terça-feira, novembro 30, 2021

VOLTAR ÀS MEMÓRIAS DE INFÂNCIA

 De passagem por Setúbal para uns dias sem stresse, arranjámos tempo para visitar pessoas dos tempos de infância. Aqui ficam as fotos dos pais do meu grande amigo de jogos, brincadeiras e partilha de livros aos quadradinhos, que viveram no bairro da Secil até há poucos meses atrás e agora estão num apartamento no centro de Setúbal. Augusta e Túlio, boas memórias temos desses tempos e foi uma boa conversa à volta de um cházinho de ervas. Temos que marcar um passeio de observação dos golfinhos!



segunda-feira, novembro 29, 2021

PAROSMIA - NABOS PASSARAM A SABER MAL

 Estou parósmico. Ou parosmático. As coisas que nós descobrimos, assim por acaso, sobre o funcionamento do nosso organismo. No espaço de dez dias descobri que os nabos cozidos, em sopas ou assim em bocados, para acompanhar um cozidinho, passaram a saber-me mal. A primeira vez foi numa sopa num restaurante no Ladoeiro. Toda a gente a dizer que a sopa de feijão frade estava uma maravilha, mas eu encontrava um sabor estranho, algo como o óleo de sésamo. Não comentei com ninguém. Uns dias depois em casa, uns nabinhos cozidos, aí sim, que sabor horrível. Pensei cá comigo que se calhar havia uma variedade nova de nabos introduzida no mercado, ou algum novo pesticida. E agora foi num outro restaurante, de novo o mesmo sabor, mas desta vez perguntei à Zé se a sopa estava normal, e estava, e boa até. Foi aí que comentei com ela o sucedido nas 2 vezes anteriores e resolvi investigar on line. E é mesmo assim, tenho parosmia, que acontece a quem tem tumores cerebrais e noutras situações em que o cérebro é afectado. E de facto acontece com alguma frequência a quem teve COVID e nesse processo de infecção e combate à infecção perdeu temporariamente o olfacto e o sabor das coisas, como me aconteceu a mim. Mais informação sobre a parosmia em inglês aqui neste link e em português aqui neste link.

Já tinha ouvido falar de um caso em Vagos de uma pessoa que a carne tinha passado a saber a carne podre, e que o peixe parecia sempre sem sal. Mas há mais casos, como podem ver nos links acima.

Ora eu dizia a toda a gente que o COVID me tinha deixado apenas com uma sequela, durante dois meses. Tinham sido umas tonturas ligeiras, que me acompanhavam todos os dias, mas que invariavelmente entre as 18 e as 21 horas desapareciam, voltando a seguir às 21 horas.

Deste modo, que me tenha apercebido, posso agora dizer que a COVID me deixou duas sequelas. Espero que a parosmia dure apenas os seis meses "normais" referidos na bibliografia.

Engraçado é ter levado quase seis meses a descobrir a parosmia. Resta saber se a parosmia me baralhou outros neurónios e estragou o sabor de outras coisas de época.

domingo, novembro 28, 2021

REPORTAGEM TV NO CABEÇO SANTO

 Pois é, esta reportagem foi iniciativa do programa PLANETA VERDE, do Porto Canal, já foi emitida há uns meses mas só agora chegou aqui ao Malfadado. Neste link podem ver então o programa, apresentado pela multifacetada Paula Nunes da Silva (na altura ainda presidente da Quercus), com os primeiros minutos passados no Cabeço Santo, passando depois para a Mata da Margaraça. Eu andava lá com as minhas galochas a ajudar e apareço de relance, mas dá para ver em várias imagens como os cães andaram por ali felizes, a Pipoca, que eu levei para me acompanhar, o Punti, que agora é da casa, e uma cadela que não fixei o nome.

sexta-feira, novembro 26, 2021

LÍDIA JORGE E O SENTIDO DO TEMPO QUE PASSA

 Pronto, hoje uma estreia no Malfadado, uma ligação para um site ligado à igreja. Foi uma partilha da minha amiga Elisabete Oliveira, e como gostei de ler e tem boas referências, aqui fica o link para este texto, que foi preparado para uma comunicação pública em Abril deste ano. E fica este excerto, para abrir o apetite para uma boa leitura do texto desta autora muito conhecida:

