aqui se narram as aventuras de um portuguesito que desde tenra idade é vítima de erros vários, mas com abertura para outros textos de reflexão e de intervenção cívica
sexta-feira, setembro 30, 2011
MASSA CRÍTICA EM AVEIRO
Ao fim da tarde, em Aveiro, nas últimas sextas-feiras de cada mês. Tal como em outras cidades, a malta sai à rua. Foi tirada hoje esta foto!
quinta-feira, setembro 29, 2011
MAFALDA A CONTESTATÁRIA - 47 ANOS
Hoje mesmo faz 47 anos, a minha modesta idade, que a Mafalda foi publicada a primeira vez na Argentina, a primeira tira de ironia inteligente. Uma boa oferta para quem tem filhos, melhor que plei ceteishan e outras que tais. O nosso filho argentino já não precisa (foi ele que me disse que era o aniversário da Mafalda), mas se alguém me quiser oferecer uma viagem a Buenos Aires eu quero muito ir tirar uma foto ao lado desta minha irmã.
terça-feira, setembro 27, 2011
GNR EM ALTA - LIMPEZAS DE TERRENOS
A minha família, da parte da minha mãe (ver texto deste mês sobre árvore genealógica) é vendedora de propriedades em Vila Verde, freguesia de Tourais, concelho de Seia (pegadinho a Paranhos da Beira, entre Seia e Nelas), distrito da Guarda, mas do outro lado da Serra da Estrela.
Para além das propriedades rústicas tem também umas propriedades urbanas, com casas em pedra de granito que estão em ruína ou a caminho disso, dentro do limite urbano de Vila Verde. Como sou eu que faço a manutenção de um pinhal da minha mãe, passo ali junto das casas com alguma frequência e vou observando como as coisas estão. As silvas tomaram conta das ruínas nas zonas em que não há árvores. Já na zona do arvoredo (oliveiras, figueiras e dois loendros enormes, com mais de 70 anos) as silvas têm muita dificuldade em se estabelecerem, principalmente por causa da sombra.
Ora este ano de 2011, os herdeiros são contactados pela GNR para se fazer uma "limpeza do terreno" por causa da propagação dos fogos florestais. Acontece que este terreno está situado na zona urbana da aldeia, não confina com nenhum espaço florestal, apenas com terrenos agrícolas que nem sequer têm nada que arda, pelo que estranhei a aplicação da legislação florestal, ainda para mais quando falamos de zonas de jardim e de quintal que circundam as casas, e não de uma zona de produção florestal ou agrícola, e quando estas zonas verdes não estão encostadas a nenhuma outra habitação da povoação. Ofícios para e do Gabinete Florestal da Câmara Municipal de Seia, para esclarecer a situação, mas ao mesmo tempo faço uma queixa ao Comando da GNR, protestando pelo facto de estarem a aplicar a legislação florestal naquele espaço urbano. Desta queixa recebo uma resposta muito bem elaborada, que posso enviar a quem me pedir e que me deixou satisfeito de duas maneiras: primeiro porque me esclareceram que foi a própria Câmara Municipal a definir o zonamento florestal e que a GNR apenas seguiu essas indicações, estando eu errado nas minhas críticas, e em segundo porque a resposta além de esclarecedora estava muito bem redigida e mostra que existiu uma preocupação real com a situação.
Tenho que admitir que eu fiquei mal na fotografia, mas de facto desconhecia certas coisas. Já a GNR ficou muito bem na fotografia e aqui estou a divulgá-lo publicamente, porque merecem.
Para além das propriedades rústicas tem também umas propriedades urbanas, com casas em pedra de granito que estão em ruína ou a caminho disso, dentro do limite urbano de Vila Verde. Como sou eu que faço a manutenção de um pinhal da minha mãe, passo ali junto das casas com alguma frequência e vou observando como as coisas estão. As silvas tomaram conta das ruínas nas zonas em que não há árvores. Já na zona do arvoredo (oliveiras, figueiras e dois loendros enormes, com mais de 70 anos) as silvas têm muita dificuldade em se estabelecerem, principalmente por causa da sombra.
