domingo, janeiro 26, 2025

DAS LÍNGUAS QUE ENTENDEMOS, DA ESTUPIDEZ NATURAL

 A estupidez natural será o contraponto da inteligência artificial?

Estávamos a ver uma série francesa que passa na RTP2. Chama-se Lycée Toulouse-Lautrec, e tem alguma qualidade e muita actualidade. Cada episódio tem um nome, normalmente um conceito ou sentimento. Um dos episódios denomina-se "Peur". A narradora, que é a actriz principal, diz o seguinte (conforme a tradução que aparece nas legendas): "medo, substantivo do género feminino...". O merda que traduziu isto foi a inteligência artificial, ou foi só um tradutor naturalmente estúpida?



Já no jornal "A Bola" aparece a notícia de ontem, sobre o treinador argentino que vem para o Porto. E fala sobre uma comissão técnica do clube mexicano assinada para tratar do assunto. Ora aqui está mais um claro exemplo das traduções do castelhano feitas pelos jornalistas portugueses, aqui não há dúvidas sobre a estupidez natural. Porque uma comissão técnica pode ser nomeada, designada, empossada, indicada, eleita ou constituída, mas nunca assinada! Ainda que uma das possibilidades de assinar possa ser "designar", por via de uma palavra que já não se usa nos nossos dias, que é precisamente "assignar". Traduzir do espanhol não é aportuguesar estupidamente as palavras do castelhano, mas é o mais habitual na nossa imprensa, sempre se poupa nas despesas com tradutores. É por estas e por outras que eu não aconselho a assinatura de um jornal qualquer.

sábado, janeiro 25, 2025

TRAÇAR O DESTINO - CRÓNICA LITERÁRIA 4

Um dos grandes mistérios que nunca se poderá desvendar são os desígnios de Deus. Essa entidade a quem atribuem uma tão grande responsabilidade de dirigir a vida na Terra, e até a vida de cada um de nós. Essa tarefa divina que para alguns crentes lhes exige dedicações e pedidos vários, rezas e ladainhas. A mão de Deus pinta ou não os dias que nos são dados, esta é a pergunta do mistério. Conceição ajoelhou, mas não para rezar em posição de súplica. Antes de cair para o lado ainda conseguiu chamar a filha mais nova, Artemisa. Um destes dias luminosos de final do Outono, enquanto o Inverno se preparava para chegar à boleia das renas do São Nicolau, Conceição dava uns retoques numa das suas pinturas murais naquela que é a sua terra de adopção, onde os seus pés viajantes pisaram a terra lavrada pela paixão ardente e aí criaram raízes sólidas e profundas. Nesse mural, no largo da biblioteca municipal, as crianças têm um destaque especial. O destino fez com que Conceição, nesse final de ano de horizontes que depois se lhe renovaram sem que o tivesse pedido, encontrasse um vizinho que ali passava, desapressado. De pincel na mão lá ouviu esse vizinho e visita de casa comentar que em boa hora via esse trabalho de rejuvenescimento e de nova vida das crianças. É que nessa época religiosa de encontros e fraternidade, a esposa do vizinho tinha tido a ideia de se fotografarem ali mesmo, à frente do mural, para depois fazerem dessa foto o seu habitual cartãozinho de boas-festas. E com as cores reavivadas, era o ideal para a foto. Faltava ainda fazer essa foto. Artemisa já foi criança. Há quem a reconheça nos traços de uma das crianças do mural. A que segura na mão uma pequena ave, um passarinho que poeticamente jaz imóvel na pintura, mas que pode estar apenas ferido. Pode apenas ter batido numa janela, num vôo rumo ao seu destino, e caído do céu nas traseiras da casa dessa criança, que a segura e acarinha, segurando a sua vida. Artemisa é destas jovens que se isola do mundo cinzento em que vive, com a ajuda dos auriculares. A música nos seus ouvidos, a música na sua vida, é o que lhe dá fogo à arte que lhe corre nas veias. Traz nos genes a história de gentes simples de Cabo Verde, onde a arte se exprime de diferentes formas, mas de forma singular pela cultura que ali se desenvolveu. Mas da parte da mãe traz também, nos outros 50% dos genes, a arte e a história de gentes simples da Gândara e Gafanhas. De tempos de lavouras de transformação do moliço em fertilidade das terras agrícolas. Estaria Deus, por acaso, de passagem naquela rua partilhada por estes vizinhos, no dia em que Conceição caiu em prostração, em posição de súplica, e conseguiu ainda chamar por Artemisa? Nesse dia, a essa mesma hora, os vizinhos estão a enviar o seu cartãozinho de boas-festas aos familiares e amigos, desejando felicidades e um mundo melhor no futuro, com sorrisos e paz. Facilmente um ateu poderá constatar ironicamente que seria fácil Deus andar por estas paragens, não seria um acaso do destino. É que Deus não deve andar pelo Médio Oriente há muito tempo, a Palestina de certeza que não faz parte da sua rota turística. E também não anda pelo leste da Europa, nem perto dos demasiados europeus que escavam fossos para estarem longe de outras culturas, semeando ódios e medos do que é estrangeiro. E apesar da confiança cega dos norte americanos n'Ele, só essa cegueira explica que não vejam que Deus não anda nas suas vidas há tempo demais. E assim vai continuar por sua decisão democrática por mais uns aninhos, para infelicidade de outros tantos americanos que Deus também não vê. Estaria Deus de passagem, ou acaso ali criou raízes naquela rua que desemboca numa igreja de um lado, e que do outro lado dá acesso a um santuário mariano regional, cuja existência remonta a mais de 800 anos? Se a madeira falasse, talvez a figura de Santa Inês que ali existe, do lado esquerdo, nos desse a resposta. Ou comentasse, de forma televisiva ou em postura de influenciadora de esquerda, a criticada ausência de Deus dos mares e desertos onde milhares perdem a vida todos os anos, apenas porque vão em busca de uma vida condigna. Quantas vezes se afogam com rezas na boca, que não chegam ao céu? Que não estando lá para atender a essas súplicas, o Altíssimo pode então estar distraidamente a tecer o destino nessa rua. Conceição tem três filhas, todas diferentes, todas iguais. Nessa tarde apenas partilhava a casa com Artemisa, por acaso não estava só, nem no seu isolado atelier de pintura. Estava em casa e tinha companhia. Essa inexperiente companhia, em idade de procura do seu espaço vital, ouvia os últimos compassos da música Cair do Céu, na voz da Maria João, nas notas do Mário Laginha. "se eu escorregar céu abaixo, atiras-me um cometa para me paraquedear, ou então põe-me uma nuvem branca e escura, como uma cama de água quente embaixinho dos meus pés, para eu me deitar". Só por acaso ouviu chamar o seu nome, talvez o final da música deixasse essas quatro sílabas ultrapassarem a barreira dos auriculares, talvez não ouvisse o nome mas sentisse a súplica. E naquela hora, naquele segundo instantâneo, ao contrário de ficar mais um bocadinho no seu mundo de arte, respondeu à chamada. E desceu. Que linhas do destino se podem tecer para, alguns dias depois do chamamento em desespero, os vizinhos que usaram as pinturas de Conceição no seu cartãozinho encontrarem a sua filha Artemisa numa outra cidade, numa pastelaria ao acaso? A pastelaria que por acaso tem o nome da deusa que nasceu numa concha de madrepérola e que Camões nos contou que era a maior fã e a deusa tecedeira do destino das viagens dos portugueses por esses mares afora, assim criando laços com ilhas e terras mais ou menos distantes da lusa atenas. Naquele dia, naquela hora de passagem por um local estranho a todos, e respondendo à pergunta obrigatória do que faziam ali Artemisa e a sua irmã mais velha, ela própria contou que estavam ali na sequência do AVC sofrido por Conceição. E relatou como tudo aconteceu, e como encontrou a vítima já completamente caída e lhe falou sem obter resposta, inanimada. E logo telefonou a pedir ajuda. Emergência chamada, hospital local, encaminhamento para hospital de referência. Nessa tarde estavam ali para a hora da visita, já tinha passado o maior perigo. O perigo da hemorragia no cérebro provocar o coma, a morte cerebral. Em observação médica para evitar sequelas piores, na esperança de escapar sem sequelas. Um quase milagre. É o destino que tem destas coisas, do acaso, das improbabilidades se concretizarem? Ou é caso para pensarmos que nada acontece ao acaso, tudo tem que ter uma explicação? É a nossa imaginação que nos faz criar as linhas do destino, juntando encontros e desencontros pontuais da vida? Ou existem mesmo e não havendo melhor explicação deixamos que sejam as entidades divinas as suas fiadeiras? O postalinho, para quem ainda não viu, malfadado link aqui.

sexta-feira, janeiro 24, 2025

MANUEL DE OLIVEIRA, MAS NÃO É O CINEASTA




No âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, o espetáculo Lá no Xepangara – A Cultura Africana em José Afonso pretende refletir sobre a forte presença da cultura africana na vida e obra de José Afonso e sobre o seu papel na luta pela descolonização, democratização e desenvolvimento da sociedade e cultura lusófonas.

