÚDIO MUSICAL - HOMENAGEM AO ZECA

 Vai fazer anos da morte do Zeca Afonso, e pareceu-me bem partilhar aqui este tema inédito e pouco conhecido interpretado pelo Janita Salomé  e pelo seu irmão Vitorino, há muitos anos atrás.

A letra faz referências variadas à obra poética do Zeca, resultando numa letra bonita e cheia de significado.

quarta-feira, fevereiro 21, 2024

MEMÓRIA ATRASADA

 Quando há eleições lembro-me sempre da ponte construída pela parceria público-privada aqui bem perto de Vagos. Uma negociata denunciada na altura, inclusivamente junto da União Europeia, mas que graças a diferentes tipos de arranjinhos, nunca ninguém quis dar a devida atenção. Até ver, apenas um programa de televisão, cuja política editorial é independente da estação que o emitiu, divulgou esta situação. Ao minuto 33.30 começa a reportagem neste episódio do Planeta Verde, tal como se pode ver online no site do Porto Canal (clicar aqui). Só agora chega ao malfadado porque só agora fui pesquisar onde encontrar o link, para aqui mesmo o partilhar. Para os mais curiosos fica o desafio de verem todo o episódio, ou outros episódios deste programa. Este episódio foi da 4ª temporada, que foi emitida entre final de 2022 e 2023.

terça-feira, fevereiro 20, 2024

O ANO DA MORTE DE NAVALNY

 Uma amiga minha, de que já falei aqui no Malfadado, activista de marcada alma humanista,  perdeu a esperança de um dia ver o Navalny em liberdade.

Pelo meu lado, já em 2014, me perguntava até quando os países europeus se submeteriam à vontade americana de ver os desportistas israelitas a competirem nas competições europeias. Se tiraram os russos quando invadiram a Ucrânia, já passou o prazo de tomarem decisão semelhante face a outro regime fascista e que não respeita a ONU nem as leis internacionais.

O fascismo, ancorado no poder do dinheiro de empresários sem escrúpulos que facturam milhões, e gastam ainda mais milhões de forma aberrante (os oligarcas russos ou americanos, os chineses ou angolanos) está a tomar conta do nosso planeta. O pior é que não são só as pessoas mais desfavorecidas que são prejudicadas economicamente, são também as principais vítimas da destruição ecológica acelerada.

As declarações do Trump de triste figura, neste fim-de-semana que passou, comentando após ter sido condenado pelos negócios fraudulentos, que as suas empresas em Nova York criaram milhares de postos de trabalho, que as suas empresas pagaram muitos milhões de impostos e que portanto as suas fraudes deviam ser desculpadas, e que, "by the way", o juiz que o condenou é que era corrupto, não me surpreenderam. Surpreendeu-me sim o facto da comunicação social ajudar a espalhar estas declarações fascistas, ajudando à promoção e futura eleição de mais um fascista.

É este o mundo em que vivemos...

Acho que foi em 2015 que uns juízes de Aveiro também foram por este caminho defendido pelo oligarca americano, de desculpar as ilegalidades processuais na implantação de uma negociata de milhões, porque a essas ilegalidades se sobrepunha o interesse público da promessa da criação de postos de trabalho. Postos de trabalho planeados que obviamente eram uma miragem e nunca sequer chegaram a 10% do prometido. E a ilegalidade continua no terreno, entre Ílhavo e Aveiro, aliás bem exemplificada na ponte nova e abandonada, e que nenhum partido político denuncia em lado nenhum.



segunda-feira, fevereiro 19, 2024

HORA POLÍTICA - NO PÁGINA UM, DESTAQUE PARA AS LEGISLATIVAS

 Destaque para o jornalismo como merecemos. O Página Um está a marcar a diferença, fez grandes entrevistas a cada um dos líderes dos partidos que concorrem às eleições legislativas. É muito pedagógico dar a perceber o tecido político de Portugal. A última que li foi ao Rui Lima, que fala do seu partido e da coligação que fez com o MPT para estas eleições, tudo novidades para mim (link para esta entrevista aqui). Mas as entrevistas têm também outra coisa boa, para além da conversa poder ser ouvida em registo podcast, podem ser lidas na edição online deste jornal diário, periódico que tem muitos outros motivos de interesse, podem ser crónicas, reportagens ou críticas culturais.

Já aqui falei das eleições, e da minha indecisão relacionada com a realidade do distrito onde voto. E possivelmente voltarei ao assunto. Mas hoje havia que destacar o trabalho do Página Um, deixo-vos o link com o resumo de todas as entrevistas e das coisas relacionadas, para quem tenha tempo para dedicar ao futuro do nosso pequeno grande mundo (clicar aqui).

