segunda-feira, maio 22, 2006

BANDEIRA VERMELHA

Bandeira vermelha
bem alevantada
oh, minha senhora
que linda desfilada

Eu vi este povo a lutar
para a sua exploração acabar

José Mário Branco

Pois no Fórum Social Europeu, organizado em Atenas (www.fse-esf.org), juntaram-se milhares de pessoas, em pavilhões onde estavam bancas de organizações, onde existiam espaços de restauração e onde decorriam inúmeras reuniões sobre os mais variados temas, desde os direitos das minorias até aos fenómenos revolucionários da Venezuela e de Cuba. O meu principal interesse nestas reuniões foi o tema dos acordos internacionais do comércio e a sua relação com o mundo rural e a vida dos agricultores. Destas reuniões parcelares, algumas das quais enchiam por completo as salas, saíam conclusões a apresentar à Assembleia Geral das Associações e Movimentos, que decorreu no último dia, e onde o meu grupo esteve bem representado por elementos do Bloco de Esquerda. Eu só não passei por lá porque o Massimo Presti ainda estava na Grécia e neste dia fomos dar um belo passeio, com outros amigos, até à zona do Peloponeso.
Mas a conclusão das reuniões a que assisti foi que os produtos alimentares deviam estar fora dos acordos mundiais de comércio, uma vez que se gerou todo um sistema de dependência de subsídios que mantém os países mais pobres a produzirem bens alimentares a preços que nada têm a ver com o valor deles nos países ricos. E que a principal dificuldade para acabar com este sistema era os consumidores perceberem que os preços que pagam actualmente deviam ser substituídos por preços reais, mais elevados, o que obviamente não lhes agrada.
O Bloco de Esquerda levou vário material de divulgação, mas o que teve mais sucesso foram os pins com a estrelinha do Bloco, no último que vendemos a rapariga grega garantiu que era o mais bonito que lá estava em todo o fórum. A banca foi inicialmente montada num espaço ao ar livre, mas que além de livre era muito frio, estava sempre muito vento, passando para o interior do pavilhão dos stands no 2º dia.
Em termos de organização acho que foi um sucesso, os gregos conseguiram fazer com que houvesse tradução simultânea, com que houvesse espaços de restauração suficientes e muito variados. O local tinha uma dimensão adequada, os sítios para dormir eram afastados o suficiente do barulho dos espectáculos nocturnos. Apenas o local era feioso, com um aspecto abandonado, pois foram instalações utilizadas nos Jogos Olímpicos e notava-se o seu abandono.
A manifestação decorreu de forma bem organizada, apesar de não ter sido muito participada (8 mil pessoas), sendo de realçar a forma como, mais uma vez, só passa na informação as cenas dos distúrbios, provocados por uma minoria que ali se desloca unicamente para este tipo de diversão. Se fosse um movimento a sério poderia vandalizar com muito mais sucesso noutros dias, mas esta malta gosta é de sentir que do outro lado está a polícia armada até aos dentes e mesmo assim conseguem partir vidros. Aliás, depois era ver os turistas a tirarem fotos das montras partidas, como se fizesse parte do pacote turístico... É por isso que estes distúrbios só acontecem quando há grandes ajuntamentos, porque não é um protesto a sério, é apenas um jogo entre o gato e o rato, que só é bom quando estão frente a frente o felino e o roedor.

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