sábado, outubro 03, 2015

A ROLA MORTA À PORTA DO LUGAR


Hoje é dia de reflexão, aquele dia em que os nossos ouvidos deixam de ser incomodados pelas arruadas e se preparam para as estúpidas caravanas de celebração das vitórias eleitorais. Uma amiga ontem perguntou-me se eu não tinha andado na campanha eleitoral. Não andei. Motivo? Desmotivação! Vai ser um acto eleitoral para que tudo continue na mesma, vêm aí os mesmos do costume. Como já expliquei no meu texto "Quanto vale a pena votar"(link para quem ainda não leu) é fácil de perceber que a malta gosta desta austeridade, em que a dívida pública aumentou mas dizem-nos que há dinheiro nos cofres, em que pagamos as contas dos bancos como se todos fossemos culpados das vigarices dos Loureiros, Silvas, Amarais e outros que tais. Como se todos tivéssemos beneficiado de que alguns andaram a desviar dinheiros acima das suas possibilidades para os amigalhaços, e como existe uma dívida pública portuguesa, a malta não gosta de ficar a dever nada a ninguém. E de quem é a culpa da dívida pública? Dos banqueiros? Nada disso, é dos políticos que se envolveram em negociatas e que estão à mercê de chantagens. E amanhã, depois de reflectir, alguns portugueses, mesmo que sendo poucos, vão escolher quem são os políticos que vão decidir o futuro de todos, mesmo daqueles que confiam o seu destino na reflexão de outros. É uma responsabilidade cada vez mais acrescida, o ir votar.

Felizes os que destilam a sua revolta dizendo mal do sistema e hoje não têm de reflectir. Amanhã faltam civicamente à escolha e hoje podem ir passear descansados para qualquer lugar e criticar a autarquia pelo lixo que está nas ruas. Afinal o dinheiro público gasta-se em tantas coisas e há tanto desemprego, bem podiam contratar mais varredores municipais, dizem em tom superior.
Por falar em lixo, há também o lixo eleitoral, e ontem vi uma coisa que pensava que já não existia em campanhas nacionais. Um carro de som a fazer barulho e a atirar um monte de lixo pela janela do carro. Sim, atirar papéis pelas janelas do carro, papéis que depois ficam na via pública e ninguém os apanha, o que é que se pode considerar? Vota Marinho Pinto, e com a sua cara bem conhecida dos media, para as pessoas associarem a pessoa ao novo partido que ninguém conhece, nem ficou a conhecer. Agora já percebi porque é que o Marinho Pinto bateu com a porta do MPT, de certeza que nesse partido estranho existe ainda um ou outro verdadeiro ecologista que nunca concordou com este tipo de propaganda eleitoral, que suja as ruas com lixo. Nos dias de hoje, este tipo de publicidade equivale a dizer: “Vota no lixo, vota Marinho Pinto!”

Sou um seguidor da situação política noutras paragens, e já percebi que ainda não chegou o momento de haver uma verdadeira transição para um poder que esteja desligado dos grandes interesses económicos. Na América do Sul, na Europa, no Oriente, todos os políticos se vão submetendo ao poder das negociatas, que são vendidas aos governos como sendo a solução para a criação de riqueza. Tantas e tantas vezes em esquemas de corrupção, que varrem políticos e políticos. A transição vai-se fazendo em pequenas iniciativas de cidadania, mais do que em grandes movimentações. Nestas grandes manifestações, onde a escolha é do povo, existirá sempre uma maioria de gente mal (in)formada e que se deixa influenciar pelos discursos de ocasião, pelas posturas. Em Portugal ganha quem não ataca, cai bem nas pessoas a postura de estadista, que fala bem, que se preocupa com as pessoas, que anda nas ruas a cumprimentar rodeado dos políticos influentes lá do burgo. Ganha quem diz que é preciso estabilidade para se poderem fazer reformas e as coisas melhorarem. Mas depois com a estabilidade o que é que se consegue? Pois, não vou falar do Sócrates… isso já aqui referi no Malfadado em tempo útil. É por isso que PSD e CDS vão ter uma votação bem mais expressiva do que aquilo que as sondagens mostram, se ainda há pessoas indecisas nesta altura do campeonato, o mais certo é seguirem esta falsa ideia de que a estabilidade é a solução para todos os problemas. A estabilidade é certamente a chave para mais negociatas e menos transparência.


Hoje de manhã, mesmo em frente à Loja da Paula, aqui na terrinha onde estou, estava uma rola morta, caída no asfalto, asas meio abertas viradas para o céu. Alguns dirão que é presságio de que amanhã vem muita chuva. Outros dirão que é o presságio de que amanhã vem aí mais do mesmo, e que nos próximos anos vamos ter um grande centrão virado para a direita a continuar as negociatas do presente e a ocultar as negociatas do passado. Sócrates não voltará, mas já estará perdoado! Cavaco Silva, esse sim, mostrou ser mais inteligente e estar rodeado de melhores amigos. Voltou pela mão do povinho, e para ficar! E já sabe o que vai fazer na 2ª feira: não vai às comemorações do 5 de Outubro. E lá vão os jornais todos atrás dele, “esquecendo-se” de ir atrás das negociatas ruinosas.

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