



aqui se narram as aventuras de um portuguesito que desde tenra idade é vítima de erros vários, mas com abertura para outros textos de reflexão e de intervenção cívica
Veio parar este registo ao final de Setembro, porque as fotos tardaram em chegar. Mas aqui estão:
É um filme português. Fui ver, sem ter lido muito sobre a obra de sétima arte. O selo de garantia era o prémio de Cannes. Melhor realizador. Cinema é para ver no cinema. Adorei. A história simples mas um enredo que nos prendia ao desenrolar lento, o mistério sobre o que movia os personagens, os ingleses a falarem um bom português não incomodava de todo, a narração nas línguas nativas orientais onde se desenrolam os diferentes episódios desta tragédia, não só não incomodava como traz ao filme uma carga exótica e cultural marcante. A utilização do preto e branco para contar uma história do tempo do preto e branco, com intervalos coloridos, o grão das imagens, apenas facilitam sentirmo-nos transportados para a trama. A música, o som, a iluminação, a fotografia, tudo contribui para que Grand Tour seja um filme fora de série. O filme merece ser visto, o filme devia ser recomendado a vários níveis. O filme merecia um trailer melhor, que fosse mais apelativo. O filme não merece estar a ser passado nas salas de cinema e estarmos ali praticamente sozinhos. Vão ver, é um bom investimento (monetário e de tempo). Não é para jovens, será mais para gente com outra bagagem cultural, uns mais jovens que outros. Vão ver e passem a palavra, porque imagino que aguente só mais uns dias nas salas de cinema. Passem a palavra. Mesmo que não tenham hipóteses de ir ver. É um filme premiado. Português. Uma produção em grande, uma realização inspiradíssima, actores que marcam. Fica o mini-trailer, não consegui na net um trailer de 3 minutos, onde se pudesse mostrar um bocado mais do belo resultado e do magistral trabalho.
Já imaginava que um dia voltaria a escrever aqui sobre os grandes fogos. Não pensei que fosse este ano, uma vez que tinha chovido bem na Primavera e até no Verão, e a vegetação estava relativamente verde. Quando escrevi aqui em 2017 (ver link para o Malfadado), só referi os fogos à volta de Vagos. Na altura não contei que lá mais para o interior, um terreno florestal, uma micropropriedade de herança, ali para os lados do Seixo da Beira (no extremo interior do distrito de Coimbra, quase na Serra), tinha ficado completamente incinerado. Era um terreno onde eu andava a ver se conseguia promover alguma regeneração, depois de um fogo em 2001. Ainda tinha alguns pinheiros, pinheiros demais, o que deu grande intensidade ao fogo. No ano seguinte já os carvalhos e os sobreiros estavam a dizer que não tinham morrido. E um par de salgueiros também rebentou. E no ano seguinte comecei a introduzir algumas pequenas árvores. Mesmo regando, a taxa de sobrevivência foi muito pequena, os ratos, os insectos, estiveram à vontade e estragaram muitas coisas. Mas algumas sobreviveram. Depois fiz algumas sementeiras de bolotas, mas os javalis e os ratos estragaram bastante. Este ano já havia uma dezena de azinheirinhas, uma dezena de carvalhos, meia dúzia de sobreiros, um par de pessegueiros, uns azevinhos, um medronheiro, três loendros, alguns loureiros. Na noite de 14 alguém deitou fogo ali perto e depois foi só o tempo das chamas e fumo irem subindo a encosta, com a ajuda do vento. Passados apenas sete anos, as mesmas terras arderam de novo. Foi um fogo pequeno, durante a noite não foi tão intenso. Espero que algumas das plantas rebentem a partir da raiz, os carvalhos mais velhos, talvez, e os sobreiros certamente irão rebentar dos seus ramos menos afectados pelo calor extremo. Ficou tudo queimado ali à volta novamente, mas a paisagem não ficou tão desertificada. Nos dias seguintes os grandes fogos no distrito de Aveiro, e depois no interior, Viseu, Porto. Este ano já tinha sido uma tragédia na Madeira. O ano passado na Serra da Estrela. Todos os anos esta coisa estranha de ver arder o futuro, a floresta a desaparecer. A desertificação, o envelhecimento dos poucos que ficaram na agricultura, as terras sem outro uso que não seja o abandono ou os eucaliptos. O que não é pasto para os animais é pasto para as chamas. Uma frase que ouvi uma vez num encontro da CNA. Onde andam os rebanhos? Já desde 2005 que é urgente mudar a paisagem, para evitar estas tragédias. Em vinte anos ao que mais se assistiu foi à ignorância política, ao favorecimento de negociatas, à legislação que não se cumpre, ou se aplica de forma deficiente. Vê-se uma sociedade civil que apenas num ou noutro local deitou mãos à obra, num caldo de gente que nada faz e que depois aparece a chorar a morte inglória de bombeiros ou pessoas, gente como nós, mas que tiveram a coragem de fazer frente às labaredas e ao fumo sufocante e venenoso. Onde está a responsabilização dos políticos que deixaram que os eucaliptos fossem plantados e replantados por todo o lado?
