domingo, janeiro 12, 2020

SEMANA NEGRA

Foi uma semana terrível. Fica aqui o registo resumido desde o começo, no passado domingo, dia 5 de Janeiro: o pai da Zé, José Bento, continua internado nos HUC, não consegue oxigenar suficientemente o sangue após 3 semanas internado, após 2 tratamentos com dois antibióticos diferentes, e está a ficar mais e mais fraco, e cansado. O seu cachorrinho Tico aguarda a chegada do dono e sua única companhia numa casa enorme, e como tarda o regresso, e para não ficar sozinho, decidimos que o trazemos aqui para o apartamento, como já aconteceu de outras vezes. Passo lá na terrinha vindo de Coimbra, a Ereira (de Montemor-o-Velho), e trago o cachorrinho, junto com a Maisie, que também estou a tomar conta. Ao chegar ao prédio paro no 3º andar para me despedir de um vizinho que se vai ausentar, deixo os cães à vontade enquanto falo ali à porta um par de minutos, quando vou para subir até casa chamo o Tico, mas nada dele aparecer. Os vizinhos dizem-me que o viram a sair de casa deles. De facto não reparei, tão pequenino que ele é. Chamo, chamo e nada. O filhote dos vizinhos, miúdo muito esperto, espreita pelo vão das escadas e diz que o viu lá em baixo, eu espreito mas não vejo nada. E lá vai o miúdo escadas abaixo. Quando lá chega abaixo começa a subir a correr, e diz qualquer coisa e repete, mas não percebo nada do que ele diz, quando chega cá acima peço-lhe para repetir e ele diz que o Tico está lá em baixo e tem sangue na boca. Optimista como sou pensei que ele teria escorregado e estaria a sangrar da queixada, e lá me meto no elevador para o ir buscar. Dou com ele caído lá no fundo, desmaiado e com uma poça de sangue saída da boca. Ainda respira, limpo-lhe o sangue das vias respiratórias e falo com ele, mas nada de reagir. Trago-o para casa para ver se ele recupera, e ali continua desmaiado, mas a respirar. Passado mais de uma hora chega a Zé a casa vinda de estar com o pai, o bicho já acordou do desmaio, mexe todos os membros, mas não está nada bem começa a ganir e a fazer movimentos de rodar o corpo deitado, movimentos violentos. Vamos de urgência para o Hospital Veterinário de Aveiro, onde o pobre bichinho, que já conta com 11 anos de vida, é muito bem tratado e estabilizado, e nos é explicada a situação e possibilidade de recuperação. E fica lá internado. Na segunda-feira à tarde uma amiga e vizinha conta-me que a filha única do Jorge Bacelar (o veterinário fotógrafo multi premiado) e da Dora, não resistiu aos longos tratamentos a um cancro terrível e sucumbiu nessa mesma manhã. Que notícia inesperada, da última vez que tínhamos estado com eles estavam animados com o desenrolar dos tratamentos. Na terça-feira somos informados que um dos membros da direcção do Núcleo Regional de Aveiro da Quercus, e grande entusiasta e investigador/autor da herança cultural dos moínhos, está também internado em Coimbra com um problema grave, e acabo por conseguir ir visitá-lo numa das noites em que vamos visitar o pai da Zé, que piorou. Felizmente encontro o Armando bem disposto e com bom ânimo, mas estávamos longe de imaginar que a sua saúde estava tão débil. Na quinta-feira o pai da Zé não mostra sinais de recuperação e os médicos não conseguem ajudar. Voltamos a Aveiro e o Tiquito também não mostra sinais de ir recuperar das lesões internas, apesar de mostrar alguns sinais positivos, mas ainda assim fracos. Na sexta-feira de manhã vou ao Hospital Veterinário de Aveiro e faço as despedidas do Tico. E vamos para Coimbra ao fim do dia. Menos de 24 horas depois, sábado de manhã, andando a podar recebo o telefonema que não queria ouvir: "- O meu pai faleceu...". Hoje foi o funeral, na Ereira, fechando assim uma semana negra, negra. Como não gosto de funerais e de todas aquelas cerimónias religiosas, sempre fui mais de ajudar e de fazer companhia aos vivos, apenas estive presente nos momentos em que a Zé não me dispensou, precisamente pela necessidade de ajuda e companhia num momento doloroso. O resto do dia estive a fazer aquilo que tinha dito ao Sr. José Bento que ia fazer: podar-lhe as generosas árvores de fruto do seu quintal.

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