Ora este ano de 2011, os herdeiros são contactados pela GNR para se fazer uma "limpeza do terreno" por causa da propagação dos fogos florestais. Acontece que este terreno está situado na zona urbana da aldeia, não confina com nenhum espaço florestal, apenas com terrenos agrícolas que nem sequer têm nada que arda, pelo que estranhei a aplicação da legislação florestal, ainda para mais quando falamos de zonas de jardim e de quintal que circundam as casas, e não de uma zona de produção florestal ou agrícola, e quando estas zonas verdes não estão encostadas a nenhuma outra habitação da povoação. Ofícios para e do Gabinete Florestal da Câmara Municipal de Seia, para esclarecer a situação, mas ao mesmo tempo faço uma queixa ao Comando da GNR, protestando pelo facto de estarem a aplicar a legislação florestal naquele espaço urbano. Desta queixa recebo uma resposta muito bem elaborada, que posso enviar a quem me pedir e que me deixou satisfeito de duas maneiras: primeiro porque me esclareceram que foi a própria Câmara Municipal a definir o zonamento florestal e que a GNR apenas seguiu essas indicações, estando eu errado nas minhas críticas, e em segundo porque a resposta além de esclarecedora estava muito bem redigida e mostra que existiu uma preocupação real com a situação.
Tenho que admitir que eu fiquei mal na fotografia, mas de facto desconhecia certas coisas. Já a GNR ficou muito bem na fotografia e aqui estou a divulgá-lo publicamente, porque merecem.
segunda-feira, setembro 26, 2011
MOVING PLANET
Foi no dia 24 de Setembro, já passou...
Não participei por estar na comemoração, mas em solidariedade e com uma pontinha de inveja de quem participou, aqui deixo o filme oficial dos acontecimentos.
Infelizmente, para o ano haverá mais!!!!
domingo, setembro 25, 2011
50 ANOS CASADOS
O aniversário do casamento propriamente dito é só daqui a 3 dias, mas na sexta-feira, dia 23, deu-se início ao ano de comemoração dos 50 anos de casados deste simpático duo que aparece na foto (são os meus pais, com a participação especial do neto que ainda usa fraldas, e que nem passou ainda por nenhum aniversário).
O meu irmão mais novo lembrou-se de fazer uma grande festa juntando muita gente, mas foi um pouco em cima da hora e afinal não apareceu assim tanta gente, mas sempre se juntaram 14 alminhas numa quinta perto da Guarda (link para Quinta do Seixo - Turismo de Natureza).
Os presentes encheram uma casa e ainda se usou um quarto da casa principal da quinta, e para ver TV ainda experimentámos uma casinha mais pequena mas também muito bem arranjada, a Casa da Carriça (por acaso observei na quinta uma carriça, simpática ave irrequieta). Dividimos as despesas com a estadia e alimentação pelos 5 casais não aniversariantes (o meu tio deixou a minha tia a tomar conta de obras no Algarve, mas ofereceu-se para pagar como casal) e oferecemos a estadia com pensão completa aos aniversariantes. E ficou relativamente barato, como é fácil de imaginar. Eu levei a mala das facas e o robôt de cozinha e lá cozinhámos um dos dias, porque houve quem levasse coisas já feitas de casa, também muito boas.
Foi um bom convívio, com passeios pedestres e jogos. E pratiquei o meu desporto favorito, já tinha saudades de muito mosquedo dentro de casa!
O meu irmão mais novo lembrou-se de fazer uma grande festa juntando muita gente, mas foi um pouco em cima da hora e afinal não apareceu assim tanta gente, mas sempre se juntaram 14 alminhas numa quinta perto da Guarda (link para Quinta do Seixo - Turismo de Natureza).
