domingo, maio 20, 2007

CACAHUÈTE NO IMAGINARIUS

Cacahuète é o nome de uma companhia de teatro de rua. São franceses, de perto de Marselha. Este ano voltaram ao Imaginarius, o único festival nacional de teatro de rua, entrada livre, onde ano após ano temos oportunidade de ver espectáculos fora do comum. Todos os anos, Santa Maria da Feira fica mais rica por lá ter esta festa da cultura.
Há um par de anos atrás, os Cacahuète surpreenderam-nos com dois trabalhos bem humorados, umas montras vivas e o funeral da mamã. Nesta edição pediam 15 voluntários para uma nova produção de um seu êxito: Market Platz. A pedido da organização do Imaginarius, foi pensado o Market Platz 2. Tendo visto na net que pediam voluntários para um ateliê, para depois poder participar na peça, fiquei logo de olho aberto e coração aos saltos. Mas só vi este pedido de noite, já tinha passado o dia de início do ateliê. Ainda assim, acordei de manhã decidido e mandei um emilio para a organização, dizendo que gostava e estava disponível, caso fosse preciso. Passei todo o dia à espera de ouvir o telemóvel, mas nada... só à noite me ligaram, dizendo para ir no dia seguinte! Era a véspera da estreia e lá chego eu ao local onde decorriam os últimos ensaios. Voluntários, até à data, muito poucos, apenas 3 raparigas, apenas uma delas portuguesa. Fica desde logo combinado que à noite há ensaio geral, e espera-se a chegada de mais voluntários. De uma escola de teatro do Porto, uns 9, devem estar mesmo a chegar, até já estão atrasados. Mas depois lá vem a notícia que afinal os meninos se tinham portado mal nas aulas e, como castigo, não os levaram! Procuram-se mais voluntários de última hora, mas nada. Ainda aparecem três meninas, mas são dispensadas devido à tenrinha idade. De tudo o que os Cacahuète tinham pedido há uns meses atrás faltava ainda um "dumper", aqueles tractorzinhos camarários de carga. Da organização dizem que não aceitam pedidos de última hora, nos papéis recebidos na organização, há mais de um mês, está lá bem explicado o que era preciso ter ali disponível, incluindo o "dumper". Mas a situação não se resolve, por causa do orçamento do Imaginarius, e essa parte em que aparece um "dumper" e descarrega um monte de lixo na cena é cortada. À noite faz-se um ensaio geral, faz-se uma procissão com uma grande cruz em cima de uma plataforma com rodas, leva-se um pórtico, levam-se carrinhos de compras adaptados (um para levar um dos actores, o director do supermercado Market Platz, dois para levar projectores de iluminação). Mas as coisas correm mal, e no final do ensaio geral, e com a falta de mais malta para ajudar a empurrar, fala-se numa mudança de planos e marca-se para o dia seguinte, dia da estreia, um encontro um pouco mais cedo, para acertos de pormenores. Afinal a cruz já não vai na procissão, o trajecto também é encurtado, a passagem de modelos vai ser feita no local onde estava previsto fazer a cena final. Os poucos voluntários são integrados como actores, ou como assistentes de iluminação, com uma contribuição importante para o sucesso global: a estreia corre bem, o público adere e gosta da crítica implacável à sociedade de consumo, que é caricaturada como uma nova religião, ao mesmo tempo que se brinca com as religiões. Os Cacahuète actuam de forma desbragada, com um ritmo imparável, com pouco texto, mas o suficiente para enquadrar uma crítica mordaz. Na grande cruz branca, está pendurada uma carcaça de um porco, crucificada. O director do supermercado, que sabia falar bem português, diz: - Venham ao Market Platz e consumam, este é o meu porco! - (indicando a carcaça crucificada). No dia seguinte, a segunda actuação é marcada por alguns problemas com o microfone principal, mas ainda assim o sucesso repete-se. No final da actuação venho para junto do público e então reparo que a grande cruz branca está coberta por um grande pano branco, à frente do qual o porco está crucificado. A imagem perde o impacto do primeiro dia. Afinal, alguém se queixou à organização do Imaginarius e esta pediu para suavizar a cena. Estamos em Santa Maria da Feira. Com resistência, lá existe uma pequena cedência e lá se arranja orçamento no Imaginarius para ir comprar o pano a correr. The show must go on. Terceira e última representação ontem à noite, novo sucesso, com muito público a apreciar, desta vez quase sem incidentes anormais. Os voluntários, que tão bem foram recebidos pelos elementos do grupo, neste último dia recebem um livro com o historial, ilustrado com fotos, do grupo francês, com dedicatória e autógrafos de todos os elementos.
Estamos no Portugal que bem conhecemos: voluntários da nossa terra - só 2, desorganização, no pormenor do "dumper" - qb, censura - muita, do sector religioso, para não qualificar a cena da escola do Porto, que falhou à última hora. Da minha parte ficou o grande prazer em poder participar num projecto cultural inteligente, o agrado pela simpatia geral da companhia e do pessoal da organização do Imaginarius. A minha primeira experiência no teatro de rua não poderia ter melhores padrinhos.