"Se a palavra desastre significa perder os astros, o que tenho procurado é não os perder neste ano de mudança. Por isso, tenho estado atenta àquilo que era e é o nosso mundo contemporâneo, à mudança de paradigma que temos estado a viver, designadamente quanto ao mundo digital, que tem alterado as vidas e promete mudá-las ainda mais, a par das alterações que a pandemia trouxe."


quinta-feira, novembro 25, 2021

A DESUMANIZAÇÃO - LI E ACONSELHO

 Grande escritor que temos. E apanhei um blogue brasileiro que analisa a obra (link aqui), com citações e tudo. Bom para relembrar o lido de ponta a ponta, um livro onde o frio da desumanidade nos conduz até um final brutal. Um conceito interessante este blogue brasileiro, vale a pena um passeio pelos Percursos Literários.

quarta-feira, novembro 24, 2021

terça-feira, novembro 23, 2021

UMA AGENDA REGENERADORA - PARA PODERMOS EDUCAR AS GERAÇÕES QUE AÍ VÊM

 A Quercus lançou hoje mesmo a Agenda Regeneradora, uma publicação dinâmica na internet que mostra onde vão acontecer as próximas acções de regeneração em Portugal. Pode ser consultada aqui (link para a agenda). Para educar os mais novinhos há que ter muitas iniciativas destas por todos os lados, para que possam ver e começar desde pequenos a mexer como deve ser naquela que será a sua Terra, recuperando locais degradados pelas acções dos seus estúpidos e gananciosos avós e bisavós.

segunda-feira, novembro 22, 2021

SEXO NO MALFADADO

 Pronto, para fazer subir as audiências, nada como um assunto que traz leitores extra. Das minhas incursões na Medicina Funcional acabo por receber muitas divulgações sobre diversos assuntos. E agora recebi um convite para um podcast em que vão conversar com esta psicoterapeuta e especialista em relacionamentos, que segue então num Youtube com uma TedX de 2013. Partilho aqui pela pertinência do tema nestes dias de muita proximidade de famílias.


Para quem tem mais tempo, ou precisa mesmo de ajuda, ou gosta muito de sexo, a mesma psicoterapeuta tem outros videos no Youtube mais recentes, de 2018 com quase uma hora (link aqui), e de 2017 com meia hora (link aqui). Este que aqui deixo acima tem a vantagem de ser uma conferência com bom ritmo e com boa tradução para português

sábado, novembro 20, 2021

UMA CUIDADORA FAZ A DIFERENÇA - CUIDADO COM A CATARINA

 Ainda a propósito da morte do meu pai, há um tema que merece uma reflexão no Malfadado: o tempo na velhice em que é preciso alguém para estar presente em permanência. Ou em quase permanência. A cuidadora do meu pai era a minha mãe. Deixou de o ser quando ela desistiu, 3 semanas antes de morrer. Já fazia as coisas com esforço e finalmente virou-se para ela própria e para organizar uma vida independente das asneiras do meu pai, foi como um preparar-se em vida para a separação fatal. Em certos momentos pareceu-me mesmo que ela estava muito chateada com ele, mas era certamente apenas a revolta com a sua própria situação e sentir da parte dele falta de apoio, o que se justificava, porque ele próprio estava muito diminuído psicologicamente e fisicamente.

A minha mãe não precisou de cuidadores de fora do seu círculo, entre amigos e família demos conta do recado, e como ela gostou dos mimos da Isabel, da Irma, da Ana Cristina e de mais gente que pôde estar presente e ajudou. Já o meu pai foi diferente. Ganhou uma nova energia e ficou independente, passando 8 meses a tratar das suas coisas e conseguiu ficar na sua própria casa, rodeado de coisas que foi comprando ao longo dos anos e acompanhado das suas memórias. Os filhos ainda pensaram levá-lo para suas casas por temporadas, mas se ele queria fazer isso às vezes, eram os filhos que não queriam essa solução, pois o seu comportamento era independente de forma excessiva, não seguindo de forma alguma os pedidos dos filhos para seguir recomendações médicas. O que depois dava problemas.