Os presentes encheram uma casa e ainda se usou um quarto da casa principal da quinta, e para ver TV ainda experimentámos uma casinha mais pequena mas também muito bem arranjada, a Casa da Carriça (por acaso observei na quinta uma carriça, simpática ave irrequieta). Dividimos as despesas com a estadia e alimentação pelos 5 casais não aniversariantes (o meu tio deixou a minha tia a tomar conta de obras no Algarve, mas ofereceu-se para pagar como casal) e oferecemos a estadia com pensão completa aos aniversariantes. E ficou relativamente barato, como é fácil de imaginar. Eu levei a mala das facas e o robôt de cozinha e lá cozinhámos um dos dias, porque houve quem levasse coisas já feitas de casa, também muito boas.
Foi um bom convívio, com passeios pedestres e jogos. E pratiquei o meu desporto favorito, já tinha saudades de muito mosquedo dentro de casa!
sábado, setembro 24, 2011
ÁRVORE GENEALÓGICA
Um destes dias, na Ereira, e falando de familiares que já cá não estão, e estando presente a sobrinha mais nova da Zé, a Ema, lembrámo-nos de fazer a árvore genealógica. Chegando a Coimbra e falando com os meus pais, a minha mãe lembrou que tinha muitos elementos escritos e lá arranjei um tempinho a um tranquilo serão para fazer a árvore genealógica dos meus sobrinhos mais novos, pelo lado do pai, e da minha sobrinha, pelo lado da mãe, juntando os elementos escritos com a recolha oral junto dos meus pais.
Esta árvore genealógica concluiu que a família Pedrosa que eles carregam no seu último apelido, por volta de 1820 teve origem em famílias com os seguintes apelidos: Gomes, Nunes (que por volta de 1860 estavam na Aldeia da Ribeira - perto da fronteira com Espanha, concelho do Sabugal), Pedrosa da Agostinha, Duarte (que por volta de 1830 estavam em Coimbrão, concelho de Leiria), Rodrigues, Costa, Barroso, Pereira, Rocha (estes não apurei a origem...), Figueiredo, Almeida, Abrantes, Pinto, Ferreira, Tinta Fina, Almeida (que por volta de 1820 estavam em Vila Verde, concelho de Seia).
Com a confusão de apelidos de antigamente, em que uns filhos tinham uns apelidos, outros tinham outros diferentes, a verdade é que na geração dos meus pais, anos 1930, os apelidos eram Rodrigues Gomes Pedrosa de um lado e Pinto Figueiredo do outro.
Neste momento, os meus sobrinhos que continuam a saga familiar que começou no Sabugal, Leiria e Vila Verde estão em Coimbra e em Zagreb.
Haja alguém para dar raízes a esta árvore, pela minha parte foi como se a raíz embatesse num rochedo do granito de Vila Verde.
Esta árvore genealógica concluiu que a família Pedrosa que eles carregam no seu último apelido, por volta de 1820 teve origem em famílias com os seguintes apelidos: Gomes, Nunes (que por volta de 1860 estavam na Aldeia da Ribeira - perto da fronteira com Espanha, concelho do Sabugal), Pedrosa da Agostinha, Duarte (que por volta de 1830 estavam em Coimbrão, concelho de Leiria), Rodrigues, Costa, Barroso, Pereira, Rocha (estes não apurei a origem...), Figueiredo, Almeida, Abrantes, Pinto, Ferreira, Tinta Fina, Almeida (que por volta de 1820 estavam em Vila Verde, concelho de Seia).
Com a confusão de apelidos de antigamente, em que uns filhos tinham uns apelidos, outros tinham outros diferentes, a verdade é que na geração dos meus pais, anos 1930, os apelidos eram Rodrigues Gomes Pedrosa de um lado e Pinto Figueiredo do outro.
