quarta-feira, outubro 30, 2024

A DINA QUE INUNDOU PARTES DE ESPANHA

É muito raro o Malfadado estar em cima da onda. Mas eis que, surpreendentemente, ainda o número de mortes confirmadas vai subir, e a notícia chega aqui, por pura pedagogia. A Depressão Isolada em Níveis Altos (níveis atmosféricos, claro) é um fenómeno conhecido há muitos anos, e de vez em quando lá aparecia naquelas zonas. O mal é que ao longo dos anos e de ocupação humana dos terrenos naturais, os solos perderam grande parte da sua capacidade de "esponja" (retenção de águas das chuvas), quer fosse por impermeabilização (pois é... casas, ruas, unidades industriais) ou fosse por desertificação dos solos (pois é... fogos, agricultura intensiva, florestação com espécies de crescimento rápido e cortes rasos periódicos). E agora em 2024, chovendo muito mais do que é normal (nalguns pontos, num período de seis horas choveu mais do que a média anual naquela região), a tragédia aconteceu. As alterações climáticas estão à vista? Também, mas mais do que isso, há um problema de agressão contínua dos solos. E assim, quando acontecem fenómenos naturais, é difícil evitar tragédias humanas.

Em Portugal, nas notícias, falam da Comunidade de Valência, mas a DINA afectou outras comunidades autónomas, a sul. As imagens um pouco por todo o lado são idênticas...

sábado, outubro 26, 2024

SWYTCH BIKE - DEPOIS DA RODA DE CONVERSAS, CONVERSAS SOBRE RODAS

 Quem me conhece, é quase certo que me conhece por ser um ciclista convicto. E agora sou um defensor e divulgador das bicicletas com apoio eléctrico. Aqui no Malfadado aparecem várias coisas ligadas com bicicletas, de passeios a reparações, a movimentos associativos, a boas ideias e a coisas menos boas, como o roubo das minhas bicicletas, que deixaram saudades.

Mas hoje venho aqui para falar da última boa nova: finalmente transformei as minhas melhores bicicletas em bicicletas com apoio eléctrico. Já tinha explicado tudo aqui num texto, vai fazer agora um ano, vou já copiar, mas antes aqui fica o link para as várias vezes em que uma das bicicletas que transformei foi mencionada no blogue (clicar).

Citando-me, então: "Ora, há uns anos atrás inscrevi-me num boletim de uma empresa que criou kits de adaptação das bicicletas comuns a bicicletas com apoio eléctrico. Tenho acompanhado a evolução dessa empresa e finalmente agora, que criaram um sistema ainda mais barato, resolvi avançar para a aquisição, permitindo assim transformar a minha Corratec Icebow (roda 26 de finais dos anos 90) e a minha outra roda 26, uma bicicleta de carga com um Xtra Cycle. Por cerca de 800 euros fico assim equipado com duas baterias que posso usar na mesma bicicleta, aumentando assim consideravelmente o raio de acção".

Essa empresa é a Swytch Bike, com sede em Inglaterra, e os kits chegaram, tal como previsto, em finais de Julho, com um ligeiro atraso em relação ao esperado, mas sem problemas.

Foi bem divertido fazer a montagem, porque é muito simples e rápido. O kit básico que se compra vem com a roda da frente já com o motor, só temos que mudar o nosso pneu para a nova roda, e colocar a roda no seu sítio. Na Corratec a parte do motor entrou mesmo à justa, resvés com um dos lados do garfo, que tendo amortecedores é um pouco mais largo do que o normal. Depois é só colocar a bateria no sítio que acharmos melhor e ir colocando braçadeiras nos fios ao longo do percurso. Falta apenas colocar os sensores na parte do pedal do lado oposto ao das rodas pedaleiras comutáveis. Aqui foi na Xtra Cycle, que afinal tem um eixo pedaleiro de secção circular, em vez da secção quadrangular mais comum, que foi preciso uma pequena adaptação para aquilo ficar a funcionar bem.





Depois foi experimentar logo cada uma das bicicletas, o famoso "momento de brinquedo novo". E fiquei logo muito satisfeito, satisfação que ainda se mantém até hoje, depois de vários meses de utilização.

Quando fiz a compra pedi apenas um kit com um regulador e mostrador, para ver se fazia alguma diferença, o que encareceu um pouco. O outro foi pelos mínimos, apenas a roda, a bateria e os sensores. Claro que é possível passar esse regulador de uma bicicleta para a outra, tal como as diferentes baterias que comprei (uma para deslocações de 20 Km e uma outra mais cara, para aguentar deslocações de 40 Km), mas para já ficou na Corratec.







A minha avaliação é que estes kits (optei pelos novos kits, denominados Swytch Go) são mesmo muito bons, pelas seguintes razões:

1. Relação qualidade/preço é muito boa. Não se arranja uma opção mais barata, tendo em conta a facilidade de montagem, a robustez, a garantia de compra e os desempenhos dos equipamentos.

2. A aplicação da força na roda da frente está muito bem doseada, é suave, constante e mesmo nas curvas é suave, o que faz com que se possam dispensar os sensores nos travões, que normalmente aparecem nas bicicletas eléctricas (estes sensores são opcionais nos kits Swytch Bike), e que cortam imediatamente a tracção eléctrica quando se trava, mesmo que muito ligeiramente. Estes sensores fazem toda a diferença quando a tracção é muito forte no início e se está a descrever uma curva apertada. Mas com estes kits básicos, estes sensores podem muito bem ser dispensados, pois pedalando devagar a tracção é também muito suave. Mas se alguém quiser, pode incluir no seu pedido. Eu optei por experimentar sem sensor de travão, e por acaso fiquei muito satisfeito.

3. Mesmo sem o regulador e mostrador (regula a potência da tracção e mostra o nível da bateria) os kits funcionam perfeitamente. É como está a Xtra Cycle e a regulação base equivale ao nível médio de potência (são 5 níveis), que é um nível que dá um excelente apoio ao esforço de pedalar. Com o regulador, na verdade, podemos experimentar um nível maior de potência, que se nota mais nos momentos em que passamos de estar parados, ou vamos devagarinho, e queremos ir mais depressa. Nota-se uma maior aceleração, e um arranque mais enérgico, sem fazermos mais força nas pernas.

4. O sistema de prender as baterias aos diferentes tipos de quadros de bicicletas é extremamente versátil. E é fácil pôr e tirar a bateria, o que facilita poder levar para casa para carregar, mas também retirar quando se estaciona em qualquer lado, para não ser roubada. E é um sistema em que a bateria fica solidamente agarrada ao quadro.

5. Todo o equipamento tem bons acabamentos, é bastante robusto e será durável, em utilização normal, claro está. O carregador/transformador é também compacto e não muito pesado, com cabos de dimensões muito satisfatórias.

6. A carga das baterias aguenta muito bem, até porque usando as mudanças da bicicleta, sem fazer grande esforço, consegue-se ir pedalando e poupa muito na descarga da bateria. Fazendo uma utilização em que se queira poupar e chegar mais longe com uma carga, mesmo sem fazendo grande esforço, acho que se podem fazer facilmente 50 Km e 25 Km respectivamente, com cada uma das baterias que instalei. Isto no meu caso, que sou um "peso pluma". Quem optar por instalar numa bicicleta de corrida, mais leve e rodas fininhas, imagino que consiga facilmente fazer 65 Km e 30 Km respectivamente.

7. Se a opção for o kit mais simples, sem regulador/mostrador, pode-se verificar o nível da bateria na própria bateria, tens uns leds indicadores, mesmo ao lado de um botão de ligar / desligar, o qual também funciona muito bem.

8. Por último, a vantagem de mais gente poder optar por este sistema Swytch Go, é alguém pretender fazer uma viagem maior, num fim-de-semana, ou nuns dias quaisquer, poder pedir aos amigos as suas baterias emprestadas, aumentando a quilometragem que pode fazer entre pontos de carregamento. Mas para já ainda não conheço ninguém que tenha feito esta opção...

A única coisa que posso apontar ao funcionamento do apoio à pedalada é pouco importante. Mas nota-se bastante: quando atingimos o limite de velocidade máximo imposto pela legislação de segurança rodoviária, por exemplo numa descida mais acentuada, o motor deixa de ajudar. E quando retomamos a pedalada, demora um pouco a reagir e a voltar a dar força. Ou seja, sentimos que a velocidade vai um bocado mais lenta e vamos um bocado mais em esforço, até que se sente o tal apoio ao pedalar e a velocidade de cruzeiro volta ao normal.




