terça-feira, abril 30, 2024

313 - OUTRA VEZ NO MALFADADO O RESIDENTE

Ou não fosse residente aqui no Malfadado, desde que o descobri a ver a RTVE no início deste ano. Esta música, 313, tem uma primeira versão publicada aqui no blogue no dia 25 de Fevereiro. E descobri agora a nova versão, que desfaz qualquer alma em lágrimas. No mês passado também houve música e video, talvez mais video e música, deste artista latino americano, que escolheu e muito bem o Museo del Prado e a Silvia Pérez Cruz para esta nova versão. E escolheu a irmã violinista da falecida amiga, aqui novamente homenageada. Fica aqui a letra completa desta espécie de fado, que nesta versão inicia apenas na 2ª estrofe (a 1º é a parte da Penélope Cruz no video inicial):

Somos como un rollito de hilo que se desamarra, que se desprende
Un cordón que se desliga para descubrir el día con los ojos despiertos
Nacemos y aprendemos a ser hijos del tiempo
Así como los caracoles aprenden a ser de las cerillas
Aprendimos a correr junto a los segundos que son interminables
Porque seguirán estando cuando no estemos
Nada se detiene
Ni la firmeza de una piedra gigante se detiene
Porque en el mundo en el que vive se mueve alrededor de ella
Y si el mundo se mueve, todos nos movemos
Por eso hay que morir para que otros nazcan
Para que nada se detenga
Para que todo siempre empiece
Pero todo lo que empieza, en algún momento deja de existir
Por eso hay que vivir sin perdernos nada
Desvelados sin pestañear
Así como las ventanas se desvelan para recibir al sol
Hasta que el corazón explote
Hasta que nos tengan que sacar de la fiesta
Hasta que se nos olvide que las cosas se acaban
Para que nunca sea siempre
Para que seamos infinitos

Quiero que tu pecho sea mi cama
Tus brazos y tus piernas sean mis ramas
La playa que se respalda con el pelo de tus olas
Con la arena de tu espalda
Y los rumbos se encaminan
En la mirada de tus ojos
Porque nunca se terminan
Los abres y me estrello
Se rompen las nubes
Se disparan los destellos
Y viajé cuando me vieron
Porque son como los cielos que se abrieron
Porque nunca están vacíos
Están llenos de corrientes como cuando se desborda el río

Eres una vez sola, te disparas como una pistola
Eres de los que se atrevieron
Como todos los labios que mis besos conocieron
Nos descubrimos como un solo de requinto
Como el sol descubre a las mañanas por instinto
Pa darle la vuelta al planeta con las estrellas cometas
Soltar los frenos de la bicicleta
Mientras el cielo se agrieta
Con su paleta de colores violetas
Coger la ola completa con todo lo que venga
Abrir la boca y que la nieve se derrita en mi lengua

Y fui lo que seré y lo que soy
Aunque no quiera los ayeres son de hoy
Fui lo que me faltó decir
Soy de los lugares
Que todavía quiero ir
Porque cada segundo es profeta
De lo que el horizonte prometa
Mejor que el tiempo nos persiga

Contigo hago lo que el momento diga
Y no quiero que se acabe
Eres tanto que no cabes
Cuando siento las tardes acercarse
Ojalá y que los finales olvidaran terminarse
Y no quiero que se acabe
Y no quiero que se acabe
Eres tanto que no cabes
Y no quiero que se acabe

No quiero que se acabe
Y eres tanto...
Que no cabes
Que no cabes
Y eres tanto que no cabes
Yo no quiero que se acabe
Y eres tanto que no cabes
Y eres tanto...
Que no cabes
Yo quiero cantar contigo

sexta-feira, abril 26, 2024

25 DE ABRIL - SEMPRE

 Passaram 50 anos da madrugada do 25 de Abril. Tinha 9 anos, quase 10. Na 4ª classe da Escola Primária do Bairro da SECIL, no Outão. Fomos para a escola como num dia normal. Antes da aula começar, já na sala de aula, um dos amigos disse-me que tinha havido uma revolução e havia alguma agitação entre as professoras. Não percebia nada do que se estava a passar e fiquei sem saber. Mas ficou marcada a alegria das pessoas, a angústia a acompanhar a rádio e televisão, já em casa, pois a meio da manhã acabaram as aulas. Só depois, uns anos mais à frente, percebi o que tinha sido a revolução. O fim de um Portugal que tinha nascido com o fim da monarquia, uma república que era um império, um império que era uma ditadura. No dia 25 de Abril a república tinha vindo para ficar, abrindo as portas à liberdade. 50 anos volvidos falta ainda a igualdade e a fraternidade, proclamadas pelos republicanos franceses, como falta em todo o lado. Mas ganhámos a terra da fraternidade, Grândola Vila Morena. Só este ano ouvi na rádio alguém referir que o Zeca Afonso usou este termo, fraternidade, porque em Grândola existia a Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense. Existia e ainda mexe, o que é importante.

