segunda-feira, novembro 20, 2023

PEKI

 

Depois da Tipetí e do Punti, a Peki (lê-se Péqui) foi o 3º cão que deixou de ser de rua / abandonado e que ganhou novos donos. Não é um processo rápido o de arranjar novos donos, mas na verdade todo o tempo que passo com cada um destes cães é um excelente investimento. Só financeiramente é que acaba por ser um prejuízo, mas feitas as contas há coisas bem piores.

Esta cadelinha preta passou por vários locais do país, só não a levava comigo quando era mesmo impossível, e mesmo nesses casos procurava sempre deixá-la em casas de amigos. Mas também foi treinada para ficar presa a uma pequena corrente de forma paciente e tranquila, sempre com comida e água, claro, pois como é novinha e gosta muito de caçar, e de forma bastante barulhenta, a vizinhança acabava por protestar quando ela andava à solta. Foi assim que a Peki ficou a conhecer vários locais, desde a Praia da Vagueira até à Sobreda, lá em cima no Canedo, Gaia. Ficou a conhecer Castelo Branco e também Ílhavo. Sou capaz de falhar alguém, mas agora assim de memória a Peki passou nas casas e nas vidas de miúdos e graúdos, os meus amigos que a acolheram nas minhas ausências: Andrés, Konrad e Zé e Íris, Alexandre e Luísa, Jorge e Alice e Aurora, Pedro e Fátima e Maria João e Francisco, António e Sandra e Inês e Eva, Zé Duarte e Sandra e Mafalda e Matilde e Nicolau, Emanuel e Yanina e Benjamim, Dario e Nadia e dois meninos, Inês e Francisco e Mariana e Ana, João, Maribel e Simão, Zári e Maria e Guida e Tito.



Aqui no Malfadado estão as histórias da Tipetí (2015 - clicar aqui) e do Punti (2017 - clicar aqui e também este link no final do mesmo ano - clicar aqui). A primeira ainda hoje é uma companhia espectacular, vive entre Lisboa e Ílhavo e continua a passear muito e a ser muito tranquila. É a Gigi. Não podia estar mais bem entregue. O famoso Punti vive em Belazaima do Chão e tem toda a liberdade para correr e passear, é um dos históricos do Projecto Cabeço Santo. Não podia estar mais bem entregue.

A história da adopção da Peki é muito engraçada, porque eu andava a ver se descobria uma família que precisasse dela, mas acabou por ser ela sozinha a encontrar. Muitas vezes quando eu ia a qualquer lado levava a Peki e a Nadi comigo e soltava-as, para elas correrem um bocado e explorarem ali em redor. Naquela tarde de Outubro assim fiz. Depois de vários dias mais chuvosos, aquela tarde ficou com Sol radiante e céu azul claro, e fui a uma povoação próxima buscar água de nascente. S. Caetano, nascente e parque de merendas. Ali foram elas as duas, sempre nas correrias e nas perseguições à bicharada. Chegada a hora de ir embora assobiei, chamei, apitei e nada. Nem uma nem outra. A Nadi é surda de um ouvido, enfim, poderia ter desculpa, mas a Peki desta vez não dava sinal. Nem me ouvia nem eu a ouvia a ela a ladrar atrás de algum bicho. Ali andei entretido a cortar umas silvas, até que apareceu a Nadi. Entrou para o carro e continuei à espera, passivamente e depois activamente, já com a Nadi pela trela a dar uma volta e a chamar e a apitar. Nada. Sabendo eu que o fim de tarde, princípio de noite era o período em que a Peki ficava descontrolada, e como tinha compromissos, fiz o que sempre faço nestas ocasiões, deixo uma mantinha num local abrigado e vou à minha vida, regressando ao local posteriormente.

No dia seguinte, depois do almoço, recebo um telefonema de uma senhora que a tinha recolhido, a perguntar se eu não tinha perdido uma cadela. Respondi que não a tinha perdido uma vez que a cadela é que me tinha perdido a mim, mas de facto estava registada em meu nome. A grande vantagem do chip, pois é. Lá falámos um pouco sobre a devolução da Peki e ficou combinado para o fim do dia. Tinha aparecido numa zona industrial, não muito longe do local da nascente, e também não muito longe da Gândara, por pouco não tinha voltado a casa sozinha. E ainda bem que não voltou, porque passados 15 minutos do telefonema a mesma pessoa liga-me e pergunta se eu não lhe quero dar a cadela. Disse logo que sim, mesmo sem saber se a Peki iria para um lugar onde fizesse falta. Mas foi mesmo assim, depois ao fim da tarde fiquei a conhecer em pessoa a rapariga que a recolheu, a Bruna, e ela disse que o seu companheiro tinha concordado em ficarem com a Peki pois de momento só tinham uma cadela mas estavam habituados a ter mais cães em casa, e davam passeios com eles e davam liberdade para correr nos campos e até davam alimentação natural. É muito à frente, pensei eu com os meus botões. A Peki está aqui perto de Vagos, em S. André, e tal como eu pretendia foi fazer companhia a outro cão, eu dizia sempre que ela deveria ir para um local onde houvesse um cão sozinho, pois era uma excelente companhia para todos os cães, grandes, pequenos, machos e fêmeas.

Termino só com um apontamento para memória futura. Eu dizia sempre que a Peki se dava com todos os cães, era realmente bonito de se ver. Mas um dia vi-a a atacar um outro cão, até maior do que ela. Foi até junto dele e de repente, zás, investiu contra ele. O cão nem reagiu mal, encolheu-se todo. Lá pedi desculpa ao dono que o levava com trela. Passados uns dias a mesma coisa, com outro cão, uma cadela neste caso. Que também não reagiu mal, afastou-se o que pôde no limite da trela. Lá pedi desculpa ao dono e ele respondeu que não fazia mal, a cadela era medrosa e não tinha sofrido nada. De facto, estes ataques da Peki também não eram muito violentos, uma cadela pequena limita-se normalmente a dar um beliscão e a fazer barulho, ladrar e rosnar. Na terceira vez tive o cuidado de observar bem e concluir. A Peki aproxima-se dos cães de forma tranquila e curiosa, aproxima o focinho e se sente que o outro é medroso, que a ignora por medo não a olhando ou dando à cauda, ela ataca num repente. Não dá nenhum aviso. Pelo que o aviso terá que ser observado no outro cão, se for um cão medroso, que desvie o olhar para ignorar a presença de outro cão, o melhor é estar preparado.


Para que conste, aqui fica o link para a publicação que fiz no Fb para depois divulgar a procura de dono, dia 14 de Setembro do ano passado.

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