quinta-feira, março 21, 2024

OS CUPÕES DE DESCONTO NO CONTINENTE - EXPLICAÇÃO AOS LEIGOS

 Qualquer pessoa poderia escrever esta crónica. Bastaria munir-se de informação, vendo como está explicado no site do Continente, e depois vir para a blogosfera debitar o conhecimento adquirido. Mas o Malfadado vai ser o suporte onde em poucas palavras se vai explicar como funciona, e muito bem, o cartão Continente. Sim, com base na experiência adquirida ao longo dos anos, com diferentes situações práticas.

Nestas coisas das promoções há dois tipos de pessoas. de uma forma simplista. O grupo maior é o das pessoas que não têm tempo para ir às compras, e que quando entram num supermercado vão comprar o que precisam, e carregam no carrinho ainda algumas coisas que acabam por levar para casa porque lhes chama a atenção uma ou outra promoção. O grupo menor é o das pessoas que são criteriosas na escolha do local onde vão fazer as suas compras, de modo a aproveitar os preços mais baixos. E que demoram a escolher os produtos que levam para casa.

Como se podem usar cupões, muitas vezes os preços mais baixos conseguem-se em supermercados cujos preços não são os mais baixos.

Quem vai usualmente às compras já percebeu que no Continente as filas para as caixas de pagamento são demoradas. Por um lado é a eterna falta de funcionários, que sejam suficientes para dar despacho aos clientes que querem pagar as suas compras. Mas, mais importante, deve ser o tempo que se perde por causa do cartão e dos cupões de desconto. A que se somavam os selinhos autocolantes das promoções periódicas, que se colavam em diminutas cadernetas, até se conseguirem objectos de consumo, normalmente utensílios para a cozinha. 

Estes selinhos já acabaram, e bem, na sua forma de autocolante. Mas continuam estas promoções, só que agora são automaticamente guardados informaticamente no cartão Continente. O que não dá jeito nenhum para quem juntava selos de outras pessoas.

Esta crónica nasceu num destes dias de 2024, num Continente perto de si, num fim de dia em que estava impacientemente aguardando numa das poucas e demoradas bichas que se formam nas caixas de pagamento, o nosso escritor de reflexões e protestos. Estava então uma cliente que tinha já disposto no tapete rolante um monte de produtos a ser atendida pela simpática funcionária da caixa. Apresenta um cartão Continente e os produtos vão sendo registados até que ultrapassam os 20 euros. Aí a cliente manda parar o registo das compras, um cupão de 5 euros que vão para esse cartão Continente, para compras de valor igual ou superior a 20 euros, e faz o pagamento desta compra. Volta o processo do registo das compras, e repete-se a situação, mais de 20 euros, outro cartão Continente e um novo cupão de 5 em 20, mais um pagamento. Ainda havia muitas coisas no tapete rolante, volta o processo de registo, a cliente deixa passar os 25 euros, interrompe e apresenta ainda um outro cartão Continente, um novo cupão, mas desta vez de acumulação de 5 euros em cartão para compras de valor igual ou superior a 25 euros. e mais um pagamento, com todo o processo que acarreta. 

Apenas uma cliente a ser atendida, já tinha demorado o tempo de três clientes. Será que ainda tinha outros cupões para o resto das coisas?

Os produtos lá foram sendo identificados pela máquina, um a um, e desta vez não houve mais interrupções. Mas a cliente entretanto já tinha tirado outro cartão Continente da sua carteira, novamente um outro cupão, mas desta vez era de 10% sobre o total da compra, digamos que os últimos produtos eram num total de 40 euros, acumulou 4 euros neste outro cartão.

Ali mesmo, diante dos olhos do nosso escritor, e da sua impaciência mal disfarçada, a cliente tinha poupado um total de 19 euros em compras que pouco ultrapassaram os 105 euros. Se por um lado o facto tinha perturbado o narrador de reflexões, pois pensava que iria ser rapidamente atendido e acabou por estar ali a assistir a tudo, foi ao mesmo tempo a confirmação do seu próprio método de caçar os melhores preços de bens alimentares, ou outros bens que normalmente se vendem nos supermercados.

Este voluntarioso cronista é, ele próprio, utilizador dos cartões dos supermercados. Para além de escolher a boa qualidade, ele defende que é possível poupar bastante dinheiro com os descontos em cartão. Pode parecer uma pequena poupança, e de facto é, são apenas 5 euros numa pequena compra, mas o impacto final pode ser bastante significativo.

