Sou um cidadão comum, num país comum, igual a tantos outros.
Hoje somos todos vítimas do sistema! A crise económica já não é só notícia de
uma coisa num país distante. O desequilíbrio ambiental sente-se no ar que
respiramos. Mas será que 2013 traz uma nova esperança? De quê?
São pelo menos 2012 anos em que o sistema é sempre o mesmo,
uma minoria governa sobre uma maioria, os poderosos exploram os outros com base
no medo imposto. Já houve revoluções em que o povo, a maioria, conseguiu
impor-se às minorias. Mas o que acontece depois? Instala-se um sistema que pelo
medo se impõe e explora os outros. Os poderosos voltam a ser os mesmos, ainda
que haja novas vagas de pretendentes a poderosos.
2012 anos em que já passámos pelas invasões em que povos
eram chacinados e escravizados, passámos pelo obscurantismo religioso, passámos
pela inquisição mas de que ainda hoje há exemplos em várias zonas do mundo,
passámos pela escravização de povos afastando-os das suas terras e gentes,
passámos pela extinção de povos invadidos, mas nem isso acabou por completo, o
genocídio continua nalguns países. Passámos pelo genocídio em massa mais frio e
calculista, em países democráticos e republicanos, o Holocausto . Mas será que
isso é tudo passado? Será que estamos tão longe disto tudo? De tudo o que no
fundo representa a nossa cultura humana baseada na exploração?
Hoje temos a internet, que muito pode fazer pela realidade
de uma aldeia global. Mas temos pessoas que acreditam que as guerras lá longe,
com chacinas iguais às de séculos atrás, nada têm a ver connosco. Todos
conhecemos o ditado: dividir para reinar. Mas muito poucos são os que entendem
como este dividir serve bem os regimes
de exploração. Estou em Portugal e já todos sabemos: em termos de crise dos
bancos Portugal não é a Grécia. Em Espanha todos dizem: em termos de crise dos
bancos Espanha não é Portugal. E por aí fora… Mas nenhum político diz que em
termos de exploração somos todos iguais, e que com crise, ou sem ela, todos
caminhamos para um sistema em que temos que servir os mais poderosos. Os mesmos
de sempre.
Os bancos têm sempre tudo, um poder económico que controla
tudo desde há muitos anos. Os bancos têm dinheiro, os bancos têm empresas, os
bancos têm terras, os bancos têm casas, os bancos até têm os políticos, os
mesmos que o povo escolhe, ou nem por isso. Quando há bancos que estão prestes
a falir, porque geriram mal o seu negócio, logo os políticos arranjam maneira
de explorar as pessoas para dar dinheiro aos bancos. Os bancos não são só
estruturas, eles têm por trás pessoas que ganham fortunas com os negócios, e
que são protegidos pelo sistema. Essas pessoas por trás dos bancos impõem o
medo.
Em Portugal houve uma revolução, o povo saiu à rua. Mas as
mais variadas conquistas sociais estão hoje, 40 anos depois, completamente
devassadas. Desde há alguns anos que o bem público deixou de ser importante.
Importante é o tecido empresarial, importante é o sistema financeiro, cada vez
mais privado, a deixar o poder de lucrar sem controlo algum. Em nome do
desenvolvimento estraga-se o património ambiental, que é de todos. Estragam-se
bens comuns como a atmosfera e a água, dos rios aos oceanos, numa escala global
em que os mais fracos já sofrem os efeitos. Mas logo vem essa ideia de que é
longe, são “outros”, e a culpa não é nossa.
O povo, a maioria, os 99% da população que vive em
democracia, devem mostrar ao mundo que este sistema pode funcionar. Mas para
isso têm que fazer alguma coisa. No Brasil a democracia funciona, mas no Brasil
assiste-se ao genocídio diário do povo. “São índios”, dizem, mas é o povo a ser
chacinado. Quem votou para que assim fosse, quem votou a favor do genocídio? No
máximo 1% defende um genocídio, porque isso lhes dá poder. Todos os outros são
contra. Mas as coisas acabam por acontecer.
Em Portugal era bem bom que as pessoas acordassem para a
participação cívica. Mas não há essa tradição, a participação cívica resume-se
praticamente às coisas folclóricas e à caridadezinha. A minha esperança para
2013 está em Espanha, onde existe uma outra consciência política, ainda que em
termos eleitorais as coisas acabem por ser sempre mais do mesmo, o sistema está
preparado para isso. Mas temos a Catalunha, onde até apareceu um partido do
voto em branco, para dar expressão a todas as pessoas que não concordam com
nenhum dos partidos e querem ver isso nos parlamentos, com cadeiras vazias. Mas
também para que as verbas que os partidos recebem em cada eleição sejam
diminuídas. Alguma coisa se poderá fazer para mudar o sistema, alguma coisa
melhor do que ficar em casa a dizer-se que se é contra o sistema, pois é exatamente disso que o sistema precisa para se eternizar!
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