Sob a direção artística de Manuel de Oliveira, tem como principal objetivo a aproximação da comunidade lusófona e dos jovens a uma personalidade incontornável na luta pela Democracia, enaltecendo assim a contemporaneidade e, sobretudo, o caráter universal da obra de José Afonso.

O espetáculo conta com as vozes de Selma Uamusse (Moçambique), Karyna Gomes (Guiné Bissau), Isabel Novella (Moçambique), Edu Mundo (Portugal) e Fred Martins (Brasil), Manuel de Oliveira na guitarra, Carlos Garcia nas teclas, Albano Fonseca no baixo e Dilson Pedro (Angola) na percussão.

quinta-feira, janeiro 23, 2025

A INJUSTIÇA ATACA DE NOVO

 Um destes dias fiquei contente ao ler o título de uma grande notícia (link a seguir): 

Multa diária põe em xeque bolsos do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça


Referia esta notícia que um juiz tinha tido a coragem de aplicar a lei, mesmo sendo a sua decisão a de condenar o presidente do Supremo Tribunal de Justiça - STJ, que lidera, por inerência o Conselho Superior da Magistratura - CSM. Tudo começou em 2021. De um lado estava um órgão de comunicação social. Mas não um qualquer, um com verdadeiros jornalistas, desses com carteira profissional, dos que conhecem e praticam o código deontológico. Do outro lado o CSM, e o caso de esconderem dos jornalistas o inquérito à distribuição do Caso Marquês (sim, o caso que envolve as "fotocópias" do Sócrates).

Ora nestas coisas de chico espertices nos processos judiciais, não são só os advogados a tentarem atrasar a aplicação da lei. É o próprio CSM a ignorar a legislação do acesso aos documentos administrativos. Uma lei que é clara, que quando há dúvidas de alguém mais obtuso a Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos esclarece. Mas o CSM insiste em não cumprir. Em 2022 diz uma bem identificada senhora juíza do CSM aos jornalistas para recorrerem ao Tribunal Administrativo, se quiserem que eles cumpram a lei. Incrível? Mas é verdade. Simplesmente para que quem está no alto da magistratura cumpra uma lei que é clarinha como água, exigem que se recorra para o moroso e caro caminho dos tribunais.

Estamos em 2025 e finalmente sai a sentença final, a que vai obrigar o CSM a mostrar na íntegra o tal documento administrativo que durante anos a fio esconderam. Mas nessa sentença final o mesmo juiz avalia o desempenho do CSM em toda esta vergonhosa história e considera que as senhoras juízas e os senhores juízes do CSM que nunca quiseram aplicar a lei, nem seguir um parecer superior, nem sequer acatar duas sentenças e um acórdão, não o fizeram de má-fé. E, como tal, as custas judiciais ficam por conta dos lesados. Só em custas todo o processo passa dos mil euros, a pagar pelo órgão de comunicação social. Que, em boa hora, constituiu um fundo jurídico, aberto a donativos.

Não resisti a comentar esta notícia no Facebook... aqui fica o que escrevi: "A senhora que de forma absolutamente condenável respondeu que se quisessem que se cumprisse a lei teriam que recorrer aos tribunais devia ter vergonha e pagar todas as custas judiciais, por sua iniciativa e do seu próprio bolso. Mas conhecendo eu como conheço este género de gente, que vive muito acima da média com o nosso dinheiro, os mais de mil euros de custas e despesas ficam por conta dos prejudicados. Uma justiça verdadeira colocaria esta senhora na rua, junto das suas congéneres que foram socialmente desfavorecidas, sem hipóteses de estudar e seguir uma carreira."

Estas coisas das injustiças da justiça foram a inspiração primordial para a entrada em cena deste malfadado blogue. Fica a minha dúvida: desde essa data até hoje as coisas evoluíram na Justiça, no sentido de minimizar as injustiças? Acho que sim. Mas não parece nada. E muito menos transparece!

quarta-feira, janeiro 22, 2025

DIVULGANDO O BLOGUE PESSOAL DE UM VERDADEIRO AMIGO DA CULTURA

 Conheci o Pedro Mendes há muitos anos atrás, foi um dos membros mais activos do Maria João - Clube de Fãs. O nosso mestre da informática, ainda que houvessem outros a trabalhar nessa área. Guardo boas memórias com ele. Depois ele e um par de amigos criaram o Coffeepaste, sobre o qual já aqui falei no Malfadado. Um projecto que vale bem a pena apoiar e divulgar. Agora o Pedro decidiu alimentar um blogue, com coisas pessoais que acha importante partilhar ou lançar para reflexão, com vídeos e tudo no seu canal Youtube. Fica aqui o link e o convite para espreitarem (clicar aqui). E lá estará também no cabeçalho o Coffeepaste!

terça-feira, janeiro 21, 2025

FUNDO AMBIENTAL PAGA COMPARTICIPAÇÕES DE 2023

É assim o nosso governo, no que diz respeito a apoios a cidadãos contribuintes. Em 2023 abriu um aviso para candidaturas a projectos de investimento em energias alternativas, mais de um ano depois de fecharem as candidaturas é que andaram a avaliar e a fazer os pagamentos. Assim, ainda antes de acabar 2024, lá conseguimos ver chegar o valor da comparticipação pelo investimento na produção de energia fotovoltaica para autoconsumo na Casinha Gandaresa. Se calhar este importante investimento pessoal, que está a produzir energia eléctrica para a rede nacional (através da Coopérnico!) ainda não tinha sido aqui referido no Malfadado.

O novo governo decidiu então descontinuar muitos dos apoios às energias alternativas. Senão teríamos concorrido em 2024 com a substituição do painel solar para aquecimento de águas (que durou cerca de 15 anos) pelo sistema mais moderno que usa a bomba de calor para produzir água quente. Na verdade é um sistema que consome energia eléctrica, mas de forma muito eficiente, e que trabalha a todas as horas, não dependendo dos dias de sol. Antes não gastávamos nenhuma energia eléctrica, mas nalguns dias tínhamos que recorrer ao esquentador a gás. Agora deixámos de usar o esquentador. Mas não podendo recorrer aos apoios ambientais, o investimento realizado dificilmente será amortizado nos nossos dias. Economicamente falando, em termos de contas pessoais, era melhor continuar a usar o esquentador. E voltar aos banhos de água fria, que também são melhores para a saúde individual.

Não vou falar do excesso de burocracia e da dificuldade em tratar das candidaturas e depois dar resposta às questões levantadas...

quinta-feira, janeiro 02, 2025

ELA ESTÁ DE VOLTA

 

Com indicações úteis, mas ditas de uma forma cómica. Não é para crianças. Depois deste vídeo de regresso, já publicou outro, vão lá ao canal e subscrevam. A Beatriz gosta pouco, gosta...!!!

quarta-feira, janeiro 01, 2025

CONCERTO DE ANO NOVO

 Tal como no ano passado conseguimos ir ao concerto de ano novo, com a Orquestra Filarmonia das Beiras. Só os dois. Desta vez não encontrei ninguém que eu conhecesse (na verdade não me apeteceu falar ao presidente Ribau Esteves). Mas depois do jantar, ao passar de carro numa paragem de autocarro, vejo uma pessoa sozinha, encolhida com o frio, e parece-me reconhecer uma vizinha da nossa rua. Voltámos atrás. Era mesmo ela. A mãe dos irmãos Baker. Já não havia autocarros a essa hora, num dia feriado.