Desde que instalei os kits já estou farto de andar por aí, e estou plenamente satisfeito. Nos inquéritos de satisfação de algumas empresas perguntam sempre: recomendaria estes kits Swytch Bike aos amigos? Acho que a resposta está dada! Inscrevam-se já (link para o site aqui), façam como eu, e vão pensando e avaliando, porque a inscrição não obriga a comprar na primeira oportunidade. Eu acho que estive inscrito desde 2021 e só agora me decidi. Em boa hora.




sexta-feira, outubro 25, 2024

A MINHA PRIMEIRA "RODA DE CONVERSAS", NA VERSÃO "FEMINISMO PARA TOD@S" - "GENTE DA NOSSA TERRA", CANTANHEDE

 Ontem à noite lá dei um saltinho a Cadima, ao espaço Lúcia-lima, para participar numa roda de conversas, incluída no programa Gente da Nossa Terra 2024. Dedicado a António Taboeira, fazia sentido o tema desta roda: a vida das mulheres e das crianças que ficavam na Gândara, enquanto os homens iam invernar a trabalhar para o sul, eles, os "caramelos" (que deram origem à sopa caramela, na região de Setúbal, versão que chegou até hoje, a qual, na sua origem, mais não era que uma sopa à lavrador aqui da Gândara).

Foi a segunda iniciativa em que participei, depois daquela que aqui referi há uns dias, na Praia da Tocha. Está de parabéns a Câmara Municipal de Cantanhede, que nesta parte da cultura continua a ir à frente de muitos outros municípios da zona. E quem faz a programação deste programa, que se repete a cada ano com uma personalidade local diferente como tema central, está também muito bem. É este um excelente trabalho que leva a cultura de forma descentralizada a todo o concelho. Iniciativas variadas e quase sempre recorrendo à prata da casa, mas sempre interessante e com pessoas a marcarem presença, numa demonstração de sobrevivência da sociedade civil, em tempos de cada um por si, e em sua casa, de preferência (link para a página da CM Cantanhede onde se explica a actividade e com ligação para o programa total).

A sobrinha é uma das 4 amigas que de forma informal organizam estas rodas de conversas. Procuram pessoas que possam testemunhar sobre o assunto que querem explorar, depois arranjam um local, e depois divulgam. A base é o feminismo, mas a roda pretende ser o mais inclusiva possível. Gosto de gente assim.

Fica ainda o registo de ter revisto e falado com uma amiga recente, de Cantanhede, que se dedica às fotos e a outras coisas das culturas. No final ainda me disse que tinha já ajudado o Manuel Capela (jovem agricultor que perdeu quase toda a sua exploração de agricultura biológica nos fogos de Baião)(clicar aqui para página de Facebook), pois tinha visto o seu apelo numa publicação minha. Gosto mesmo de gente assim.

quinta-feira, outubro 24, 2024

EU VI ESTE POVO A LUTAR - ARRANJO DO JOSÉ VALENTE PARA 6 VIOLAS

 

Já tem dois aninhos, a música foi para um disco de homenagem ao José Mário Branco. Felizmente tiveram a ideia de gravar estes 6 minutos e meio em vídeo, que descobri só agora. Temos por cá, mas também no mundo inteiro, gente excepcional a produzir coisas que transformam os nossos dias.

terça-feira, outubro 22, 2024

SAÚDE 2 - PERIODONTISTA

Cá fica então mais um registo para referência futura, sobre o meu estado de saúde. Como já escrevi aqui no registo SAÚDE 1, foi por causa do 25 de Abril que revelei um problema dentário, a mobilidade dentária. E prometi explicar que na minha vida também havia um antes e um depois do 25 de Abril. Aqui fica então:
Fui a Lisboa participar na histórica manifestação dos 50 anos do 25 de Abril (já relatei e documentei aqui no Malfadado). Na viagem de regresso, tinha um autocarro para apanhar e cheguei relativamente cedo à estação. Como tinha um cupão de 25% de desconto em compras no Continente, lá fui caçar promoções e aproveitei para comprar algo para comer, pois já era hora de comer alguma coisa. E lá comprei umas cenouras bio, muito saudáveis e práticas para comer na rua. Só que ao trincar um bocado de cenoura com os molares, para mastigar bem, o último dente molar do lado direito, parecia que estava a ser arrancado, uma dor lancinante, que depois atenuou um pouco mas manteve sempre uma dor muito incómoda. Vi logo que tinha acontecido algo grave, mas não senti nada partido. A dor manteve-se e os amigos diziam que devia ser uma rachadela, mas a verdade é que até ir ao dentista de urgência, acabou por se desenvolver um abcesso, com as dores associadas, e que acabou por purgar no próprio dia em que ía ao dentista, aliviando as dores. Só no dentista, numa rápida consulta de urgência, com direito a Raio X ao dente em causa, é que ele meteu o dedo e viu que o dente abanava demais. E comunica-me que era um caso de mobilidade dentária, e marcou-me uma consulta para uns dias depois. E receitou-me um antibiótico e um anti-inflamatório oral. Estávamos em finais de Maio. Não fiz a toma dos medicamentos porque como já estava a purgar o abcesso, achei desnecessário. E fui mesmo melhorando. E depois pensei, eu mesmo, que se tinha mobilidade do lado direito, o mesmo se devia passar no lado esquerdo, uma vez que os sintomas periódicos que tinha antes do 25 de Abril do lado direito, também os sentia do lado esquerdo. Esses sintomas eram episódios de maior sensibilidade dentária, alguma pequena dor episódica, e pensando bem, em 2023, no fim do Verão, tinha já tido um abcesso, que acabou por purgar e passar. E de facto, fazendo eu mesmo o que o dentista fez, vi que do lado esquerdo também tinha muita mobilidade dentária (abanava com'ó caraças!!). O que veio depois a ser confirmado pelo dentista, que me disse que se os dentes continuassem a dar problemas, o melhor era arrancar. Havia casos que a situação melhorava, mas não havia propriamente um tratamento, mas no geral o tratamento melhor era arrancar. Foi aí que optei por ver se a coisa melhorava. E ao falar com amigos e família, disseram-me que para salvar esses dentes tinha que ir a um especialista, um periodontista. Ou periodoncista.
Abro aqui um parêntesis para convidar para a leitura de um texto que vou escrever depois, sobre o Bem que vem por mal. A propósito da utilização de uma boa pasta para os dentes, a conselho de um amigo.
A marcação da consulta demorou muito, porque me arranjaram uns nomes de especialistas muito bons que não consegui descobrir os contactos, e pesquisando assim por alto também não me apareciam especialistas. E veio o Verão, e com ele a situação ia piorando, sempre mais incómodos, às vezes dores, alterei a dieta para coisas mais líquidas ou moles. Experimentei os probióticos bucais, e realmente mudaram o hálito e alguma coisa fizeram, mas a mobilidade dentária continuava intensa. E apareceu o princípio de abcesso, agora do lado esquerdo. Ia piorando um bocadinho todos os dias, até que a Zé me lembrou que eu tinha o tal antibiótico e foi assim que em Julho o tomei (conforme registado em Saúde 1). E o abcesso acabou por desaparecer e fiquei sem dores.
Finalmente... 
No final de Setembro pesquisei mais na net e descobri duas clínicas em Aveiro com periodoncia. Uma delas marcou-me para um par de dias a seguir, início do mês de Outubro. Fui visto por um especialista, que me mostrou como estava o meu osso do lado esquerdo, já completamente desgastado, esse dente molar estava condenado, mas talvez fosse possível salvar o do lado direito. Mais 4 dias ficou marcada a extracção e mais um par de dias, a limpeza do tártaro bem executada, para depois ver a evolução. Mas quando fui fazer a extracção sugeri ao dentista que a ia executar arrancar o outro dente também, pois eu sabia que também já tinha que estar muito avançada a sua degradação. E ele, depois de ver e mexer, ia propor a mesma coisa.
A primeira anestesia, tal era a infecção (quando ele espetava a agulha para a injectar saía pus, de ambos os lados) não teve efeito nenhum, foi preciso uma anestesia mais forte. Mas os dentes lá saíram. E passados poucos dias já me sentia com muito melhor energia.
O médico lá me disse que se calhar eu deveria fazer antibiótico, mas eu respondi que tinha em casa um de reserva, e que tomaria se visse que precisava. Foi fixe ele ter concordado, comentando que de facto, se cheguei àquele ponto e estava ali sem antibiótico, agora que o pus tinha saído e o foco de infecção também, certamente estava bem melhor agora. E foi assim. Estou mais desdentado, agora tenho dois molares em cima que não fazem nenhum, mas ainda consigo comer bem e mastigar, demora mais, mas... também se saboreia melhor a comida.

domingo, outubro 20, 2024

HÁ DIAS ASSIM, IMPREVISÍVEIS. TORNAR ÚTEIS OS INÚTEIS DIAS.

 Fim-de-semana. Sem programa muito rígido, que para horários apertados são mais que suficientes os dias úteis. E para inutilidades basta fazer planos em cima do joelho.



