Em cima do acontecimento, e ainda sem ter os resultados finais porque falta a contabilização dos votos e dos deputados eleitos pelos emigrantes, aqui vai a crónica política no Malfadado. Vou divulgar aqui quem é que ganhou nestas eleições.
Muitos dizem que foi o Chega a ganhar as eleições. Mas é um engano, o Chega vai ter uma grande representação parlamentar, vai ganhar direitos na Assembleia da República, mas com a quantidade de dinheiro que vai entrar nos cofres da instituição, é certo que aquilo vai ser um viveiro de guerras internas. E não ganha as eleições porque fica num honroso 3º lugar, com deputados suficientes para andar metido em todas as Comissões Parlamentares, mas serão na sua maioria pessoas sem preparação para exercer cargos públicos de defesa dos eleitores que os elegeram. Não ganha as eleições porque o Chega tem muitos deputados, mas serão deputados que não contam para ajudar a mudar a vida dos portugueses para melhor, uma vez que a sua intenção é apenas tentar destruir ainda mais o PSD, uma vez que já conseguiram destruir os bastiões do PCP e pensam que podem ir mais longe. O Chega não ganhou as eleições porque os eleitores nem imaginam quais são as qualidades dos deputados que meteram no Parlamento, quem é verdadeiramente premiado é o André Ventura, o seu discurso e a sua presença conseguem de facto mobilizar o voto dos portugueses. O crescimento do número de votantes no Chega é impressionante, triplica em relação há apenas 2 anos atrás. E essa triplicação resulta numa quadruplicação do número de deputados, o que poderia ser notável, caso esses deputados fossem importantes para a implantação de políticas efectivas de intervenção na sociedade.
Há quem defenda que foi a AD a ganhar as eleições. E de facto, foi quem conseguiu posicionar-se melhor, mas só se somarmos à verdadeira AD os votos e os 3 deputados da coligação PSD+CDS (para os mais desatentos, na região da Madeira o PPM ficou de fora e como tal não houve AD a concurso).
Como se vê na imagem seguinte, ao abrir a página oficial dos resultados, o PS tem mesmo mais deputados e mais votos que a AD:
Mesmo que a AD consiga eleger 2 deputados pelos círculos do estrangeiro, roubando um aos 3 actuais do PS, e mesmo que o Chega roube outro deputado ao PS, a AD enquanto tal não conseguirá ter mais deputados eleitos do que o PS, na melhor das hipóteses terá o mesmo número. O número de votantes também é importante, pois a AD enquanto tal está neste momento com uma desvantagem de cerca de 2 mil votos, e há 2 anos atrás ficou com 15 mil votos menos no voto emigrante. Ou seja, muito dificilmente a AD terá mais votos que o PS nas contas finais. Para os partidos da AD conseguirem ter no seu conjunto mais deputados que o PS, é então preciso somar os 3 deputados do PSD eleitos na Madeira, e mesmo assim é uma vantagem mínima. Se retirarmos os dois deputados do CDS, o PSD vai ficar empatado, ou com apenas mais um deputado que o PS. Não se pode é fazer a contabilidade dos votos, pois não se consegue determinar a diferença de votos entre PSD e CDS (e PPM). Mas sim, poderemos admitir que o PSD teria mais votos que o PS na contagem final, mas uma pequena diferença.
Podemos então defender que, com mais votos dos portugueses, o PS é o vencedor destas eleições? Que é coisa que nenhum analista político ou comentadeiro irá dizer, e muito menos algum socialista poderá gabar-se? Também não me parece boa leitura das circunstâncias, mesmo que ficasse à frente da AD de forma mais visível, nunca teria mais do que um ou dois deputados, pois a descida em apenas 2 anos do número de votantes no PS (que teve nas mãos uma estabilidade parlamentar que não soube aproveitar, sendo vítima da falta de competência política de inúmeros ministros e secretários de estado) é realmente determinante. Perde 500 mil votos numas eleições em que votaram mais 800 mil pessoas, em números aproximados. Ainda assim, consegue um bom grupo parlamentar, encaixando todos os seus boys e girls mais mediáticos, e garante um bom financiamento anual do erário público para a sua estrutura de sedes e funcionários. Mas temos mesmo que admitir ter sido derrotado nestas eleições, como aliás era de se esperar depois de um governo que não conseguiu resolver a maior parte dos problemas dos serviços públicos, e viu a maior parte dos residentes em Portugal que não têm casa própria sofrerem com a absurda subida do preço da habitação.
