quinta-feira, junho 13, 2013

CANTINA DO SALVA A TERRA

Regressei hoje de manhã a casa, depois de uma semana intensíssima, preparando, executando e arrumando a cantina do Festival Salva a Terra, que decorreu em Salvaterra do Extremo entre o dia 7 e o dia 10. Cheguei cansado mas muito satisfeito, a equipa de cozinheiros que como eu se voluntariaram para cozinhar centenas de refeições estiveram tão bem, que conseguimos fazer sair comida de cantina com uma qualidade que superou as minhas expectativas. Fui antes para Castelo Branco para tratar das compras e verificar se estava tudo bem na cozinha que nos estava destinada. Mas deu para tratar das compras e pouco mais do que isso, na quinta-feira à tarde, mesmo no final da tarde, é que cheguei com as compras todas ao local do Eco Festival.
SEXTA-FEIRA
Para o almoço de sexta-feira, dia 7, estava previsto alimentar pouco mais do que os voluntários que já estavam no Festival, por isso saiu para as mesas uma sopa de cenoura, seguida de alho francês à Brás, mas como havia pouco alho francês, levou com couve coração e um pouco de couve rôxa. Servido com as devidas azeitonas, neste caso umas azeitoninhas caseiras oferecidas pelo vizinho da frente, da sua produção. A maior parte da equipa de cozinheiros ainda chegou a tempo de comer o almoço. A Mila, a Sílvia e o Gabriel assim que chegaram e se instalaram, arregaçaram logo as mangas para preparar o jantar. A última cozinheira da equipa, a Inês, foi a última a chegar, já ao fim da tarde. Toda a equipa estava alojada na Casa do Forno, num quarto bastante bom e que dava bem para descansar o corpo. Para além dos cozinheiros a tempo inteiro havia um corpo de voluntários, que faziam turnos e se revezavam na cozinha. O conjunto formou uma equipa excelente, memorável.
Para o jantar preparámos um creme de vegetais levezinho, seguido de um guisado de grão-de-bico, acompanhado de arroz branco.
SÁBADO
Para os almoços tínhamos combinado fazer uma coisa diferente, preparar coisas variadas e cada pessoa escolheria o que levar, mas com os atrasos devido a servirmos pequenos-almoços, acabámos por ir terminando coisas e as pessoas comiam o que estava disponível no momento. Para o almoço saíu uma sopa de repolho, num creme com lentilhas descascadas, e depois uma série de coisas onde brilharam as pataniscas de vegetais da Sílvia, as bolinhas de arroz com sementes de sésamo, o homus, as saladas de alface e de tomate, as sandochas de Queijo da Ilha e as bizzas (bica de azeite com tomatada e pedacinhos de queijo em cima). E havia muita fruta, para comer à vontade, incluindo maçãs bio e cerejas da Cova da Beira. A ideia era ter ainda mais coisas, mas foi difícil concretizar pelas nossas limitações. No Sábado ao almoço a comida voava, tal era a afluência à cantina. Mas foi ao jantar que os números ultrapassaram as nossas estimativas, com cerca de 230 refeições servidas. Tinhamos preparado um caldo verde, uma panela enorme cheia, servido com a opção de rodelas de chouriço, seguido de massa fusilli com vegetais e um pouco de ovo cozido, e molho béchamel. Como não tínhamos forno era servido mesmo assim, só misturado, e preparámos um molho béchamel mais fluido para se envolver bem com a mistura da massa e vegetais. Por cima levava a finalizar ovo picado e salsa bem picadinha. Tanto o caldo verde como a massa acabaram por desaparecer, e fizemos um prato suplementar: a Silvia encarregou-se de fazer uma nova sopa, com base nos vegetais que tinham sobrado da noite anterior, e um arroz saiu também rapidamente, acompanhado de ovos mexidos e de alguns vegetais. No local onde os participantes faziam as refeições a parte da limpeza dos pratos engarrafou. Havia coisas a melhorar para o dia seguinte.
DOMINGO