Ontem saímos de casa depois do pequeno-almoço, passagem pela horta, ainda com muita chuva a ver-se nas verduras. Direcção a Coimbra, estava lá a decorrer o Festival MATE, e havia bilhete muito económico para quem só lá ia um dia. O programa prometia uma boa tardada cultural, com música, instrumentos musicais e actividades variadas. O regresso à base estava previsto para relativamente cedo, para participar no Festival das Sopas, praticamente ao lado da Casinha Gandaresa.

A passagem obrigatória por Cantanhede obriga sempre a pensar estar um pouquinho com os mais novinhos da família, e lá conseguimos coincidir em Cadima. Havia almoço para todos e acabámos por ali ficar um pouco mais, atrasando a ida para Coimbra.

Entrámos no carro, deitámos conta às horas inutilmente livres e mudámos de planos. Dia muito cinzento, vamos lá explorar caminhos menos usados. Praia ali mais perto, a da Tocha. Siga!


Deixar o carro à entrada e depois caminhar. Na zona habitacional e depois à beira do mar. Ali mesmo na linha da frente das casas, já do lado do mar, havia um pequeno auditório com a porta aberta. Fomos espreitar o que havia em exposição, mas mais do que isso havia uma pequena conversa. Estava mesmo a começar. Adentrámo-nos por entre cadeiras e lá nos sentámos. Construção de instrumentos musicais, memórias e saberes históricos, a música e os instrumentos. De corda. Até chegar ao acordeão, a sanfona do Brasil, já no século XX.


Ali estivemos a aprender pelas mãos hábeis de um construtor não só de instrumentos como de histórias  bem musicadas. Mais parecia estarmos no MATE, mas num ambiente menos massificado, mais perto e mais económico.


Depois fomos descobrir a nova estrada/ciclovia de ligação à Praia de Mira, já apontados para as panelas da sopa. Mas antes de lá chegar ainda tivemos tempo de fazer as despedidas do Verão, deslizando nuns crepes com gelado artesanal, na nossa praia mais usada e visitada. E para o jantar não ser só sopas, assim já íamos de estômago forrado.




Carapelhos recebia a 5ª edição do Festival de Sopas organizado pelo Grupo Folclórico das Varandinhas de S. Bento (Corticeiro de Baixo). Chegámos mesmo a horas de apanhar a abertura. 16 sopas na mostra. Objectivo: decidir qual a melhor, eliminando à partida todas as que eram elaboradas com carnes, quentes ou frias. Dessas sopas degeneradas fugimos, para conseguir provar as outras. 

Sopas vegetarianas havia muito poucas, mas foi por aí que começámos. A melhor era a sopa de nabiças, da Confraria do Grelo (levou um voto - sopa nº1), mas havia ali um creme de legumes que também estava perfeito (esta acabou por levar também um voto - sopa nº 6).


Depois passámos às sopas de peixe, meia-dúzia. Todas muito diferentes, para todos os gostos. Não havia a melhor sopa de peixe, foi preciso misturar a nº 11 com a nº 12  para obter uma bela sopa de peixe, e consistência, sabor, aromas, texturas e mistura equilibrada de condimentos.

A maioria das sopas era cozinhada com carne, até o pobre caldo verde disponível era mais uma sopa de chouriço. A sopa de ervilhas tinha pedacinhos de bacon fumado a mais. E também não provámos as sopas de legumes em que víamos carnes misturadas. E depois as famosas sopas à lavrador e da pedra, seriam umas 4, todas diferentes mas todas iguais para nós, que como é costume nos passam ao lado nestes festivais que eu tanto aprecio.

Não sei como, mas ainda apeteceu comer uma das muitas sobremesas disponíveis, à escolha por apenas 1 euro. Todas caseirinhas e boas, para todos os gostos. E ainda comprámos pão que sobrou, caseiro em forno de lenha. Ficámos até ao fim, com direito a reportagem fotográfica.

Regresso a casa, para descanso nocturno, na noite tão inútil como os dias, mas que servirá sempre para repor as energias no seu lugar de reserva. Perdemos o Festival MATE, de facto, mas ganhámos a sorte grande de ter o inútil tempo a nosso favor, longe do stress e perto das nuvens.










sábado, outubro 19, 2024

EM DEFESA DOS ISRAELITAS

 Ando há meses a pensar que vou voltar a escrever aqui no Malfadado sobre a situação na Palestina. Um país que não existe, territórios dispersos onde vivem palestinianos. Estamos em Portugal, os problemas da Palestina estão longe, como longe estão os problemas de Israel. A União Europeia não reconhece o estado palestiniano, mas alguns países europeus, na sequência dos massacres promovidos na Faixa de Gaza, já o fizeram. Como fez a Espanha, aqui mesmo ao lado. Portugal preferiu ficar do lado dos poderosos americanos. Não em meu nome. Já antes aqui no Malfadado tinha feito referências ao anormal que é aceitarmos que um estado terrorista que não está na Europa participe nas competições desportivas exclusivamente europeias.


Porque temos então aquela zona do nosso planeta outra vez em estado de guerra? A culpa é dos israelitas? Não! A maioria das pessoas que vive em Israel está chocada com a forma como as coisas estão a acontecer. Ao contrário do que os americanos pretendem fazer crer, através de notícias propagadas à escala mundial, o problema não começou com a morte de mais de 1000 civis e quase 400 militares e polícias israelitas, em Outubro de 2023. Essa operação de revolta do Hamas surgiu de décadas de repressão por parte de sucessivos governos de Israel, e numa situação de prolongado impasse e impotência das Nações Unidas na resolução do problema dos palestinianos. A Faixa de Gaza foi transformada por Israel num campo de concentração gigante, onde era impossível entrar ou sair sem a autorização do exército de Israel.


Só faltava o massacre de inocentes para o fascista Benjamim se colocar no pedestal de figuras de merda da humanidade, ao lado do Adolfo e do José. E de muitos mais ao longo da história. Vamos já com mais de 30000 civis mortos de forma cobarde, talvez mais de 40000, apenas num ano, e num local de onde não podem fugir. Crianças, jovens, mulheres, idosos e também homens de família, trabalhadores, jornalistas, médicos e tantas outras ocupações. Se os israelitas soubessem que ao elegerem este criminoso de guerra estavam a abrir as portas para uma guerra sem fim, certamente teriam escolhido de outra maneira. Mas não o fizeram, acreditaram nas suas falsas promessas de prosperidade e de resolução do conflito. Tendo no comando do seu exército pessoas igualmente sanguinárias e fascistas, aproveitaram para brincar às guerras com os "brinquedos" que os americanos lhes puseram nas mãos. Os militares israelitas não são o povo de Israel. O exército israelita, e os seus serviços secretos, já conseguiram assassinar mais civis num ano do que os russos conseguiram matar soldados ucranianos em 2 anos e meio. Assassinaram 4 vezes mais civis do que os russos na Ucrânia.


No início da invasão da Faixa de Gaza, invasão não autorizada pela ONU, os nossos jornalistas portugueses estavam em território israelita, nunca tiveram a coragem de ir ao terreno. Os jornalistas nunca são bem-vindos, por poderem presenciar e documentar actos bárbaros. Mas daí a referirem-se constantemente a um exército invasor e contrário às leis internacionais como o Exército de Defesa de Israel é, para mim, deixar a imparcialidade de lado e abraçar um dos lados do conflito. IDF é a sigla, em inglês, do exército de Israel. É mesmo assim que se auto-intitularam, traduzindo para português: Forças de Defesa de Israel. Mas na realidade são um exército, uma força de ocupação. Para nós, que queremos saber o que se passa, não nos interessa saber como se auto-designam as forças em confronto. É mais fácil e conciso referir apenas as tropas de Israel e as tropas do Hamas. Nenhuma delas são forças armadas de defesa de coisa alguma, ainda que defendam pessoas e bens à sua maneira, acabam por atacar pessoas e bens à sua maneira.


Por falar em atacar pessoas e bens, há que referir a onda de assassinatos promovida pelo regime de Israel. O ataque em plena capital do Irão foi marcante, abriu uma porta que infelizmente não se vai fechar tão cedo. Foi em Julho e assassinaram cobardemente o líder político do Hamas, tido como moderado e ex-governante palestiniano. Já o conhecíamos das televisões, figura simpática e boa comunicadora, Ismail Haniyeh estava em Teerão (link pra notícia RTP) para participar numa cerimónia oficial. Ocasião escolhida pelo regime israelita para assassinar, sem cerimónias, precisamente aquele com quem seria mais fácil negociar a paz. Também não se coibiram de atacar a embaixada iraniana em Beirute. Tanto provocaram que o Irão, liderado por gente também pouco recomendável, e por completa ausência de acção da ONU, que tem sempre os EUA a vetar toda e qualquer decisão contrária a Israel, decidiu responder. Ainda que de forma nada letal, já morreu mais gente com fogo de artifício este ano do que com o ataque de mísseis e drones iranianos. Drones iranianos que também aparecem nas mãos do exército do regime russo, mas isso são outros negócios.