Tendo em conta a sua autonomia, e sempre de acordo com as suas vontades, procurou-se uma instituição para dar apoio domiciliário, de forma a complementar 3 coisas: a sua independência, segunda coisa a mulher faz tudo que há muitos anos atrás tinha começado a trabalhar lá em casa, primeiro apenas umas horas e nestes últimos anos três tardes por semana e a última coisa que era algum apoio dos filhos e amigos. Foi assim que o meu pai teve a sorte de conhecer 3 mulheres diferentes, e até um pouco das suas culturas. Primeiro uma brasileira, depois uma angolana, qualquer das duas através dessa instituição de apoio domiciliário. E qualquer das duas percebia-se que não tinham tido grande formação para o desempenho daquelas funções, mas eram muito educadas, trabalhadoras, meigas e com vontade de aprender, integrando-se, e com vontade de ajudar. Veio depois ao nosso conhecimento que uma outra senhora, com experiência no acompanhamento e cuidar de idosos estava disponível, e foi assim que conhecemos a Catarina Soares. Com residência e família na Lousã, disponibilizou-se para ajudar e assim foi contratada, de forma a preencher mais os intervalos em que o meu pai ficava sem ninguém em casa, ajudando-o na sua independência.

Tive a oportunidade de conhecer um pouco a Catarina e ela merece um louvor aqui no Malfadado, pois esteve sempre acima das expectativas que se criam quando precisamos de alguém para dar resposta em situações deste género. A tratar do patrãozinho, com preocupação pelo seu bem-estar e dando-lhe o que ele pedia, mas dentro da razoabilidade, aconselhando-o e até criticando de forma simpática quando ele saía um pouco dos carris. Mas depois também a cozinhar, a tratar da casa, da higiene, a fazer companhia, a motivar para sair de casa, a conversar, a reportar junto dos familiares. A Catarina é daquelas pessoas que dá de si para os outros, uma cuidadora por vocação. Fiquei logo bem impressionado quando percebi que ela, de forma natural e da sua experiência profissional, mas também da sua vivência, tinha integrado o conceito de saúde de forma holística. De facto, caminha-se no sentido de toda a medicina convencional perceber que a saúde não é um conjunto separado de órgãos, mas na prática poucas pessoas o aplicam, e no sistema de saúde vigente então isso não se aplica de todo. A importância da alimentação, do exercício físico, isso é comum, mas ir para além disso, ver os benefícios do ar livre, da redução do stresse, o rir e o sorrir todos os dias, os relacionamentos benéficos, a nutracêutica e, claro, respeitar os ciclos da fisiologia do organismo, onde o sono nas horas certas é determinante. Tudo isto a Catarina sabia, mesmo sem ter estudado. Muitas vezes sem saber as bases científicas de tudo isto, mas sabendo intuitivamente a sua importância. Se fosse nos EUA a Catarina tiraria certamente a formação em Health Coaching da Medicina Funcional. Mas estamos em Portugal e ela está onde faz falta, e certamente ainda vai ajudar muitas pessoas como ajudou o meu pai, e nos ajudou a nós.

Certamente não me vou esquecer de uma conversa, mas como a minha memória é muito fraquinha e pouco rigorosa, aqui fica o registo. Ela ligou-me muito preocupada com o declínio progressivo do patrão, de dia para dia andava a perder capacidades. Eu respondi-lhe que da minha parte já tinha desistido de tentar ajudar, uma vez que ele acabava por repetir as asneiras e por não se querer tratar convenientemente. Respondi-lhe que o meu pai iria definhar até bater no fundo, e só aí poderia aceitar estar errado e podermos então tentar fazer alguma coisa pela sua saúde. E ela respondeu-me que numa pessoa com 80 anos, se bate no fundo nunca mais consegue recuperar.

Depois desta conversa acedi então em tentar ajudar uma última vez, ficando para a história o episódio da tentativa mal sucedida de acompanhamento numa clínica privada, que um dia poderei contar, e que a Catarina ainda poderá contar melhor do que eu. A verdade é que não resultou, o meu pai desistiu desse acompanhamento médico global, decidiu voltar para casa, na semana seguinte começou a chorar. Foi aí que eu pensei: "- Já bateu no fundo". Foi aí que lembrei as palavras da Catarina: "- Nunca mais consegue recuperar". E foi assim, em plano inclinado, que se foi apagando um pouco mais, cada dia que passou.

