Um destes dias começou uma semana em que este tema ficou muito presente na minha vida. A primeira vez foi por causa de uma carta escrita pela filha de uma professora que se suicidou. Suicidou-se porque não aguentou o sistema, nas palavras da filha, e que aconselho a ler aqui neste blogue (clicar aqui no link) intitulado "professores", a quem não pedi autorização para citar. Fiquei preocupado com esta carta, porque conheço bem de perto o sistema de ensino público e já há muito tempo que acho que os professores e os pais deixaram as reformas chegarem longe demais. Os pais porque continuam a acreditar nos políticos, que repetem que as reformas são necessárias para ajudar o sistema a ter melhores resultados em termos de aproveitamento dos alunos. Os professores porque desde sempre tiveram a faca e o queijo na mão, mas são uma cambada de gente que se preocupa tanto com os alunos que se esquecem de lutar por um ensino de qualidade. E tanto os pais como os professores não sabem lutar, e isso é uma constante em Portugal. Por isso estamos como estamos...
Depois desta cena passámos em casa de amigos que vivem perto de Lisboa, num meio rural. Ali na aldeia tinham-se suicidado duas pessoas no mesmo dia, por razões económicas, pessoas que desde sempre viveram com dificuldades e que não aguentaram as dívidas, as incertezas, as vergonhas.
Logo a seguir passo por casa de amigos, ela é professora e conta-me, preocupada, a situação de uma colega que com os cortes no salário, a pressão das viagens para ir trabalhar, a situação familiar, se tinha tentado suicidar devido a não ver perspectivas de futuro em termos de uma vida aceitável. Ao viver, ao reviver esta situação, esta minha amiga estava mesmo preocupada, e queria ajudar essa sua colega, mas era nítida a sensação de impotência.
Juntei estes três casos que vivi pessoalmente com as notícias nos jornais, em que o número de suicídios aumentou devido à crise dos bancos. E ainda bem que a minha vivência foi um pouco à distância, porque um suicídio é sempre uma questão muito constrangedora. Mas a minha reflexão neste texto é mais sobre esta situação que vivemos, em que por razões de pressão do sistema as pessoas se suicidam, em vez de lutar contra o sistema, tentar danificá-lo, tentar melhorá-lo para que outros não passem pelo mesmo. É certo que nem todos os que têm problemas se suicidam, mas estas cenas são muito portuguesinhas, os brandos costumes e o aceitar o fado. São muitos anos de religião cristã, e estamos longe das coisas mudarem. Quer dizer, já estivemos mais longe...
Mas analisem lá as notícias e pensem bem: quantos suicídios houve e quantas sedes do PS ou PSD foram queimadas, quantos balcões do BPN foram vandalizados? Quem já não tem nada, o que é que tem a perder? A honra? O que é isso? Ah, já sei, aquilo sobre o que os políticos juram quando tomam a posse de cargos políticos: "Juro, por minha honra, defender com lealdade as funções que me são confiadas".
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