quinta-feira, julho 30, 2015

MANTER UM BLOGUE É MAIS DIFÍCIL DO QUE MANTER UM BLOG?

De facto, isto de escrever as palavras em bom português, e gostar de o fazer, leva sempre mais tempo do que simplesmente botar coisas (postar num blogue, às vezes é mesmo bostar umas coisas). Muitas vezes ponho umas coisas que merecem uma reflexão aqui ao lado do computador, mas como leva algum tempo a escrever aqui vão ficando. E como ando a arrumar papeladas, para as colocar para reciclar, eis que desenterrei uma revista do Expresso  (18 de Abril de 2014) com uma entrevista ao Alex Atala (link para a sua biografia na Wikipedia - clicar aqui), com uma citação sua para abrir o apetite para a leitura da mesma conversa em São Paulo com a jornalista Maria da Paz: "Teria vergonha de cobrar os meus preços por um peixe grelhado".
É uma entrevista que aconselho e as minhas reflexões seriam sobre estas questões importantes da sustentabilidade e da versatilidade dos produtos alimentares locais, frutos, ervas, etc, que podem ser incorporados na culinária. Este homem que já numa fase adiantada da sua vida se virou para a culinária é de uma geração em que a questão ambiental é muito importante (não é para todos os da sua geração, mas é verdade que já tocou a muitos) e isso transparece na sua entrevista. O Alex Atala é um dos fundadores do Instituto Atá, criado para promover e defender a biodiversidade brasileira. Perguntado sobre se a ideia do Instituto é criar um Ciclo de Sustentabilidade ele responde: "- A gente não usa mais a palavra sustentabilidade. Pessoas e empresas, atualmente, usam essa palavra para nomear ações que fazem com o mesmo prazer com que vou ao dentista. É uma coisa carregada de culpa, não tem prazer, não é cool. A gente precisa ressignificar essa palavra. Acho que a comida pode ajudar nisso. Porquê? Porque comida é prazer, é sexy, é uma onda. As pessoas precisam entender que pequenas atitudes tomadas por todos são poderosas. Precisamos reentender essa relação do Homem com o meio ambiente e com o seu alimento".
Este grande cozinheiro de nível mundial usa montes de produtos tradicionais, e cobra um dinheirão (sim, preços que só alguns podem pagar... mas de facto pagam!!!) pelos seus pratos gourmet. Usa insectos brasileiros nalguns dos seus pratos, o que transforma a sua comida gourmet em algo ainda mais exótico. Em 2013 num evento do MAD Symposium - Dinamarca (link para um texto roubado ao blogue Mesa Marcada, sobre a edição desse ano e que quase no final menciona o que vou escrever a seguir) degolou uma galinha, não como uma provocação: " - ...foi um ponto de reflexão. A minha avó e a sua avó matavam galinhas, isso não nos parecia cruel. Cruel não é matar, é não respeitar." E acrescenta mais adiante na entrevista, comentando o facto de haver animais criados em jaulas, sem se poderem mexer: "- Tem muito pior. Mas um porco não dói na minha consciência, o que dói são hectares de floresta sendo derrubada para produzir comida. Para produzir essa comida são colocadas toneladas de agrotóxicos, pesticidas. Em algumas cidades na divisa de São Paulo com Mato Grosso já há índices de cancro, cegueira e doenças respiratórias como nunca existiram em nenhuma época no Brasil. Qual é essa região? Uma das maiores produtoras de soja. Vamos falar sério, o que te dói mais: o porquinho que não vira de lado ou crianças nascendo doentes e condenadas para todo o sempre a viverem assim?"
E pronto, como o tempo é pouco deixo as minhas reflexões para outro dia... para já fica aqui a menção a este cozinheiro, à entrevista e excertos da mesma.

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