Cuidado com a Catarina Soares, ela é muito à frente na sua profissão. Se a quiserem contactar podem sempre usar o Facebook (link aqui)

sexta-feira, novembro 19, 2021

MONTE BARATA - SEMPRE AS EMOÇÕES

 Agora que a Direcção Nacional da QUERCUS tem uma dinâmica de activismo de bases, tive a oportunidade de voltar ao Monte Barata. Depois de projectos megalómanos e mal estruturados impostos pelo tirano denunciado no Sexta às Nove, sabe-se lá com que interesses pessoais (mas é fácil desconfiar), as casas do Monte Barata estão de cara lavada, mas estão a precisar de ajuda para ficarem funcionais e duráveis. Precisa-se concluir o projecto de transformação das casas em unidade de turismo de natureza com foco numa gama alta, para depois avançar para outras frentes. Por isso é preciso lançar um SOS aos associados e amigos e gente de alma guerreira para deitar mãos à obra, e em pouco tempo tive a oportunidade de dormir no Monte duas vezes. Na primeira vez foi no âmbito de uma ajudada, trinchas na mão. A segunda vez foi mais para trabalhos de seguimento e arrumação, e para mostrar o Monte a associados que nunca lá tinham ido.

Da primeira partilho aqui esta foto (link para a foto no Fb da Quercus, que está a pedir likes), que retrata bem o reencontro de velhos amigos de lutas convergentes, dos tempos de fundadores e dirigentes da AGROBIO.


O Zé Amorim estava já ligado à longa história do Monte Barata, pois na década de 90 foi-me lá visitar e conhecer o projecto das primeiras ovelhas biológicas portuguesas (projecto de pecuária que depois daria origem ao PDAB do  Monte Barata, que durou apenas um ano, mas foi um desafio superado). Nesses anos o Zé Amorim andava com a família toda junta e foram de viagem desde Sintra, mas na auto-estrada andava uma setter irlandesa abandonada por alguém e eles recolheram-na. No dia seguinte tinham que seguir viagem  mas a cadela já ninguém a conseguiu agarrar. E ficou no Monte um bom par de anos, a Ruiva, que deixou saudades, que tanta companhia me fez e que demorou um mês, ou mesmo dois, até lhe conseguir deitar a mão. Seguia-me como uma sombra, mas nada de me deixar tocar-lhe. Um dia foi então para a família do Zé Amorim e lá esteve uns tempos, até que mudou de lar e não deve ter esquecido o Monte até ao seu fim.

Da segunda partilho esta foto (link para a publicação oficial na página oficial da Quercus), onde um dos mais jovens associados da Quercus está a regar uma das plantas transplantadas na ajudada.


É uma foto que gosto em particular, pois junta a paisagem do Monte com as azinheiras centenárias e um jovem que rega as plantas transplantadas pela velha guarda ecologista, mostrando respeito pelo passado mas também deitando a mão de forma esperançada a um futuro que será dele. E que mostra também a importância do voluntariado aberto a todos, em que uns cuidam do trabalho efectuado por outros.

Foram dois fins-de-semana de muita emoção, de recordações, de estar com pessoas que noutros tempos me iluminaram nesses dias de ecologia prática e contra todos os contratempos. De saudades, mas também de ver o futuro ainda a passar pelos meus olhos e pelas minhas mãos. É bom ver a vida a cumprir os seus ciclos num local tão especial e tão forte como o Monte Barata. A semente da regeneração da Quercus passará certamente por este centro de ecologia viva. 

quinta-feira, novembro 18, 2021

FLAMINGOS EM PORTUGAL

 Chega de obituários. O ano de 2021 fica marcado com esta notícia da reprodução de flamingos em Portugal. E a marca fica bem narrada com a National Geographic (link para o site), neste trabalho do João Nunes da Silva, que bem conheci nos primórdios da Quercus, sempre pronto a ajudar e já nessa altura grande fotógrafo de natureza. Fica aqui a ilustrar uma foto sua, que roubei da reportagem aqui partilhada no link acima, e o convite para lerem todo o trabalho.




quarta-feira, novembro 17, 2021

OBITUÁRIO - ARTHUR HOWITZER JR.

 Copiado da wikipédia: "Arthur Howitzer Jr., the editor of the newspaper The French Dispatch, dies suddenly of a heart attack. According to the wishes expressed in his will, publication of the newspaper is immediately suspended following one final farewell issue, in which three articles from past editions of the paper are republished, along with an obituary."