Com este cartãozinho quero ainda agradecer a todos os amigos que de uma forma ou de outra criaram com amor e boa vontade cartõezinhos de amizade, e que nos fizeram chegar em resposta aos nossos votos da temporada festiva. BOAS CAMINHADAS PARA 2025 a todos. Se conseguir partilho aqui um par desses cartões de amigos, mantendo, claro está, o anonimato, nunca se sabe se os autores querem que fique para a posteridade nesta memória malfadada.

terça-feira, dezembro 31, 2024

BALANÇO DO ANO 2024

 Aqui no Malfadado o ano fecha com pouco menos de 100 novas entradas. O balanço do ano só pode ser positivo, as reflexões ficam para 2025. Agora estamos fechados para balanços.


FOTOS E VÍDEOS

 A arte é uma coisa indescritível. Mas as fotos e vídeos, o cinema, são expressões artísticas que gosto de apreciar. Ao referir noutro texto que em novembro tinha reencontrado amigos, lembrei-me que já há algum tempo não partilhava aqui um trabalho do multipremiado veterinário Jorge Bacelar. Quando nos reencontrámos, no meio de muitas fotos que ali tinha de uma exposição, ofereceu-me um original com a modelo que melhor transmite a poesia de dureza e amor pela natureza das fotografias que ele executa. É ela a Silvina. É esta agricultora. Ou devo dizer esta supermodelo?


Também foi notícia por estes meses de Outono que um documentário realizado sobre a obra artística da minha amiga gaditana Marisa Martínez tinha sido premiado. Não vi mas quero ver um dia destes. Era interessante estas realizadoras de documentários poderem vir até aqui fazer um documentário sobre a obra do Jorge Bacelar. O que também gostava de ver era esta exposição de fotos (Histórias Sangradas - link para notícia), aqui com a minha amiga no centro da imagem, na inauguração da mesma. Mas o caminho é longo...


NOVEMBRO FOI DE REGRESSO AO CABEÇO SANTO

 Num dos fins-de-semana em que não participei na peregrinação ao Monte, tive a oportunidade de participar na primeira caminhada de Outono no Cabeço Santo. Uma visita guiada por um grande amigo, num dia muito agradável de luz e temperatura. Foi só uma manhã de passeio, finalizada com um piquenique partilhado que foi um verdadeiro banquete. Da parte da tarde uma pequena sesta na plateia da Assembleia Geral da Associação Cabeço Santo e depois visitar a casa em reconstrução de amigos, em Recardães, no caminho de regresso a Vagos. Amigos com quem não estava há muito tempo mas que recentemente tínhamos reencontrado na Torreira. Encontros e desencontros. Aqui fica a notícia do passeio, com fotos e tudo, neste link para o Facebook da ACS (clicar aqui). E fica esta fotomontagem de voluntárias, numa das habituais e terapêuticas Jornadas de Voluntariado, a praticar um método de substituir as acácias mimosas por carvalhos, o famoso e eficaz descasque das invasoras:



LIBERDADE E INSPIRAÇÃO - AS OBRAS DE MARIA JOÃO COM OUTROS ARTISTAS

 Algodão. O último trabalho discográfico editado pela Maria João. Desta vez com o músico André Mehmari.

O Coffeepaste fez a entrevista que se impunha, resultou nestes belos minutos de palestra que aqui partilho. Podem e devem consultar o site do Coffeepaste, subscrever e divulgar (link aqui para o artigo com esta entrevista).

A PAZ NO MUNDO

 Desta vez, em jeito de recuperar o atraso nas publicações aqui no Malfadado, ao contrário de atribuir um dia a cada publicação, vai tudo neste último dia de 2024.

Aqui fica a partilha de textos que me parecem relevantes sobre aquilo que mais me revolta neste momento, a protecção que se dá aos fascistas israelitas que se têm perpetuado no governo de um povo que merecia melhor sorte. Mas lá, como cá, a democracia tem perigosas limitações e problemas práticos.


De Carlos Matos Gomes (com menção a artigo de Alexandra Lucas Coelho)(link para o original, no Fb, aqui):

"Israel é a Santa Inquisição do Ocidente, ou o Ocidente é o braço secular de Israel?
Apanhei com as duas notícias quase em simultâneo. Israel destruiu o hospital Kamal Adwan, o último que ainda funcionava em Gaza. Os médicos e os doentes foram forçados a sair, alguns nus, como se encontravam, em fila indiana, antes do edifício ser incendiado.
No Público um artigo de Alexandra Lucas Coelho, com o título “Israel acabou. O futuro é da Palestina.”
“ Esse horror não seria possível sem as bombas e os milhões dos EUA. Biden é um criminoso de guerra. Como Scholz, Ursula, a maior parte da UE (com três ou quatro países a fazerem a diferença). O mundo que permite que se extermine um povo em nome de Deus, e ainda se considera religioso…”
O genocídio que Israel está a cometer na Palestina coloca a questão de ser a comunidade judaica que determina a política dos Estados Unidos ou se são os Estados Unidos que determinam a política de Israel. No fundo trata-se da mesma velha questão de saber se, enquanto existiu, era a Inquisição que determinava a política dos reinos de Portugal e de Espanha, ou se eram estes reinos, os Estados, que utilizavam a Inquisição como seu instrumento de poder. Israel elimina os palestinianos para impor o seu poder de forma inquestionável, em interesse próprio ou os Estados Unidos utilizavam Israel para imporem o seu poder no Médio Oriente?
A posição estratégica da Palestina no Médio Oriente faz com que o seu controlo constitua um objetivo vital para os Estados Unidos. Esse interesse é assegurado por Israel. A existência de palestinianos, os nativos, constitui um obstáculo para a justificação do direito de controlo absoluto do território por parte dos Estados Unidos. Israel foi criado, entre outras razões, com o argumento do direito dos judeus à posse do território pela ancestralidade bíblica (na realidade idêntica à de todos os povos semitas da região). Israel foi criado, existe e atua com a violência e a crueldade que são impossíveis de ignorar para eliminar os palestinianos, para eliminar os que colocam em causa o poder dos Estados Unidos na região através de Israel.
A Santa Inquisição dispunha de um Manual do Inquisidor que justificava a tortura para obter a confissão e mesmo a conversão dos judeus, que entregava os condenados ao braço secular para execução da sentença de morte, que tanto punia os relapsos, como ajudava os conversos a irem para o Paraíso mais cedo.
A dúvida que se coloca na relação atual entre os Estados Unidos e Israel nesta adaptação do Manual do Inquisidor de eliminação de um povo é a antiga dúvida se era a Inquisição que determinava ao Estado a política de morte dos hereges, ou se era este, o Estado, que utilizava a Inquisição como um instrumento da sua política de poder absoluto. Ou se ambos atuavam em conluio. O direito da Inquisição, que representava a maioria cristã, armada, se defender dos hereges é, curiosamente, o mesmo atualmente invocado do direito à existência de Israel, que está fortemente armado e constitui a maioria reinante.
No século XV em Estanha, era Tomás Torquemada, o Inquisidor mor, insano e fanático, ou Fernando de Aragão e Isabel de Castela, os reis católicos que governavam a Espanha e a “limpavam” de judeus e muçulmanos, e hoje, é Netanyahou ou o presidente dos Estados Unidos que determina a matança dos palestinianos, o auto de fé de Gaza?
O dramático, hoje, como há quinhentos anos, para quem tiver consciência, será responder à pergunta deixada pela Alexandra Lucas Coelho: - O que fizeram contra isto? - que filhos ou netos farão aos seus pais ou avós, sobre nós. Isto na esperança de os nossos filhos e netos não serem iguais a nós e nós não sermos iguais aos que participavam nos autos de fé em ambiente de festa."


Da redacção do Fumaça (link para este texto no site deste órgão de comunicação social) (a propósito de um prémio atribuído pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do nosso governo, Comissão Nacional da UNESCO)(mais um link, desta feita para o videozinho do discurso de agradecimento, colocado no Fb do Fumaça):


“O Ministério dos Negócios Estrangeiros e o governo escolheram o seu lado. Têm sangue palestiniano nas mãos, não vai ser fácil lavá-lo.”

Ganhámos um dos prémios de jornalismo “Direitos Humanos & Integração” para rádio pelo terceiro ano consecutivo, desta vez com a peça sobre perturbações do comportamento alimentar Trinta e dois e setecentos.