Voltando ao jornalismo em Portugal, e a sua parcialidade mal disfarçada, a propósito do recente assassinato do líder do Hamas na Faixa de Gaza, era comum referirem-se à eliminação promovida pelo exército de defesa de Israel. Assim, limpinho, como se fosse a eliminação de um peão no tabuleiro de xadrez. Ou a morte de algum inimigo público, condenado e foragido. Mas o termo certo é o assassinato. Como depois vi referido na imprensa espanhola. Ah, pois, mas os espanhóis reconhecem a Palestina como estado independente. Veja-se por exemplo no início desta notícia do Expresso (link aqui).


E pronto, já referi aqui o que me anda a incomodar nestes dias de estupidez humana a explodir naquela área do planeta. Falta divulgar aqui o trabalho desenvolvido pelo Fumaça, uma espécie de jornal online (podcast e artigos, investigação e divulgação). O jornalista Bernardo Afonso fez chegar aos subscritores do boletim um texto muito interessante, com muita (até demasiada, digo eu) bibliografia sobre o problema dos palestinianos. Se estás a ler isto, aproveita e vai lá ao site e subscreve também, mandam poucas vezes, mas são sempre apontamentos interessantes. "Como apanhar um comboio de séculos?", assim se chama este artigo de opinião, que em breve se juntará aqui (link para o site do Fumaça - parte dos artigos de opinião - aproveita e subscreve!!!) a outros textos que anteriormente foram enviados, alguns dos quais já sobre a situação dos crimes israelitas. E não crimes dos israelitas, porque a maioria dos israelitas não defende esta estupidez criminosa. Ainda que só alguns (muitos, mas ainda poucos) saiam à rua e mostrem a sua oposição a este regime fascista.


Se calhar não estamos muito longe do dia em que se organize uma manifestação de apoio aos palestinianos, com o mote: Volta Hitler, estás perdoado! Assim se juntaria a extrema-esquerda anti-fascista à extrema direita vincadamente fascista.

PS - Vai este texto pontuado com algumas fotografias que roubei da internet, de publicidade à Victoria's Secret. Será que algum dia a beleza vai suplantar o horror? Algum dia serão as figuras da moda, do desporto ou das artes a denunciar os crimes do regime israelita? Já aconteceu antes, assim terminou o apartheid há muitos anos atrás. Talvez possa voltar a acontecer. Mas não começará em Portugal, pois já cá tivemos duas equipas israelitas a jogar com o Sporting de Braga, e foi como se nada de mal estivesse a acontecer. Que eu saiba, nem nas bancadas um único letreiro a denunciar esta estranha situação de ter Israel a jogar nas competições desportivas europeias, nem a denunciar os assassinatos em massa, ou uma invasão de campo a denunciar a impossibilidade de se invadir o campo de concentração nazi conhecido como Faixa de Gaza.





sexta-feira, outubro 18, 2024

A NET TEM DESTAS COISAS - DAS SUCATAS ARGENTINAS A UMA ARTISTA ARGENTINA A VIVER EM ESPANHA

Ao pesquisar sobre o argentino das esculturas, ao ver o vídeo que aqui partilhei, vi um nome que desconhecia, Nathy Peluso. Fui tentar ver quem era e descobri uma artista musical que tem belas produções musicais e de vídeo. Aqui fica a divulgação, com 2 vídeos do seu canal youtube, para quem gosta de boa música latino-americana, desta modesta, e comunicadora, cantautora argentina, cuja família se mudou para Espanha há poucos anos atrás. Primeiro um vídeo em que faz uma boa versão de um êxito de final dos anos setenta, de um tal Camilo Sesto, que até em Portugal me lembro que aquecia os corações das jovens: E agora num registo bem diferente, numa das suas composições:

quinta-feira, outubro 17, 2024

AS ESCULTURAS COM MOVIMENTO E TRANSFORMAÇÃO, FEITAS COM SUCATA VARIADA

 

Há uns dias atrás apanhei na net um pequeno vídeo a mostrar as esculturas feitas por alguém que o fazia de maneira perfeitamente extraordinária. Fui pesquisar e descobri a obra do Guillermo Galetti, que cria arte com sucata. Partilho aqui um vídeo onde mostra uma pequena parte das suas obras num canal televisivo espanhol. Veio da Argentina e trouxe parte da sua "sucata" no avião. Há gente extraordinária... Para quem quiser saber mais há que procurar coisas sobre o "Ladron de Chatarra" (o canal dele no youtube tem poucos vídeos), há por aí nas plataformas muitas coisas a correr e em várias línguas.

quarta-feira, outubro 16, 2024

SERENA KAOS - VERSÃO FRESQUINHA DO ÊXITO DO VARIAÇÕES

A Canção de Engate é já um clássico. Uma versão desta música e cantora bem portuguesa só poderia mesmo acrescentar algo à Música. Vídeo oficial acabado de publicar, no canal de Youtube dela, que está a recolher subscritores. É só um clique de apoio a quem vive para a música e para nos dar momentos transcendentes como este:

sábado, outubro 05, 2024

UMA AMIGA QUE É FIGURA CENTRAL DE DOCUMENTÁRIO PREMIADO - MARISA

 De vez em quando temos notícias muito boas dos amigos.

Conheci a Marisa Martínez há muitos anos atrás, por ser amiga de outra amiga, uma professora de Cádiz. Da última vez que ali fomos não nos reencontrámos, deve ir para 20 anos o último encontro em que a ligação que foi ficando foi o Facebook. É ali que vou acompanhando as actividades e activismos desta mulher andaluza, que nos últimos anos tem desenvolvido um interessante trabalho com a fotografia. Recebeu já alguns prémios, com as suas fotos trabalhadas. (clicar aqui neste link, para ver as suas fotos publicadas no seu Fb). Em jeito de aperitivo copio aqui uma delas:



Para as suas fotografias conceptuais, os modelos são os seus amigos.

Foi então pelos amigos certamente, que surgiu a ideia de fazer um pequeno documentário cinematográfico sobre a Marisa. E da ideia à concretização, duas realizadores meteram mãos à obra, o filme, de curta-metragem, é concluído e ganha logo o primeiro prémio num festival local sobre documentários. Fica aqui a notícia (link para Onda Cádiz, com foto da entrega do prémio), e fico em pulgas para poder ver este trabalho, que ainda nem tem um trailer, nem nada, mas já está reconhecido como um belo trabalho. Há que dizer, mesmo desvalorizando por serem palavras de um amigo, que a base de trabalho é muito boa.

segunda-feira, setembro 30, 2024

A FESTA DOS VELHOS AMIGOS - AVANTE 2024


O balanço do mês de Setembro teria que acabar em grande. A Festa do Avante não é novidade para nós. Os meus saudosos tios Zé e Maria Luísa todos os anos nos ofereciam uma EP (Entrada Permanente), ainda que tenhamos aproveitado muito pouco essas ofertas militantes e de coração vermelho.

Precisávamos de comprar as EPs, pois da última vez fomos à bilheteira para comprar o bilhete do dia e acabava por ser mais caro do que a compra antecipada para os 3 dias da Festa. Como através da net se pagavam taxas à empresa de comercialização, optámos por tentar a compra directa, nos Centros de Trabalho do PCP. Não foi fácil pelo telefone que encontrámos na net, do Centro de Aveiro. Hora de chatear velhos amigos...

Através do Vladimiro Vale, que depois na Festa encontrei envolvido nas actividades do seu stand distrital de Coimbra, lá me chegou o contacto das camaradas de Aveiro que nos desenrascaram. Comprámos as EPs e a revista da Festa, com tudo sobre a programação geral, mas também dos diferentes pavilhões, distritais, internacionais, tasquinhas e restaurantes e bares. A revista é indispensável para quem se quer organizar devidamente, e traz um poster, conforme se pode ver aqui nesta primeira foto:



O alojamento para os 3 dias da Festa foi na zona da Caparica, em casa da sobrinha muito nossa amiga. A Carolina estava de férias e até deu jeito estarmos ali naqueles dias, sempre tratámos dos 2 gatões residentes. Certo é que para os gatos foi uma animação terem pessoas, cheiros e hábitos diferentes a entrarem no seu território. De certeza que tão cedo não se vão esquecer do cheiro a Festa, que levávamos connosco. Aqui estão eles, na casa dos jogos de tabuleiro.




Porque é que a Festa do Avante é para mim a festa dos velhos amigos? A resposta está nas fotos que se seguem:

1 - Sofia Seca - Não sabia que era das que tentam nunca faltar. Mas lá estava ela. Deu para dois dedos de conversa e matar as saudades de já quase meia dúzia de anos sem nos cruzarmos. Mãe de 4 filhos, sim 4, e ali estava ela, animada e a dar o exemplo.




