quinta-feira, outubro 15, 2015

A COLIGAÇÃO DOS PERDEDORES

Não vivemos nenhuma revolta em Portugal, é apenas o sistema a funcionar. Mas depois das eleições não me terem surpreendido, com a vitória da coligação (conforme escrevi numa reflexão antes das eleições do início do mês), tenho que confessar que a abertura de negociações do PS com a CDU (uma coligação) e com o BE (uma plataforma) me deixou realmente espantado. Aos meus olhos o PS casaria facilmente com o PSD para a formação do chamado centrão, tais são as parecenças das políticas que defendem na sua prática. Sim, porque na teoria há sempre diferenças. Mas quando chega a hora de aplicar políticas de saúde, de ensino ou de ambiente, ou em qualquer área, venha o Diabo e escolha.
Ainda não sabemos em que é que isto vai dar, porque as possibilidades são muitas. Mas estou a gostar de ver os defensores dos interesses da grande finança, os envolvidos em negociatas, os que preferem que sejam ignorados casos graves de corrupção, os que acreditam que todos os portugueses devem pagar a corrupção e os desvios de dinheiro para os amigos, promovidos pelos grandes banqueiros privados, muito assustados e a meter medo ao povo com a ideia de que vêm aí os comunistas.
E uma das armas para amedrontar é fazer crer aos menos de 20% dos cidadãos (sim, são quase 10 milhões os inscritos nos recenseamentos e a coligação PaF não chegou aos 2 milhões de votos) que votaram nos vencedores, que quem perdeu as eleições quer agora tomar o poder pela força, uma espécie de golpe de estado. Não há que ter medo, as eleições servem para eleger deputados, como aqui tentei explicar tão bem antes das eleições, e também para definir com quanto é que o estado financia cada partido. E são os deputados que depois decidem se determinado governo pode, ou não, governar. A maioria absoluta, a maioria clara, é quando um partido ou coligação consegue ter no parlamento um amontoado de deputados que obedecem cegamente às decisões das cúpulas dos partidos.
Quem ganhou as eleições? Uma coligação que se apresentou como tal, depois de nas anteriores eleições o PSD ter ganho sem maioria absoluta e se ter coligado com o PP, um dos perdedores. Desta vez, sabendo que iriam perder as eleições, se concorressem sem ser em coligação, fizeram aquilo que podiam fazer e que lhes permite ganhar mais deputados em cada círculo, por já sabermos como funciona o método de Hondt.
E vêm agora, que não conseguiram a maioria absoluta dos deputados, e muito menos uma maioria dos votos expressos pelos portugueses que decidem nas eleições, acusar o PS, CDU e BE, de estarem a fazer uma coligação de perdedores para assim, de um modo que fazem parecer uma artimanha, uma desonestidade, possibilitar um governo que afaste o Passos Coelho e o Paulo Portas da governação do País. Uma coligação de perdedores???? Uma artimanha para tentar chegar ao governo??? É que é isso mesmo que a PaF é na realidade, uma coligação de perdedores. Visto assim de fora, e com olhos de ver, isto parecem os miúdos numa daquelas discussões: - És um perdedor! - Tu é que és perdedor! - Tu é que és! - Não, tu é que és! - Perdedo-or, perdedo-or!! - Tu é que és, tu é que és!!
A democracia tem destas coisas e não há aqui ilegalidades: fez bem o Paulo Portas ao agarrar-se ao Passos Coelho antes das eleições, entenderam-se antes das eleições e isso fez com que fossem os vencedores. Tal como a CDU se coliga com os Verdes, uma excrecência do próprio aparelho comunista, para assim captar mais votos e uma vantagem eleitoral. Tal como o BE é um partido cuja génese resultou do entendimento de partidos e movimentos de esquerda, ganhando uma expressão eleitoral que permitiu a sua presença no parlamento. E faz bem o PS ao tentar negociar com os partidos da esquerda para tentar arranjar uma solução governativa alternativa. Se calhar não vai resultar... se resultar, pode depois ser um desastre governativo, igual ou pior do que tivemos nos últimos 4 anos. Tal como, se não resultar, teremos um PS a viabilizar um governo de direita, e isso pode até ser benéfico para muitos dos portugueses. Para mim não será, mas pronto, cá estarei denunciando aquilo que são as negociatas do costume!

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