O galardão foi partilhado com a série Violeta, assinada por Filipe Santa Bárbara e Margarida Adão na TSF, sobre uma mulher trans romena a quem o estado português não soube ou não quis dar refúgio.

Ricardo Esteves Ribeiro, jornalista da nossa redação, foi receber o prémio, atribuído pela Comissão Nacional da UNESCO e pela #PortugalMediaLab, estrutura de missão para a Comunicação Social criada pelo governo.

Lê aqui o discurso, feito por Ricardo Esteves Ribeiro, na cerimónia de entrega de prémios, no dia 10 de dezembro, no Palácio das Necessidades, em Lisboa:

“Obrigado pelo prémio. Obrigado à Comissão Nacional da UNESCO e à Estrutura de Missão para a Comunicação Social do estado português. E parabéns a todas as outras jornalistas nomeadas e vencedoras.

Desde 2021, o júri dos Prémios de Jornalismo Direitos Humanos & Integração reconhece ao Fumaça trabalho de jornalismo digno de ser homenageado. E desde 2021 reconhecemos a ironia desta entrega de prémios. O estado português e o Ministério dos Negócios Estrangeiros (dentro do qual trabalha a Comissão Nacional da UNESCO) premeiam investigações e reportagens jornalísticas que demonstram falhas do estado. “Trinta e dois e setecentos”, tal como outros trabalhos sobre saúde e doença mental, espelha o desinvestimento público reiterado nas estruturas de cuidado e prevenção de problemas psicológicos e doenças psiquiátricas.

Mas no ano passado, falámos de uma ironia ainda maior: a de o Ministério dos Negócios Estrangeiros premiar uma redação jornalística que, desde a sua génese, se foca em reportar como o projeto colonial sionista está há décadas a efetivar a limpeza étnica do povo palestiniano com o apoio ou silêncio de sucessivos governos portugueses.

Há exatamente um ano, subimos a este palanque para denunciar a cumplicidade incondicional do então governo português no genocídio em curso em Gaza. Dissemos muito claramente: “O ministro, o Ministério dos Negócios Estrangeiros e o governo escolheram o seu lado. E têm sangue palestiniano nas mãos. Não vai ser fácil lavá-lo.”

Entretanto, o governo mudou, não a política. No passado maio, Paulo Rangel disse ao jornal El País que “seria muito injusto dizer que Israel pretende eliminar o povo palestiniano”. Nesta altura, 35 mil pessoas palestinianas tinham sido mortas em cerca de sete meses. Recusou que estaríamos a assistir a um genocídio. A entrevista foi publicada dias antes do 76º aniversário da Nakba, em que mais de 500 vilas foram destruídas e centenas de milhares de pessoas feitas refugiadas durante a criação do “estado de Israel”.

Também foi o ministro Paulo Rangel quem, há poucos meses, negou que o navio MV Kathrin, com a bandeira portuguesa hasteada, levava explosivos para armas a usar contra pessoas palestinianas. Apenas com a pressão da população foi o ministro obrigado a reconhecer esse encobrimento, que garantiria a expansão de um arsenal usado para perpetuar um genocídio. E nunca decidiu que o estado português deveria retirar proteção legal ao barco (foi a empresa a pedi-lo).

E a 7 de outubro de 2024, no aniversário do maior intensificar do genocídio palestiniano desde 1948, com mais de 40 mil pessoas palestinianas mortas, das quais pelo menos 137 são jornalistas, milhares presas sem acusação nem julgamento, tortura e raptos em massa, condições de higiene epidémicas, centenas de milhares de pessoas refugiadas, fome generalizada e uma expansão colonial na Cisjordânia, Líbano, Iraque, Iémen e Síria, Paulo Rangel decidiu passar o dia ao lado do embaixador colonial sionista.

Nunca, neste ano de mandato, Paulo Rangel sancionou o estado sionista, as empresas que lucram com ele ou boicotou a produção de armas que diretamente assassinam pessoas palestinianas.

Hoje, 10 de dezembro, é celebrado internacionalmente o Dia dos Direitos Humanos. Por isso, perguntamos: para que servem, para o governo e estado portugueses, os chamados “direitos humanos”? São muletas das quais se lembram para, de quando em vez, entregarem prémios a jornalistas? São metáforas que utilizam para enfeitar bonitas cerimónias onde batemos palmas umas às outras, como se tudo estivesse bem? Ou são parte de um projeto colonial criado para perpetuar desequilíbrios racistas e manter no poder quem é branco? Se “direitos humanos” realmente existem, então, para o governo português, só pode haver uma maneira de resolver este dilema: pessoas palestinianas não são humanas. Estão na zona do “não ser”, são bestas. E, portanto, não têm direito a direitos.

O ministro, o Ministério dos Negócios Estrangeiros e o governo escolheram o seu lado. Têm sangue palestiniano nas mãos. Não vai ser fácil lavá-lo.

Obrigado.”



NOVEMBRO FOI DE VOLUNTARIADO NO MONTE BARATA

 Há ideias muito peregrinas. E não é que se concretizam muitas delas?

Vale a pena contar a história:


No final do Verão reunimos no Monte Barata um grupo de gente que há um par de anos atrás arregaçou as mangas para salvar um projecto que prometia ser ruinoso para a Quercus. Foi uma reunião de comemoração, de alegria por se ter conseguido. Foi para convívio, reencontro e festejo.

Nesta reunião falou-se do que cada um dos presentes achava importante fazer no Monte Barata. E tratar da vegetação foi uma dessas coisas. É que no Monte Barata, desde que lá estive, a morte de azinheiras e sobreiros avança a olhos vistos. E os gestores da paisagem que se foram sucedendo ali não conseguiram travar esta desertificação. Uns porque as técnicas aplicadas mostraram poucos ou nenhuns resultados satisfatórios, outros porque se satisfizeram fazendo pouco ou nada para contrariar o problema.

Ora uma das voluntárias ali presentes, e que é sempre a grande locomotiva de diferentes empreendimentos, depressa motivou os presentes para se organizarem fins-de-semana de voluntariado de forma a tratar da questão. Um dos problemas era o seguinte: devemos cuidar das árvores mais velhas, ou promover o crescimento de árvores novas? A solução foi: ambas as coisas. Para isso existam voluntários suficientes.

Um destes dias falarei aqui sobre os trabalhos que ali se desenvolveram nos 4 fins-de-semana de Novembro. Para já fica aqui uma foto do último fim-de-semana, onde fomos 4 aqui do distrito de Aveiro (de 4 concelhos distintos, Santa Maria da Feira, Aveiro, Vagos e Águeda), três conhecedores e uma estreante. Os únicos que se inscreveram. Mas depois, quando já lá estávamos, a tal locomotiva que é imparável, ligou a dizer que afinal ia lá voltar ao Monte (tinha lá estado no fim-de-semana anterior), porque tinha angariado mais um par de estreantes. E lá arrancaram da margem sul do Tejo. Trouxeram alegria, crianças e novas vivências para partilharem. A primeira argelina, berbere, a pisar o Monte Barata deve ter sido uma delas. Já no primeiro fim-de-semana tinha conhecido outras pessoas estreantes no Monte Barata, curiosamente uma família de Aveiro.

O balanço foi positivo, mas aqui estarei depois para mostrar. Para já fica o registo destas peregrinações de muitos amigos em direcção ao interior do interior. Ao santuário da vida selvagem.


SALAME DE CHOCOLATE - VARIAÇÃO VEGANA

 Ainda a propósito do que deixei aqui sobre a participação na Caminhada de Outono no Cabeço Santo, lembrei-me que seria bom registar aqui a receita que escrevi, com base na receita dada por uma grande amiga e grande cozinheira de coisas alternativas, do salame que levei para o piquenique desse dia. Aqui fica ela:

SALAME DE CHOCOLATE - versão VEGANA (by Sara Jordão Biscaia)

1 pacote de bolachas Maria (sem derivados do leite nos ingredientes)
1 tablete de chocolate culinário
1 dl de bebida vegetal
1 punhado de pistácio tostado e salgado
1 punhado de avelãs tostadas
cacau em pó para polvilhar (opc.)