Nem de propósito, fomos ao cinema ver a última obra do realizador Wes Anderson, The French Dispatch (Crónicas de França). Adorei, claro. Quem ainda não viu pode procurar o trailer on line, quem já viu vai gostar de ver este pequeno vídeo musical, realizado pelo mesmo Wes Anderson:


terça-feira, novembro 16, 2021

ROGÉLIO RODRIGUES GOMES PEDROSA

 Aqui fica mais um obituário, juntinho ao da sua amada. O meu pai morreu 9 meses depois da minha mãe, as suas cinzas estão juntas e junto-os aqui também no meu blogue. Ainda viu passar o dia de aniversário do seu casamento, 28 de Setembro, mas nesses últimos dias já a sua cabeça não dava conta dos recados, ainda que estivesse sempre algo lúcido e conversador.

Nasceu em Lisboa em 1933, mas também não se pode dizer que fosse alfacinha de gema, pois os seus ancestrais vieram de fora, das zonas de Pedrógão (Leiria) e de Viana do Castelo. Há pouco tempo tínhamos estado em família por terras do norte e fomos ver familiares a Viana do Castelo, onde fomos bem recebidos e onde o meu pai e a minha mãe falaram dessas memórias do passado, e aproveitei e construí uma pequena árvore genealógica, que devo ter guardado avulso numa pasta de pendentes, que tenho um par delas. É de homem, ter assim um par de pendentes...



O meu pai foi engenheiro mecânico de profissão, depois de alguns trabalhos em tempos de férias a vender Tide de porta em porta, onde ganhou alguma experiência laboral... e de vida, pois como se imagina andar assim a bater à porta das donas de casa... pode trazer surpresas. Começou logo na SECIL (Outão - Setúbal), onde se fixou e criou a família que agora somos, ajudando no desenvolvimento do processo fabril. Foi aí nessa fábrica, onde vivíamos no bairro da fábrica mas no lado privilegiado dos engenheiros, com garagem, galinheiros, horta e jardim, que juntou muitas histórias de vida. A mais marcante terá sido o acidente em que ficou soterrado em carvão, que estavam a descarregar no porto. O carvão era o combustível utilizado nos altos-fornos e rezam as crónicas que a sua salvação foi o capacete que tinha na cabeça. Não evitou danos na coluna vertebral, que o atiraram para a cama durante uns meses até recuperar em pleno. Veio depois a revolução e um clima laboral muito alterado e conflituoso, e mesmo sem ser perseguido teve vontade de partir. Por pouco não fomos todos para a Venezuela, ainda se falou nisso, pois era o que atraía muitos portugueses na altura, mas acabou por ter uma oferta na CIMPOR (Souselas - Coimbra) e como os filhos um dia iriam seguir os estudos foi o destino escolhido.

Dos anos da CIMPOR tenho apenas memória de estarmos de férias no campismo em Penacova e ele ter que se deslocar à fábrica de vez em quando, porque estava de serviço nas horas e dias que normalmente seriam de descanso, e muito vagamente de lá ter ido com ele. Lembro-me também de antes de termos ido para a nossa casa em Santa Clara, o 1º esquerdo de sempre, termos vivido num apartamento num prédio altíssimo, o que foi uma mudança muito grande para quem esteve sempre pertinho da terra. Depois vieram anos de depressões nervosas e desmotivação e acabou por ter sido reformado antecipadamente. Foi então que começou a sua segunda vida laboral, como professor do ensino secundário. Em Coimbra, depois em Soure, depois no Entroncamento, onde fez a profissionalização em serviço, e já como professor de mecânica foi até à idade da reforma numa escola da Figueira da Foz. Quando era professor de matemática, em Soure, havia alunos que quando tinham um furo iam bater à porta onde ele estava a dar aulas e perguntavam se podiam assistir. Não haverá melhor reconhecimento que este, nem medalhas, nem prémios ou comendas. Já neste século, e reformado de tudo, teve ainda a gratificante experiência de leccionar aulas de alfabetização em Santa Clara, junto com a minha mãe.

O meu pai foi fumador, SG Ventil. Fumava em casa, como era hábito na época, mas lembro-me pouco de isso me incomodar quando era mais pequeno. Mas depois, em Coimbra, com os filhos adolescentes, por pressão familiar, quando fumava em casa tinha que o fazer na janela da marquise, ou então na varanda. Foi um precursor desta nova era em que os fumadores têm que fumar na rua, vinte anos antes das leis já ele passava frio para satisfazer o vício. Até que em determinada altura fez um tratamento médico para deixar de fumar e assim conseguiu deixar o vício.