O Página Um é independente porque conta com o apoio de leitores, e é dirigido por jornalistas de raiz e não por empresários de vocação.


domingo, fevereiro 18, 2024

PODAS

 Um dos trabalhos que mais gosto de fazer é podar árvores e arbustos. Deixo algumas fotos de árvores que gosto de podar, ficam bonitas assim sem folhas, mas a primeira foto não resulta de trabalho meu, é num jardim de infância, um medronheiro (se calhar são dois...) que ficou assim de bonito:









sábado, fevereiro 17, 2024

AS ALIANÇAS PÓS-ELEITORAIS

 Há uma coisa que me faz confusão... os partidos da geringonça falam muito em alianças pós-eleitorais, para poderem dar um rumo decente à nossa sociedade tomada pelo capitalismo e pelo sensacionalismo e falta de envolvimento das pessoas nas causas. Qual é a parte do processo eleitoral, na atribuição de deputados que favorece quem tem maior votação, que eles ainda não perceberam?

HONDT, HONDT, estúpidos!

É uma das coisas que mais me está a chatear na actuação do Bloco de Esquerda, que se soma à falta de dinâmicas locais, de levar as políticas perto das pessoas, é esta falta de visão de conjunto, principalmente nos distritos onde uma coligação salvaria a face da esquerda em termos de eleger um representante local. Se é para coligar depois (seja de que maneira for, e caso se chegue lá), era assim tão difícil abrir portas para candidaturas conjuntas, e depois combinar como dividir os proveitos financeiros associados ao financiamento partidário?

sexta-feira, fevereiro 16, 2024

DÁ ARREPIOS

 Só para arquivar aqui no Malfadado um instrumento algo estranho, e que não se usa de forma terapêutica aqui em casa. Na foto segue o folheto que o acompanhava quando foi comprado, não me lembro já onde, nem quando. 


Certo é que se manuseado por outra pessoa e massajar a nossa cabeça dá uma sensação agradável e estranha ao mesmo tempo.

quinta-feira, fevereiro 15, 2024

ELEIÇÕES LEGISLATIVAS 2024 - 10 MARÇO

 Aí vêm outra vez as eleições legislativas. Mais uma vez os eleitores vão ter a hipótese de antecipar o seu voto, de forma a poder libertar o dia 10 para outras actividades. Mais uma vez, cabe ao Malfadado o papel de dar umas dicas sobre estas eleições. Não vale a pena é comentar os líderes de cada partido ou coligação, não só porque esses são sempre eleitos, como também porque desses estamos fartos de ouvir comentadores do sistema a tecerem as suas considerações e, novidade deste ano, a atribuírem notas às suas prestações naquela espécie de debates promovidos pelas televisões do sistema.

O que se elege não é um partido que vai governar, as eleições em democracia são a forma de eleger deputados, que depois se reúnem e decidem se apoiam um determinado governo. É como aqui ao lado, em Espanha, a grande diferença é que lá eles têm um presidente da república que é rei, e nós temos o rei Marcelo que foi eleito nosso presidente. De pouco servem todas as sondagens propagandeadas pelo sistema, sobre os intervalos de votação de cada partido, não só porque são muito falíveis, como ainda porque não explicam como prevêem as eleições de deputados por distritos. Podem, isso sim, mostrar uma tendência da evolução da votação.

Daí que para entendermos de que serve o nosso voto é preciso estudar a coisa de forma mais aprofundada, e fazermos as nossas próprias previsões. Uma coisa é certa, em distritos onde se elegem poucos deputados, como os do interior, é difícil os partidos pequenos, mesmo com uma votação bem acima da média nacional, elegerem algum deputado. Portalegre 2 deputados, Castelo Branco 4 e por aí fora. Aí é fácil fazer as contas dos deputados a eleger, basta ver como foi nas últimas eleições e pouco ou nada variará. Um eleitor do interior que não vote nos partidos do sistema sabe que nunca vai ter um deputado da sua preferência a representá-lo no Parlamento. Sabe que o seu voto servirá, isso sim, para ajudar a financiar todo o trabalho desenvolvido pelo partido que escolher.