Neste momento, os meus sobrinhos que continuam a saga familiar que começou no Sabugal, Leiria e Vila Verde estão em Coimbra e em Zagreb.
Haja alguém para dar raízes a esta árvore, pela minha parte foi como se a raíz embatesse num rochedo do granito de Vila Verde.
sexta-feira, setembro 23, 2011
7, 8 E 9 DE OUTUBRO
Isto é no Porto, mas no dia 8 temos também mais um dia de voluntariado no Cabeço Santo (toda a reportagem da última jornada com as nossas fotos, basta clicar aqui neste link para o blogue do Projecto)
domingo, setembro 11, 2011
CHEGOU O RAMIRO
Hoje mesmo chegou a Coimbra-B, onde o aguardávamos, o jovem estudante argentino que vamos acolher em Vagos nos próximos tempos, como família de boas-vindas, nos programas de voluntariado intercultural da AFS - Intercultura. Uma experiência nova!!!
Logo no dia da chegada, antes de seguirmos para Vagos, um concerto da Maria João com a Orquestra de Jazz de Matosinhos, numa noite muito agradável em Montemor-o-Velho. Tenho que fazer mais docinho de tomate verde, dei à Maria João o último frasco! Já tenho alguns tomates congelados, depois é mais fácil tirar a pele!
Logo no dia da chegada, antes de seguirmos para Vagos, um concerto da Maria João com a Orquestra de Jazz de Matosinhos, numa noite muito agradável em Montemor-o-Velho. Tenho que fazer mais docinho de tomate verde, dei à Maria João o último frasco! Já tenho alguns tomates congelados, depois é mais fácil tirar a pele!
terça-feira, setembro 06, 2011
PARABÉNS AO PROJETO CABEÇO SANTO
Vejam estas fotos e animem-se para lá ir no próximo dia 17, eu vou lá estar!
Sugestão de visualização: tela cheia + Mostrar informações
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sábado, setembro 03, 2011
PARABÉNS A GALEANO
Eduardo Galeano faz hoje 71 anos, "As Veias Abertas da América Latina" fazem 40 anos
Retirado de "Rede Brasil Atual" - No dia 18 de abril de 2009, o presidente Hugo Chávez presenteou seu colega americano, Barack Obama, com o livro As Veias Abertas da América Latina, clássico ensaio do escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano. O exemplar estaria autografado pelo autor.
O livro fala basicamente sobre o saque dos recursos naturais sofrido pelo continente latino-americano do século XV até o fim do século XX e é citado frequentemente por Chávez. Tendo iniciado o dia 18 na 54.295ª posição entre os livros mais vendidos da megavendedora de livros Amazon, o livro amanheceu o dia 19 em 2º lugar. Atualmente, a avaliação dos leitores da Amazon demonstra uma curiosidade. Dos163 leitores que escreveram resenhas a respeito da obra, 86 dão-lhe nota 5, a máxima, enquanto 50 dão-lhe a nota mínima, 1. Dos 163, somente 27 não lhe dão as notas extremas.
Tais avaliações não chegam a ser surpreendentes. Afinal, As Veias Abertas não parece prestar-se a opiniões desapaixonadas. A direita costuma chamá-lo de um "anacrônico clássico da literatura esquerdista do continente", o qual questiona o imperialismo americano e europeu na região. Já a esquerda:
"Depois do golpe de 1973 não pude levar muita coisa comigo: algumas roupas, fotos da família, um saquinho com barro do meu jardim e dois livros: uma velha edição de Odes, de Pablo Neruda, e o livro de capa amarela, As Veias Abertas da América Latina", conta Isabel Allende no prefácio da edição chilena
Neste sábado (3), Galeano completa 71 anos, enquanto sua principal obra -- escrita anos antes, mas publicada em 1971 -- completa 40.