Depois temos todos os outros partidos, divididos em dois grupos: os que elegeram deputados, e que vão receber um financiamento anual dos dinheiros dos contribuintes, e os que tiveram tão poucos votos que não chegaram para ter representantes seus no Parlamento, e por isso vão continuar na sombra. Até na sombra mediática, uma vez que a nossa imprensa apenas ajuda a divulgar os partidos com assento parlamentar.
E será que foi algum dos partidos que elegeu deputados a ganhar estas eleições, mesmo que nenhum deles seja referido como tal?
Iniciativa Liberal, fica em quarto lugar outra vez, podemos dizer que fica na mesma. Um pequeno grupo parlamentar que por si só não ajuda a fazer a diferença, pois também não quer nada com a falta de qualidade dos deputados do Chega, são outra vez apenas 8 deputados, que terão que se desdobrar para trabalhar nas diferentes Comissões. Numas eleições com tantos eleitores, o seu crescimento eleitoral ajuda também no financiamento da sua estrutura partidária, mas a IL acaba por ser vítima de não conseguir mostrar um bom funcionamento interno, com gente a afastar-se publicamente, com críticas ao centralismo de quem ganhou nas eleições internas.
O meu Bloco de Esquerda é que também não ganhou nesta eleições, e tal como a IL fica na mesma, não fazendo a diferença no hemiciclo. São outra vez 5 deputados, eleitos nos mesmos círculos distritais, aumenta o número de votos mas nada de especial, aliás neste momento tem exactamente a mesma percentagem de há 2 anos, 4,46%. Sendo um partido pequeno, que perdeu a capacidade de chamar a si os votos de protesto e ao institucionalizar-se e fechar-se no trabalho parlamentar (no muito bom trabalho parlamentar, há que dizer), o BE sofre do efeito do voto útil a favor dos grandes partidos nos círculos onde se sabe que não vai eleger deputados, mesmo que tenha candidatos com excelentes qualidades. Nestas eleições não soube tirar melhor partido do descontentamento das pessoas que acreditam numa sociedade que tem nos serviços públicos a base do seu desenvolvimento, as suas boas prestações e apelos serviram, pelo menos, para não cair nas votações e manter um grupo parlamentar de serviços mínimos nas Comissões Parlamentares, e de serviços máximos na apresentação de propostas de lei. E serviram para garantir o bom funcionamento da sua estrutura partidária.
O sexto lugar vai para a Coligação Democrática (e) Unitária, juntando o veteraníssimo PCP e o seu satélite PEV. Claramente perderam nestas eleições. O seu grupo parlamentar, que eram só deputados do PCP, perde dois deputados, um deles era representante de Beja, os seus 4 deputados são eleitos, tal como os do BE, apenas por Setúbal, Lisboa e Porto. Em Beja, a esquerda fica envergonhada e humilhada, pois abre a porta a mais uma deputada do Chega, uma ilustre desconhecida que também deixou o PSD, com muita inexperiência em cargos públicos. O PCP perde deputados e perde votos aos milhares, pois havendo mais votantes num universo de menos eleitores recenseados (menos 20 mil recenseados, certamente muitos dos velhos que morrem eram votos certos no PCP em cada eleição), descer 30 mil votos em 2 anos vai dar muito que pensar às cúpulas. Porque se calhar as bases já perceberam o que está mal neste partido. Não se imagina como dividirão os valores da subvenção anual com o PEV, mas com esta votação terão ainda o suficiente para financiar a sua grande estrutura partidária. Isso sim, terão que apertar um pouco o cinto.