Usei um pacote de bolachas 200g Maria Integral Auchan, ao qual retirei 4 bolachas, para não ficar com muita bolacha, e parti aos pedaços para dentro de uma tigela todas as outras.
Triturar os pistácios e as avelãs, ou picar com faca, de modo a obter pedacinhos pequenos mas ainda visíveis. Misturar com os pedaços de bolacha.
Depois parti os 200g da tablete de chocolate (usei uma com 52% de cacau) em pedaços, e levei a derreter junto com a bebida vegetal, devo ter usado 1 decilitro, mas pode levar um pouquinho mais, a ideia é obter uma massa pastosa, mas suficientemente mole para envolver as bolachas, e suficientemente espessa para ao arrefecer ganhar a consistência do salame. Pode ser derretido em lume muito baixinho ou no microondas.
Deitar esta pasta ainda quente para dentro da tigela com os outros ingredientes, misturar tudo bem misturado e depois despejar em cima de papel vegetal, para enrolar em forma de salame, prensando bem.
Levar ao frigorífico. Quando estiver rijinho, antes de levar para qualquer lado, pode-se retirar o papel cuidadosamente e polvilhar o salame com cacau em pó (na receita original de um salame de chocolate polvilha-se com açúcar branco granulado, e há quem deite umas gotinhas de aguardente, também fica bom e continua a ser vegano), aproveitando o papel de enrolar para ajudar a espalhar o pó. Pode voltar a embrulhar-se para transportar.

Depois é só cortar às fatias e deliciar-se moderadamente. Ou à fartazana, porque cada um sabe de si.

AS BOAS FESTAS, EM VERSÃO EXAGERADA

 É tudo em versão exagerada, até a falta de tempo para ir registando aqui, de forma mais ou menos literário-informativa, ou de forma mais ou menos divulgadora, em registo de amigável partilha, as coisas que vou vendo, que me acontecem, que me merecem um pouco de atenção e que acho que valem a pena ser aqui mencionadas. Para manter os amigos informados, também, mas para ser a âncora das minhas memórias. Porque a minha cabeça por dentro, é como se o vento que me traz desgrenhado quando ando com o cabelo exageradamente grande, como nestes dias, me entrasse cá dentro da caixa dos neurónios e me levasse muitas das vivências, muitas das referências. É isto o Malfadado.

Reparei então que nos últimos dois meses nem sequer uma vez consegui registar aqui o que quer que fosse. Tenho uma boa porção de separadores no Chrome com coisas interessantes, mas depois falta-me o tempo para aqui estar sentadinho, comigo e com um punhado de bons amigos, a partilhar coisas.

O nosso cartãozinho de Boas Festas em 2024 foi ideia da Zeza, aproveitar a pintura mural no largo da Biblioteca Municipal de Vagos. Havia que ir lá tirar a foto numa altura em que estivessem as iluminações de Natal. Não foi fácil fazer a foto, porque o largo foi ocupado pelas barraquinhas da estranha Feira de Natal. Mas depois de lá andarmos a fotografar, lá se conseguiu compor qualquer coisa.

Normalmente faço 3 versões do cartãozinho, para depois escolhermos a melhor. A melhor para a Zeza normalmente é diferente da melhor para mim. Mas este ano exagerei, e fiz 5 versões. Uma enviou ela para a sua lista de amigos. Uma muito parecida enviei eu, outra foi para o meu Facebook. E outra vai ficar aqui no Malfadado, em rigoroso exclusivo. Outra é a versão Wapp, para partilhas e para trocas nessa plataforma em que eu não tenho conta, pois ainda tenho o velhinho Nokia. E aproveitei ainda, exagerando ainda mais, e fiz um cartãozinho com uma foto de uma árvore do Palácio Nacional de Queluz, cuja ideia inicial era enviar em resposta aos muitos amigos que enviaram/responderam com o seu cartãozinho ao nosso correio.

Mas como não tive tempo para responder, tal como já me aconteceu no ano passado, um a um, acho que vou apenas colocá-lo aqui amanhã, em jeito de intenção e gratidão pela amizade dos meus muitos amigos.


quarta-feira, outubro 30, 2024

A DINA QUE INUNDOU PARTES DE ESPANHA

É muito raro o Malfadado estar em cima da onda. Mas eis que, surpreendentemente, ainda o número de mortes confirmadas vai subir, e a notícia chega aqui, por pura pedagogia. A Depressão Isolada em Níveis Altos (níveis atmosféricos, claro) é um fenómeno conhecido há muitos anos, e de vez em quando lá aparecia naquelas zonas. O mal é que ao longo dos anos e de ocupação humana dos terrenos naturais, os solos perderam grande parte da sua capacidade de "esponja" (retenção de águas das chuvas), quer fosse por impermeabilização (pois é... casas, ruas, unidades industriais) ou fosse por desertificação dos solos (pois é... fogos, agricultura intensiva, florestação com espécies de crescimento rápido e cortes rasos periódicos). E agora em 2024, chovendo muito mais do que é normal (nalguns pontos, num período de seis horas choveu mais do que a média anual naquela região), a tragédia aconteceu. As alterações climáticas estão à vista? Também, mas mais do que isso, há um problema de agressão contínua dos solos. E assim, quando acontecem fenómenos naturais, é difícil evitar tragédias humanas.

Em Portugal, nas notícias, falam da Comunidade de Valência, mas a DINA afectou outras comunidades autónomas, a sul. As imagens um pouco por todo o lado são idênticas...

sábado, outubro 26, 2024

SWYTCH BIKE - DEPOIS DA RODA DE CONVERSAS, CONVERSAS SOBRE RODAS

 Quem me conhece, é quase certo que me conhece por ser um ciclista convicto. E agora sou um defensor e divulgador das bicicletas com apoio eléctrico. Aqui no Malfadado aparecem várias coisas ligadas com bicicletas, de passeios a reparações, a movimentos associativos, a boas ideias e a coisas menos boas, como o roubo das minhas bicicletas, que deixaram saudades.

Mas hoje venho aqui para falar da última boa nova: finalmente transformei as minhas melhores bicicletas em bicicletas com apoio eléctrico. Já tinha explicado tudo aqui num texto, vai fazer agora um ano, vou já copiar, mas antes aqui fica o link para as várias vezes em que uma das bicicletas que transformei foi mencionada no blogue (clicar).

Citando-me, então: "Ora, há uns anos atrás inscrevi-me num boletim de uma empresa que criou kits de adaptação das bicicletas comuns a bicicletas com apoio eléctrico. Tenho acompanhado a evolução dessa empresa e finalmente agora, que criaram um sistema ainda mais barato, resolvi avançar para a aquisição, permitindo assim transformar a minha Corratec Icebow (roda 26 de finais dos anos 90) e a minha outra roda 26, uma bicicleta de carga com um Xtra Cycle. Por cerca de 800 euros fico assim equipado com duas baterias que posso usar na mesma bicicleta, aumentando assim consideravelmente o raio de acção".

Essa empresa é a Swytch Bike, com sede em Inglaterra, e os kits chegaram, tal como previsto, em finais de Julho, com um ligeiro atraso em relação ao esperado, mas sem problemas.

Foi bem divertido fazer a montagem, porque é muito simples e rápido. O kit básico que se compra vem com a roda da frente já com o motor, só temos que mudar o nosso pneu para a nova roda, e colocar a roda no seu sítio. Na Corratec a parte do motor entrou mesmo à justa, resvés com um dos lados do garfo, que tendo amortecedores é um pouco mais largo do que o normal. Depois é só colocar a bateria no sítio que acharmos melhor e ir colocando braçadeiras nos fios ao longo do percurso. Falta apenas colocar os sensores na parte do pedal do lado oposto ao das rodas pedaleiras comutáveis. Aqui foi na Xtra Cycle, que afinal tem um eixo pedaleiro de secção circular, em vez da secção quadrangular mais comum, que foi preciso uma pequena adaptação para aquilo ficar a funcionar bem.





Depois foi experimentar logo cada uma das bicicletas, o famoso "momento de brinquedo novo". E fiquei logo muito satisfeito, satisfação que ainda se mantém até hoje, depois de vários meses de utilização.

Quando fiz a compra pedi apenas um kit com um regulador e mostrador, para ver se fazia alguma diferença, o que encareceu um pouco. O outro foi pelos mínimos, apenas a roda, a bateria e os sensores. Claro que é possível passar esse regulador de uma bicicleta para a outra, tal como as diferentes baterias que comprei (uma para deslocações de 20 Km e uma outra mais cara, para aguentar deslocações de 40 Km), mas para já ficou na Corratec.







