sexta-feira, janeiro 16, 2009

ORGULHO NOS AMIGOS

Mas também nas amigas. Há uns tempos atrás foi o Zé Maria, que escreveu um texto a dizer porque se recusava a fazer avaliação de colegas e como discordava das políticas seguidas para o ensino público por serem contrárias ao aumento qualitativo. Hoje abro a caixa do correio e vejo uma carta da Celeste, que copio já aqui a seguir, porque neste texto está bem explicado o sentimento dos professores a sério em relação às políticas para o ensino público. Se conhecerem algum pai, mãe ou encarregado de educação que ainda acredite nas tretas da Ministra da Educação e nesta política de corte orçamental do Sócrates, sem olhar para a qualidade, mandem-lhe este texto, ou leiam-no ao telefone. Leiam todo e perceberão porquê!

Caros colegas:
O meu nome é Celeste Gonçalves, sou professora de Filosofia na escola José Silvestre Ribeiro de Idanha-a-Nova.
Dia 19 é dia de greve dos professores. Todos o sabem. Desculpem-me usar o vosso endereço electrónico para fazer passar a minha mensagem, mas, que outro recurso me resta para o fazer? O tempo é escasso e urge, por isso, aqui estou, para partilhar as minhas preocupações.
Não é novidade que nenhum outro Ministério afrontou tanto uma classe profissional, como este o fez. Desde que esta equipa ministerial tomou posse, desenhou-se desde logo o propósito claro de tratar dos "professorecos", "pô-los na ordem". E assim fizeram. Não nos puseram na ordem, conseguiram criar a desordem. Com mestria de mentes maquiavélicas, de forma autoritária, prepotente, souberam escolher os melhores momentos para impor os grandes atropelos aos direitos adquiridos, virar o Estatuto da Carreira Docente do avesso, fracturar a carreira sem apelo nem agravo, sem critério de justiça ou com relevo pedagógico. O critério escolhido no Concurso de Acesso a Professor Titular foi uma arbitrariedade completa. A Escola Pública foi ficando cada vez mais fragilizada, e nós fomos correlativamente ficando cada vez mais pequeninos, encolhidos no emaranhado de novidades que a todo o momento iam chegando. Até que a revolta contida e mastigada no nosso trabalho diário se soltou e gritou bem alto em duas grandiosas manifestações e na greve de Novembro.
E agora? Estamos cansados de lutar? Pois é nisso que o Ministério aposta. No desgaste. Aposta também na divisão dos professores, por isso aliciou alguns com supostas medidas beneficiadoras, para logo a seguir ameaçar retirá-las. A outros, pelos vistos, prepara-se para compensar generosamente a troco, quiçá, de subserviência.
Recordam-se certamente de como o monstro da Avaliação do Desempenho veio ao mundo. Agora está tão mascarado que já nem sabemos ao certo o que é. Eles também não. Eles só sabem no que o querem tornar. Esse propósito, ninguém tenha duvidas mantém-se vivo, a todo o custo. Sim a todo o custo, é preciso dizer, este Ministério não tem palavra, já deu provas disso.
Mas … e o "Simplex da Avaliação"? - Dirão alguns. Deixem o jogo começar que logo vão ver o belo simplex da avaliação. É só começarem os primeiros a querer atingir o excelente…Não é preciso um grande esforço de imaginação para enxergar o cenário. E não será lógico que neste ilógico sistema todos queiramos ser excelentes? Qual é a lógica daquilo que o Ministério nos propõe, a saber: só requer aulas assistidas quem pretender atingir o muito bom ou excelente. Eu não requeiro aulas assistidas. Logo, não pretendo atingir o muito bom ou excelente. Subentenda-se, não mereço estar nesse patamar ou …não vale a pena…não há vaga para tal.
Colegas: quem concorda com este modelo de avaliação, está no seu pleno direito e agirá em conformidade com essa posição. E quem não concorda com ele? Não terá o direito de mostrar a sua indignação? E o dever? Mais do que um direito não será um dever? Um exercício de cidadania? Se não lutarmos por um exercício digno da nossa profissão, quem o fará por nós? Apetece-me dizer: não temos direito a ser felizes? Esta gente está a matar a alegria inerente ao acto pedagógico. Sra. Ministra, já cá andamos há muito tempo, sempre gostámos de trabalhar para a escola, nunca virámos as costas aos desafios. Somos gente que lê e estuda e se valoriza. Temos a memória repleta de eventos maravilhosos que ajudámos a construir com os nossos alunos. A escola tem uma alma, nessa alma moram os professores!
Senhores governantes, estamos fartos do vosso espírito economicista.
Estamos fartos!
Este é o momento decisivo. Ou viramos as costas e deixamos que nos continuem a violentar ou enfrentamos com coragem os nossos opositores e mostramos que é inútil a este Governo e este Ministério da Educação fazer de conta que 120 000 ou 130 000 professores são ninguém!
Dia 19 está em causa, "para além da exigência de suspensão do actual modelo de avaliação e do protesto pelo clima de intimidação e ameaça instaurado pelo ME, a exigência de uma revisão do Estatuto da Carreira Docente que permite a aprovação de um novo ECD que dignifique e valorize a profissão docente. Uma revisão que elimine a divisão da carreira em categorias; que estabeleça um modelo de avaliação pedagogicamente construído e garanta a abolição das quotas; que valorize a componente lectiva dos docentes, expurgando do seu horário os cada vez maiores tempos destinados a tarefas burocráticas; que elimine todos os mecanismos criados para afastar, da profissão, docentes que são necessários às escolas, designadamente através de uma espúria prova de ingresso." (documento da plataforma sindical dos professores)
Por tudo isto, e por muito mais que aqui não é dito, estejamos unidos no dia 19. Fechemos na gaveta do egoísmo todos os argumentos mesquinhos que se desfazem como o pó. Mostremos firmeza. A razão está do nosso lado, estou convicta disso.
Fazer esta greve é lutar contra o ultraje e a injustiça. Saibamos nesta hora ser dignos da nossa profissão.
Celeste Gonçalves

E pronto, disse de sua justiça! Que orgulho tenho nos meus amigos que não têm papas na língua!

2 comentários:

osbandalhos disse...

Dia 19 é hoje. Quanto ganham os professores, bons ou maus? Quanto sabem os alunos? Quem quer saber do Estatuto da Carreira Docente, para além dos professores? Que outras profissões têm estatutos de carreiras? Fizessem-se provas externas, aos alunos, e logo se veria quanto valem os professores.
Com as eleições ver-se-á o que pensa o povo, esse mestre da sabedoria (Ops!), sobre a questão.
Nota: Com tanta gente a ganhar miseravelmente e a trabalhar tanto, como é que os professores têm "a lata" de se queixarem? Eu sei, mas não digo.

Anónimo disse...

Pois é. Não sabemos muito bem o que queremos. Se o excelente depende da avaliação dos outros, foi compadrio. Se depende da autoavaliação que não fez, ou do nivel onde julga não estar, até merecia o excelente. Afinal, não confia na avaliação dos outros nem na sua. Minha cara, se acha que fez trabalho para excelente, que tal propor-se sem receio e provar que o merece, independentemente de ter quota ou não? Ou só trabalha bem, aliciada pelo prémio?