quarta-feira, agosto 16, 2006

QUANDO A CULTURA NÃO É RENTÁVEL

Vem este escrito a propósito de uns privilégios que continuam em Portugal, e que são uma vergonha nacional pouco falada, como a cultura é pouco falada de um modo geral.
E o facto é o seguinte: quando vem algum nome grande da cultura mundial a Portugal, numa organização que envolva apoios do estado, ou de alguma entidade ligada ao estado, uma grande parte dos melhores lugares são reservados para convites. Depois os bilhetes esgotam num instante e mesmo que haja pessoas a querer comprar, vão ficar de fora e depois muitos desses lugares ficam vazios.
Quando existe uma programação antecipada, num festival de grande popularidade, existe a possibilidade de fazer a encomenda de bilhetes, antes destes serem postos à venda. Mas, no dia em que são postos à venda, nem para aqueles que quiseram comprar bilhetes por encomenda arranjam lugares. Os lugares ficam logo todos ocupados pelas cunhas e convites.
É claro que se os bilhetes fossem todos vendidos ao seu preço, até porque normalmente os convidados são gajos que têm grandes salários, a cultura poderia ser rentável, e até poderiam pôr os bilhetes a um preço mais acessível, uma vez que os custos seriam distribuidos por todos os espectadores.
Eu já vi em espectáculos da Maria João e Mário Laginha montes de lugares vazios ou gentinha convidada que vai lá só para aparecer nas revistas e depois nem apreciam aquela música. Mas na música clássica as coisas são piores, segundo uma fonte minha que é cliente habitual de tudo o que é boa música.
Quando é um nome grande da música clássica, até os deputados da Assembleia da República têm direito a requisitar bilhetes, tirando o lugar a qualquer pessoa.
No Centro Cultural de Belém, existe um camarote presidencial reservado ao Presidente. Antes lá estava o Sampaio, com família e amigos. Agora que o Presidente é outro, e que pelos vistos não é tão assíduo destas coisas da música clássica, dá os seus bilhetes ao Sampaio, que continua a ir aos espectáculos com a família e amigos. Ora bem, se ele não vai, porque não deixam vender os bilhetes a qualquer pessoa? O Sampaio já não é presidente de nada, e tem bastante dinheiro para pagar, ia para a fila, como os outros!
Para quando as pessoas juntarem-se e fazerem associações de utentes dos espaços culturais, para depois exigirem estar representados na distribuição dos bilhetes?

2 comentários:

tiago m disse...

é um escândalo. há uns anos, na Lisboa Capital da Cultura fui a Lx tentar conseguir bilhetes para os estudantes da Universidade de Coimbra. Total indiferença por parte da organização: "Os bilhetes estão todos reservados. Não há bilhetes para vender." "Como não há bilhetes para vender? Os espectáculos estão sempre cheios?" "Não, muitas vezes até estão meios vazios, mas os bilhetes estão todos distribuídos."

Extraordinário. Por isso é k (entre outros motivos) eu tenho mtas dúvidas qt à ideia de o Estado patrocinar a cultura. São as elites que recolhem o benefício desse patrocínio, em forma directa de bilhetes dados.

Anónimo disse...

Nada de subsidiar cultura (já agora, por que é que música clássica é cultura e música rock não?). É um vómito o estado dar subsídios para filmes e espectáculos que ninguém vai ver, só para preencher um capricho de um qualquer realizador. Vão ao BES. Invistam e se depois ninguém for ver, enforquem-se para pagar as dívidas. Haviam de ver como deixavam logo de fazer filmes de merda.