sexta-feira, fevereiro 03, 2006

UM CONTO DE FADAS

Para se perceber melhor todo o meu processo que corre em tribunais - contra o Ministério da Agricultura - estou a transformá-lo num conto infantil, numa tentativa de se perceber melhor o que se passa, pois a realidade está cheia de pormenores técnicos e detalhes burocráticos. Aqui fica o primeiro livrinho, podes ler nas pedradas. Em breve publico aqui os próximos capítulos. Para o livrinho infantil de hoje, proponho uma aventura de um jardineiro que queria alindar uma rotunda, num país inimaginável!!!

2 comentários:

João Paulo Pedrosa disse...

O “MEU” PROCESSO

CONTADO ÀS CRIANÇAS E EXPLICADO AOS JUÍZES


LIVRO 1 – UMA LINDA ROTUNDA


Era uma vez, numa pequena e tranquila cidade de um país inimaginável, um jardineiro muito dinâmico. Nessa cidade tranquila, como é comum em muitas outras, os governadores dessa cidade fizeram alguns melhoramentos. Um desses melhoramentos foi a construção de uma rotunda, na zona da ponte que atravessava um rio, sempre de águas a correr em direcção ao mar. Uma bela e eficaz rotunda, mas que para ficar mais bela precisava de um jardineiro competente. Foi então que os governadores dessa pequena cidade contrataram o tal jardineiro que vai ser a vítima dinâmica da nossa estória.

Para poder tratar daquela rotunda, o jardineiro assinou um contrato com os governantes, onde se estabeleciam os direitos do jardineiro, que era receber todos os anos um pagamento pelo seu trabalho de embelezamento daquela pequena parte da pequena cidade, mas que tanto contribuía para a eficácia do trânsito, para quem entrava ou saía da ponte. Mas o contrato tinha também as suas obrigações: todos os anos semear flores na rotunda, comunicar aos governadores qualquer alteração da área da rotunda, não utilizar produtos químicos, proteger a terra que estava na rotunda. Nada mais fácil para um jardineiro que gosta do que faz.

E assim foi fazendo o jardineiro: todos os anos, semeava as flores que ele achava que eram as mais indicadas, todos os anos fazia uma sementeira de cravos, tendo o cuidado de proteger a terra da rotunda, pois com a chuva, o vento e com a própria deslocação de ar das viaturas que passavam ali à sua volta, a terra tinha tendência a ser arrastada de cada vez que cavava a terra para semear. Assim, usava sempre uma cobertura do solo para evitar que a terra cavada fosse levada para fora da rotunda. Todos os anos, os seus cravos enchiam a rotunda de cores variadas e de aroma de Primavera, todos os anos o jardineiro gostava de ver o resultado do seu trabalho. Mas houve um ano em que o jardineiro decidiu mudar o visual da rotunda, que já muitos conheciam como a rotunda dos cravos. Decidiu semear amores-perfeitos, até porque poderia semear sem cavar a terra, o que evitaria o arrastamento da terra da rotunda, bastava deitar as sementes sobre a terra, entre as ervas cortadas, e esperar que a chuva miudinha fizesse germinar as sementes. E assim, nasceram na rotunda muitas florinhas coloridas. E assim, todos ficaram espantados pela grande mudança. Houve até quem se fosse queixar junto dos governadores, como era possível o jardineiro trocar os cravos pelos amores-perfeitos, se era para isso que os governadores lhe pagavam.

E foi assim que começou o processo: um belo dia de Verão, um senhor engenheiro gorduchinho, funcionário público e exemplar emissário dos governadores, chamou o nosso amigo jardineiro para o acompanhar numa visita à rotunda. Umas críticas abertas à escolha dos amores-perfeitos para a rotunda dos cravos, umas críticas à forma de semear os amores-perfeitos, umas ameaças de que o jardineiro iria, deste modo, perder o seu direito a receber o pagamento pelo seu trabalho, e, pior que isso, ser obrigado a devolver as verbas até aí recebidas, nos 5 anos anteriores. Mas o dinâmico jardineiro, contente com o resultado do seu trabalho, apenas pediu que o gorduchinho engenheiro escrevesse um relatório, pois sabia que o funcionário público não encontraria razões legais para que os governadores pudessem acabar com o contrato. Tinha semeado flores, tinha protegido a terra, estava satisfeito e tranquilo. O pior estava para acontecer! Sem receber nenhum relatório, os governadores cortam os pagamentos previstos no contrato.

O jardineiro vai falar com os chefes, sempre cordiais, do gorduchinho funcionário público, e, depois de mais de 6 meses, recebe finalmente uma carta, onde se diz que o jardineiro foi visto por um funcionário público, que disse que achava mal o estado da rotunda. Sem perder o dinamismo, o nosso amigo jardineiro volta a semear cravos, mas como não choveu o suficiente, os cravos ficam pequenitos. Chama então uma empresa - a empresa que os governadores reconheciam como oficial para as questões da jardinagem -, que reconhece que a rotunda respeita o acordo e as leis. Voltam então os governadores a enviar o gorduchinho engenheiro, que faz um, mais detalhado, relato do que viu, desta vez dizendo que os cravos não são em número suficiente, como tal não respeitando o contrato. O jardineiro, intranquilo, escreve aos governadores, explica toda a situação, explica que no contrato e nas leis grandes da pequena cidade, do país inimaginável, nada se refere ao que deve ou não semear, nada se refere ao número de cravos que a rotunda deve ter, mas os seus escritos são ignorados. Os governadores já tinham mandado devolver todo o dinheiro recebido anteriormente pelo incompreendido jardineiro.

Mas jardineiro que é jardineiro não recua perante um ataque de lagartas, que devorem com urgência as folhas das suas plantas. Avança para um protesto público e tira toda a sua roupa de trabalho, bem no meio da rotunda, diz que só se volta a vestir quando lhe responderem às suas cartas e denuncia a incompetência gorduchinha do engenheiro público. Os governadores mandam então para o terreno uma equipa de investigadores, engenheiros gorduchinos, também eles bem amestrados funcionários. Nada acrescentam, nem enviam ao jardineiro os resultados da sua visita, nada escrevendo, nada se comprometendo. O jardineiro volta a vestir-se, mas deixa de vestir a sua roupa de trabalho. Descontente, revoltado com toda a arrogância e estupidez, fica a pensar em toda a injustiça e no que há-de fazer a seguir.

Moral do livro: se moras num país inimaginável, quando vires um funcionário gorduchinho, aplica-lhe a táctica do Zeca Afonso: corta-lhe logo a cabeça e encosta-o bem à parede!

João Soares disse...

Viva, João Paulo;)
Parece q estou a falar comigo mesmo, só que sou Soares.
Espero que me vivistes no BioTerra.
http://bioterra.blogspot.com
Um abraço do Norte