2 - Joyce e Carlos Gomes - Estes era capaz de esperar encontrar, mas não com os netos. E a viverem a Festa com acampamento e tudo, uma festa também para os miúdos de certeza.



3 - José Carlos - Este sim, já tínhamos estado com ele da última vez que tínhamos ido à Festa. Com ele e com o filho. Não falha uma, nem a que se organizou em plenas restrições da febre da pandemia. Nós já lá não íamos antes dessa, e nestes anos nunca ele nos perguntou se lá estávamos. Mas este ano, ao entrarmos no recinto, toca o telemóvel e... era ele, tinha-se lembrado de perguntar se este ano íamos à Festa. "- Estamos aqui, pá!".
Lá estava ele, no acampamento das noites menos bem dormidas, voluntário no pavilhão do Algarve e sempre a fazer-nos companhia. O filho só chegou no último dia, mas marcou presença e ajudou à festa.


4 - Panchita - Não tirámos foto. É das que também iam com os tios Maria Luísa e Zé, sobrinha do lado de lá. Com ela tínhamos estado recentemente, num almoço muito animado que juntou sobrinhos dos dois lados. Fica uma foto tirada nesse almoço.



5 - Jacinto Pascoal - Não tirámos foto. Este sim, também esperaria encontrar neste local de encontro de militantes da velha guarda. A cena mais engraçada com ele é que eu vi o Carlos Gomes e fui falar com ele, estava sentado ao lado de um amigo de óculos escuros e chapéu na cabeça. Não o reconheci, só quando ele falou também. Depois comentei com a Zé que ele também lá estava e a Zé perguntou se a Tina também estava na Festa. Não a vi, e de facto, tal como a Zé me questionou logo, então e não perguntaste se estava tudo bem com ela? Pois não... mas quis o acaso que nos cruzássemos outra vez entre espaços de actividades, e a Zé perguntou e em 5 minutos ficou a saber tudo. Separaram-se e estão a viver cada um em sua terra. QUÊ??? Fiquei em estado de choque, mas depois já não o voltámos a encontrar. Sem foto, fica aqui a sua página de Fb em link (que ele não usa, pois claro, mas tem lá uma foto sua com ar desconfiado). Dos 3 amigos que o Fb regista como comuns, lá está o Vladimiro Vale, e mais duas amigas que conheci na Quercus.

6 - Susana Rebelo - Também lá esteve na Festa e agora moram mesmo ali ao lado. Não a encontrei por acaso, mas eis que nos cruzámos uns dias depois, e eu disse: então temos que tirar uma foto, porque a Festa do Avante é como o Natal, é sempre e todos os dias, quando um homem quiser. A verdadeira mulher de armas, mãe de 3 filhos, sempre em múltiplas actividades e com uma boa energia que parece inesgotável.



7 - Miguel Repas - Foi a Susana que comentou comigo que o Miguel também tinha ido à Festa. Ora, não o tendo lá visto, tinha que fazer também uma foto. Com ele tinha falado recentemente, não foi fácil de o apanhar e ter uma conversa telefónica, mas lá aconteceu, uns dias antes da Festa do Avante. Falámos de pão de massa mãe feito em casa, coisa que ele fazia na perfeição e que eu finalmente consegui fazer também nesta Primavera-Verão e de muitas outras coisas. Mas não falámos da Festa. E não falámos do seu divórcio da Sofia. E a Sofia (sim, a da foto 1!!!) também não me disse nada. Partiram do princípio que eu já sabia, já vinha de antes da pandemia. Mas eu não imaginava. Passou-me mesmo ao lado... aqui estamos mesmo ao lado, em ambiente de festa, mas nesta outra festa com a Susana (que nos fotografou) e muitos outros velhos amigos


8 - Zeza - Grande companhia e ainda melhor companheira. Não podia faltar aqui uma foto de nós os dois, e aqui estamos a mostrar os carrosseis aos nossos pequenitos sobrinhos-netos, que é como quem diz, para a próxima já podem vir connosco. Um de cada vez, claro, ponham-se na bicha! Só agora ao editar a foto é que reparei que por pouco não estamos a imitar o Pato Donald e a Margarida...


Seguem-se as fotos com vistas da Festa, e mais algumas que ali tirámos. Sem legendas, mas também para memória futura.




Nesta foto do público, que apanhei na página Fb da Festa, apareço eu e o Zé Carlos ali chegados à frente, a vibrar com a música do Mário Laginha e do Tcheka, em duo. Mais um momento alto dos concertos, que este ano foram múltiplos.


No início de Setembro tinha prometido voltar a escrever aqui sobre a Festa do Avante, com críticas e sugestões. Vão ficar aqui, nunca se sabe se o recado chega à organização.

Qualidade do som: Muito bom, mas de facto mal orientado. O que se passa então? É que sendo os espectáculos de entrada livre, e com alto nível de circulação do público, e também de grande convívio da malta, quem lá vai e quer apreciar a música tem que se chegar à frente. Mas depois as colunas de som estão orientadas mais lá para trás, onde estão os técnicos de som. Ora, faz sentido que os técnicos ouçam bem a música, mas o espectáculo não é só para eles usufruírem. Era conveniente ter umas colunas mais pequenas viradas para o público, de forma a poderem ouvir a música com qualidade. Assim é que é uma má experiência, e é um desrespeito para os músicos e para o público.
Ainda uma questão de orientação das colunas, há palcos que deviam estar virados para outro lado, para a projecção de som não se sobrepor com as de outros espaços, sejam eles de música, o espaço teatro, os espaços distritais.

O fumo de palco em excesso: uma coisa é o fumo ajudar a criar um momento espectacular, em conjunto com a iluminação. Outra coisa é ter as máquinas a deitarem fumo, e em quantidade excessiva, a todo o tempo. Acaba por dificultar a visibilidade do palco, e imagino que para os músicos em palco também seja algo incomodativo. Num dos espectáculos no palco principal, um dos músicos, lá mais para o fim da participação, apareceu a tocar com uma máscara anti-gases. De facto...

A iluminação de palco: Muito mal, principalmente para quem está mais à frente. Já ouvi músicos comentarem que agora é a moda, luzes na parte de trás do palco, mas viradas para o público. Para quem está mais atrás, e para o técnico da iluminação, não chega a incomodar, mas para quem está a querer ouvir alguma coisa e vai lá mais para a frente, para escapar ao ruído das conversas gritadas, aquilo foi mesmo muito agressivo. Toda a gente lá à frente sentiu o grande incómodo. Em conjunto com a falta de qualidade do som lá à frente, o excesso de fumo, acabava por tornar a tentativa de ver um bom espectáculo num suplício.