Eduardo Galeano nasceu em Montevidéu em 3 de setembro de 1940. Começou sua carreira de jornalista no início dos anos 60, como editor do "Marcha", um influente jornal semanal que tinha como colaboradores Mario Benedetti, Mario Vargas Llosa, Manuel Maldonado e Denis Fernández Retamar.
Durante o golpe de 27 de junho de 1973, Galeano foi preso e forçado a deixar o Uruguai. Foi para a Argentina, onde fundou a revista cultural "Crisis". Em 1976, após seu livro As Veias Abertas da América Latina ser censurado pelos governos militares de Uruguai, Argentina e Chile, teve seu nome colocado na lista dos esquadrões da morte de Videla e, temendo por sua vida, exilou-se na Espanha, onde deu início à trilogia Memória do Fogo.
No início de 1985, retornou a Montevidéu. Em outubro do mesmo ano, juntamente com Mario Benedetti, Hugo Alfaro e outros jornalistas e escritores que haviam pertencido ao semanário "Marcha", fundou o semanário "Brecha", no qual segue até hoje como membro do Conselho Consultivo. Em 2010, Brecha instituiu o prêmio Memória do Fogo, entregue anualmente a um artista a cujos talentos se somem à luta pelos direitos humanos e sociais. O primeiro vencedor foi o cantor catalão Joan Manuel Serrat, que o recebeu a 16 de dezembro de 2010 no Teatro Solís em Montevidéu.
Escritos que combinam ficção, jornalismo, análise política e história
Galeano tem mais de 30 livros publicados e, se pudéssemos caracterizá-los através de uma frase, talvez desta devesse constar o convite que o autor nos faz para olhar simultaneamente o passado e o futuro. Suas obras também buscam estabelecer uma frente comum contra a miséria moral e material do continente. Há um risco demagógico e piegas neste tipo de proposta, mas Galeano salva-se disto com um texto limpo e objetivo, às vezes duro. Com o tempo, amenizou seu estilo, chegando com naturalidade à prosa poética e mesmo à poesia. Seu projeto de refletir o drama da América Latina é abertamente de esquerda e, ao longo dos anos, o autor manteve um compromisso contínuo com suas ideias, rejeitando uma existência sem utopias.
Seus escritos combinam ficção, jornalismo, análise política e história. Ao lado de As Veias Abertas da América Latina, talvez seus livros mais importantes sejam a trilogia Memória do Fogo, dividida em Os Nascimentos (1982), As Caras e a Máscaras (1984) e O Século do Vento (1986). Trata-se de uma ousada e inclassificável mistura de gêneros unidas por onipresente espírito crítico. Os personagens são generais, artistas, revolucionários e operários, os quais são retratados em pequenos episódios que começam nos mitos dos povos pré-colombianos chegando até a década de 80 do século XX.
...
No ano passado, a L&PM lançou uma nova tradução de As Veias Abertas da América Latina. O tradutor, a pedido do próprio autor, foi Sergio Faraco. "Fiz a tradução a pedido de Galeano e acompanhado por ele. Enviava diariamente e-mails com minhas dúvidas, os quais eram respondidos imediatamente. Demorei 3 meses para terminar as quase 400 páginas. A maior dificuldade não foi o texto original, foi a comparação com a outra tradução brasileira, de Galeno de Freitas, muito boa, feita em 1971. Era inevitável, acho que tudo ficou muito parecido", conta Faraco.
Galeano elogiou a nova tradução, que teria ficado superior ao original em espanhol. "Minha obra hoje soa melhor em português", disse, referindo-se ao fato de ter não apenas Faraco como tradutor de sua obra, mas também Eric Nepomuceno. Só aqui no Brasil já saíram 52 edições do livro. Faraco completa: "As Veias Abertas é um ensaio com altíssimo grau de informação. É inacreditável que ele tenha feito aquela imensa pesquisa histórica e escrito o livro na idade de aproximadamente 30 anos. O livro retrata uma realidade vergonhosa de surpreendente atualidade em nossos dias, pois nossa miséria e dependência permanecem. É curioso que alguns chamam o livro de anacrônico. Apesar de ter sido escrito há 40 anos, ele não tem nada de anacrônico, até porque revela de forma brilhante uma realidade incontestável - a realidade histórica".
