quarta-feira, setembro 25, 2024

OS GRANDES FOGOS DE SETEMBRO

 Já imaginava que um dia voltaria a escrever aqui sobre os grandes fogos. Não pensei que fosse este ano, uma vez que tinha chovido bem na Primavera e até no Verão, e a vegetação estava relativamente verde. Quando escrevi aqui em 2017 (ver link para o Malfadado), só referi os fogos à volta de Vagos. Na altura não contei que lá mais para o interior, um terreno florestal, uma micropropriedade de herança, ali para os lados do Seixo da Beira (no extremo interior do distrito de Coimbra, quase na Serra), tinha ficado completamente incinerado. Era um terreno onde eu andava a ver se conseguia promover alguma regeneração, depois de um fogo em 2001. Ainda tinha alguns pinheiros, pinheiros demais, o que deu grande intensidade ao fogo. No ano seguinte já os carvalhos e os sobreiros estavam a dizer que não tinham morrido. E um par de salgueiros também rebentou. E no ano seguinte comecei a introduzir algumas pequenas árvores. Mesmo regando, a taxa de sobrevivência foi muito pequena, os ratos, os insectos, estiveram à vontade e estragaram muitas coisas. Mas algumas sobreviveram. Depois fiz algumas sementeiras de bolotas, mas os javalis e os ratos estragaram bastante. Este ano já havia uma dezena de azinheirinhas, uma dezena de carvalhos, meia dúzia de sobreiros, um par de pessegueiros, uns azevinhos, um medronheiro, três loendros, alguns loureiros. Na noite de 14 alguém deitou fogo ali perto e depois foi só o tempo das chamas e fumo irem subindo a encosta, com a ajuda do vento. Passados apenas sete anos, as mesmas terras arderam de novo. Foi um fogo pequeno, durante a noite não foi tão intenso. Espero que algumas das plantas rebentem a partir da raiz, os carvalhos mais velhos, talvez, e os sobreiros certamente irão rebentar dos seus ramos menos afectados pelo calor extremo.  Ficou tudo queimado ali à volta novamente, mas a paisagem não ficou tão desertificada. Nos dias seguintes os grandes fogos no distrito de Aveiro, e depois no interior, Viseu, Porto. Este ano já tinha sido uma tragédia na Madeira. O ano passado na Serra da Estrela. Todos os anos esta coisa estranha de ver arder o futuro, a floresta a desaparecer. A desertificação, o envelhecimento dos poucos que ficaram na agricultura, as terras sem outro uso que não seja o abandono ou os eucaliptos. O que não é pasto para os animais é pasto para as chamas. Uma frase que ouvi uma vez num encontro da CNA. Onde andam os rebanhos? Já desde 2005 que é urgente mudar a paisagem, para evitar estas tragédias. Em vinte anos ao que mais se assistiu foi à ignorância política, ao favorecimento de negociatas, à legislação que não se cumpre, ou se aplica de forma deficiente. Vê-se uma sociedade civil que apenas num ou noutro local deitou mãos à obra, num caldo de gente que nada faz e que depois aparece a chorar a morte inglória de bombeiros ou pessoas, gente como nós, mas que tiveram a coragem de fazer frente às labaredas e ao fumo sufocante e venenoso. Onde está a responsabilização dos políticos que deixaram que os eucaliptos fossem plantados e replantados por todo o lado?

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