Uma coisa que já há muito tempo me entristece por dentro é
esta questão dos direitos humanos, que existem no papel mas que depois são
esquecidos nalgumas partes do mundo. Quando outros valores se levantam…
E na verdade é uma coisa que de vez em quando lá sai num ou
noutro texto, ou até numa partilha que cai aqui no meu malfadado blogue.
Mas desde que vim da Escócia há uma coisa que me traz mais
triste, num ponto de negrura que despoleta uma revolta no espírito, uma coisa
que dá vontade de fazer algo mais. E essa coisa é o modo como os meios de
comunicação social abordam a questão e tentam fazer com que os refugiados sejam
encarados como migrantes. É uma comunicação social que papagueia o que as
instituições políticas dominantes, dos governos até à ONU, querem inculcar na
cabeça dos povos: que o grande número de refugiados que procuram a segurança da
Europa são pessoas que decidem "apenas" mudar de país, deixar para trás as suas terras,
as suas casas, os seus familiares, os seus animais domésticos, os seus bens, e
o seu modo de vida, porque querem arriscar o seu futuro indo à procura de
melhores condições de vida.
Para ilustrar esta minha reflexão fui buscar esta fotografia aqui (link para o jornal i on line)
De facto, um refugiado faz um movimento migratório.
Mas não chamamos refugiados aos milhares de jovens portugueses (entre outros
menos jovens) que recentemente, por causa da violência da crise política e do sistema
bancário, emigraram para o Reino Unido, para o Brasil, para sei lá que pontos do
mundo, mas até para a Alemanha. São migrantes. Tal como, por outro lado, a quem
foge de uma terra que todos os dias é notícia porque ali se vive em guerra
permanente chamamos um refugiado. Chamar-lhes migrantes é querer fazer surgir
os naturais movimentos sociais racistas, os nacionalismos estúpidos. Querer
transformar em migrantes as pessoas que trazem os seus filhos ao colo, a pé,
sujeitos a serem humilhados por rasteiras de jornalistas estúpidas (link para ovídeo da jornalista que agride refugiados), ou as pessoas que depois de
percorrerem terras e terras chegam ao mar onde vão morrer, ou ver morrer os filhos
que trazem ao colo, é querer transformar a realidade.
E uma mentira tantas vezes repetida quase chega a ser
verdade. Quase transforma a realidade. Quase… quase transforma as guerras
semeadas pelos governos europeus, em conjunto com o super poder americano ou
russo ou chinês, hoje em dia sabe-se lá, o poder dos interesses financeiros,
com a questão do petróleo à cabeça. Ou as questões do ouro e dos diamantes,
como se ainda vivêssemos na Idade Média ou pouco depois, nos genocídios
africanos e sul americanos para fazer crescer a riqueza de alguns. E as
questões do comércio de drogas e da venda de armas. Em nome de uma Guerra Santa
contra os terríveis ditadores do Oriente, por serem perigosos e
fundamentalistas (pois, nunca estas guerras foram vendidas pelos jornalistas
como sendo guerras de domínio colonialista para poder continuar a explorar os
povos e os seus recursos), semearam-se guerras que originaram refugiados. Mas
muitos são refugiados que não se ficam pelos países vizinhos, amontoados em
campos de tendas sem condições, sujeitos a humilhações e a um tratamento de
gente desgraçadinha e que vive da esmola, como já vimos tantas imagens ao longo
das últimas décadas. Agora são refugiados que querem ir mais longe, que buscam
o “el dorado” como muita gente fez no passado, fugindo de outras guerras, em
terras onde existem condições para começar uma nova vida, onde os seus filhos podem
ter educação e perspectivas de um futuro melhor do que verem os seus pais serem
atingidos por uma qualquer bomba ou bala vinda sabe-se lá de que lado. São pessoas que deixam a sua vida para trás, afastam-se das suas raízes para irem para terras de língua e hábitos estranhos.