Também ainda mexe é A Voz do Operário, Sociedade de Instrução e Beneficência, em Lisboa. Nasceu primeiro como um jornal, ainda no tempo da monarquia (1879). Era a voz, passada para o papel, dos operários da indústria tabaqueira, que na época empregava milhares de pessoas. Em 10 anos cresce e alarga as actividades e abre-se a outros operários. Em 1890 Fica com a denominação definitiva. Quase 20 anos depois, ainda na monarquia, é decidido pelo governo a concessão de um espaço para a construção de raiz de um edifício para escola e serviços. É o edifício histórico, cuja construção começa já no início da República mas só é terminada em 1932. 20 anos em construção, o edifício naquela rua do Bairro da Graça, que se chama a Rua da Voz do Operário.

Os meus pais eram alfacinhas de gema, e muitas vezes andei pela capital. Mas quiseram as voltas do destino que nestas comemorações do 25 de Abril eu pudesse desfilar pela avenida abaixo com A Voz do Operário (a bem dizer, acabámos por descer parcialmente pela Avenida da Liberdade - pelas laterais, parcialmente pela Rua Rodrigues Sampaio, para depois ocupar a parte central da avenida, mas abrindo o desfile e sendo o primeiro grupo organizado a chegar ao Rossio).

Não levei bandeira nem ajudei a segurar nas tarjas, mas passaram-me um megafone e lá fui ajudando a organizar as palavras de ordem: O povo unido, jamais será vencido, 25 de Abril sempre, fascismo nunca mais, É voz, é voz, é Voz do Operário. Fui então neste grupo de muita gente, crianças e adultos, porque a minha sobrinha alfacinha de gema, a Leonor, anda nesta instituição. E até foi cantar no final, num coro muito animado, interpretando uma música dos Deolinda e o clássico do Sérgio Godinho, Maré Alta (aprende a nadar companheiro, que a liberdade está a passar por aqui), no palco montado no Rossio.

Ficam as fotos desta tarde, para memória futura:




sábado, abril 20, 2024

ENORMES LUCROS DO GRUPO SONAE

Só para registar aqui a reclamação que acabei de enviar para os gestores do Cartão Universo (Cartão Continente).

