Aí vêm outra vez as eleições legislativas. Mais uma vez os eleitores vão ter a hipótese de antecipar o seu voto, de forma a poder libertar o dia 10 para outras actividades. Mais uma vez, cabe ao Malfadado o papel de dar umas dicas sobre estas eleições. Não vale a pena é comentar os líderes de cada partido ou coligação, não só porque esses são sempre eleitos, como também porque desses estamos fartos de ouvir comentadores do sistema a tecerem as suas considerações e, novidade deste ano, a atribuírem notas às suas prestações naquela espécie de debates promovidos pelas televisões do sistema.
O que se elege não é um partido que vai governar, as eleições em democracia são a forma de eleger deputados, que depois se reúnem e decidem se apoiam um determinado governo. É como aqui ao lado, em Espanha, a grande diferença é que lá eles têm um presidente da república que é rei, e nós temos o rei Marcelo que foi eleito nosso presidente. De pouco servem todas as sondagens propagandeadas pelo sistema, sobre os intervalos de votação de cada partido, não só porque são muito falíveis, como ainda porque não explicam como prevêem as eleições de deputados por distritos. Podem, isso sim, mostrar uma tendência da evolução da votação.
Daí que para entendermos de que serve o nosso voto é preciso estudar a coisa de forma mais aprofundada, e fazermos as nossas próprias previsões. Uma coisa é certa, em distritos onde se elegem poucos deputados, como os do interior, é difícil os partidos pequenos, mesmo com uma votação bem acima da média nacional, elegerem algum deputado. Portalegre 2 deputados, Castelo Branco 4 e por aí fora. Aí é fácil fazer as contas dos deputados a eleger, basta ver como foi nas últimas eleições e pouco ou nada variará. Um eleitor do interior que não vote nos partidos do sistema sabe que nunca vai ter um deputado da sua preferência a representá-lo no Parlamento. Sabe que o seu voto servirá, isso sim, para ajudar a financiar todo o trabalho desenvolvido pelo partido que escolher.
Em Aveiro, os pequenos partidos que elegiam deputados eram o CDS, o PCP e o BE. Mas em 2022 as coisas mudaram, apareceu o Chega. E chegou-lhes em força! O único pequeno partido, fora do sistema, a eleger um deputado, foi precisamente o Chega. O Chega irá então manter a sua votação em alta, efeito do seu discurso populista que agrada à população que não lê, que não sabe fazer contas e que acha que o país está mal porque não tem um ditador à frente dos seus destinos. São, por assim dizer, os saudosistas do Salazar, mesmo que na maioria sejam eleitores que já não conheceram a ditadura e os seus efeitos. E os outros pequenos partidos não elegerão deputados, podendo, ainda assim, a IL, ter um resultado surpresa. Tal como o CDS, seria possível se tivessem um candidato em lugar elegível, até ao 6º lugar era garantido que entrava. Mas só aparece em 10º lugar, pelo que será de esperar que só tenhamos deputados do PSD, do PS e do Chega.
Nesta situação, para quem é de esquerda qual é o voto mais sensato? O voto útil será no PS, que neste momento, com estes dirigentes eleitos em congresso, mostram claramente que são de esquerda moderada. Mas votar no PS é também premiar o partido pelo seu trabalho recente, e nesse campo a mim, particularmente, não o consigo imaginar. Dois anos de maioria absoluta que foram a ocasião para mostrar a arrogância tipo Sócrates em vários domínios. É dar ao PS mais apoio financeiro para a sua estrutura pesada e gastadora e muito possivelmente geradora de esquemas, pois dinheiro não falta naqueles cofres. Resta um voto inútil, na representação parlamentar, mas útil na mensagem e no apoio financeiro a um partido qualquer. Para mensagem qualquer voto conta, pois os números nacionais são sempre o que o sistema faz propagandear desde cedo. E aí surge logo uma barreira para os mais pequenos dos pequenos, é que os seus nomes depressa desaparecem, apagando então a possível mensagem dos eleitores. Para o apoio financeiro as coisas funcionam de outra maneira: os partidos que elegem deputados recebem um subsídio anual, que aparece no orçamento do estado, e que corresponde ao número de votos a nível nacional. Cada voto é um valor fixo em euros. Deste modo, quem de Aveiro votar no PCP, sabe que está a contribuir para o óleo da máquina do partido. Mesmo que não eleja deputados por Aveiro, pelo menos por Lisboa e Setúbal tem sempre deputados garantidos.
Pela minha parte ainda não decidi em quem vou votar, mas estou com pouca vontade de votar no meu BE, pois nestes dois anos não souberam investir no apoio às lutas regionais, nem souberam melhorar a sua implantação. Sendo certo que não vou votar nem nos partidos de direita nem no Chega, vou ver qual a menos má alternativa, mas já ando a pensar nisto há vários dias e ainda não tomei uma decisão.
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