Andando a navegar pela Net descobri um tema interessante: uma nova remodelação nas estruturas do Ministério da Agricultura. Já tinha lido no jornal de Castelo Branco, A Reconquista, que as Direcções Regionais da Agricultura se iam fundir, e que a sede da região centro até seria em Castelo Branco. Claro que o actual Director Regional da Beira Interior desde logo se oferecia para ser o chefe de toda a zona centro, possuidor de cartão côr-de-rosa desde há longa data e conhecedor de situações em que o Ministério da Agricultura lesou inúmeros agricultores, mas que soube sempre ficar caladinho que nem um rato. É evidente que, apesar da sua diplomacia, este senhor está ali para defender interesses partidários antes de defender a própria agricultura. É a continuidade do sistema, mexe-se um pouco na estrutura, abana-se que sempre podem cair alguns trabalhadores, mas a ideia é apenas poupar dinheiro, não é aumentar a eficiência poupando recursos. Não é de certeza apoiar os agricultores, nem com isso desenvolver a agricultura e o mundo rural.
A semana passada organizaram a semana da Agricultura Biológica, com muitas palestras, uma almoçarada e divulgação na imprensa. É importante, é sempre importante, divulgar a agricultura biológica, mas esta gentinha que é a mesma que desde há dez anos atrás só tem promovido a ruína da agricultura portuguesa, só agora acordou para uma coisa que as associações de defesa do ambiente há mais de 20 anos andam a defender. Não basta fazer umas coisas que aparecem na TV de vez em quando, para mais quando se está a promover o consumo de produtos de agricultura biológica, que já devem ser mais de 50% importados. Os governantes deixaram passar a hipótese de Portugal ser conhecido na Europa pela produção de alimentos saudáveis, apesar das tentativas de elucidação por parte das associações do sector (o dinheiro das empresas de produtos químicos sempre foi mais forte que os argumentos de economistas, ecologistas e agricultores). Os apoios da Europa foram mal utilizados, apoiaram-se investimentos que apostavam na quantidade em vez da qualidade. Agora temos os espanhóis, os alemães, os franceses, os holandeses a dominarem o mercado, só agora querem que os agricultores mudem de rumo, que comecem a apostar na qualidade. Tarde demais, já muitos desistiram, já muitos estão para desistir.
Li também aqui na Net que o IFADAP, esse instituto financeiro estatal, que há um par de anos se fundiu com o INGA, outro instituto estatal, vai deixar de existir, que uma parte dos seus trabalhadores (mais de 1/4) vai para o desemprego, e que o trabalho por eles desenvolvido vai passar para as estruturas regionais do Ministério da Agricultura. Nós agricultores sabemos bem da falta de apoio que sentimos quando estamos no campo, quando contactamos com o Ministério da Agricultura e tudo corre devagar, com excesso de burocracia. É verdade que já existem grandes empresas agrícolas, que têm meios e técnicos, mas não são essas que fazem o Mundo Rural. Apesar dos atropelos e erros do IFADAP (um dia destes escrevo aqui a minha colecção), apesar dos erros das estruturas regionais do Ministério da Agricultura, o que mais me magoou foi nunca ter tido uma única visita de técnicos no sentido de uma orientação, de verificar se as coisas estavam a correr bem. Conhecendo por dentro o edifício da delegação de Castelo Branco do Ministério da Agricultura ( a futura ex-DRABI ), sempre fiquei com a sensação que havia pouco pessoal para satisfazer as necessidades dos agricultores. Apareceram depois as associações de agricultores, com técnicos contratados para ajudarem no preenchimento das papeladas, mas da parte do Ministério da Agricultura nem aí libertaram meios para fazerem acompanhamento dos agricultores no terreno. E muito menos as associações tinham meios para fazer tal trabalho. A verdade é que cada vez existem menos agricultores, cada vez se produzem menos bens alimentares e se não se investir na agricultura, na pequena agricultura, a sério, o Mundo Rural está condenado. Porque na agricultura é como na indústria: antes só se pensava que o emprego estava na criação de grandes empresas, agora já se pensa nas pequenas e médias empresas. Na agricultura ainda estamos no tempo em que só se pensa em grandes propriedades agrícolas porque essas é que são rentáveis. Um erro que persiste, porque o sistema só vai abanando, nunca existe uma mudança. E com mais esta redução de pessoal da administração, para além de ser óbvio que querem fazer uma triagem, só passando na peneira quem tem cartãozinho de cor, lá vem mais uma porrada na agricultura e mais um desprezo para com os malfadados agricultores.
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