A minha avaliação é que estes kits (optei pelos novos kits, denominados Swytch Go) são mesmo muito bons, pelas seguintes razões:

1. Relação qualidade/preço é muito boa. Não se arranja uma opção mais barata, tendo em conta a facilidade de montagem, a robustez, a garantia de compra e os desempenhos dos equipamentos.

2. A aplicação da força na roda da frente está muito bem doseada, é suave, constante e mesmo nas curvas é suave, o que faz com que se possam dispensar os sensores nos travões, que normalmente aparecem nas bicicletas eléctricas (estes sensores são opcionais nos kits Swytch Bike), e que cortam imediatamente a tracção eléctrica quando se trava, mesmo que muito ligeiramente. Estes sensores fazem toda a diferença quando a tracção é muito forte no início e se está a descrever uma curva apertada. Mas com estes kits básicos, estes sensores podem muito bem ser dispensados, pois pedalando devagar a tracção é também muito suave. Mas se alguém quiser, pode incluir no seu pedido. Eu optei por experimentar sem sensor de travão, e por acaso fiquei muito satisfeito.

3. Mesmo sem o regulador e mostrador (regula a potência da tracção e mostra o nível da bateria) os kits funcionam perfeitamente. É como está a Xtra Cycle e a regulação base equivale ao nível médio de potência (são 5 níveis), que é um nível que dá um excelente apoio ao esforço de pedalar. Com o regulador, na verdade, podemos experimentar um nível maior de potência, que se nota mais nos momentos em que passamos de estar parados, ou vamos devagarinho, e queremos ir mais depressa. Nota-se uma maior aceleração, e um arranque mais enérgico, sem fazermos mais força nas pernas.

4. O sistema de prender as baterias aos diferentes tipos de quadros de bicicletas é extremamente versátil. E é fácil pôr e tirar a bateria, o que facilita poder levar para casa para carregar, mas também retirar quando se estaciona em qualquer lado, para não ser roubada. E é um sistema em que a bateria fica solidamente agarrada ao quadro.

5. Todo o equipamento tem bons acabamentos, é bastante robusto e será durável, em utilização normal, claro está. O carregador/transformador é também compacto e não muito pesado, com cabos de dimensões muito satisfatórias.

6. A carga das baterias aguenta muito bem, até porque usando as mudanças da bicicleta, sem fazer grande esforço, consegue-se ir pedalando e poupa muito na descarga da bateria. Fazendo uma utilização em que se queira poupar e chegar mais longe com uma carga, mesmo sem fazendo grande esforço, acho que se podem fazer facilmente 50 Km e 25 Km respectivamente, com cada uma das baterias que instalei. Isto no meu caso, que sou um "peso pluma". Quem optar por instalar numa bicicleta de corrida, mais leve e rodas fininhas, imagino que consiga facilmente fazer 65 Km e 30 Km respectivamente.

7. Se a opção for o kit mais simples, sem regulador/mostrador, pode-se verificar o nível da bateria na própria bateria, tens uns leds indicadores, mesmo ao lado de um botão de ligar / desligar, o qual também funciona muito bem.

8. Por último, a vantagem de mais gente poder optar por este sistema Swytch Go, é alguém pretender fazer uma viagem maior, num fim-de-semana, ou nuns dias quaisquer, poder pedir aos amigos as suas baterias emprestadas, aumentando a quilometragem que pode fazer entre pontos de carregamento. Mas para já ainda não conheço ninguém que tenha feito esta opção...

A única coisa que posso apontar ao funcionamento do apoio à pedalada é pouco importante. Mas nota-se bastante: quando atingimos o limite de velocidade máximo imposto pela legislação de segurança rodoviária, por exemplo numa descida mais acentuada, o motor deixa de ajudar. E quando retomamos a pedalada, demora um pouco a reagir e a voltar a dar força. Ou seja, sentimos que a velocidade vai um bocado mais lenta e vamos um bocado mais em esforço, até que se sente o tal apoio ao pedalar e a velocidade de cruzeiro volta ao normal.




Desde que instalei os kits já estou farto de andar por aí, e estou plenamente satisfeito. Nos inquéritos de satisfação de algumas empresas perguntam sempre: recomendaria estes kits Swytch Bike aos amigos? Acho que a resposta está dada! Inscrevam-se já (link para o site aqui), façam como eu, e vão pensando e avaliando, porque a inscrição não obriga a comprar na primeira oportunidade. Eu acho que estive inscrito desde 2021 e só agora me decidi. Em boa hora.




sexta-feira, outubro 25, 2024

A MINHA PRIMEIRA "RODA DE CONVERSAS", NA VERSÃO "FEMINISMO PARA TOD@S" - "GENTE DA NOSSA TERRA", CANTANHEDE

 Ontem à noite lá dei um saltinho a Cadima, ao espaço Lúcia-lima, para participar numa roda de conversas, incluída no programa Gente da Nossa Terra 2024. Dedicado a António Taboeira, fazia sentido o tema desta roda: a vida das mulheres e das crianças que ficavam na Gândara, enquanto os homens iam invernar a trabalhar para o sul, eles, os "caramelos" (que deram origem à sopa caramela, na região de Setúbal, versão que chegou até hoje, a qual, na sua origem, mais não era que uma sopa à lavrador aqui da Gândara).

Foi a segunda iniciativa em que participei, depois daquela que aqui referi há uns dias, na Praia da Tocha. Está de parabéns a Câmara Municipal de Cantanhede, que nesta parte da cultura continua a ir à frente de muitos outros municípios da zona. E quem faz a programação deste programa, que se repete a cada ano com uma personalidade local diferente como tema central, está também muito bem. É este um excelente trabalho que leva a cultura de forma descentralizada a todo o concelho. Iniciativas variadas e quase sempre recorrendo à prata da casa, mas sempre interessante e com pessoas a marcarem presença, numa demonstração de sobrevivência da sociedade civil, em tempos de cada um por si, e em sua casa, de preferência (link para a página da CM Cantanhede onde se explica a actividade e com ligação para o programa total).

A sobrinha é uma das 4 amigas que de forma informal organizam estas rodas de conversas. Procuram pessoas que possam testemunhar sobre o assunto que querem explorar, depois arranjam um local, e depois divulgam. A base é o feminismo, mas a roda pretende ser o mais inclusiva possível. Gosto de gente assim.

Fica ainda o registo de ter revisto e falado com uma amiga recente, de Cantanhede, que se dedica às fotos e a outras coisas das culturas. No final ainda me disse que tinha já ajudado o Manuel Capela (jovem agricultor que perdeu quase toda a sua exploração de agricultura biológica nos fogos de Baião)(clicar aqui para página de Facebook), pois tinha visto o seu apelo numa publicação minha. Gosto mesmo de gente assim.

quinta-feira, outubro 24, 2024

EU VI ESTE POVO A LUTAR - ARRANJO DO JOSÉ VALENTE PARA 6 VIOLAS

 

Já tem dois aninhos, a música foi para um disco de homenagem ao José Mário Branco. Felizmente tiveram a ideia de gravar estes 6 minutos e meio em vídeo, que descobri só agora. Temos por cá, mas também no mundo inteiro, gente excepcional a produzir coisas que transformam os nossos dias.

