sexta-feira, fevereiro 05, 2016

NOVO ORÇAMENTO - RESSABIADOS E ESTÚPIDOS

Ele há coisas que não gosto de ouvir. As mentiras, quando expelidas por pessoas a quem dão tempo de antena, podem mesmo irritar-me. Depois de uns dias com as pessoas ligadas às negociatas de PSD e CDS andarem a assustar com o fantasma da Comissão Europeia chumbar a proposta de orçamento do governo de esquerda de António Costa, e quando já se adivinhava que o mesmo orçamento ia mesmo passar no crivo dos burocratas de direita que se sentam na Comissão, começaram as críticas, algumas com ironia, dizendo que afinal tanta coisa que a austeridade ia acabar, mas afinal vinha aí mais austeridade.
Que eu saiba o PS nunca disse que ia acabar com a austeridade, apenas disse que era contra a austeridade cega e que atacava apenas o que era público, com privatizações e negociatas sempre a favor de privados amigos. Mas pronto, afinal quem é que pode dizer que é contra a austeridade de um modo geral, no que diz respeito à gestão dos dinheiros públicos?
E de facto há uma inversão das políticas, neste novo orçamento os aumentos de impostos são apenas em certos sectores. E há quatro sectores que eu tenho mesmo que comentar aqui - bancos, gasolina, automóveis e restauração (a descida do IVA).
1 - BANCOS - Dizem os amigos do PSD/CDS, como eu ouvi uma comentadora da Antena 1, Helena Garrido (link para este comentário) que não se deve pressionar os bancos para pagarem impostos. E apesar de ser uma medida levezinha, que ainda mantém muitos dos inúmeros benefícios dos bancos, esta gentinha ainda vem para a comunicação social defendê-los. Estas palavras desta gaja, que é apresentada como especialista e cuja opinião influencia milhares de portugueses, são de antologia. Até chorei, com pena dos bancos e dos administradores e banqueiros. Depois de nós contribuintes, que somos todos, termos sido obrigados a contribuir para encher os banqueiros de dinheiro, é preciso lata para os vir defender, e defender que não se devem aplicar impostos especiais à banca. Até ouvi um outro comentador dizer que se devia era olhar para o sector da energia e deixar os bancos em paz.
2 - GASOLINA - É ouvi-los a queixarem-se, que vai ser o maior aumento dos últimos 16 anos, que com este aumento as empresas transportadores não vão aguentar, que com este aumento as pessoas vão ser muito penalizadas, que com este aumento tudo vai aumentar, porque tudo depende da gasolina e do gasóleo, que os impostos sobre os produtos petrolíferos já são bem acima dos 50% do valor de venda. Mas a questão é que estes senhores que agora se queixam, quando há uns meses atrás a gasolina e o gasóleo estavam à volta do euro e meio por litro, não andavam para aí a fazer manifestações e a falar nos meios de comunicação social, que com esses valores era impossível viver. E como ninguém se queixou, nem deixou de abastecer combustível para andar a trabalhar, mas também para muitos passeios e idas ao café, quando os combustíveis estavam mais caros do que nunca, muito mais do que nos últimos 16 anos, é fácil de perceber que quem usa automóvel pode muito bem ajudar a pagar o orçamento do estado, até porque o petróleo (os automóveis também) desequilibra a balança de pagamentos. E não me venham com essa conversa de que ao subir o gasóleo sobem todos os preços para o consumidor, porque quando o gasóleo estava proibitivo assistimos à descida de muitos preços, que dependem mais do preço das coisas nos mercados mundiais. Mesmo com mais 10 cêntimos por litro, se até ao final do ano o petróleo se mantiver baixinho (como convém para não enriquecer russos, venezuelanos, angolanos e etc), é certinho que nunca se pagariam os combustíveis tão caros como já se pagaram. E em boa verdade, este imposto suplementar pode sempre ser retirado em qualquer altura. Não nos podemos esquecer que com os combustíveis bem mais baratos, a própria colecta do IVA levou um rombo. E quem tem automóveis pode bem pagar um pouco mais.
