aqui se narram as aventuras de um portuguesito que desde tenra idade é vítima de erros vários, mas com abertura para outros textos de reflexão e de intervenção cívica
terça-feira, abril 30, 2024
313 - OUTRA VEZ NO MALFADADO O RESIDENTE
sexta-feira, abril 26, 2024
25 DE ABRIL - SEMPRE
Passaram 50 anos da madrugada do 25 de Abril. Tinha 9 anos, quase 10. Na 4ª classe da Escola Primária do Bairro da SECIL, no Outão. Fomos para a escola como num dia normal. Antes da aula começar, já na sala de aula, um dos amigos disse-me que tinha havido uma revolução e havia alguma agitação entre as professoras. Não percebia nada do que se estava a passar e fiquei sem saber. Mas ficou marcada a alegria das pessoas, a angústia a acompanhar a rádio e televisão, já em casa, pois a meio da manhã acabaram as aulas. Só depois, uns anos mais à frente, percebi o que tinha sido a revolução. O fim de um Portugal que tinha nascido com o fim da monarquia, uma república que era um império, um império que era uma ditadura. No dia 25 de Abril a república tinha vindo para ficar, abrindo as portas à liberdade. 50 anos volvidos falta ainda a igualdade e a fraternidade, proclamadas pelos republicanos franceses, como falta em todo o lado. Mas ganhámos a terra da fraternidade, Grândola Vila Morena. Só este ano ouvi na rádio alguém referir que o Zeca Afonso usou este termo, fraternidade, porque em Grândola existia a Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense. Existia e ainda mexe, o que é importante.
Também ainda mexe é A Voz do Operário, Sociedade de Instrução e Beneficência, em Lisboa. Nasceu primeiro como um jornal, ainda no tempo da monarquia (1879). Era a voz, passada para o papel, dos operários da indústria tabaqueira, que na época empregava milhares de pessoas. Em 10 anos cresce e alarga as actividades e abre-se a outros operários. Em 1890 Fica com a denominação definitiva. Quase 20 anos depois, ainda na monarquia, é decidido pelo governo a concessão de um espaço para a construção de raiz de um edifício para escola e serviços. É o edifício histórico, cuja construção começa já no início da República mas só é terminada em 1932. 20 anos em construção, o edifício naquela rua do Bairro da Graça, que se chama a Rua da Voz do Operário.
Os meus pais eram alfacinhas de gema, e muitas vezes andei pela capital. Mas quiseram as voltas do destino que nestas comemorações do 25 de Abril eu pudesse desfilar pela avenida abaixo com A Voz do Operário (a bem dizer, acabámos por descer parcialmente pela Avenida da Liberdade - pelas laterais, parcialmente pela Rua Rodrigues Sampaio, para depois ocupar a parte central da avenida, mas abrindo o desfile e sendo o primeiro grupo organizado a chegar ao Rossio).
Não levei bandeira nem ajudei a segurar nas tarjas, mas passaram-me um megafone e lá fui ajudando a organizar as palavras de ordem: O povo unido, jamais será vencido, 25 de Abril sempre, fascismo nunca mais, É voz, é voz, é Voz do Operário. Fui então neste grupo de muita gente, crianças e adultos, porque a minha sobrinha alfacinha de gema, a Leonor, anda nesta instituição. E até foi cantar no final, num coro muito animado, interpretando uma música dos Deolinda e o clássico do Sérgio Godinho, Maré Alta (aprende a nadar companheiro, que a liberdade está a passar por aqui), no palco montado no Rossio.
Ficam as fotos desta tarde, para memória futura:
sábado, abril 20, 2024
ENORMES LUCROS DO GRUPO SONAE
Só para registar aqui a reclamação que acabei de enviar para os gestores do Cartão Universo (Cartão Continente).
"Prezados Senhores
sábado, abril 13, 2024
OPERAÇÃO LARANJOÃO - CRÓNICA LITERÁRIA 2
João pertence à espécie Homo sapiens. Homo sapiens sapiens, a única subespécie que sobreviveu. O humano actual é conhecido por parte da evolução ter tido comportamento de caçador-recolector. A sapiência a dobrar deste espécime particular, aplicou-a na caça às moscas caseiras, um conjunto mal estudado que engloba algumas espécies diferentes de insectos incomodativos e voadores. Já não há mamutes para caçar, e ele sabe que não é carnívoro, por isso caça bichinhos aperreantes. Mas também se dedica à recolha de alimentos, anda sempre à caça de fruta boa, bem madurinha, seleccionada pelos seus olhos gulosos. Gula a dobrar.
Há coincidências que nos deixam a pensar nos desígnios do destino, no acaso que constrói e destrói casos simples ou complexos. Hoje é a onomástica que traz tragédia e gula a juntarem-se num momento real.