O professor do Instituto de Biociências da UFRGS, Paulo Brack, em entrevista à Rádio da UFRGS, rebate enfaticamente as acusações de anacronismo. "Vejam, por exemplo, a questão de Belo Monte. Ela confrontou o Brasil e a Comissão de Direitos Humanos da OEA, que questionou o tratamento que o governo brasileiro está dando ao problema. Também a aprovação do novo Código Florestal na Câmara demonstra a vitória de um sistema que há séculos está enraizado no país. O Código Florestal anterior era uma das legislações mais avançadas do mundo. Agora foi alterada em favor do agronegócio, cujo sistema de produção teve origem nos grandes latifúndios. Ou seja, muita coisa que Galeano fala em seu livro está ainda atual. Apenas mudou a cara de quem faz. Antes, havia a presença militar, agora não mais".
Em As Veias Abertas, Galeano apresenta uma análise histórica sobre formação da América Latina desde sua ocupação pelos europeus até os dias de hoje, fundando sua crítica na espoliação econômica, na dilapidação dos recursos naturais do continente e na dominação política, primeiro pela Europa e depois pelos Estados Unidos. A professora de Geografia Ilana Freitas faz uma curiosa constatação. "Durante a ditadura, As Veias Abertas era muito usado por professores de segundo grau de História e Geografia. Eram pessoas que, de forma muito corajosa, preocupavam-se em marcar uma posição de esquerda ou de crítica à ditadura".
Sem ser hostil, o jornalista e escritor Juremir Machado da Silva, também em entrevista à Rádio da UFRGS, faz ressalvas ao livro. "Galeano defendia que o fim da dependência da América Latina deveria ser baseado na implantação de modos de produção. O livro indica que a solução para a dependência latino-americana seria o socialismo. Este aspecto implícito ou explícito do livro, caducou". Porém, Juremir concorda com Galeano no cerne: "É claro que o Brasil é um vendedor de commodities. Ou seja, vende matéria-prima barata e compra de volta o produto pronto daqueles países que agregam valor a eles. Vende para recomprar a preço maior o produto beneficiado. É uma questão não só de tecnologia, de capital, mas de mentalidade. Hoje, nada nos impede de mudar esta situação, só o fato de existir uma elite que está satisfeita como vendedora de commodities e que não deseja outro tipo de organização sócio-econômica".
Atualmente, passados 40 anos, talvez a crítica que se possa fazer a Galeano seja a do tom indignado da narrativa, porém isto não anula ou diminui os fatos descritos e não retifica a história, pois é difícil negar que as colônias e nações latino-americanas têm sido, desde o início do século XVI, especialistas em prover o desenvolvimento das economias europeia e norte-americana, com seu consequente fortalecimento político.
Retirado de "Rede Brasil Atual" - No dia 18 de abril de 2009, o presidente Hugo Chávez presenteou seu colega americano, Barack Obama, com o livro As Veias Abertas da América Latina, clássico ensaio do escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano. O exemplar estaria autografado pelo autor.
O livro fala basicamente sobre o saque dos recursos naturais sofrido pelo continente latino-americano do século XV até o fim do século XX e é citado frequentemente por Chávez. Tendo iniciado o dia 18 na 54.295ª posição entre os livros mais vendidos da megavendedora de livros Amazon, o livro amanheceu o dia 19 em 2º lugar. Atualmente, a avaliação dos leitores da Amazon demonstra uma curiosidade. Dos163 leitores que escreveram resenhas a respeito da obra, 86 dão-lhe nota 5, a máxima, enquanto 50 dão-lhe a nota mínima, 1. Dos 163, somente 27 não lhe dão as notas extremas.