Mas nestes dias de revolta que a tristeza funda traz cá para
cima, há também uma luz de alegria que chega ao fundo do poço sem fim que trago
no coração. Há um orgulho nos amigos e conhecidos e até nalgumas figuras
públicas, que trazem a questão humanitária para a luz do dia. Há uns dias que
ando a querer escrever sobre isto, e ainda bem que o faço só agora, para não
ficar um texto ainda mais escuro sobre a estupidez humana e sobre a
subserviência acéfala do jornalismo de massas. E aqui faço então o contraponto,
com dois textos importantes, e que “reproduzo”. O primeiro é da autoria de uma amiga que
não conheço pessoalmente, e que o colocou no seu blogue (link para o texto na Ponte de Palavras). Um
texto que deixa a sua visão global sobre a situação dos refugiados e que
motivou o meu comentário por ter usado o termo migrantes e não refugiados. O segundo colo-o aqui na íntegra, porque
ficou apenas no Facebook de um familiar amigo (mais do que apenas familiar),
que muitos conhecem por ser irmão da São, o Hugo Veiga. E no Facebook as coisas
passam muito depressa e a reflexão triste e corajosa, forte e saborosa, merece
um outro destaque, deixar passar esta outra luz para que possa chegar ao fundo de outros poços de
tristeza. E é uma reflexão de alguém que emigrou, que passou por esta dificuldade
que é deixar a sua terra, os seus familiares, os seus amigos e amigas, os seus
animais domésticos, os seus bens, e o seu modo de vida. Que passou por
situações difíceis e que por agora está na Alemanha. E que vai ser pai de uma
criança muito em breve, num mundo que um dia vai ter que tentar explicar a esse filho como funciona mal…
Já vai longo o meu texto, remato então com o texto integral
do Hugo:
"Para todos os que têm dificuldade em distinguir terroristas de Refugiado..
"Significado de Refugiado:
s.m. Indivíduo que se mudou para um lugar seguro, buscando proteção.
Aquele que foi obrigado a sair de sua terra natal por qualquer tipo de perseguição; quem se refugiou; pessoa que busca escapar de um perigo.
Refugiado político. Quem foi obrigado a deixar sua pátria por sofrer perseguição política.
adj. Que se encontra em refúgio, em local seguro e protegido.
(Etm. Part. de refugiar)."
Não tenciono iniciar uma discussão, nem responder a comentários pró ou contra, prefiro a abstenção. Mas sejamos um pouco realistas:
1. Contas feitas, 10 milhões e picos portugueses pagam menos de um euro por 15000 refugiados/mês. Mais pagam por uma cerveja.
2. Políticos roubam toda a gente há anos. Parece-me que o grande problema de Portugal não são os refugiados. "Parece-me"!!!!
3. Muitos dos sem abrigo têm bom corpo para trabalhar. Outros são mesmo desgraçados da vida por más escolhas na vida. Pouca gente encheu o peito a pedir casa para eles. Agora toda a gente se lembra deles. Irónico, no mínimo!!!
4. Os terroristas são "patrocinados " por entidades cujo capital envergonharia o Belmiro de Azevedo. Se eles quiserem vir rebentar a Europa, eles vêm, podem acreditar! Não precisam de vir a pé.
5. Os emigrantes portugueses e a religião Cristã já deram (e dão) muito que falar cá fora. Agora imaginem que rebenta uma guerra em Portugal e os outros países dizem: "não queremos cá esses portugueses cristãos de mer&@..." O que respondiam aos vossos filhos?
6. Minorias que vêm causar problema a Portugal? Detesto usar esta expressão, mas aqui vai: LOL!!! Vão à Amadora beber um café um dia. Ou à noite!! Ao menos estes refugiados estão identificados e podem ser expatriados!!!!
7. Um pequeno conselho: NÃO acreditem em tudo o que vêem nas notícias e na internet por favor!!!!!! Questionem mais a veracidade das imagens, os jornais vendem mais com a criança morta na praia, não com a Mãe a sorrir com um filho nos braços. Aprendam que a comunicação social, quando o interesse existe, é a nossa pior inimiga!!!!!!!
Era para escrever mais pontos. Mas fico por aqui, tenho que ir jantar. Ao menos tenho uma cozinha, acesso a água e a comida. Quando vos faltar isso tudo saberão o verdadeiro significado da palavra "refugiado"...."
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