Em Aveiro, os pequenos partidos que elegiam deputados eram o CDS, o PCP e o BE. Mas em 2022 as coisas mudaram, apareceu o Chega. E chegou-lhes em força! O único pequeno partido, fora do sistema, a eleger um deputado, foi precisamente o Chega. O Chega irá então manter a sua votação em alta, efeito do seu discurso populista que agrada à população que não lê, que não sabe fazer contas e que acha que o país está mal porque não tem um ditador à frente dos seus destinos. São, por assim dizer, os saudosistas do Salazar, mesmo que na maioria sejam eleitores que já não conheceram a ditadura e os seus efeitos. E os outros pequenos partidos não elegerão deputados, podendo, ainda assim, a IL, ter um resultado surpresa. Tal como o CDS, seria possível se tivessem um candidato em lugar elegível, até ao 6º lugar era garantido que entrava. Mas só aparece em 10º lugar, pelo que será de esperar que só tenhamos deputados do PSD, do PS e do Chega.

Nesta situação, para quem é de esquerda qual é o voto mais sensato? O voto útil será no PS, que neste momento, com estes dirigentes eleitos em congresso, mostram claramente que são de esquerda moderada. Mas votar no PS é também premiar o partido pelo seu trabalho recente, e nesse campo a mim, particularmente, não o consigo imaginar. Dois anos de maioria absoluta que foram a ocasião para mostrar a arrogância tipo Sócrates em vários domínios. É dar ao PS mais apoio financeiro para a sua estrutura pesada e gastadora e muito possivelmente geradora de esquemas, pois dinheiro não falta naqueles cofres. Resta um voto inútil, na representação parlamentar, mas útil na mensagem e no apoio financeiro a um partido qualquer. Para mensagem qualquer voto conta, pois os números nacionais são sempre o que o sistema faz propagandear desde cedo. E aí surge logo uma barreira para os mais pequenos dos pequenos, é que os seus nomes depressa desaparecem, apagando então a possível mensagem dos eleitores. Para o apoio financeiro as coisas funcionam de outra maneira: os partidos que elegem deputados recebem um subsídio anual, que aparece no orçamento do estado, e que corresponde ao número de votos a nível nacional. Cada voto é um valor fixo em euros. Deste modo, quem de Aveiro votar no PCP, sabe que está a contribuir para o óleo da máquina do partido. Mesmo que não eleja deputados por Aveiro, pelo menos por Lisboa e Setúbal tem sempre deputados garantidos.

Pela minha parte ainda não decidi em quem vou votar, mas estou com pouca vontade de votar no meu BE, pois nestes dois anos não souberam investir no apoio às lutas regionais, nem souberam melhorar a sua implantação. Sendo certo que não vou votar nem nos partidos de direita nem no Chega, vou ver qual a menos má alternativa, mas já ando a pensar nisto há vários dias e ainda não tomei uma decisão.

quarta-feira, fevereiro 14, 2024

ONDE NOS LEVAM OS CAMINHOS - 2

 Há realmente coincidências que não lembram ao diabo. No meio de um dos textos longos que aqui partilhei em Janeiro contei o caso do reencontro com uns amigos ali perto de Vila Verde, cruzei-me com eles num restaurante. Tinha aproveitado o facto de termos ido a Viseu para ir colocar umas bolotas num terreno em conversão, ali para os lados de Vale de Igreja. Nestes dias pudemos voltar a Viseu, onde fomos ver o lindo filme Vidas Passadas. E hoje mesmo, ao fim da tarde, fomos dar um passeio e comprar alguns produtos regionais. Já nem nos lembrávamos, mas ao passar numa loja de produtos da Serra da Estrela, lá estava uma vitrine com requeijões, uma das coisas que tínhamos falado entre nós que era bom comprar. Entrámos, clientes únicos, um pouco de conversa e resistência ao vendedor, que insistia para levarmos dois, mas era demais. Contas feitas e íamos sair, quando as alheiras regionais na vitrine chamaram a atenção e lá parámos a decidir e pronto, lá se pediu uma delas, e acto contínuo só ouço a Zé dizer: - Olha quem aqui está!, quase que me assustei, porque éramos os únicos clientes na loja, mas viro-me para trás e lá estava ele, o primo Nuno Daniel. In-crí-vel!!!!! Ele vive em Vouzela e nesse dia tinha ido a Viseu tratar de outras coisas e por acaso lembrou-se de entrar naquela loja para procurar chapéus de aba. Mas entrou por outra porta da loja, diz que disse boa tarde, mas foi baixinho e nós não ouvimos nada, e também não nos reconheceu porque estávamos de costas. Os timings desta cena são fantásticos, porque se não fosse a compra da alheira, o mais provável é que nós nos desencontrássemos, pois iríamos sair por uma porta e ele entrar por outra. Mas a coincidência de nos encontrarmos em lojas que nenhum de nós frequenta, num dia ao acaso, numa hora fortuita, faz-nos mesmo pensar. Há encontros quase impossíveis, mas eles acontecem.