Em relação à parte dos comes e bebes, a coisa está mesmo bem organizada, mas depois, muitas vezes, vezes demais, formam-se bichas demoradas. A qualidade da comida é, de modo geral, muito boa, feita por gente que sabe e que se entrega de coração à confecção. A organização devia ter uma equipa de assessores para ajudar a limar arestas em cada pavilhão, no que diz respeito à parte de tirar senhas pré-compradas e depois na parte de servir as refeições e as bebidas.
Uma sugestão minha era as bebidas serem de self-service, ou seja, como normalmente são bebidas tiradas à pressão, a malta ia lá à frente, mostrava a senha ao voluntário que estivesse do outro lado do balcão, agarrava no seu copo ou caneca reutilizável, e servia-se sob a supervisão do voluntário. E caso quisesse vinho, mostrava a senha, agarrava a garrafa (ou pedia-a ao voluntário se a quisesse refrigerada), e tinha ali à mão um saca-rolhas. Podem imaginar o desespero que é ver a malta a servir os pratos e depois andar ali para atrás e para a frente a ir buscar as bebidas, com cuidado para não entornar, ou a usar o saca-rolhas, de forma rápida mas sempre demorada.
Na parte de tirar as senhas, a existência de muita variedade de escolha também acaba por dificultar no processo da malta pedir. Sugeria que os menus fossem mais restritos em cada refeição, por exemplo ao almoço serviam uma sua especialidade de peixe, uma de carne e uma vegetariana (uma boa sopa vegan é já uma boa alternativa), ao jantar serviam outras coisas. Ou mesmo carne ao almoço, peixe ao jantar numas tasquinhas, e ao contrário noutras, a malta que vai em grupo depois pode organizar-se e ir pedir comida a diferentes regiões do país, ou tasquinhas variadas.
É tudo uma questão de organização geral, e a parte da comida já se sabe que marca sempre muitos pontos. Neste caso a malta não anda satisfeita. Acaba por não escolher ir comer o que mais gosta, ou que já sabe que está mais apurado, mas quase sempre o que é mais rápido. Para não perder a Festa... e assim perde a festa da gastronomia. E que bem que comemos este ano, mais uma vez. Uma ou outra vez não o que queríamos, mas o que era mais rápido.
Para terminar a questão do lixo que se produz. É certo que é preciso cumprir com escrupulosas regras de higiene, mas é preciso ir implementando ideias que levem a uma redução do desperdício. Já há muitos pontos de reciclagem, é verdade, mas é preciso ir mais longe e ajudar a educar a malta. O que se vê mais é gente a colocar no lixo comum muitas embalagens recicláveis. E há que explicar bem que o lixo comum deve juntar ao máximo as coisas que podem ser compostadas, e na reciclagem as embalagens ou coisas que não estejam sujas ou possam ser fonte de contaminação.
Os pratos de papel utilizados, papel encerado, compostáveis, são já uma grande ajuda, mas acabam por fazer um grande volume de lixo. A organização poderia pensar em produzir pratos em material compostável, mas reutilizável após limpeza com papel apropriado. Pratos impressos com a edição de cada ano, que a malta poderia depois levar para casa, onde voltariam a ser usados. Talvez não seja fácil implementar, mas se estes pratos reutilizáveis forem vendidos numa bolsinha kit familiar (com toalhetes de limpeza), bolsinha fácil de transportar ou de guardar em pequenos cacifos com chave, e os outros pratos de usar e deitar fora tiverem um preço suplementar de 1 euro, a malta acaba por fazer a sua escolha óbvia.
Talheres de plástico. Que horror. Nós levávamos os nossos próprios talheres, que limpávamos com papel após cada refeição. Também aqui era importante disponibilizar talheres com a imagem de cada edição gravada, num pequeno kit (o mesmo kit dos pratos e caneca, por exemplo), e toalhetes de papel para a sua higienização. Aqueles dispensadores de álcool gel em conjunto com papel apropriado, substituem na perfeição a lavagem, e garantem a melhor higienização, caso as pessoas assim o pretendam fazer. Se as pessoas em casa usam loiças e depois fazem a sua gestão, porque não fazê-lo também quando estão fora de sua casa, mas dentro desta casa comum que é o nosso planeta?





                 

Há uma natural inclinação para estarmos de volta na edição de 2025. Porque não há festa como esta.

domingo, setembro 29, 2024

ENCONTRO DE AMIGOS - ALEKSANDRA

 Veio parar este registo ao final de Setembro, porque as fotos tardaram em chegar. Mas aqui estão:

E agora do grupo, com o amigo em comum que organizou este reencontro, o Konrad:

Foi em finais de Junho, início de Julho, não interessa o dia certo. A verdade é que este reencontro ficou marcado pelo facto do Konrad ter saído de casa sem o seu telemóvel, e o café que tinha ficado combinado entrarmos e beber qualquer coisa estava fechado. E ali andei às voltas, em cafés mais perto, mas nada de os encontrar, até que finalmente nos descobrimos mutuamente.
Ficou também marcado pelo facto da Aleksandra também não ter smartphone, e usar um telemóvel antiguinho, como o meu. Mas a razão é também algo marcante, é que ela é muito sensível às radiações electromagnéticas e de transmissões. Andou com sintomas estranhos durante muitos anos, até que perceberam a causa. Sabia de casos assim, mas não sabia que tinha amigos que são o exemplo vivo desse mal. Que afecta muito mais gente, disso tenho a certeza, o problema é chegar ao diagnóstico...
E fiquei a conhecer o filho mais novo da Aleksandra. A filha só vi em fotos, mas já a conheci há muitos anos atrás, agora nunca a reconheceria.
Conheci a Aleksandra no Monte Barata, apareceu lá com o seu namorado na altura. Longe vai esse tempo em que o Tó Lú foi dirigente do Núcleo de Coimbra da Quercus, e era visita frequente do Monte e das actividades com jovens que ali aconteciam. Com ele é que já não me cruzo há tempo demais, falámos no ano passado, mas acabámos por não nos vermos, nem passar um bocado à conversa. O tempo não dá para tudo... mas já deu para registar aqui estas fotos, cheias de alegria!




quinta-feira, setembro 26, 2024

GRANDE CINEMA COM GRAND TOUR

 É um filme português. Fui ver, sem ter lido muito sobre a obra de sétima arte. O selo de garantia era o prémio de Cannes. Melhor realizador. Cinema é para ver no cinema. Adorei. A história simples mas um enredo que nos prendia ao desenrolar lento, o mistério sobre o que movia os personagens, os ingleses a falarem um bom português não incomodava de todo, a narração nas línguas nativas orientais onde se desenrolam os diferentes episódios desta tragédia, não só não incomodava como traz ao filme uma carga exótica e cultural marcante. A utilização do preto e branco para contar uma história do tempo do preto e branco, com intervalos coloridos, o grão das imagens, apenas facilitam sentirmo-nos transportados para a trama. A música, o som, a iluminação, a fotografia, tudo contribui para que Grand Tour seja um filme fora de série. O filme merece ser visto, o filme devia ser recomendado a vários níveis. O filme merecia um trailer melhor, que fosse mais apelativo. O filme não merece estar a ser passado nas salas de cinema e estarmos ali praticamente sozinhos. Vão ver, é um bom investimento (monetário e de tempo). Não é para jovens, será mais para gente com outra bagagem cultural, uns mais jovens que outros. Vão ver e passem a palavra, porque imagino que aguente só mais uns dias nas salas de cinema. Passem a palavra. Mesmo que não tenham hipóteses de ir ver. É um filme premiado. Português. Uma produção em grande, uma realização inspiradíssima, actores que marcam. Fica o mini-trailer, não consegui na net um trailer de 3 minutos, onde se pudesse mostrar um bocado mais do belo resultado e do magistral trabalho.

quarta-feira, setembro 25, 2024

OS GRANDES FOGOS DE SETEMBRO

 Já imaginava que um dia voltaria a escrever aqui sobre os grandes fogos. Não pensei que fosse este ano, uma vez que tinha chovido bem na Primavera e até no Verão, e a vegetação estava relativamente verde. Quando escrevi aqui em 2017 (ver link para o Malfadado), só referi os fogos à volta de Vagos. Na altura não contei que lá mais para o interior, um terreno florestal, uma micropropriedade de herança, ali para os lados do Seixo da Beira (no extremo interior do distrito de Coimbra, quase na Serra), tinha ficado completamente incinerado. Era um terreno onde eu andava a ver se conseguia promover alguma regeneração, depois de um fogo em 2001. Ainda tinha alguns pinheiros, pinheiros demais, o que deu grande intensidade ao fogo. No ano seguinte já os carvalhos e os sobreiros estavam a dizer que não tinham morrido. E um par de salgueiros também rebentou. E no ano seguinte comecei a introduzir algumas pequenas árvores. Mesmo regando, a taxa de sobrevivência foi muito pequena, os ratos, os insectos, estiveram à vontade e estragaram muitas coisas. Mas algumas sobreviveram. Depois fiz algumas sementeiras de bolotas, mas os javalis e os ratos estragaram bastante. Este ano já havia uma dezena de azinheirinhas, uma dezena de carvalhos, meia dúzia de sobreiros, um par de pessegueiros, uns azevinhos, um medronheiro, três loendros, alguns loureiros. Na noite de 14 alguém deitou fogo ali perto e depois foi só o tempo das chamas e fumo irem subindo a encosta, com a ajuda do vento. Passados apenas sete anos, as mesmas terras arderam de novo. Foi um fogo pequeno, durante a noite não foi tão intenso. Espero que algumas das plantas rebentem a partir da raiz, os carvalhos mais velhos, talvez, e os sobreiros certamente irão rebentar dos seus ramos menos afectados pelo calor extremo.  Ficou tudo queimado ali à volta novamente, mas a paisagem não ficou tão desertificada. Nos dias seguintes os grandes fogos no distrito de Aveiro, e depois no interior, Viseu, Porto. Este ano já tinha sido uma tragédia na Madeira. O ano passado na Serra da Estrela. Todos os anos esta coisa estranha de ver arder o futuro, a floresta a desaparecer. A desertificação, o envelhecimento dos poucos que ficaram na agricultura, as terras sem outro uso que não seja o abandono ou os eucaliptos. O que não é pasto para os animais é pasto para as chamas. Uma frase que ouvi uma vez num encontro da CNA. Onde andam os rebanhos? Já desde 2005 que é urgente mudar a paisagem, para evitar estas tragédias. Em vinte anos ao que mais se assistiu foi à ignorância política, ao favorecimento de negociatas, à legislação que não se cumpre, ou se aplica de forma deficiente. Vê-se uma sociedade civil que apenas num ou noutro local deitou mãos à obra, num caldo de gente que nada faz e que depois aparece a chorar a morte inglória de bombeiros ou pessoas, gente como nós, mas que tiveram a coragem de fazer frente às labaredas e ao fumo sufocante e venenoso. Onde está a responsabilização dos políticos que deixaram que os eucaliptos fossem plantados e replantados por todo o lado?