Um dos sonhos do meu pai era fazer um cruzeiro, mas nunca a minha mãe aceitou acompanhá-lo. No início deste ano ainda pensei que ele ia ganhar algum ânimo e um dia destes organizava-lhe uma viagem por esse mundo marítimo fora. Mas depois de recuperar alguma energia, e porque acreditava na sua intuição, começou a fazer uma série de asneiras seguidas que resultaram em problemas com o sono, que depois derivaram no agravar de várias complicações que já trazia do passado. Como não dormia nem deixava o corpo descansar, começou a tomar banho todas as manhãs, dizia que tinha aprendido com uns ingleses, que um banho fazia o corpo reagir e acordar. O problema é que as noites mal dormidas e de levante se foram sucedendo, o corpo não descansava o suficiente e entrou em decadência acelerada. Um dia, ao desistir de o ajudar a contrariar esta sua auto-destruição, ainda lhe disse que a intuição é importante, sim, mas tem que ser muito inteligente. E ele prosseguia, deixando a sua inteligência apenas para o humor e para a gestão das coisas diárias, asneiras atrás de asneiras. Até que o organismo não aguentou mais.

Ficam muitas fotos e muitas memórias, e muitos livros e a herança. Estes últimos meses foram de grande aprendizagem e vou voltar ao tema. Fica aqui esta breve nota biográfica para memória futura, para netos e para bisnetos que não se vão lembrar de algum dia o ter conhecido.


segunda-feira, novembro 15, 2021

MARIA AMÉLIA PINTO FIGUEIREDO

 Mais um obituário, já devido desde Janeiro. A minha mãe nasceu em Lisboa, em 1936, alfacinha mas não de gema, pois toda a sua cultura vinha da província, da zona de Tourais, Seia. Pai dos Figueiredos, família do Chaveiral (freguesia de Paranhos da Beira), mãe dos Pintos, família da aldeia vizinha, Vila Verde (freguesia de Tourais). Vila Verde é agora conhecida como a terra dos samarreiros, como já apareceu aqui no Malfadado.

Os avós paternos da minha mãe abriram uma casa de pasto em Lisboa, depois de umas aventuras no Brasil (a fantástica epopeia da avó Amélia, que vai atrás do marido com um filho pela mão, chega lá e expulsa a amante e acaba por ter lá uma filha, regressando depois a família toda junta a Portugal), e assim se fixou mais uma família em Lisboa. Veio depois mais um restaurante, na zona do Campo Grande, o restaurante dos meus avós maternos. Esse meu avô nasceu no Chaveiral e a minha avó em Vila Verde, indo para Lisboa por causa do casamento. Nasceu o meu tio, José Pinto Figueiredo, a minha mãe e mais uma irmã que na infância teve uma doença fatal.

Em termos de genealogia, este ramo dos Figueiredos termina aqui, pois o meu tio não teve filhos e do lado da minha mãe os 4 filhos ficaram com o Figueiredo ensombrado pelo Pedrosa (do meu pai), não o passando à descendência. Os Pintos, de Vila Verde já tinham desaparecido na geração anterior, neste ramo da família, penso que não resta nenhum, pois o que é neto de um dos dois irmãos (o tio David Pinto) da minha avó, herdou o nome próprio, David, mas já não o apelido.

Os Figueiredos do Chaveiral continuam por uma outra linha de descendência, os que foram para Lisboa entraram numa linha terminal.

A minha sobrinha, única filha da minha irmã Anucha, foi curiosamente readquirir o apelido Pinto, mas vem de outros Pinto de longe, do lado paterno. Seja como for, fica também pelo caminho pelo seu lado, pois os filhos irão caçar o apelido Santos, dos Santos de Cadima - Cantanhede.

A minha mãe foi à escola em Lisboa, fez a escola comercial, trabalhou num escritório até se casar, quando se mudou para a fábrica da Secil, em Setúbal, já casada com o meu pai, que aí era engenheiro, tendo sido atribuída uma residência familiar como era uso aos engenheiros de então. A casa onde fomos criados de pequeninos.

De Setúbal veio então a família toda para Coimbra, na década de 70, um bom par de anos após a revolução, o meu pai deixa a Secil e passa para a Cimpor, em Souselas. A minha mãe contou com a ajuda da sua mãe durante uns bons anos, até que a viu falecer em Coimbra, já na década de 90.