64

Pois, é o texto número 64 deste blogue! Nasci em 1964, mais uns dias deste Maio e já lá vão 43 anos...
Como já fica confuso perceber as coisas do processo em que estou envolvido, com as ilegalidades do IFADAP e do Ministério da Agricultura, estou a fazer um sítio na net, onde vou organizar tudo. Vai dar algum trabalho, mas acho que será didáctico. Para já ainda está só no início, quando estiver pronto mando um emilio a convidar para a inauguração.
Este blogue vai continuar, até porque aqui cabem muito mais coisas, da música à cidadania, o sítio é mesmo específico. Aqui é mais aberto, e pode ser mais participado. Muito obrigado a quem aqui me visita!
Por falar em visitas, e para ocupar o espaço na net, fui criando uns blogues malfadados aqui e ali, mas que encaminham para este, este é que é o original! Nunca se sabe quem, através de outros servidores, pode descobrir aqui coisas que lhe pareçam interessantes.

domingo, maio 06, 2007

BUROCRACIA

É um texto longo, mas vai ser um clássico da internet. Toda a troca de correspondência com o Montepio Geral, por causa de um erro do Banco. Leiam aqui neste outro blogue, esta verdadeira pérola.

quarta-feira, maio 02, 2007

ASSIM É QUE SE COLOCAM PERGUNTAS PERTINENTES

Aqui fica um link para esta carta , onde se pergunta o que raio estava a fazer um representante da igreja católica no meio de ex-presidentes da República, nas comemorações do derrube da ditadura.

Espera-se uma resposta do género: "era para dar colorido ao local, com as suas vestes de cerimónia!"

terça-feira, maio 01, 2007

AEROPORTO DA OTA

Estamos em Portugal e lembro-me sempre da questão do polémico túnel da Gardunha. Fizeram-se vários estudos sobre como furar a Serra, e os políticos, baeados nos estudos técnicos, decidiram que o melhor era fazer um furo na Serra, em que o acesso passaria mesmo ao lado de uma linda e pacata terrinha, Alpedrinha. Este acesso é "apenas" uma auto-estrada, e de facto ficou a passar mesmo em cima de Alpedrinha, um atentado. Na altura, criou-se um movimento (a CEDA?), muito contestatário, que obrigou as entidades a reunir na localidade. Como dirigente da QUERCUS de Castelo Branco fui a uma das principais reuniões e aí, os senhores explicaram porque razão o País ia gastar muito mais dinheiro a fazer uma autoestrada, encosta da serra acima, e o maior túnel do território continental (ia gastar muito dinheiro, mas também muito dinheiro iria ser mandado pelos europeus), e porque então teria que passar mesmo por cima de Alpedrinha: é que os estudos da localização do túnel tinham por base a ideia de que a antiga estrada, que ligava as terrinhas desde Castelo Branco até ao Fundão, e que passava por Alpedrinha, ia ser alargada e melhorada, transformada em IP. Logo, o acesso ao túnel teria que ser perto dessa estrada, para evitar maiores custos. Decide-se então que a localização do túnel é aquela mesmo. Pouco tempo depois decide-se que em vez de alargar a estrada já existente, em vez de uma IP, se vai construir, de raíz, uma autoestrada SCUT. Ora, se o túnel já está decidido que vai ser ali, e ainda que não haja nenhuma obra começada, a SCUT tem que lá ir bater.
Resta dizer que a alternativa era, em vez de subir a Serra, ali por alturas da Soalheira (uma localidade na base da Serra), a autoestrada seguir ao lado da linha do comboio e fazer-se um mini túnel ao lado do mini túnel do comboio, e depois seguir em direcção ao Fundão. Olhem para um mapa de Portugal, se não conhecem a região, e verifiquem. Gastar-se-ia se calhar 70% menos de dinheiro, não se afectava de modo significativo nenhuma localidade e poupava-se a encosta da Serra a um rasgão. Bons tempos em que se os portugueses construiram a linha do comboio, em que não havia tanto dinheiro para gastar à parva, e em que viram qual a opção mais fácil e mais barata.
Na altura desta reunião já era tarde para protestar: já estava tudo aprovado, tudo decidido, verbas atribuídas. Alguém foi responsável por este desperdício de verbas públicas, mas como sempre a culpa não é de ninguém em particular...

Vem este texto a propósito da credibilidade dos "muitos" estudos feitos sobre a localização do novo aeroporto. Estudos feitos por empresas "de malta amiga".