Um dos poucos que poderiam ter dito que ganharam as eleições seria o Rui Tavares. Partindo de um modesto 9º lugar em 2022, e com o próprio dirigente do Livre a ser deputado único na Assembleia da República, sobe dois lugares e multiplica a sua votação por três. E quadruplica o número de deputados, passando a cumprir largamente o objectivo de constituir um grupo parlamentar. E garante um financiamento público anual que lhe vai permitir alargar a estrutura partidária. O partido que ganhou notoriedade com os episódios protagonizados pela simpática gaguinha Joacine Moreira cresceu à custa do protagonismo do seu líder e beneficiou da transferência de votos dos votantes esquerdistas do PS, mas também do crescimento do número de votantes. O Livre não ganhou estas eleições mas ficou perto de poder ser considerado o que mais ganhou. Pelo menos ganhou para as despesas, e abriu uma porta para se posicionar com mais peso numas futuras eleições e possíveis alianças pré-eleitorais. Elege deputados apenas nos mesmos distritos que o BE e o PCP. Que mesmo todos juntos, serão deputados que também não contam para uma solução governativa ou de defesa de políticas determinadas.
Em 8º e último vem o Pessoas, Animais e Natureza, que nasceu dos movimentos da sociedade civil de defesa dos direitos dos animais como Partido dos Animais e Natureza, e depois se alterou para o actual PAN. Este partido ficou na mesma, subiu um pouco a votação, mas não foi suficiente para eleger um segundo deputado, apenas a sua líder manteve o lugar que já ocupava na Assembleia da República. Nestas eleições dei o meu voto a este Partido, de forma a ajudar a financiá-lo por mais algum tempo. E com os votos angariados, se conseguirem fazer uma boa gestão financeira, poderão procurar estar mais perto dos eleitores que lhes confiaram o voto, e principalmente junto dos eleitores que não vêem no PAN uma boa escolha, mas que o façam de maneira menos convencional e mais ecológica, uma vez que de facto, continuamos sem ter no Parlamento uma formação política que defenda a causa ambientalista, e o PAN poderia vir a ser essa força. Ou a Inês arrisca-se a apanhar também com um real banho de tinta. Pois, também não foi o PAN a ganhar nestas eleições.
Restam os pequenos partidos, aqueles que ficam de fora, os muito pouco, ou mesmo mal amados pelos eleitores. Será entre os pequenos que vamos ver quem ganhou as eleições. Na generalidade podemos dizer que os pequenos partidos viram crescer as suas votações, isto em número de votos, porque em termos de percentagem a variação ficou-se na manutenção dos valores. A grande excepção à subida foi o MPT e o Aliança, que decidiram concorrer em coligação, e mesmo assim, juntos, tiveram piores resultados que a soma dos seus resultados em separado, mais do que o Aliança, mas muito menos que o MPT há 2 anos atrás. Será de pensar desistirem, fecharem as portas, quem sabe sejam futuros activistas do Chega.
Mas não estou aqui para dar propostas para o futuro, falta divulgar quem ganhou estas eleições.
O partido que conseguiu ganhar estas eleições, não elegeu deputados, não vai receber subvenção para se financiar anualmente. E é realmente um dos pequenos partidos. Foi a Alternativa Democrática Nacional. Este partido, a ADN, multiplicou por 10 a sua base eleitoral. Passou de 5º lugar dos pequenos, para o topo da lista. É o primeiro, e por pouco não elegia um deputado em Lisboa ou no Porto. Ganhou não por ter um programa eleitoral melhor, muito menos pelas prestações do seu líder, e ainda menos pelas prestações dos seus candidatos ao nível dos distritos. O ADN ganhou estas eleições porque consegue crescer muito mais que todos os outros, sem ter capacidade para isso. O ADN cresce e mostra bem a qualidade dos eleitores, principalmente os da AD, que se enganaram a meter a cruz. Alguns terão desculpa, sim, pois cuidar da visão não é para todos, mas outros, muitos, é mesmo por falta de competências.
Parabéns ao ADN, por mim leva a taça!!!!
1 comentário:
😁
Enviar um comentário