Tais avaliações não chegam a ser surpreendentes. Afinal, As Veias Abertas não parece prestar-se a opiniões desapaixonadas. A direita costuma chamá-lo de um "anacrônico clássico da literatura esquerdista do continente", o qual questiona o imperialismo americano e europeu na região. Já a esquerda:
"Depois do golpe de 1973 não pude levar muita coisa comigo: algumas roupas, fotos da família, um saquinho com barro do meu jardim e dois livros: uma velha edição de Odes, de Pablo Neruda, e o livro de capa amarela, As Veias Abertas da América Latina", conta Isabel Allende no prefácio da edição chilena
Neste sábado (3), Galeano completa 71 anos, enquanto sua principal obra -- escrita anos antes, mas publicada em 1971 -- completa 40.
Eduardo Galeano nasceu em Montevidéu em 3 de setembro de 1940. Começou sua carreira de jornalista no início dos anos 60, como editor do "Marcha", um influente jornal semanal que tinha como colaboradores Mario Benedetti, Mario Vargas Llosa, Manuel Maldonado e Denis Fernández Retamar.
Durante o golpe de 27 de junho de 1973, Galeano foi preso e forçado a deixar o Uruguai. Foi para a Argentina, onde fundou a revista cultural "Crisis". Em 1976, após seu livro As Veias Abertas da América Latina ser censurado pelos governos militares de Uruguai, Argentina e Chile, teve seu nome colocado na lista dos esquadrões da morte de Videla e, temendo por sua vida, exilou-se na Espanha, onde deu início à trilogia Memória do Fogo.
No início de 1985, retornou a Montevidéu. Em outubro do mesmo ano, juntamente com Mario Benedetti, Hugo Alfaro e outros jornalistas e escritores que haviam pertencido ao semanário "Marcha", fundou o semanário "Brecha", no qual segue até hoje como membro do Conselho Consultivo. Em 2010, Brecha instituiu o prêmio Memória do Fogo, entregue anualmente a um artista a cujos talentos se somem à luta pelos direitos humanos e sociais. O primeiro vencedor foi o cantor catalão Joan Manuel Serrat, que o recebeu a 16 de dezembro de 2010 no Teatro Solís em Montevidéu.
Escritos que combinam ficção, jornalismo, análise política e história
Galeano tem mais de 30 livros publicados e, se pudéssemos caracterizá-los através de uma frase, talvez desta devesse constar o convite que o autor nos faz para olhar simultaneamente o passado e o futuro. Suas obras também buscam estabelecer uma frente comum contra a miséria moral e material do continente. Há um risco demagógico e piegas neste tipo de proposta, mas Galeano salva-se disto com um texto limpo e objetivo, às vezes duro. Com o tempo, amenizou seu estilo, chegando com naturalidade à prosa poética e mesmo à poesia. Seu projeto de refletir o drama da América Latina é abertamente de esquerda e, ao longo dos anos, o autor manteve um compromisso contínuo com suas ideias, rejeitando uma existência sem utopias.
Seus escritos combinam ficção, jornalismo, análise política e história. Ao lado de As Veias Abertas da América Latina, talvez seus livros mais importantes sejam a trilogia Memória do Fogo, dividida em Os Nascimentos (1982), As Caras e a Máscaras (1984) e O Século do Vento (1986). Trata-se de uma ousada e inclassificável mistura de gêneros unidas por onipresente espírito crítico. Os personagens são generais, artistas, revolucionários e operários, os quais são retratados em pequenos episódios que começam nos mitos dos povos pré-colombianos chegando até a década de 80 do século XX.
...
