Passaram 50 anos da madrugada do 25 de Abril. Tinha 9 anos, quase 10. Na 4ª classe da Escola Primária do Bairro da SECIL, no Outão. Fomos para a escola como num dia normal. Antes da aula começar, já na sala de aula, um dos amigos disse-me que tinha havido uma revolução e havia alguma agitação entre as professoras. Não percebia nada do que se estava a passar e fiquei sem saber. Mas ficou marcada a alegria das pessoas, a angústia a acompanhar a rádio e televisão, já em casa, pois a meio da manhã acabaram as aulas. Só depois, uns anos mais à frente, percebi o que tinha sido a revolução. O fim de um Portugal que tinha nascido com o fim da monarquia, uma república que era um império, um império que era uma ditadura. No dia 25 de Abril a república tinha vindo para ficar, abrindo as portas à liberdade. 50 anos volvidos falta ainda a igualdade e a fraternidade, proclamadas pelos republicanos franceses, como falta em todo o lado. Mas ganhámos a terra da fraternidade, Grândola Vila Morena. Só este ano ouvi na rádio alguém referir que o Zeca Afonso usou este termo, fraternidade, porque em Grândola existia a Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense. Existia e ainda mexe, o que é importante.
Também ainda mexe é A Voz do Operário, Sociedade de Instrução e Beneficência, em Lisboa. Nasceu primeiro como um jornal, ainda no tempo da monarquia (1879). Era a voz, passada para o papel, dos operários da indústria tabaqueira, que na época empregava milhares de pessoas. Em 10 anos cresce e alarga as actividades e abre-se a outros operários. Em 1890 Fica com a denominação definitiva. Quase 20 anos depois, ainda na monarquia, é decidido pelo governo a concessão de um espaço para a construção de raiz de um edifício para escola e serviços. É o edifício histórico, cuja construção começa já no início da República mas só é terminada em 1932. 20 anos em construção, o edifício naquela rua do Bairro da Graça, que se chama a Rua da Voz do Operário.
Os meus pais eram alfacinhas de gema, e muitas vezes andei pela capital. Mas quiseram as voltas do destino que nestas comemorações do 25 de Abril eu pudesse desfilar pela avenida abaixo com A Voz do Operário (a bem dizer, acabámos por descer parcialmente pela Avenida da Liberdade - pelas laterais, parcialmente pela Rua Rodrigues Sampaio, para depois ocupar a parte central da avenida, mas abrindo o desfile e sendo o primeiro grupo organizado a chegar ao Rossio).
Não levei bandeira nem ajudei a segurar nas tarjas, mas passaram-me um megafone e lá fui ajudando a organizar as palavras de ordem: O povo unido, jamais será vencido, 25 de Abril sempre, fascismo nunca mais, É voz, é voz, é Voz do Operário. Fui então neste grupo de muita gente, crianças e adultos, porque a minha sobrinha alfacinha de gema, a Leonor, anda nesta instituição. E até foi cantar no final, num coro muito animado, interpretando uma música dos Deolinda e o clássico do Sérgio Godinho, Maré Alta (aprende a nadar companheiro, que a liberdade está a passar por aqui), no palco montado no Rossio.
Ficam as fotos desta tarde, para memória futura:
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