terça-feira, outubro 22, 2024

SAÚDE 2 - PERIODONTISTA

Cá fica então mais um registo para referência futura, sobre o meu estado de saúde. Como já escrevi aqui no registo SAÚDE 1, foi por causa do 25 de Abril que revelei um problema dentário, a mobilidade dentária. E prometi explicar que na minha vida também havia um antes e um depois do 25 de Abril. Aqui fica então:
Fui a Lisboa participar na histórica manifestação dos 50 anos do 25 de Abril (já relatei e documentei aqui no Malfadado). Na viagem de regresso, tinha um autocarro para apanhar e cheguei relativamente cedo à estação. Como tinha um cupão de 25% de desconto em compras no Continente, lá fui caçar promoções e aproveitei para comprar algo para comer, pois já era hora de comer alguma coisa. E lá comprei umas cenouras bio, muito saudáveis e práticas para comer na rua. Só que ao trincar um bocado de cenoura com os molares, para mastigar bem, o último dente molar do lado direito, parecia que estava a ser arrancado, uma dor lancinante, que depois atenuou um pouco mas manteve sempre uma dor muito incómoda. Vi logo que tinha acontecido algo grave, mas não senti nada partido. A dor manteve-se e os amigos diziam que devia ser uma rachadela, mas a verdade é que até ir ao dentista de urgência, acabou por se desenvolver um abcesso, com as dores associadas, e que acabou por purgar no próprio dia em que ía ao dentista, aliviando as dores. Só no dentista, numa rápida consulta de urgência, com direito a Raio X ao dente em causa, é que ele meteu o dedo e viu que o dente abanava demais. E comunica-me que era um caso de mobilidade dentária, e marcou-me uma consulta para uns dias depois. E receitou-me um antibiótico e um anti-inflamatório oral. Estávamos em finais de Maio. Não fiz a toma dos medicamentos porque como já estava a purgar o abcesso, achei desnecessário. E fui mesmo melhorando. E depois pensei, eu mesmo, que se tinha mobilidade do lado direito, o mesmo se devia passar no lado esquerdo, uma vez que os sintomas periódicos que tinha antes do 25 de Abril do lado direito, também os sentia do lado esquerdo. Esses sintomas eram episódios de maior sensibilidade dentária, alguma pequena dor episódica, e pensando bem, em 2023, no fim do Verão, tinha já tido um abcesso, que acabou por purgar e passar. E de facto, fazendo eu mesmo o que o dentista fez, vi que do lado esquerdo também tinha muita mobilidade dentária (abanava com'ó caraças!!). O que veio depois a ser confirmado pelo dentista, que me disse que se os dentes continuassem a dar problemas, o melhor era arrancar. Havia casos que a situação melhorava, mas não havia propriamente um tratamento, mas no geral o tratamento melhor era arrancar. Foi aí que optei por ver se a coisa melhorava. E ao falar com amigos e família, disseram-me que para salvar esses dentes tinha que ir a um especialista, um periodontista. Ou periodoncista.
Abro aqui um parêntesis para convidar para a leitura de um texto que vou escrever depois, sobre o Bem que vem por mal. A propósito da utilização de uma boa pasta para os dentes, a conselho de um amigo.
A marcação da consulta demorou muito, porque me arranjaram uns nomes de especialistas muito bons que não consegui descobrir os contactos, e pesquisando assim por alto também não me apareciam especialistas. E veio o Verão, e com ele a situação ia piorando, sempre mais incómodos, às vezes dores, alterei a dieta para coisas mais líquidas ou moles. Experimentei os probióticos bucais, e realmente mudaram o hálito e alguma coisa fizeram, mas a mobilidade dentária continuava intensa. E apareceu o princípio de abcesso, agora do lado esquerdo. Ia piorando um bocadinho todos os dias, até que a Zé me lembrou que eu tinha o tal antibiótico e foi assim que em Julho o tomei (conforme registado em Saúde 1). E o abcesso acabou por desaparecer e fiquei sem dores.
Finalmente... 
No final de Setembro pesquisei mais na net e descobri duas clínicas em Aveiro com periodoncia. Uma delas marcou-me para um par de dias a seguir, início do mês de Outubro. Fui visto por um especialista, que me mostrou como estava o meu osso do lado esquerdo, já completamente desgastado, esse dente molar estava condenado, mas talvez fosse possível salvar o do lado direito. Mais 4 dias ficou marcada a extracção e mais um par de dias, a limpeza do tártaro bem executada, para depois ver a evolução. Mas quando fui fazer a extracção sugeri ao dentista que a ia executar arrancar o outro dente também, pois eu sabia que também já tinha que estar muito avançada a sua degradação. E ele, depois de ver e mexer, ia propor a mesma coisa.
A primeira anestesia, tal era a infecção (quando ele espetava a agulha para a injectar saía pus, de ambos os lados) não teve efeito nenhum, foi preciso uma anestesia mais forte. Mas os dentes lá saíram. E passados poucos dias já me sentia com muito melhor energia.
O médico lá me disse que se calhar eu deveria fazer antibiótico, mas eu respondi que tinha em casa um de reserva, e que tomaria se visse que precisava. Foi fixe ele ter concordado, comentando que de facto, se cheguei àquele ponto e estava ali sem antibiótico, agora que o pus tinha saído e o foco de infecção também, certamente estava bem melhor agora. E foi assim. Estou mais desdentado, agora tenho dois molares em cima que não fazem nenhum, mas ainda consigo comer bem e mastigar, demora mais, mas... também se saboreia melhor a comida.

domingo, outubro 20, 2024

HÁ DIAS ASSIM, IMPREVISÍVEIS. TORNAR ÚTEIS OS INÚTEIS DIAS.

 Fim-de-semana. Sem programa muito rígido, que para horários apertados são mais que suficientes os dias úteis. E para inutilidades basta fazer planos em cima do joelho.



Ontem saímos de casa depois do pequeno-almoço, passagem pela horta, ainda com muita chuva a ver-se nas verduras. Direcção a Coimbra, estava lá a decorrer o Festival MATE, e havia bilhete muito económico para quem só lá ia um dia. O programa prometia uma boa tardada cultural, com música, instrumentos musicais e actividades variadas. O regresso à base estava previsto para relativamente cedo, para participar no Festival das Sopas, praticamente ao lado da Casinha Gandaresa.

A passagem obrigatória por Cantanhede obriga sempre a pensar estar um pouquinho com os mais novinhos da família, e lá conseguimos coincidir em Cadima. Havia almoço para todos e acabámos por ali ficar um pouco mais, atrasando a ida para Coimbra.

Entrámos no carro, deitámos conta às horas inutilmente livres e mudámos de planos. Dia muito cinzento, vamos lá explorar caminhos menos usados. Praia ali mais perto, a da Tocha. Siga!


Deixar o carro à entrada e depois caminhar. Na zona habitacional e depois à beira do mar. Ali mesmo na linha da frente das casas, já do lado do mar, havia um pequeno auditório com a porta aberta. Fomos espreitar o que havia em exposição, mas mais do que isso havia uma pequena conversa. Estava mesmo a começar. Adentrámo-nos por entre cadeiras e lá nos sentámos. Construção de instrumentos musicais, memórias e saberes históricos, a música e os instrumentos. De corda. Até chegar ao acordeão, a sanfona do Brasil, já no século XX.


Ali estivemos a aprender pelas mãos hábeis de um construtor não só de instrumentos como de histórias  bem musicadas. Mais parecia estarmos no MATE, mas num ambiente menos massificado, mais perto e mais económico.


Depois fomos descobrir a nova estrada/ciclovia de ligação à Praia de Mira, já apontados para as panelas da sopa. Mas antes de lá chegar ainda tivemos tempo de fazer as despedidas do Verão, deslizando nuns crepes com gelado artesanal, na nossa praia mais usada e visitada. E para o jantar não ser só sopas, assim já íamos de estômago forrado.




Carapelhos recebia a 5ª edição do Festival de Sopas organizado pelo Grupo Folclórico das Varandinhas de S. Bento (Corticeiro de Baixo). Chegámos mesmo a horas de apanhar a abertura. 16 sopas na mostra. Objectivo: decidir qual a melhor, eliminando à partida todas as que eram elaboradas com carnes, quentes ou frias. Dessas sopas degeneradas fugimos, para conseguir provar as outras. 

Sopas vegetarianas havia muito poucas, mas foi por aí que começámos. A melhor era a sopa de nabiças, da Confraria do Grelo (levou um voto - sopa nº1), mas havia ali um creme de legumes que também estava perfeito (esta acabou por levar também um voto - sopa nº 6).


Depois passámos às sopas de peixe, meia-dúzia. Todas muito diferentes, para todos os gostos. Não havia a melhor sopa de peixe, foi preciso misturar a nº 11 com a nº 12  para obter uma bela sopa de peixe, e consistência, sabor, aromas, texturas e mistura equilibrada de condimentos.

A maioria das sopas era cozinhada com carne, até o pobre caldo verde disponível era mais uma sopa de chouriço. A sopa de ervilhas tinha pedacinhos de bacon fumado a mais. E também não provámos as sopas de legumes em que víamos carnes misturadas. E depois as famosas sopas à lavrador e da pedra, seriam umas 4, todas diferentes mas todas iguais para nós, que como é costume nos passam ao lado nestes festivais que eu tanto aprecio.