segunda-feira, setembro 16, 2024

OUTRA VEZ MARIA JOÃO E MÁRIO LAGINHA - BARCELOS

Já tinha mesmo saudades. O único concerto desta dupla de gigantes deste ano em Portugal foi em Barcelos. E eu estava lá, na segunda fila. Fui com o Zé Duarte, no carro dele. Saímos da Sobreda e chegámos muito cedo, fomos explorar Barcelos e perceber onde era o espectáculo, quando de repente chegam os músicos para fazer o checksound. Ali ficámos e até escolhemos os lugares onde se ouvia melhor, eram mesmo os da fila do meio. Nos outros o som era mesmo mau, ou se ouvia mal a voz, ou se ouvia mal o piano. Como era de entrada livre, no final desta preparação fomos jantar a um belo restaurante (demos umas voltas a caminhar para escolher e quando entrámos estava toda a equipa do espectáculo já a comer...). Quando chegámos já não deu para a primeira fila, mas eu fiquei na segunda e o Zé Duarte na terceira, lugares do meio! Foi mesmo um excelente concerto, apesar de ser ao ar livre, havia um silêncio respeitador, no largo cheio de público. A noite não arrefeceu assim tanto, a única coisa que estragou foi a mania das luzes atrás dos músicos a apontar para as primeiras filas da platéia. Enfim, modas da treta!!!! Em Barcelos acontece todos os anos o Festival Jazz ao Largo. Fica aqui um videozinho já com alguns anos, na primeira vez em que a Maria João lá cantou (e rapou frio em cima do palco!!!). A aventura desta deslocação, para além de voltarmos tarde e más horas a casa, foi eu ter ido de bicicleta, de Vagos a Aveiro a pedalar, de Aveiro a Esmoriz em comboio, de Esmoriz até casa do Zé Duarte (para lá, mas perto, de Canedo, interior norte do concelho de Santa Maria da Feira). E no dia seguinte, depois de dormir e comer um belo pequeno almoço com amigos, fiz a mesmo, mas em sentido contrário. Na ida para lá descobri um belo parque para fazer merendas, ali ao lado de um acesso à A29, antes de entrar em Paços de Brandão. Aconselho, tomai nota: Parque Municipal da Quinta do Engenho Novo (link para Tripadvisor).

terça-feira, setembro 10, 2024

TUDO É POSSÍVEL. ATÉ O IMPOSSÍVEL - CRÓNICA LITERÁRIA 3

Comecemos pelas apresentações. Como numa peça de teatro é bom apresentar o local onde tudo se passa. 2024, Verão ameno em terras do interior raiano, numa casa centenária onde uma associação gere um espaço de acolhimento de artistas. Um andar superior num edifício que noutros tempos já acolheu famílias, negócios e com uma vista superior sobre a campina. Da varanda também se avista o futuro da cultura naquela terra, onde a juventude aparece renascida, mas onde parece não caber, caindo para o litoral ou ajudando a perpetuar essa antiga diáspora. Portugueses que se espraiam num império agora sem mapa e sem imperador, mais democrático, mas dentro de outro império onde um rei se veste de verde monetário, tirano e escravizador.

Não se sabe quem teve a ideia de partir mar afora. Mas foi um pequeno atrevimento. Que se foi expandindo na medida de cada descoberta, e na medida das possibilidades, das necessidades e dos sonhos. Quem vinha a seguir, com o ímpeto da juventude, chegava mais longe e sonhava o impossível. E assim estendia, ou fazia crescer em altura (não se sabe para que lado cresce) a medida das possibilidades. Alargava-a, talvez seja o termo. Talvez cresça em forma circular, como o nosso planeta visto de fora.

A personagem central desta crónica dos tempos actuais é a Viviana. Os seus padrinhos não sabiam, mas assim foi que a raiz latina do nome deu fogosidade e energia a esta alma. A inquietude e criatividade vieram transportadas pelos genes, que como hoje se sabe podem aprimorar ou degenerar em certos indivíduos. A Viviana não sabe bem como, mas desde cedo sentiu que o seu mundo passava pelas artes, modo de se exprimir e de se dar ao grande mundo, modo de ela própria ajudar a transformá-lo numa aldeia global melhor. A sua melhor companhia é uma cadela, que a acompanha numa relação de lealdade. A sua ligação aos outros é feita de mil e uma maneiras, do wapp ao correio escrito, passando pelos números de telemóvel. O seu atrevimento faz com que apareça neste mundo das crónicas mundanas.

Como foram elas parar a este cenário do interior é uma longa história, que um dia caberá nas páginas escritas, mas não de uma crónica. Essa longa história não se sabe onde começa, mas certamente começa nesse sonhar as coisas de um modo diferente, e na força de quebrar rotinas e desafiar as coisas como estabelecidas pela norma da sociedade.

A Viviana não se cruzou com o Filipe. E nunca falou com ele. O seu mais do que provável encontro foi impossível. Gravitam os dois no difícil mundo de viver nas artes, com artes de viver sonhando um mundo melhor para os outros. Dão-se assim à sociedade, que muitas vezes não lhes reconhece com um aplauso a sua elevação.

O Filipe e a sua cadela, que resgatou há poucas semanas de um canil, estiveram de férias de Verão. O problema dele, como dono pela primeira vez de um cão, era o de garantir à sua nova companheira a melhor solução para a sua ausência. O que conseguiu, pois foi levá-la a uma quinta de amigos que a acolheram por esses breves dias de viagem para o estrangeiro. O regresso tinha uma prioridade bem estabelecida, passar logo o primeiro dia sempre com a cadela. Tê-la como sombra para sentir a frescura da sua companhia.

O Filipe é o responsável máximo pela associação que gere o espaço de acolhimento dos artistas, nesta zona raiana. O seu nome remete-nos para algo que marcou a história dos países que a raia agora une, mas que antes dividia. E que antes unia. E que ainda mais anteriormente dividia. Nos dias de hoje é a união europeia, que abriu as fronteiras. Antes disso era a divisão, a fronteira com os seus guardas-fiscais e os contrabandistas. Mais longe os tempos em que ambos os lados estiveram unidos, lá mais para o século 17, numa coisa improvável, mas que aconteceu sem grandes guerras. E lá mais para trás, as anteriores guerras com Castilla, algumas são histórias de bravura dos poucos heróis portugueses que ficaram para a história; as guerras que estabeleceram as fronteiras que apartaram as gentes.

Essa mais antiga união política veio pela mão monarca dos Filipes espanhóis. Foram eles os imperadores que governaram o maior império que uniu continentes, por vias de um mar monstruoso. Dessas coisas o actor e activista só sabe o que aprendeu na história, agora os tempos não são de guerras com os espanhóis. Apenas os catalães, os bascos e os galegos ainda movimentam corações com o sonho da independência. Agora são tempos de se cruzar para a raia espanhola, e a cultura é um bonito barco de se velejar. Viajar, conviver, partilhar, fazer de cada dia um momento de aproximação das pessoas, entre si, claro, mas também rumo a diferentes causas que movem a sociedade.

É nesta terra raiana que acontecem coisas extraordinárias. Há coisas que ficam na memória de muitos, outras ficam só no conhecimento de quem as viveu. E outras coisas acrescentam a ficção ao ambiente próprio de cada lugar, como fica bem fazer quando se conta um conto. A verdade é que algumas décadas atrás, naquele lugar, nasceu uma associação que pretendia dinamizar a cultura, com os jovens. E essa associação nunca esmoreceu. Enfrentou marés adversas, ventos contrários, mas lá foi navegando. Transformando as noites perdidas num mar revolto, em dias luminosos em terra firme. Com o teatro como âncora, foi deitando redes a outras expressões culturais e chegou aos nossos dias. Com uma actividade de entrega voluntária que faz inveja a algumas estruturas profissionais.

No dia do encontro impossível, Filipe está já com a sua cadela, a matar as suas saudades. Viviana está com a sua cadela, já com saudades antecipadas da sua passagem por esta terra que nunca antes tinha visitado. Prepara-se para sair daquele andar do antigo edifício, já se despediu da imensa vista com terras espanholas no horizonte mais longínquo. Ele entra no pequeno átrio de acesso às escadas e sente aquela frescura do espaço sombrio e de granito e madeiras vetustas. Sobe as escadas nervoso miudinho, nesse dia vai receber um grupo de artistas nessa sua casa colectiva, para uma residência artística. O atrevimento passa por abordar as Partes Sensíveis. Ela não sabe que o encontro impossível está para acontecer, ele não quer saber. Sobe ele, com a sua sombra canina. Já é a segunda vez que ali vai naquela manhã. Escada acima, escada abaixo, elevando-se e deselevando-se como tantas outras vezes, usando a força das suas pernas. Chega cansado, ainda o dia vai a meio. Para ir para sua casa, para ir trabalhar, todos os dias tem escadas para vencer, só no palco sente o relaxe de ver subir o pano sem ter que se cansar, o descanso de caminhar pelo mundo, subir ao alto da cultura ou descer ao inferno de Dante sem sair da planura.