"Prezados Senhores

Venho, por este meio, apresentar em conjunto uma Reclamação, um Pedido de devolução de verba indevidamente facturada e ainda uma Solicitação de reparação de cobranças abusivas.
Toda a situação é iniciada quando li um email enviado pelo Cartão Universo (noreply@universo.pt), cujo assunto desde logo chamou a minha atenção: "Está actualmente a beneficiar de condições especiais por ter o Plano de Preçário Light". Chamou a atenção porque eu sei que não beneficio de nenhuma condição especial, enquanto aderente e utilizador do Cartão Universo (cartão Continente). O email, datado de 19 de Abril, às 22 horas, não vem assinado e comunica, em apenas dois curtos parágrafos, que estou a beneficiar de um preçário mensal, que tem um custo de 4,90 euro e que, se quiser cancelar esse "benefício", tenho que ter o trabalho de entrar na minha área de cliente on line e cancelar. E foi o que fiz, mas tenho que dar sequência a esse processo, uma vez que me parece estarem reunidas as condições para vos dirigir este conjunto de três textos que exigem a vossa atenção e resposta urgente. E que passo a apresentar, devidamente numerados e identificados com maiúsculas.
1 - RECLAMAÇÃO
A minha reclamação deve-se ao facto de terem incluído as contas dos vossos clientes que nunca aderiram a nenhum preçário, e que portanto utilizam o Cartão Universo sem terem qualquer despesa associada, num preçário que consideram unilateralmente como Leve ("light", em inglês), e que faz com que os clientes do Continente passem a pagar uma mensalidade fixa. Não sei se os gestores do Cartão Universo pensam que os clientes são todos parvos, mas eu sei o que penso sobre este tipo de gestores, escusando-me de o referir aqui nesta reclamação. Mas esses mesmos senhores sabem certamente que muitos dos clientes não lêem todos os emails que recebem a cada dia, e muitos deles, mesmo que leiam, não têm a literacia em português suficiente para entender o que lá vem escrito. O facto de nunca terem contactado os clientes para perguntarem se querem aderir de livre vontade a um preçário mensal, nem comunicarem previamente, com a antecedência obrigatória, a alteração das condições contratuais é muito grave. Tal como eu, que nunca subscrevi tal plano, nem aderi de qualquer modo, imagino que fizeram o mesmo aos milhares de clientes nas mesmas condições. Virem, a posteriori, comunicar que se tem um Plano especial e vantajoso de um tarifário mensal de quase 5 euros, é revoltante e ignóbil. Devem saber também os senhores gestores, que mesmo os clientes que abrem no seu email os extractos mensais detalhados, não devem ler com toda a atenção todo o documento, principalmente a parte final. E é precisamente nessa parte final que aparece a menção a esta despesa suplementar, o que me demonstra bem e à saciedade todo o inqualificável processo de sacar uma boa renda para lucro aumentado da estrutura comercial do Cartão Universo. Se multiplicarmos este valor leve pelos 12 meses do ano, e por um número aproximado de vítimas deste esquema maquiavélico de 500 mil pessoas, facilmente os lucros têm uma subida de cerca de 25 milhões de euros. Para os gestores, comparar 25 milhões com o lucro de 2023 do Grupo Sonae de 357 milhões (resultados líquidos), é realmente um resultado leve ("light").
2 - PEDIDO DE DEVOLUÇÃO DE VERBA INDEVIDAMENTE FACTURADA
Agradeço que procedam à devolução imediata do valor indevidamente facturado no meu extracto mensal por adesão a este Plano de Tarifário ao qual nunca aderi de livre vontade, nem me foi comunicado antecipadamente por nenhum meio que me permitisse aceitar esta alteração unilateral de condições contratuais.
3 - SOLICITAÇÃO DE REPARAÇÃO DE COBRANÇAS ABUSIVAS
Agradeço que seja analisada ao mais alto nível da gestão do Grupo SONAE e das entidades bancárias associadas ao Cartão universo esta situação, e que a mesma seja reparada, revertendo todos os casos em que os clientes estão a ser lesados por estas cobranças suplementares abusivas. Solicito que considerem dedicar parte dos lucros que têm a projectos de conservação da natureza, como por exemplo os Centros de Recuperação de Animais Selvagens ou a Rede de Micro Reservas Naturais da Quercus. Seria uma forma simpática de reconhecer o trabalho desenvolvido por inúmeras pessoas que dedicam parte das suas vidas de forma voluntária a um bem comum. E de publicamente poderem pedir desculpa e promover uma melhor imagem das instituições envolvidas nestas cobranças abusivas. Apenas um milhão de euros , isso sim, uma verba levezinha, seria realmente uma ajuda transformadora para qualquer projecto de intervenção positiva na defesa do ambiente.
É quase irónico esta situação acontecer exactamente no mesmo período em que escrevi no meu blogue pessoal um grande elogio à forma como funcionam os descontos em Cartão Continente. Claro está, que me reservo o direito a copiar esta minha correspondência no mesmo blogue, ficando assim de acesso livre a toda a gente, com a garantia que depois publicarei a resposta, ou a falta dela, a estas minhas três solicitações.
Com os meus melhores cumprimentos"

Se tiver resposta, disso darei conta aqui no Malfadado. Quase a fazer os 50 anos do 25 de Abril, é incrível como certos senhores voltaram a estar na mó de cima, fazem o que lhes apetece e gozam dos benefícios da classe política, que ainda por cima é eleita pelos da mó de baixo, de forma alegre e estupidamente favorecedora desta classe de políticos que defendem a direita das negociatas e do nacionalismo anormal.

sábado, abril 13, 2024

OPERAÇÃO LARANJOÃO - CRÓNICA LITERÁRIA 2

 João pertence à espécie Homo sapiens. Homo sapiens sapiens, a única subespécie que sobreviveu. O humano actual é conhecido por parte da evolução ter tido comportamento de caçador-recolector. A sapiência a dobrar deste espécime particular, aplicou-a na caça às moscas caseiras, um conjunto mal estudado que engloba algumas espécies diferentes de insectos incomodativos e voadores. Já não há mamutes para caçar, e ele sabe que não é carnívoro, por isso caça bichinhos aperreantes. Mas também se dedica à recolha de alimentos, anda sempre à caça de fruta boa, bem madurinha, seleccionada pelos seus olhos gulosos. Gula a dobrar.

Há coincidências que nos deixam a pensar nos desígnios do destino, no acaso que constrói e destrói casos simples ou complexos. Hoje é a onomástica que traz tragédia e gula a juntarem-se num momento real.

António é do tempo em que as crianças andavam no campo a cobiçar as árvores de fruto, à espreita da época em que a fruta começava a ficar com cores de ser roubada. Era preciso ser astucioso para escapar aos tiros com sal-gema, disparados pela caçadeira defensora dos legítimos direitos do senhor proprietário. Na época, a árvore dava bom rendimento ao seu fruticultor, mas trepada e aliviada de algum peso ajudava a matar a fome à extensa trupe da miudagem. Um dos filhos de António também se chamava João, mas já foi criado num meio sub-urbano.

