sábado, novembro 18, 2006

DAR-SE À DOENÇA

Ora aqui está uma coisa que as pessoas fazem e que muito ajuda as instituições de saúde e de solidariedade social: dar-se à doença!
Uma expressão que ouvi recentemente e que passo a explicar: uma pessoa que está doente e que fica em casa, deitadinha, sem pedir nada, sem exigir nada, acatando tudo o que o sistema lhe diz para fazer, é uma pessoa que se dá à doença! Estou a falar de pessoas que ficam com doenças crónicas e parcialmente incapacitantes.
Dizia uma médica dos HUC - Hospitais da Universidade de Coimbra, que para uma pessoa que em saúde não tinha o hábito de ver teatro, quando estava doente também não sentia necessidade de ir ao teatro, e assim ficava em casa, a ver TV, dando-se à doença.
Com alguma experiência no acompanhamento de pessoas doentes, conheço bem a alegria de viver que pode proporcionar o sair de casa, o convívio, o ver coisas diferentes, coisas nunca vistas mas que promovem a distração, o entretenimento, a diversão. Claro está que já muito trabalho fazem os serviços de apoio domiciliário, e que as famílias têm um papel importante nestes aspectos do lazer, e até já existem empresas nas grandes cidades que levam as pessoas doentes a passear e a eventos culturais, mas o que acontece às pessoas de fracos recursos económicos, idosos, com famílias muito ocupadas? Onde está a solidariedade do estado?
No outro dia, estava eu no campo perto de Coimbra, entabulei uma conversa com uma velhinha, que ainda vai tomando conta da hortinha, dizia ela que não conhecia a Figueira da Foz, mas que o filho era um professor universitário. Eu perguntei-lhe se o filho não a levava a passear, mas ela logo justificou que o filho era uma pessoa muito ocupada, que a visitava e levava a tratar de problemas, mas que nunca a tinha levado a conhecer a Figueira da Foz. É triste, quando as pessoas são dadas por outros às doenças, quando as pessoas são abandonadas...

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