No ano passado, a L&PM lançou uma nova tradução de As Veias Abertas da América Latina. O tradutor, a pedido do próprio autor, foi Sergio Faraco. "Fiz a tradução a pedido de Galeano e acompanhado por ele. Enviava diariamente e-mails com minhas dúvidas, os quais eram respondidos imediatamente. Demorei 3 meses para terminar as quase 400 páginas. A maior dificuldade não foi o texto original, foi a comparação com a outra tradução brasileira, de Galeno de Freitas, muito boa, feita em 1971. Era inevitável, acho que tudo ficou muito parecido", conta Faraco.
Galeano elogiou a nova tradução, que teria ficado superior ao original em espanhol. "Minha obra hoje soa melhor em português", disse, referindo-se ao fato de ter não apenas Faraco como tradutor de sua obra, mas também Eric Nepomuceno. Só aqui no Brasil já saíram 52 edições do livro. Faraco completa: "As Veias Abertas é um ensaio com altíssimo grau de informação. É inacreditável que ele tenha feito aquela imensa pesquisa histórica e escrito o livro na idade de aproximadamente 30 anos. O livro retrata uma realidade vergonhosa de surpreendente atualidade em nossos dias, pois nossa miséria e dependência permanecem. É curioso que alguns chamam o livro de anacrônico. Apesar de ter sido escrito há 40 anos, ele não tem nada de anacrônico, até porque revela de forma brilhante uma realidade incontestável - a realidade histórica".
O professor do Instituto de Biociências da UFRGS, Paulo Brack, em entrevista à Rádio da UFRGS, rebate enfaticamente as acusações de anacronismo. "Vejam, por exemplo, a questão de Belo Monte. Ela confrontou o Brasil e a Comissão de Direitos Humanos da OEA, que questionou o tratamento que o governo brasileiro está dando ao problema. Também a aprovação do novo Código Florestal na Câmara demonstra a vitória de um sistema que há séculos está enraizado no país. O Código Florestal anterior era uma das legislações mais avançadas do mundo. Agora foi alterada em favor do agronegócio, cujo sistema de produção teve origem nos grandes latifúndios. Ou seja, muita coisa que Galeano fala em seu livro está ainda atual. Apenas mudou a cara de quem faz. Antes, havia a presença militar, agora não mais".
Em As Veias Abertas, Galeano apresenta uma análise histórica sobre formação da América Latina desde sua ocupação pelos europeus até os dias de hoje, fundando sua crítica na espoliação econômica, na dilapidação dos recursos naturais do continente e na dominação política, primeiro pela Europa e depois pelos Estados Unidos. A professora de Geografia Ilana Freitas faz uma curiosa constatação. "Durante a ditadura, As Veias Abertas era muito usado por professores de segundo grau de História e Geografia. Eram pessoas que, de forma muito corajosa, preocupavam-se em marcar uma posição de esquerda ou de crítica à ditadura".
Sem ser hostil, o jornalista e escritor Juremir Machado da Silva, também em entrevista à Rádio da UFRGS, faz ressalvas ao livro. "Galeano defendia que o fim da dependência da América Latina deveria ser baseado na implantação de modos de produção. O livro indica que a solução para a dependência latino-americana seria o socialismo. Este aspecto implícito ou explícito do livro, caducou". Porém, Juremir concorda com Galeano no cerne: "É claro que o Brasil é um vendedor de commodities. Ou seja, vende matéria-prima barata e compra de volta o produto pronto daqueles países que agregam valor a eles. Vende para recomprar a preço maior o produto beneficiado. É uma questão não só de tecnologia, de capital, mas de mentalidade. Hoje, nada nos impede de mudar esta situação, só o fato de existir uma elite que está satisfeita como vendedora de commodities e que não deseja outro tipo de organização sócio-econômica".
Atualmente, passados 40 anos, talvez a crítica que se possa fazer a Galeano seja a do tom indignado da narrativa, porém isto não anula ou diminui os fatos descritos e não retifica a história, pois é difícil negar que as colônias e nações latino-americanas têm sido, desde o início do século XVI, especialistas em prover o desenvolvimento das economias europeia e norte-americana, com seu consequente fortalecimento político.
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