Não sei como, mas ainda apeteceu comer uma das muitas sobremesas disponíveis, à escolha por apenas 1 euro. Todas caseirinhas e boas, para todos os gostos. E ainda comprámos pão que sobrou, caseiro em forno de lenha. Ficámos até ao fim, com direito a reportagem fotográfica.

Regresso a casa, para descanso nocturno, na noite tão inútil como os dias, mas que servirá sempre para repor as energias no seu lugar de reserva. Perdemos o Festival MATE, de facto, mas ganhámos a sorte grande de ter o inútil tempo a nosso favor, longe do stress e perto das nuvens.










sábado, outubro 19, 2024

EM DEFESA DOS ISRAELITAS

 Ando há meses a pensar que vou voltar a escrever aqui no Malfadado sobre a situação na Palestina. Um país que não existe, territórios dispersos onde vivem palestinianos. Estamos em Portugal, os problemas da Palestina estão longe, como longe estão os problemas de Israel. A União Europeia não reconhece o estado palestiniano, mas alguns países europeus, na sequência dos massacres promovidos na Faixa de Gaza, já o fizeram. Como fez a Espanha, aqui mesmo ao lado. Portugal preferiu ficar do lado dos poderosos americanos. Não em meu nome. Já antes aqui no Malfadado tinha feito referências ao anormal que é aceitarmos que um estado terrorista que não está na Europa participe nas competições desportivas exclusivamente europeias.


Porque temos então aquela zona do nosso planeta outra vez em estado de guerra? A culpa é dos israelitas? Não! A maioria das pessoas que vive em Israel está chocada com a forma como as coisas estão a acontecer. Ao contrário do que os americanos pretendem fazer crer, através de notícias propagadas à escala mundial, o problema não começou com a morte de mais de 1000 civis e quase 400 militares e polícias israelitas, em Outubro de 2023. Essa operação de revolta do Hamas surgiu de décadas de repressão por parte de sucessivos governos de Israel, e numa situação de prolongado impasse e impotência das Nações Unidas na resolução do problema dos palestinianos. A Faixa de Gaza foi transformada por Israel num campo de concentração gigante, onde era impossível entrar ou sair sem a autorização do exército de Israel.


Só faltava o massacre de inocentes para o fascista Benjamim se colocar no pedestal de figuras de merda da humanidade, ao lado do Adolfo e do José. E de muitos mais ao longo da história. Vamos já com mais de 30000 civis mortos de forma cobarde, talvez mais de 40000, apenas num ano, e num local de onde não podem fugir. Crianças, jovens, mulheres, idosos e também homens de família, trabalhadores, jornalistas, médicos e tantas outras ocupações. Se os israelitas soubessem que ao elegerem este criminoso de guerra estavam a abrir as portas para uma guerra sem fim, certamente teriam escolhido de outra maneira. Mas não o fizeram, acreditaram nas suas falsas promessas de prosperidade e de resolução do conflito. Tendo no comando do seu exército pessoas igualmente sanguinárias e fascistas, aproveitaram para brincar às guerras com os "brinquedos" que os americanos lhes puseram nas mãos. Os militares israelitas não são o povo de Israel. O exército israelita, e os seus serviços secretos, já conseguiram assassinar mais civis num ano do que os russos conseguiram matar soldados ucranianos em 2 anos e meio. Assassinaram 4 vezes mais civis do que os russos na Ucrânia.


No início da invasão da Faixa de Gaza, invasão não autorizada pela ONU, os nossos jornalistas portugueses estavam em território israelita, nunca tiveram a coragem de ir ao terreno. Os jornalistas nunca são bem-vindos, por poderem presenciar e documentar actos bárbaros. Mas daí a referirem-se constantemente a um exército invasor e contrário às leis internacionais como o Exército de Defesa de Israel é, para mim, deixar a imparcialidade de lado e abraçar um dos lados do conflito. IDF é a sigla, em inglês, do exército de Israel. É mesmo assim que se auto-intitularam, traduzindo para português: Forças de Defesa de Israel. Mas na realidade são um exército, uma força de ocupação. Para nós, que queremos saber o que se passa, não nos interessa saber como se auto-designam as forças em confronto. É mais fácil e conciso referir apenas as tropas de Israel e as tropas do Hamas. Nenhuma delas são forças armadas de defesa de coisa alguma, ainda que defendam pessoas e bens à sua maneira, acabam por atacar pessoas e bens à sua maneira.


Por falar em atacar pessoas e bens, há que referir a onda de assassinatos promovida pelo regime de Israel. O ataque em plena capital do Irão foi marcante, abriu uma porta que infelizmente não se vai fechar tão cedo. Foi em Julho e assassinaram cobardemente o líder político do Hamas, tido como moderado e ex-governante palestiniano. Já o conhecíamos das televisões, figura simpática e boa comunicadora, Ismail Haniyeh estava em Teerão (link pra notícia RTP) para participar numa cerimónia oficial. Ocasião escolhida pelo regime israelita para assassinar, sem cerimónias, precisamente aquele com quem seria mais fácil negociar a paz. Também não se coibiram de atacar a embaixada iraniana em Beirute. Tanto provocaram que o Irão, liderado por gente também pouco recomendável, e por completa ausência de acção da ONU, que tem sempre os EUA a vetar toda e qualquer decisão contrária a Israel, decidiu responder. Ainda que de forma nada letal, já morreu mais gente com fogo de artifício este ano do que com o ataque de mísseis e drones iranianos. Drones iranianos que também aparecem nas mãos do exército do regime russo, mas isso são outros negócios.


Voltando ao jornalismo em Portugal, e a sua parcialidade mal disfarçada, a propósito do recente assassinato do líder do Hamas na Faixa de Gaza, era comum referirem-se à eliminação promovida pelo exército de defesa de Israel. Assim, limpinho, como se fosse a eliminação de um peão no tabuleiro de xadrez. Ou a morte de algum inimigo público, condenado e foragido. Mas o termo certo é o assassinato. Como depois vi referido na imprensa espanhola. Ah, pois, mas os espanhóis reconhecem a Palestina como estado independente. Veja-se por exemplo no início desta notícia do Expresso (link aqui).


E pronto, já referi aqui o que me anda a incomodar nestes dias de estupidez humana a explodir naquela área do planeta. Falta divulgar aqui o trabalho desenvolvido pelo Fumaça, uma espécie de jornal online (podcast e artigos, investigação e divulgação). O jornalista Bernardo Afonso fez chegar aos subscritores do boletim um texto muito interessante, com muita (até demasiada, digo eu) bibliografia sobre o problema dos palestinianos. Se estás a ler isto, aproveita e vai lá ao site e subscreve também, mandam poucas vezes, mas são sempre apontamentos interessantes. "Como apanhar um comboio de séculos?", assim se chama este artigo de opinião, que em breve se juntará aqui (link para o site do Fumaça - parte dos artigos de opinião - aproveita e subscreve!!!) a outros textos que anteriormente foram enviados, alguns dos quais já sobre a situação dos crimes israelitas. E não crimes dos israelitas, porque a maioria dos israelitas não defende esta estupidez criminosa. Ainda que só alguns (muitos, mas ainda poucos) saiam à rua e mostrem a sua oposição a este regime fascista.


Se calhar não estamos muito longe do dia em que se organize uma manifestação de apoio aos palestinianos, com o mote: Volta Hitler, estás perdoado! Assim se juntaria a extrema-esquerda anti-fascista à extrema direita vincadamente fascista.

PS - Vai este texto pontuado com algumas fotografias que roubei da internet, de publicidade à Victoria's Secret. Será que algum dia a beleza vai suplantar o horror? Algum dia serão as figuras da moda, do desporto ou das artes a denunciar os crimes do regime israelita? Já aconteceu antes, assim terminou o apartheid há muitos anos atrás. Talvez possa voltar a acontecer. Mas não começará em Portugal, pois já cá tivemos duas equipas israelitas a jogar com o Sporting de Braga, e foi como se nada de mal estivesse a acontecer. Que eu saiba, nem nas bancadas um único letreiro a denunciar esta estranha situação de ter Israel a jogar nas competições desportivas europeias, nem a denunciar os assassinatos em massa, ou uma invasão de campo a denunciar a impossibilidade de se invadir o campo de concentração nazi conhecido como Faixa de Gaza.