De Setúbal guardo poucas memórias, lembro a minha mãe a conduzir e a levar-nos à escola, a minha mãe a cozinhar, a minha mãe a conviver com as comadres e amigos, a minha mãe a acompanhar os nossos estudos básicos, as idas a Lisboa para ver as avós. A minha avó paterna Etelvina, lembro também que foi a Coimbra passar uns dias mas acabou por falecer aí durante a noite, tendo a minha mãe ajudado nessa situação. De Coimbra lembro a minha mãe a fazer tudo isso, mas a ficar doente dos intestinos e passar um mau bocado (cirurgia com remoção de parte do intestino), lembro também a sua iniciativa de produzir rissóis caseiros e vender à consignação na mercearia do bairro. Muitas vezes ia eu ao fim do dia buscar o tabuleirinho dos rissóis, e se sobrassem lá comia um ou dois. Lembro depois os problemas com as depressões do meu pai e como ajudou a avançar na vida, da sua perícia nas contabilidades e economia do lar, como ajudou com os netos mesmo em situações pouco convencionais, como aguentou os embates com o afastamento brusco do meu irmão mais velho, e como reagiu ao regresso, como aguentou a emigração do meu irmão mais novo, como me acompanhou nas variadas peripécias da minha vida, como teve coragem para ir aprender inglês, para ir dar aulas de alfabetização, como tinha sempre projectos de malhas ou rendas entre mãos, como ainda passeou nos tempos da reforma do meu pai, como era amiga dos seus amigos e tantas pequenas coisas que nos deixou. A sua perícia culinária era marcante, herança dos seus avós, e que deixa saudades a tanta gente que com ela e connosco conviveram, pois as nossas festas eram sempre decoradas com as suas coisas doces.

A minha mãe adaptou-se aos computadores e às modernices todas, mas era ao mesmo tempo algo conservadora e crente, religiosa cristã e praticante mas sem extremismos. Chegou a ter uma página de Facebook, mas acho que já não está on line. É por isso que quem a procurar na net vai acabar por ter apenas, neste momento, esta referência aqui no Malfadado. Que é também uma reverência póstuma. Quando se casou adicionou logo dois apelidos ao seu nome, passando a ser Maria Amélia Pinto Figueiredo Gomes Pedrosa. Mas foi sempre uma pessoa simples e popular, disposta a ajudar. Um dos episódios que recordo desse voluntarismo foi pai e mãe terem ido servir de testemunhas no registo de um terreno, a pedido dos compadres Pinto, que depois se provou ser uma apropriação indevida de um terreno e acabaram por ser condenados em tribunal, tendo que pagar multa e despesas com advogados, ainda por cima advogados incompetentes que os prejudicaram ainda mais. Compadres Pinto que nunca assumiram essas despesas.

Os últimos 4 meses da minha mãe foram uma luta desigual contra um tumor que se instalou na sua parte mais fraca, os intestinos. Começou com algumas dores abdominais, poderiam ser gases, mas as dores eram algo distintas e persistiam, voltou à médica e foram pedidos exames, depois mais exames e dois meses depois o diagnóstico estava estabelecido: tumor intestinal ulcerado. Já algumas metástases espalhadas no organismo. A terapêutica não foi logo estabelecida, os caminhos possíveis eram sempre pouco recomendáveis pelo risco que apresentavam. E com o passar dos dias, maior era o risco. A opção foi tratamento com quimio, mas para isso era preciso a minha mãe fortalecer-se um pouco, o que se tornou impossível tendo em conta o progressivo enfraquecimento e dificuldade em alimentar-se ou descansar convenientemente. Drogas para diminuir as dores e lá foi ela trilhando os caminhos dos últimos dias organizando tudo para uma partida anunciada para breve, sempre com muita lucidez e comunicativa, sempre acompanhada pelos filhos e marido, com tempo para despedidas e para chamar um padre franciscano com quem falou na véspera da manhã ensolarada em que o corpo se deixou ir.

Aqui pelo Malfadado já haverá alguma foto dela, aqui fica mais uma, um slide digitalizado recentemente, fotografada pelo meu pai:



domingo, novembro 14, 2021

OUTUBRO

  O meu malfadado blogue andou desaparecido em Outubro. Não por falta de conteúdos para partilhar, apenas por falta de tempo para aqui ir escrevendo e partilhando. O que vale é que estamos em Novembro, e vou ver se arranjo tempo para actualizar.

sábado, novembro 13, 2021

SETEMBRO

 O meu malfadado blogue andou desaparecido em Setembro. Não por falta de conteúdos para partilhar, apenas por falta de tempo para aqui ir escrevendo e partilhando.