quarta-feira, dezembro 10, 2014

DEMISSÃO DE PRESIDENTE DO NÚCLEO DE AVEIRO DA QUERCUS

Porque na vida associativa não há segredos, aqui fica o texto integral do meu pedido de demissão, comunicado hoje mesmo à Quercus Nacional e aos restantes elementos que comigo dirigiam o Núcleo de Aveiro:

Olás

Depois de muito reflectir, a sós e em conjunto, venho comunicar que a partir de hoje deixo de exercer o meu cargo de presidente da Direcção do Núcleo de Aveiro da QUERCUS. Foi um cargo de dirigente regional que aceitei desempenhar para ajudar a nossa Associação, tendo sido eleito para este mandato quase há dois anos. Mas aceitei também porque desde sempre defendi que a nossa sociedade só tem a ganhar quando a participação cívica é exercida de forma consistente, mesmo que em prejuízo evidente da vida privada de cada um.

Esta minha decisão não é motivada, no entanto, por motivos pessoais, ainda que, olhando para o passado, reconheça ter já dado muito do meu tempo à QUERCUS. A minha demissão deve-se a uma larga conjuntura de factores da sociedade, e principalmente quando existe uma enorme falta de respeito pela participação cívica, nomeadamente a que chama a atenção da sociedade e dos poderes instalados para as mais elementares regras. Nestes dias de grande pobreza financeira de vastos sectores da sociedade, junta-se uma pobreza ou quase ausência de inteligência que compreenda a necessidade de salvaguardarmos os nossos recursos naturais e um ambiente saudável. Vale tudo, desde que seja rentável financeiramente ou que alegadamente ajude a economia. Pode ser um negócio ruinoso para as finanças públicas, que já não têm dinheiro para uma boa gestão dos nossos recursos naturais, mas se é vendido como criando muitos postos de trabalho, é logo um negócio da China. E de nada vale darmos o nosso melhor chamando a atenção da Justiça e dos responsáveis políticos, vale tudo na criação de postos de trabalho, até ilegalidades. 

Sinto que ando a perder tempo em negócios que desde o início deveriam ser proibidos, coisas que não fazem sentido mas que ainda assim vão para a frente, apenas porque favorecem negociatas. Dos eucaliptos às sucatas de automóveis, passando pelo urbanismo e pelas politicas do mundo rural, parece-me que retrocedemos perigosamente em todas as frentes. E como dirigente regional da QUERCUS estive já em várias situações em que me encontrei com dirigentes políticos, em reuniões, palestras ou sessões de trabalho. Mas cada vez mais me custava ouvir esta conversa da treta, que se agravou nos últimos anos, da necessidade de conjugação dos vários interesses. Em que os interesses de um ambiente mais saudável são sempre preteridos a favor dos interesses de uma sociedade que vive de negociatas. É verdade que nos últimos dias assistimos a algo que nos traz alguma esperança em termos de justiça, com a detenção de pessoas poderosas ligadas a processos fraudulentos. Mas vêm sempre tarde estas intervenções, numa altura em que os criminosos já muito fizeram a seu favor e em prejuízo do interesse público e das finanças para que todos contribuímos. E neste âmbito de desempenho de um cargo de dirigente associativo não posso admitir que vou ter que me reunir com pessoas ligadas a esquemas fraudulentos. De facto, o Núcleo de Aveiro da QUERCUS tem relações estabelecidas com algumas entidades municipais, mas de nada valeram as nossas denúncias de que a Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro estava envolvida numa gritante ilegalidade, a velha questão da localização do PCI. Durante anos andámos a explicar que esta questão teria que ser revista, por não cumprir com a legislação, mas todos os políticos fecham os olhos. Tivemos que ser nós, uma simples associação de voluntários, a denunciar a situação judicialmente. E claro que assim, de forma algo anormal, as nossas questões nunca tiveram uma resposta satisfatória. Se há alturas em que devemos levantar a cabeça e manter o nosso orgulho, acho que esta é uma delas. Reunir com políticos ou dirigentes que prejudicam o interesse público, enviar ofícios que não têm resposta, fazer queixas que demoram um ano a serem analisadas, para mim basta. É fazer parte de um sistema que apodreceu por falta de manutenção. Ou por uma manutenção que chega em sacos azuis, que eu desconheço e todos desconhecemos até alguma comadre se zangar.

Não deixo de ser associado da QUERCUS e de outras associações, porque tenho ainda esperança que uma nova vaga de gente jovem abrace a vida associativa e consiga fazer uma viragem, no sentido de tornar as associações mais intervenientes e independentes do sistema económico. Como associado estarei disponível para ajudar. E já fora do sistema talvez consiga encontrar novas formas de ajudar a que a sociedade encontre o caminho do respeito pelo ambiente.

Deixo as minhas saudações

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