Nos dias de hoje os frutos dos pequenos agricultores, principalmente dos que o são sendo apenas proprietários de pequenas quintas, quintais ou terrenos encalhados de herança, não serve para a cobiça das crianças. As árvores dão generosas camadas cujo futuro mais certo é caírem ao chão. O guloso João apanha a fruta e gosta de contrariar esse futuro, tornando ameixas e laranjas em iguarias certas para certos apreciadores. Tangerinas, maçãs e nêsperas sem pesticidas, sem regas intensivas. A gravidade nestas pérolas arbóreas fica a meio caminho, quando ele as colhe e vão caindo, uma a uma, cacho a cacho, no saco dependurado.

António chamou João ao seu primeiro fruto. Uma tia logo atalhou, como uma sentença de prisão perpétua: - Os Joões são todos malucos!

Não lhe foi fácil lidar com o primeiro filho. É sempre uma aprendizagem que se faz, ao vivo e saltando barreiras. Mas quis o destino que, na sua juventude, a maluqueira lhe levasse o seu rebento para as drogas. Leves, pesadas, muitas desintoxicações, e recaídas.

Outras voltas do destino fizeram com que um destes dias primaveris, o frutósofo tivesse que se deslocar à grande cidade, para levar um equipamento de ginástica ligeirinha para casa dos cansados pais. Que são sua família. Levou o aparelho e colocou na bagagem laranjas, limões e cidreira, em folhas secas para tisanas digestivas. Uma bebida com profundas raízes familiares. Mas em ano de muitas laranjas, que são quase todos os anos, levou muitas mais para entregar em mão a uma outra pessoa.

Maria João abusa das laranjas. À dentada gulosa, em sumo a rodos, é devoradora de laranjas. É quase um vício. Uma propensão irresistível, no mínimo. Morando ali para os mesmos lados, logo o João lhe comunicou que levava uma sacada de laranjas. Se qiueria a oferta? - Claro, pá!

Mas como entregar? Maria João sempre a correr atrasada, sem tempo para estes imprevistos. Quem lhe poderia levar o divinal néctar embrulhado de cor-de-laranja? O seu lindo e generoso filho? - Não, o meu João não está cá.

E se combinassem a entrega ao seu colega de profissão, o músico João Farinha, com quem se reúne regularmente para ensaios e shows? Contactado esse outro João, nada feito, pouco prático e possivelmente um processo demorado. Ficarão as laranjas pelo caminho?

Recuando ao João do António. Grande maluco, casou, teve filhos. Mas o vício voltou, divorciou-se, só encontrou abrigo na casa dos sofredores de décadas, progenitores que nunca desistiram. Já reformado, o sempre pacato António, num dia normal, viu um futuro muito incerto entrar na sua casa. O seu filho caiu no chão. Redondo. Uma pancada fatal, desferida pelo próprio pai. Gesto desesperado, certamente, desfecho inesperado.

Voltando ao João das doces laranjas maduras. E à João, a doce diva. Foi ela própria, no seu carro familiar, buscar a saca que continha as maiores, mais sumarentas, mais melosas e aromáticas laranjas encontradas nesta safra. Enormes, gigantescas, uns laranjões dignos de registo. Largou tudo o que estava a fazer, incertamente atrasou outras coisas planeadas, mas aproveitou para passear as suas bonitas cadelas. E pôs a conversa em dia, que para estes Joões as conversas, por mais malucas que sejam, são como as cerejas. Mas, ainda assim, ficam sempre coisas para contar.

Para coroar estas andanças do destino, concluída mais uma entrega bem sucedida de laranjas, resta situar o local, ali numa rua ao acaso. E por acaso em frente ao Palácio Nacional onde nasceu el-Rei D. João VI, ali mesmo onde as árvores dos frondosos jardins viram depois nascer quase todos os seus filhos.

Fosse esta uma operação militar e o relatório vitorioso começaria assim: OPERAÇÃO LARANJOÃO.

terça-feira, abril 02, 2024

segunda-feira, abril 01, 2024

LARANJAS NO DIA DAS MENTIRAS

Hoje não preguei nenhuma mentira. Como tal fica aqui um registo fotográfico interessante, obtido num painel de azulejos do Palácio Nacional de Queluz. Retrata o momento em que eu ando em cima das laranjeiras, colho as laranjas e a Zé anda cá em baixo a apanhá-las e a colocá-las num cesto.


Por acaso o painel está descrito como representando a apanha das mangas, daí as vestes reduzidas.


Segue-se a foto da clementineira da Ereira, que este ano deu uma produção fantástica, em quantidade e em qualidade. Nem conseguimos apanhar todas, mesmo agora ainda tem muitas. Mas já não têm qualidade, vão caindo e vão sendo apanhadas para compostagem. Para o ano vai dar menos, e normalmente ficam grandes e não são tão comestíveis.