António é do tempo em que as crianças andavam no campo a cobiçar as árvores de fruto, à espreita da época em que a fruta começava a ficar com cores de ser roubada. Era preciso ser astucioso para escapar aos tiros com sal-gema, disparados pela caçadeira defensora dos legítimos direitos do senhor proprietário. Na época, a árvore dava bom rendimento ao seu fruticultor, mas trepada e aliviada de algum peso ajudava a matar a fome à extensa trupe da miudagem. Um dos filhos de António também se chamava João, mas já foi criado num meio sub-urbano.
Nos dias de hoje os frutos dos pequenos agricultores, principalmente dos que o são sendo apenas proprietários de pequenas quintas, quintais ou terrenos encalhados de herança, não serve para a cobiça das crianças. As árvores dão generosas camadas cujo futuro mais certo é caírem ao chão. O guloso João apanha a fruta e gosta de contrariar esse futuro, tornando ameixas e laranjas em iguarias certas para certos apreciadores. Tangerinas, maçãs e nêsperas sem pesticidas, sem regas intensivas. A gravidade nestas pérolas arbóreas fica a meio caminho, quando ele as colhe e vão caindo, uma a uma, cacho a cacho, no saco dependurado.
António chamou João ao seu primeiro fruto. Uma tia logo atalhou, como uma sentença de prisão perpétua: - Os Joões são todos malucos!
Não lhe foi fácil lidar com o primeiro filho. É sempre uma aprendizagem que se faz, ao vivo e saltando barreiras. Mas quis o destino que, na sua juventude, a maluqueira lhe levasse o seu rebento para as drogas. Leves, pesadas, muitas desintoxicações, e recaídas.
Outras voltas do destino fizeram com que um destes dias primaveris, o frutósofo tivesse que se deslocar à grande cidade, para levar um equipamento de ginástica ligeirinha para casa dos cansados pais. Que são sua família. Levou o aparelho e colocou na bagagem laranjas, limões e cidreira, em folhas secas para tisanas digestivas. Uma bebida com profundas raízes familiares. Mas em ano de muitas laranjas, que são quase todos os anos, levou muitas mais para entregar em mão a uma outra pessoa.
Maria João abusa das laranjas. À dentada gulosa, em sumo a rodos, é devoradora de laranjas. É quase um vício. Uma propensão irresistível, no mínimo. Morando ali para os mesmos lados, logo o João lhe comunicou que levava uma sacada de laranjas. Se qiueria a oferta? - Claro, pá!
Mas como entregar? Maria João sempre a correr atrasada, sem tempo para estes imprevistos. Quem lhe poderia levar o divinal néctar embrulhado de cor-de-laranja? O seu lindo e generoso filho? - Não, o meu João não está cá.
E se combinassem a entrega ao seu colega de profissão, o músico João Farinha, com quem se reúne regularmente para ensaios e shows? Contactado esse outro João, nada feito, pouco prático e possivelmente um processo demorado. Ficarão as laranjas pelo caminho?
Recuando ao João do António. Grande maluco, casou, teve filhos. Mas o vício voltou, divorciou-se, só encontrou abrigo na casa dos sofredores de décadas, progenitores que nunca desistiram. Já reformado, o sempre pacato António, num dia normal, viu um futuro muito incerto entrar na sua casa. O seu filho caiu no chão. Redondo. Uma pancada fatal, desferida pelo próprio pai. Gesto desesperado, certamente, desfecho inesperado.
Voltando ao João das doces laranjas maduras. E à João, a doce diva. Foi ela própria, no seu carro familiar, buscar a saca que continha as maiores, mais sumarentas, mais melosas e aromáticas laranjas encontradas nesta safra. Enormes, gigantescas, uns laranjões dignos de registo. Largou tudo o que estava a fazer, incertamente atrasou outras coisas planeadas, mas aproveitou para passear as suas bonitas cadelas. E pôs a conversa em dia, que para estes Joões as conversas, por mais malucas que sejam, são como as cerejas. Mas, ainda assim, ficam sempre coisas para contar.
Para coroar estas andanças do destino, concluída mais uma entrega bem sucedida de laranjas, resta situar o local, ali numa rua ao acaso. E por acaso em frente ao Palácio Nacional onde nasceu el-Rei D. João VI, ali mesmo onde as árvores dos frondosos jardins viram depois nascer quase todos os seus filhos.
Fosse esta uma operação militar e o relatório vitorioso começaria assim: OPERAÇÃO LARANJOÃO.
terça-feira, abril 02, 2024
ORELHAS GRANDES (BIG EARS) - CURTA METRAGEM INGLESA - 2023
Disponível no Youtube, aqui fica então, em versão original e com legendas em inglês. São quase 13 minutos.
segunda-feira, abril 01, 2024
LARANJAS NO DIA DAS MENTIRAS
Hoje não preguei nenhuma mentira. Como tal fica aqui um registo fotográfico interessante, obtido num painel de azulejos do Palácio Nacional de Queluz. Retrata o momento em que eu ando em cima das laranjeiras, colho as laranjas e a Zé anda cá em baixo a apanhá-las e a colocá-las num cesto.
Por acaso o painel está descrito como representando a apanha das mangas, daí as vestes reduzidas.