Inscrevi-me neste congresso em representação do Núcleo de Aveiro da Quercus. Mas foi uma valente seca! Foi apenas uma acção de propaganda de como se podem gastar milhões de euros, muitas vezes de forma mal gasta e tendo já levado a Quercus a denunciar situações de intervenções que prejudicaram a conservação da natureza. No primeiro dia deste congresso eram palestras e debates sobre coisas mais técnicas, mas não pude estar presente. Mas lá fui, no segundo dia, e assim assisti a uma coisa que pensava que já não existia num país industrializado e urbanizado. Estamos de facto a andar para trás em termos de civilização. Foi uma sessão onde compareceram todos os municípios da região de Aveiro, presidentes de Câmaras, vereadores e presidentes de Juntas de Freguesia eram aos montes, todos para bajularem uma figura ímpar da nossa política regional: Ribau Esteves. Já tinha assistido ao seu estilo discursivo, e desta vez confirmou-se: no meio de um discurso vazio e sem ideias, propagandeia um monte de obras feitas e a realizar, como se fosse um grande gestor e gerador de riqueza. Este homem é responsável por uma dívida incomensurável, é responsável por obras que são insultos ao estado a que a população chegou em termos sociais e de bem-estar, e é responsável por projectos que vão destruir ainda mais a nossa agricultura. Mas para além de prestarem vassalagem a este autêntico rei (em terra de cegos...), o dia iria culminar com uma vassalagem ainda maior ao primeiro-ministro, que veio encerrar o Congresso, a convite de Ribau Esteves, pois claro, ou não pertencessem todos a este circo que controla a política nacional há anos demais. Mas já lá vamos...
A minha presença neste congresso foi principalmente para acompanhar o que fazia parte do programa como uma das partes em que estava dividido: "APOSTAR NO TERRITÓRIO E ENVOLVER OS CIDADÃOS". Neste painel, os paineleiros iriam abordar a questão do Parque de Ciência e Inovação, e depois haveria um período de debate. Depois de um discurso enfadonho e muito chato do reitor da Universidade de Aveiro, com gráficos e descrições de projectos passados e futuros, de um espanhol que veio explicar mais uma vez que os Parques de Ciência e Inovação são zonas industriais, e de um outro que veio apresentar trivialidades sobre as potencialidades turísticas da região, veio a parte do debate. Acham que alguém se levantou para colocar alguma questão mais pertinente e incómoda? Ninguém, todos gostaram muito e ficaram convencidos (já iam para lá convencidos..). Mas pronto, lá levantei eu o braço e deram-me o microfone. Comentei que me parecia estranho estarem num painel sobre envolver os cidadãos e em nenhuma das intervenções terem falado desse envolvimento, até porque cidadãos só estavam na plateia e pedi ao moderador para comentar. E depois pedi ao reitor da Universidade para comentar como justificava ele a Universidade estar a apoiar um investimento baseado em estudos mais do que ultrapassados. Ora o moderador, em vez de comentar, deu a palavra a todos os que estavam na mesa para comentarem sobre o envolvimento dos cidadãos. E pasme-se com a inteligência das respostas: então eles fazem estes projectos para ajudar o desenvolvimento regional e isto não é envolver as pessoas? O ensino universitário é dirigido às pessoas, ou não é? E pronto, lá se perderam sem dizerem nada de jeito e o reitor, mais uma vez, não respondeu a uma questão muito pertinente, só repetiu aquilo que já tinha dito, que ia ser muito importante e que era muito importante a nova zona industrial ser contígua ao Campus Universitário. Mas provas??? Nada! O estudo estar mais do que ultrapassado??? Sobre isso não interessa falar.
Adiante... Antes deste momento tinhamos tido a abertura dos trabalhos atrasada por causa de um secretariozeco de estado, que chegou atrasado porque esteve a dar entrevistas. Quando ele foi para o microfone, para se dirigir aos presentes, virei-lhe as costas e saí. Já mesmo no final, dentro da sala avisam que o primeiro-ministro chega dentro de 5 minutos. Aproveito para sair e junto-me aos manifestantes, eles de um lado das barreiras metálicas, eu do lado de cá. Foi engraçado, porque pela primeira vez numa manifestação estive à frente das barreiras e ninguém me podia dizer nada! Era um dos participantes no congresso!!! Depois voltei lá para dentro, ouvi as mensagens de encerramento do "presidente" e quando chegou a vez do primeiro-ministro falar, assim que se aproximou do microfone, pus-me de pé, de costas para o orador, arrumei as papeladas dentro da minha mochila, pedi às pessoas para me deixarem passar e saí. duas vezes no mesmo dia. Poderia ter ficado mais um bocadinho? Sim, se grandolassem estes governantes, eu era uma das vozes que se levantavam. Estando sozinho levanto-me, sem levantar a voz, e saio. É uma questão de respeito, não admito faltas de respeito!
Este certificado atesta que estive lá. Já o coloquei na reciclagem do papel, congressos destes não entram no meu currículo!
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