Tenho um amigo, mais de Facebook do que de convívio, que está a escrever uma série de pequenas crónicas, que partilha com o mundo todo. O panteísmo é uma teoria segundo a qual Deus existe e é a própria natureza do universo. E estas suas crónicas são sobre os ecossistemas, o seu funcionamento, a forma como interferimos ou não com o seu modo imperfeito de existir, previsto por Deus. Cada crónica é acompanhada por uma imagem, foto ou gravura.
A sua crónica nº 22 é esta (link aqui para a mesma, podendo depois passar para as outras) que aqui reproduzo, com pequenas correcções:
Crónicas de um panteísta - Dicas para uma gestão ecológica da terra. Da cooperação entre espécies. Parte 2.
Talvez um dos fatores mais importantes na gestão ecológica é compreender ambas as relações diretas, na 1a parte dos post e das indiretas que agora iremos falar e que são fundamentais na compreensão da dinâmica dos Ecossistemas.
O pássaro come a semente da pêra para se nutrir. Engole, digere a parte com mais açúcar, dejeta a mais proteíca, fá-lo na copa da árvore onde repousa e se abriga porque é o melhor para ele, para o seu sentido de vida. Quando cai, a semente cai em solo fértil pela produção de folhas, na sombra parcial, num invólucro de estrume. Condições perfeitas para germinar.
Muita gente faz o que faz porque gosta do que faz e é boa nisso. Quando o que gostas é o que fazes, o teu nível de disciplina e boas decisões é proporcional ao teu nível de realização pessoal.
Quem vai gerir um pedaço de terra, quando compreende que aquilo que faz por si beneficia sempre outros, saberá antecipar aproveitamentos naturais dos nossos recursos por formigas, ratinhos, pássaros. Saberá também a importância de ter animais raposas, texugos, saca rabos, lobos, bufos reais, águias, milhares e falcões. Saberá as oportunidades e ameaças que cria na sementeira, na poda, na plantação, no corte de mato. Saberá que semear com gado traz outras vantagens como prados permanentes e muito diversos. Saberá usar os animais na gestão do combustível. Na produção de horta e na gestão do pomar. Entramos num alcance enciclopédico do que cada animal, planta, fungo e bactéria pode fazer por nós, caso seja trazida para o sistema agroecológico. O seu bom uso é sabedoria pura, é co-criar magia e desfrutar dela a acontecer.
Na visão macro da paisagem inteira, importa mais que tudo restaurar os habitats, onde os mosaicos não são estanques, são muito dinâmicos, de forma a restaurar as cadeias tróficas que fazem todo o sistema alcançar o seu equilíbrio e máxima produtividade natural. O equilíbrio natural alcança-se com soluções naturais.
Desejos de grandes conquistas ao serviço deste ecossistema que nos sustém!
Ontem foi uma bela jornada musical na Festa do Avante. Antes de aqui partilhar como foi, com fotos e pequenas histórias, com críticas e sugestões, há que destacar a programação musical da Festa. Ontem foi mesmo em cheio, com um grupo americano de música bluegrass (vai haver um festival na próxima semana, na Trafaria), com pequenas bandas revelação, com Sebastião Antunes e Quadrilha, com Mário Laginha e Tcheka, com Sérgio Godinho e Capicua, com Legendary Tigerman e com tantas grandes cantoras no espectáculo A Mulher é uma Arma.