Esta crónica é triangular, e falta ainda o terceiro interveniente nesta reflexão sobre as comunicações entre quem se atreve. Se Viviana está no andar do edifício com história, e nunca falou com o Filipe, se estamos já com décadas de utilização de telemóveis e aparelhos espertos com'ó raio, mais ou menos portáteis, quem faz a ligação impossível entre eles? É outra longa história, nesta caso são outras longas histórias, a chegada de Jota àquela sua terra, a chegada de Viviana ao centro do mundo de Jota, a chegada de Filipe ao mundo cultural de Jota. Mas deste personagem não reza esta história. Basta ficarmos com esta consoante em maiúscula. Não tem cadela a fazer-lhe companhia. Só às vezes. E neste momento falta-lhe esse elo comum. E não vive no mundo da cultura. Só às vezes. Neste momento sente falta desse elo comum, mas os dias não dão para tudo. E tudo na vida são opções, umas mais fatais do que outras.

Há mais de um mês atrás Jota tenta entrar em contacto com Viviana, quer saber que lhe aconteceu. Tem o seu email, e dois números para a contactar. Usa apenas um telemóvel que era de última geração há 20 anos atrás, ainda o wapp não tinha sido lançado. O seu último paradeiro, de seu conhecimento, tinha sido ali bem perto, numa grande herdade, mas depois não soube o que lhe aconteceu. Liga-lhe, mas nunca tem resposta. Manda um email, não gosta de usar sms. O correio sempre chega ao destinatário; mas também nada. Até que finalmente tem notícias dela, o seu telemóvel toca e... afinal está noutra herdade vizinha, desta feita a acompanhar a pastorícia e a trabalhar no fabrico artesanal de queijos. Da cultura para a agricultura? Pouco acesso aos emails, mas lá chegou o dia. E indo trabalhar na cultura onde fosse sendo chamada, mais para o litoral, claro. Para isso tinha liberdade laboral. Felicidade, numa opção pouco convencional. Parecia impossível, mas estava a acontecer. E não atendia as chamadas de telemóvel porque tinha outra vez mudado de número, o número contactado servia agora apenas para o wapp. Para chamadas era o número antigo outra vez.

Mais recentemente, Viviana volta a contactar. Afinal vai ter que sair da herdade, e inscreveu-se num workshop cultural a decorrer na capital do distrito, a cidade mais próxima da herdade. Precisava de ajuda para uns dias, encontrar um local onde pudesse aguardar o seu início, que seria uns dias depois. Ela, a sua cadela e a sua bagagem, mala grande e mochila. De preferência na cidade, onde já pudesse depois contar com esse local para base durante o mês da formação. Mas não foi possível essa solução. Alguns contactos com os velhos amigos de Jota não deram frutos. Sem pagar, ou seja, ficar num quarto emprestado, ainda seria possível, mas a companhia canina é sempre um problema acrescido. Mas talvez fosse uma boa ocasião para a Viviana ir conhecer a pequena associação cultural. Haveria disponibilidade?

Jota sabia que Filipe estava de férias com a família. Não queria de todo incomodar, pelo que não telefonou, como fez com os outros amigos. Mas arriscou um sms. Para o telemóvel associativo, quem sabe o aparelho ou cartão SIM tivessem ficado com outro responsável. Seria possível, estaria desocupado o andar para acolher esta artista, até ao início do workshop? A resposta chegou rápida: dependeria dos dias, porque de 25 a 31 começaria uma residência artística. Até 25 poderia mas teria que deixar tudo impecável, arrumação e limpeza. Ok, sem problemas. Mais uma troca de sms, pois ela precisava de uma solução até 27, se dará para ser pensada uma solução, em resposta um "Dá sempre". A Viviana teve luz verde e avançou, perturbando ao mínimo o merecido descanso e afastamento da família. Logo no dia seguinte, previsto para a chegada às instalações, nenhuma notícia. Certamente que estaria tudo bem. No dia seguinte, silêncio. Nem telemóvel, nem nada. Até que por interposta pessoa chega mensagem wapp a comunicar que está tudo bem, que viu sms mas que ficou sem saldo no telemóvel. Mas que agora tem net e já está contactável por outras vias. Estabelece-se então uma conversa onde Jota fala mais longamente com Viviana, que está mais do que contente com as instalações, com a vista incluída. E nessa conversa, poucos dias antes de dia 25, Jota acha que até 27 dará sempre. Mas que será preciso ver a solução em conjunto. A cronologia dos factos começa a ser determinante. Dia 24, início da tarde, Viviana manda um email a perguntar se tem que arrumar tudo e sair na manhã seguinte. Jota não abre o seu computador nessa tarde. Nem nessa noite, quando ela envia outro mail a insistir. Mas abre e lê na manhã seguinte, e responde bem cedinho que talvez se arranje solução, passada meia-hora ela responde a dizer que na dúvida tinha já tudo limpo e arrumadinho, mas assim esperaria um pouco mais para sair. Jota faz contactos com outros velhos amigos de Castelo Branco, mas resultam em nada de soluções.

Um par de horas depois é Filipe, que liga a Jota, muito incomodado pelo facto de ter subido as escadas e ter visto que afinal ela ainda lá tem as coisas da cadela e que não saiu. Do outro lado da linha etérea por onde se estabelece a breve conversa, a comunicação de um mal-entendido, mas que facilmente se resolverá, pois ela teria tudo pronto para sair. Era só questão de sair, claro. Mas Filipe não a vê lá, apenas encontra as coisas da cadela, comedouro e bebedouro. Terá saído, mas estará contactável pelo wapp? Jota manda-lhe então uma mensagem por essa única via possível, usando o wapp da interposta pessoa, a comunicar que tem que sair o mais depressa possível, para ligar de volta assim que leia a mensagem. Filipe espera com impaciência, até que manda sms a perguntar se há novidades. Nada, ela não deu sinais de vida. Por onde andará, com a sua cadela? Já depois de almoço, mais impaciente, novo sms a perguntar se há novidades. Pedido para conferir se há resposta à mensagem wapp, e sim, havia uma resposta há 10 minutos atrás, a dizer que ia arrumar tudo para sair, e a perguntar quanto tempo ainda tinha. Chamada por wapp imediata, a dar 5 minutos, Viviana diz que esteve no quarto toda a manhã e que não deu por barulho nenhum, certamente adormeceu quando ele tinha subido todos os degraus, e depois descido sem a ver lá dentro. Adormecida ela e também a sua cadela, que não deu sinais de vida.

Mas o melhor, que foi o pior, estava para vir. Nessa pequena conversa em que transmite os 5 minutos, ela diz-lhe que afinal, para coisas urgentes, o número de telemóvel associado ao wapp não dá para fazer chamadas, mas dá para receber. Ah, que informação preciosa... mas também tão atrasada! Agora de nada serve, pensa ele, agora é impossível alguma coisa correr mal. Chamada para o Filipe a dizer que ela vai sair em 5 minutos, passados esses 5 minutos ele devolve a chamada a dizer que está farto da situação, pois está à porta, lá em cima, com a sua cadela agitada, pois está uma outra cadela lá dentro a ladrar, já bateu à porta, e com insistência e não está lá ninguém. Não vai entrar por causa da cadela, mas Jota assegura que ela deve estar na casa-de-banho, ou na varanda, e não está a ouvir bater à porta. Ela está lá dentro pois há 5 minutos tinha acabado de confirmar isso mesmo. Mas nem ouve a cadela a ladrar??? Jota liga-lhe então para o tal número, toca, toca, ninguém atende. Insiste, um minuto depois, nada. Um minuto depois sim, atende, antes estava num último banho para sair fresca rumo à cidade. E saiu. E o Filipe foi então confirmar se dali a um par de horas os outros artistas poderiam aceder ao espaço em boas condições. Mas eles já não se cruzaram, nem as suas cadelas. Mas essas ficaram a conhecer-se pelos cheiros. Para elas o encontro foi possível e aconteceu, mesmo não acontecendo aos olhos dos humanos. Já para quem se atreve a tanto no mundo das artes, tornando possíveis tantas coisas que pareciam não o ser, o vasto mundo de possibilidades de comunicação, e a falta de jeito dos humanos para se entenderem (mesmo depois de milhares de anos a usarem a fala), acabaram por fazer o impossível.