3 - AUTOMÓVEIS - Vai subir o imposto de circulação para quem tem automóveis a andar nas estradas, e vai subir o imposto para quem quer comprar carros novos. Com a enorme oferta de carros novos e relativamente baratos que existe no mercado, quem precisar de comprar um carro novo é certo que pagará um pouco mais, mas este imposto poderá ser bem mais significativo para quem gosta de trocar de carro com frequência e gosta de carros mais caros e mais potentes. E para esses, não será por isso que deixarão de ter dinheiro para custear um carro um pouco mais caro. E para quem precisa mesmo, e tem mesmo dificuldades financeiras, há sempre a hipótese de recorrer ao enorme mercado de carros em 2ª mão. E os carros ficarem mais caros é sempre um bom incentivo para as pessoas usarem meios de deslocação mais amigos do ambiente e da sua própria saúde. Só falta mesmo é haver bons incentivos para quem compra uma bicicleta para as suas deslocações diárias. Uma boa bicicleta de cidade pode chegar a custar 250 euros, e para quem tem a sorte de ser explorado em troca de um salário mínimo e tem um agregado familiar para sustentar, ainda é um valor significativo.
4 - DESCIDA DO IVA NA RESTAURAÇÃO - Dizem os ressabiados e estúpidos, tentando semear a revolta junto dos eleitores que promoveram a esquerda no parlamento, que da descida do IVA na restauração não vai resultar nenhuma descida dos preços dos restaurantes. De facto, a descida do IVA, o mesmo IVA que foi subido pelo PSD e CDS, tem sido uma luta constante do sector da restauração. Muitos empresários não aguentaram as dificuldades dos tempos da Troika. Para estes, como para outros empresários, as ajudas às empresas bancárias foram um insulto, uma humilhação. Para estes não houve apoios do erário público, muito pelo contrário, a subida do IVA, em conjunto com a dificuldade de algumas famílias em conseguir frequentar restaurantes, foi a gota de água e morreram economicamente afogados. A grande questão da descida do IVA nunca foram os consumidores a pedirem, para terem acesso a refeições mais baratas. A descida do IVA é para resultar num maior desafogo dos empresários da restauração. E de facto há restaurantes onde 10% de descida do IVA pode ser reflectido no preço das refeições. São os restaurantes mais caros, onde o preço das refeições não tem nada a ver com os custos com matérias-primas ou com mão-de-obra. Se um prato custa entre 20 e 40 euros, bem poderiam baixar o preço do prato, entre 3 e 5 euros. Mas são precisamente estes senhores que ganham fortunas, e que andam ressabiados com a esquerda, que não vão baixar os preços dos seus menus. Ah! E há também aqueles que dizem que afinal o IVA não baixa na restauração, só na comida que aí é servida, porque as bebidas vão continuar a pagar 23%. É mais do que justo, o vinho, os refrigerantes, a cerveja não são alimentação e há gente que gosta mesmo de abusar das bebidas, e é precisamente nas bebidas onde os restaurantes obtêm as maiores margens, pelo que é justo que quem bebe, e gosta de bebidas caras, ajude a pagar a factura da má gestão das finanças públicas das décadas passadas. E há que ver que são precisamente as pessoas desta classe, que gostam de vinhos caros nos restaurantes, que andam mais ressabiados.
Por mais que tentem fazer das pessoas estúpidas, fiquem a saber que aqui para os meus lados a coisa não pega.
Aqui para os meus lados não há nenhuma subida de impostos, aqui para os meus lados ninguém dá com uma mão e tira com outra, neste caso dá a uns e vai buscar o que é justo a outros. No geral vamos ver os resultados, mas parece-me que aqueles (muitos) que vivem com mais dificuldades vão ficar mais desafogados, e que aqueles (poucos) que vivem acima das suas possibilidades, vão finalmente começar a ajudar a pagar a crise, muito pouco, mas já é um início!

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