Tal como aconteceu no dia anterior, depois de servidos os pequenos-almoços, atirámo-nos à tarefa de preparar coisas diferentes, Na véspera, depois dos jantares todos, reunimos os cozinheiros e elaborámos uma lista de coisas a fazer. Mas algumas não conseguimos concretizar. Ainda assim fizemos uma boa panela de sopa, um creme de grão com cenouras, a Silvia repetiu as pataniscas, mas desta feita introduzindo a batata ralada e reduzindo a couve e a cebola no preparado. A Mila encarregou-se do paté de beterraba, que foi também um dos sucessos. Fez-se uma salada russa, mas a batata ficou cozinhada demais. Houve duas versões, uma com atum e outra só com vegetais e maionese. Houve outra vez sandochas e saladas. E a Silvia preparou umas almôndegas de arroz com amêndoa tostada, servidas com um molho de tomate, que para mim estavam excelentes. Estas almôndegas não eram certamente comida de cantina, acho que nem em muitos restaurantes se encontram comidas tão originais e requintadas. E para o almoço houve ainda sobremesa, arroz doce, que veio complementar a fruta à disposição. Neste dia até bananas da Madeira houve. Para o almoço contámos com mais uma cozinheira para a equipa, a Alexandra Azevedo, que tinha vindo fazer uns workshops ao Eco Festival sobre Eco Gastronomia, mas a sua ajuda plena foi para o jantar, pois de manhã esteve ocupada com o workshop.
O jantar de Domingo foi mais simples de preparar, mas o cansaço já era muito. No final do almoço coloquei pão de molho, pois havia muito pão a sobrar, uma vez que os pequenos-almoços não tinham muita procura. E avançámos para um menu difícil, mas que nos permitia algum desafogo na altura de ir preparando a comida à medida que se ia comendo. A sopa foi um panelão de uma sopa à lavrador, mas que ficou muito salgada e teve que ser corrigida depois de uma das primeiras pessoas a comer se ter queixado. Depois optámos por servir açordas com ovo estrelado, e fizemos três diferentes. A primeira foi de tomate e cogumelos, a segunda foi de cebola e a terceira de alho e coentros. Neste dia tivemos uma reclamação importante, mas que não chegou a tempo à cozinha: deviamos ter disponibilizado uma alternativa com carnes, e de facto essa era a ideia original, mas as morcelas e os chouriços ficaram no frigorífico esquecidos. Especialmente nas açordas de cebola e de alho, para além do ovo estrelado, ligariam excelentemente. Mas no meio de tanta confusão esquecemo-nos de cozinhar os enchidos. Se tivessem pedido para falar com os cozinheiros... Nesta noite a afluência foi já menor, ainda que tivessemos servido para cima de 160 refeições. Faltou também uma boa sobremesa, mas as condições não permitiram. A sobremesa mesmo foi o espectáculo de encerramento das noites musicais do festival, com o grupo organizador, os Velha Gaiteira, e a Quercus, a sortearem uma bicicleta tandem entre todos os bilhetes gerais vendidos. Bem que a queria para mim, a minha mãe até comprou um bilhete geral, mas acabou por ficar em Salvaterra do Extremo. Dancei, caí de cú agarrado a uma voluntária, foi mesmo um festival. E acumulei mais umas horas de dívida ao sossego e ao descanso.
SEGUNDA-FEIRA
Uma manhã bem luminosa, o último pequeno-almoço. O dia de partida para muita gente, o almoço seria previsivelmente para muito menos gente. Uma sopinha juliana, uma coisa leve e nutritiva, seguida de batatas salteadas a acompanhar rissóis (de vegetais ou de camarão), croquetes de cenoura/manteiga de amendoim e saladas de alface. Foi bastante mais tranquilo na cozinha, mas ainda assim não conseguimos cumprir com o horário estabelecido para o início de servir as refeições, houve sempre atrasos. Mas foi o primeiro dia em que a sopa foi terminada e posta à disposição antes de chegarem as primeiras pessoas para almoçar. E pronto, estava terminada a tarefa dos cozinheiros e dos voluntários, a malta lá foi arrumando as suas coisas e partindo. Eu fiquei para as arrumações, e ainda deu direito a fazer o jantar para o grupo restrito de voluntários que ficaram para a desmontagem e limpezas de todo o festival. A sopa foi só acabar o que tinha sobrado do almoço, e fiz umas batatas cozidas de cebolada, tipo escabeche, para aproveitar as batatas que tinham ficado cortadas do almoço, e ainda o resto das batatas salteadas do almoço, com o paté de beterraba a temperar. E a sobremesa, uma farinha preta bem quentinha e nutritiva.
E pronto, na terça-feira foi a arrumação e limpeza da cozinha, com os voluntários a limparem e a arrumarem tudo, eu já poucas forças tinha para fazer mais do que orientar, acabei por ficar para quarta-feira, depois passei por Castelo Branco e com a ajuda da Irene andámos a devolver produtos alimentares que não se utilizaram, seguindo depois viagem, parando em Coimbra e chegando esta manhã, regresso a casa!!! Lar, doce lar!

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