O cartão Continente tem uma história curiosa, e era interessante alguém, um dia destes, fixá-la para a história. Os supermercados Continente e Modelo criaram este cartão de descontos e quem usava o cartão é que aproveitava os preços baixos, não havia descontos no preço base, o desconto era sempre em cupões. Nessa altura acumulava-se muito dinheiro em cartão, que ia aparecendo no talão da compra, no seu final, o valor acumulado na compra e acumulado no cartão. Mas também o total que já se tinha poupado com  o cartão. E a informação deste valor total, das poupanças com o cartão, ainda hoje aparece no final do papelinho vomitado pela caixa registadora. 

Desde sempre o valor acumulado em cartão não tinha data para ser gasto. Até que inventaram as semanas especiais, em que se pode comprar o que se quiser, na loja, e se tem um desconto especial de 15% sobre o total da compra. Valor poupado que vai para cartão, mas que tem que ser gasto na semana seguinte, caso contrário perde-se.

Como os outros supermercados não tinham cartões de fidelização, apresentavam preços com promoção e desconto directo. E o Continente e Modelo, que eram marcas diferentes da mesma empresa de vendas a retalho, começaram a fazer o mesmo, a aplicar descontos directos no preço. E os cupões foram perdendo importância. Mas mantiveram-se e chegaram até hoje. E foi assim, cupão a cupão, que o acima referido impaciente cliente totalizou uma poupança de 4700 euros no seu cartão. Mas o cartão já tem bem mais de 15 anos, foi logo dos pioneiros na adesão.

Os cupões não são iguais para todos os clientes. São enviados por correio, mas hoje em dia ficam também na aplicação para smartphone. Assim, um programa informático tem o poder de atribuir três tipos de cupões, que são emitidos consoante o perfil do utilizador. Há também a hipótese de não emitir cupões, mas isso acontece muito raramente, pois entre não dar nada e ficar com má imagem, ou dar 10%, obviamente que é preferível dar esses 10%. E esse é o cupão atribuído a quem mais gasta no Continente, o de 10% sobre o total da compra efectuada. Quem gasta menos, mas é cliente assíduo, leva com os cupões de 5 euros em 25 ou mais de compras. Quem vai lá poucas vezes tem o melhor cupão, que equivale a 25% de desconto, no máximo. São 5 por cada 20 ou mais euros gastos em compras. A emissão de cupões é bimestral, aproximadamente, e os cupões podem ser semanais ou bi-semanais. Nas semanas de 15% de desconto numa compra, não se emitem outros cupões.

Já poderemos voltar à situação inicial, na caixa registadora. Atrás da cliente que apresentou 4 cupões, poupando 19 euros, ou seja quase 20% de desconto, foi a vez do escritor. No seu cesto vermelho de plástico, com rodas demasiadamente bem rodadas, tinha colocado bens alimentares cujo valor ia somando na sua calculadora de smartphone. Para saber exactamente o que comprar sem gastar mais do que o mínimo necessário, forma de maximizar a percentagem de desconto. Como tinha para usar, nessa semana, também um cupão de 5 em 20, levava produtos no valor de 20 euros e uma escassa dezena de cêntimos. Passados todos os produtos no infalível leitor de códigos de barras, o valor não chegava aos 20 euros. Faltavam 50 e tal cêntimos. Já era costume. Algum preço mal marcado normalmente elevava a quantia total para mais de 21 euros, mas se era abaixo dos 20 normalmente era uma promoção que não estava visível no preço final apresentado. Nesta situação de fazer falta um produto, a situação resolveu-se como ele gostava de a resolver, sem perder mais tempo. Pediu para passar novamente um produto já registado, e no final da compra, enquanto outro cliente era atendido, voltou a entrar para ir buscar um produto igual ao registado, voltando depois a sair e mostrando o produto à simpática funcionária.

Na hora de pagar, o normal. Descontar o valor acumulado anteriormente - 5 euros. Depois pagar o que faltava, 15 euros e um par de dezenas de cêntimos. Terminar confirmando o valor acumulado em cartão. Neste caso somou 5 euros às centenas já ganhas com este cartão, que também não era seu, mas sim emprestado. Afinal a mal disfarçada impaciência para estar na fila à espera que a tal cliente passasse diferentes cupões, era propriedade de alguém que também usava o mesmo método para poupar nas suas compras. Com a diferença de neste caso ter usado apenas um dos cupões que levava na sua carteira.

Este escritor de crónicas mundanas, pouco dado a políticas ou morais religiosas, para além dos milhares acumulados no seu cartão pessoal, acumulava centenas num outro cartão, mais outras tantas centenas noutro, e mais centenas ainda num quarto cartão.

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