terça-feira, abril 28, 2020

VOLTA GONÇALVES, ESTÁS PERDOADO

Neste final de mês vou tentar colocar aqui alguns textos da minha autoria, e que abordam as situações paralelas à crise provocada pela pandemia. Textos que vão desembocar no dia 1 de Maio, primeiro dia de mais um período de confinamento obrigatório ao concelho de residência.
Uma das coisas mais impressionantes do 25 de Abril foi o período das nacionalizações, ligado ao Gonçalvismo, pequeno período da história de Portugal onde a receita comunista vigente no leste europeu foi implantada em Portugal. Grandes empresas, como os bancos, seguradoras, as grandes indústrias (estaleiros navais, cimenteiras, transportes públicos) que estavam na mão de famílias capitalistas ligadas ao regime fascista foram nacionalizadas, ou seja, os lucros entravam para o orçamento de estado. Desse período também, a reforma agrária, com a tomada da posse de grandes propriedades agrícolas pelos agricultores, reunidos em cooperativas. Não vou aqui escrever uma tese sobre os resultados finais, há já bastante literatura sobre este assunto da autoria de investigadores, sociólogos e historiadores.
A sociedade voltou depois ao capitalismo e as novas gerações foram aprendendo que o mercado deve funcionar com o mínimo de intervenção do estado. E assim foi durante vários anos, passando as nacionalizações nas notícias apenas como casos de países da América do Sul em que perigosos esquerdistas chegavam ao poder, com grande destaque para a Venezuela.
Quando as nacionalizações voltaram a Portugal foi por causa da grande crise financeira provocada pela ganância de banqueiros e esquemas de corrupção e desvios de dinheiros para paraísos fiscais. Toca a nacionalizar o BPN, depois o BES. Mas desta vez não foi para os lucros irem para o orçamento do estado, foi precisamente para o contrário. Agora é o orçamento do estado que tem que financiar os lucros dos grandes empresários. E para o orçamento do estado têm que contribuir os pequenos contribuintes, empresas e consumidores através de impostos, uma vez que as grandes empresas têm as sedes em paraísos fiscais ou equivalentes. Ou pagam também os trabalhadores do estado, como por exemplo os professores, que são roubados nos seus salários e na contagem do tempo de serviço.
A cereja no topo do bolo aparece agora com a pandemia. O orçamento do estado, ainda a pagar os lucros dos bancos, nacionalizados há poucos anos, à gente da alta finança, é chamado a pagar os prejuízos de empresas que andam a pagar salários chorudos a administradores ou a distribuir dividendos a grandes capitalistas proprietários de acções. A TAP é uma dessas empresas que nos dizem que é preciso salvar. Mas não é um exclusivo português, isto acontece em todos os países, levantando ondas de indignação em países com mais cultura de cidadania.
Para ilustrar o texto, fica aqui a musiquinha do Carlos Alberto Moniz e da Maria do Amparo, na versão recente com a voz da Manuela Azevedo, e no final imagens da altura, de campanhas de dinamização cultural, e que apanhei aqui na net:




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